O norte-americano chama "machine gun cut" a edição de filme repleta de planos próximos e de rápida apresentação na tela. Uma metralhadora de imagens. Em "Mad Max Estrada da Furia" há disso.Muito disso. São quase duas horas de planos diversos que passam correndo, uns sobre os outros, detalhando uma viagem pelo deserto australiano de mocinha perseguida por bandidos. Ela ganha o nome de Furiosa, e é um adjetivo a mais para Charlize Theron, atriz que no inicio de carreira viveu uma mineira (não nascida no Brasil mas uma empregada no embrutecido meio de mineiros do norte dos EUA) no "Terra Fria" de Nick Caro. Ali a moça era conhecida por Monstro. Aqui, numa corrida australiana, por Furiosa. Se ela for fazer uma de nossas neochanchadas saiam da frente.
O filme dirigido pelo sessentão George Miller é um moto-continuo e se salienta por isso. Vendo-o em 3D sente-se pedaços dos carros voando por sobre as cabeças dos espectadores, O fino para cinema-espetáculo. Mas, felizmente, deixa se pensar em substancia. Não só o poder feminino (mulher dá leite e criança para os neo-trogloditas do futuro) . Pugna-se pela luta por espaços adquiridos e o herói se mistura na multidão quando podia ser ovacionado. Populismo mais aberto, sem frescuras de panfletos pretéritos.Vale espiar.
sexta-feira, 22 de maio de 2015
domingo, 17 de maio de 2015
Imagens Salgadas
Há pouco
eu tinha visto um documentário curto sobre o fotografo Sebastião Salgado. Agora
vejo o filme de Win Wenders, associado ao filho de Sebastião, o também fotografo
Juliano . Os dois filmes ressaltam a habilidade do brasileiro em captar imagens
com suas câmeras,o que o levou a correr o mundo registrando imagens de diversos
tons (não só com referencia ao apanhado da luz).
“O Sal
da Terra” ganha o termo bíblico para expressar o trabalho de uma objetiva que
andou flagrando tragédias e acabou mergulhando no que a natureza tem de
resistente.
Basicamente
o filme conta como Sebastião se amargurou com os cadáveres insepultos nas
guerras africanas e como através da esposa descobriu que apesar do homem o
ambiente pode mudar para melhor(a mata reciclada que traz flores e aves).
É um
filme sensível como a descoberta do biografado. E é difícil um documentário ser
capaz de provocar lagrima na plateia. Sei de quem chorou ao ver o que Wenders e
Juliano fizeram. De minha parte achei que Wenders superou o tedio deixado
naquele registro de uma bailarina famosa usando a 3D (“Pina”). Mereceu os prêmios
ganhos e talvez o que perdeu(o Oscar).
domingo, 10 de maio de 2015
Geraldo
Comecei
a filmar película de 16mm em 1951. Em 1952 fiz “O Desastre”, melodrama sobre um
garoto atropelado e o desvelo do irmão, pobre, para trata-lo pedindo a ajuda do
padrasto que afinal se negava e era assassinado. Com este filme de 10 minutos
meu colega de turma no Colégio Moderno, Geraldo Guimarães, estreava na minha
Eldorado(o nome da “produtora”).
Geraldo
acompanhou-me nos anos dos cursos ginasial e cientifico, era assíduo em minha
casa, me acompanhava aos cinemas, ao Mosqueiro, e fatalmente seria “ator”de
minhas historias.
Mais
tarde formado em Química , professor e depois vice-reitor da UFPa, casou, virou
pai, andou um tempo ligado à religião (eu dizia que só faltava ser diácono) e
agora, aos 78, morreu ao que me dizem de infecção hospitalar.
Generaldo,
como eu chamava, foi parte de minha adolescência e com a sua partida ela fecha
mais uma pagina. Dos filmes que fez, além de “O Desastre” só “Um Dia de Azar”(que
não deu certo), e da dupla só resta o primeiro.Sei que vai ser exibido no
Olympia em junho com musica acompanhando(era mudo). Homenagem ao Geraldo e ao
Agostinho Barros, outro colega, outro amigo de muitas horas (e que fez ainda
mais filmes na Eldorado).
Queria
mais imagens desses companheiros de tantas horas. Vendo-as evocaria os tais
verdes anos do poeta. Mas os neurônios suprem.
terça-feira, 5 de maio de 2015
Fim da Guerra
Em 8 de maio de 1945 eu estava no Mosqueiro com meus pais. Esperava, na vila, a chegada do navio "Almirante Alexandrino" com a prima de minha mãe que muito nos ajudava em casa, Maria dos Anjos Almeida. O costume era a chegada às 18 horas contra a maré. Mas beirava as 19 e nada. Via-se Icoaraci iluminada. Meu pai disse logo: "terminou a guerra". Não tínhamos rádio e não sabíamos da noticia. Quando surgiu o gaiola notava-se o clima de festa. Bandeiras e luminárias, musica alta, povo dançando. Sim, terminara a guerra.
No Mosqueiro havia um posto de soldados brasileiros e norte-americanos. Chamava-se "bateria". Um capitão desse posto, chamado Felipe, ficou amigo de minha família e seus filhos chegaram a passar meses em minha casa. Ele contava que navios alemães podiam passar ao largo da praia do Farol,no Mosqueiro, daí o posto e canhões na praia. Nunca vimos nada parecido mas eu cheguei a posar numa foto sentado sobre um dos canhões.
A guerra chegava até nos pela radio da BBC de Londres. Meu pai escutava todas as noites.
Já se vão 70 anos. Hoje pessoas pensam que o nome da rua, Bateria, prende-se à escola de samba. Desconhecem o passado que palmilhava medo. Eu quero fazer um filme sobre isso.Oxalá faça pois já tenho roteiro pronto.
sexta-feira, 1 de maio de 2015
Cinema em Pequenas Doses
Vivi uma
fase de minha vida em que via mais filmes (película) do que os dias do ano.
Hoje eu devo ter ido, quase no fim do primeiro semestre do ano, pouco mais de 6
vezes. E moro perto de uma rede de projeções.
A
verdade é que não me atraem os títulos em cartaz. Os bons chegam graças ao
download. Baixar filme na internet é um
balsamo. Deixo de frequentar salas polares(frio intenso), horários rígidos, rua
surrealista (Aristides Lobo)onde existem dois pôster em paralelo numa estreita
calçada obrigando o transeunte a passar pelo meio fio desafiando as motos(principalmente)
e automóveis.
Até
bombas como “Jupiter” os irmãs Wachowsky, “Mortdecai”, e chatices como “Saint
Laurent” têm me chegado em casa. Digo que é o meu Bandeirante 2 a lembrar a
garagem onde eu passava filme em 16mm na velha av. Jeronimo (hoje absurdamente
Gov José Malcher).
Do que
mais me atraiu recentemente está “Minhas Tarde com Marguerite”, que ora chega
ao Cine Estação, e “Relatos Selvagens” que andou (bem) no Libero Luxardo. O mais é peça histórica. E
há audácias. O DVD de “Amor e Raiva”traz filmes curtos de Lizzani, Belucci,
Pasolini, Godard e Bellocchio. A mim só valeu o de Lizzani. Claro que não esperava
sensibilidade em Godard ou Pasolini, aí imerso na contracultura dos anos 70.
Mas o doidão da coletiva foi Bertolucci
que imaginou um bispo moribundo assolado por pessoas a quem negou ajuda. É um
balé macabro de péssimo gosto. Sei lá, mas esses “gênios” não me sensibilizam.
Prefiro a simplicidade de um “Planeta Proibido” com o seu “Monstro do ID” e a
jovem Anne Francis. Não sabia, mas ela morreu com mais de 80 em 2011. É isso,
cinema é arte da magia e dos encontros. Com a vida e a morte.