“mãe”(com
letra minúscula) podia se chamar “Casa”, ou “A Musa do Poeta”. No roteiro do
diretor Darren Aronovsky é uma alegoria em torno de um poeta que se inspira na
esposa e ela se dedica à casa onde moram, num local isolado, cuidando de manter
o espaço gasto pelo tempo(ela e casa se confundem).
O filme
usa da opção de Carl Theodor Dryer(“A Paixão de Joana D’Arc”) em focalizar
personagens em close. Não é apenas a atração pela atriz Jennifer Lawrence com
quem o diretor passou a manter um romance. É um modo de enfatizar “quem”
inspira o poeta e quem sofre por isso. O poeta, no caso, é interpretado por
Javier Bardem. Não interessa os nomes. A esposa é “ela”, ou a mãe de seu filho,
e ele, como chega a dizer “eu sou Eu”.
De
inicio há planos que parecem fortuitos como a imagem de um cristal. Também lá
pelo meio, a casa queimada e duas mãos se contatando. Na alegoria proposta ela
e casa representam a inspiração do poeta. O primeiro momento dramático, ou a
quebra da exibição de um casal em perfeito entrosamento romântico, a chegada de
um medico (Ed Harris) que se sabe doente e se mostra como desconhecido do poeta
e mesmo assim convidado a ficar na casa dele. Logo adentra a mulher deste medico
(Michelle Pfeiffer), e ainda os dois filhos homens do casal que logo se
digladiam e um deles morre. Há uma pequena pausa na agonia da já fadada a ser
mãe (a dona da casa) e quando está prestes a parir chegam jornalistas que
aplaudem a nova obra poética do “pai”, fruto da inspiração dramática que
envolveu a esposa. O filme alcança um momento de caos, com a filmagem manual varrendo
o aposento que se vai destruindo, e uma criança nasce sem que isso represente a
independência materna. Logo o recém-nascido é levado pelo pai para a multidão
que o segura como o ícone da obra de um grande autor. E tudo se destrói: a casa
e a mulher-mãe, que se incendeia e o marido chega a tirar-lhe o coração como
adentrar na origem de sua obra poética.
Mas há um
plano final em que tudo parece se repetir ou seja é necessária uma nova
inspiração para que persista o poeta.
O filme
nunca se rende ao realismo. Penso na frustração da plateia acostumada na linearidade
do cinema industrial. A inspiração poética chega, sai e volta na medida em que
se torna necessária para que o poeta continue poeta(“Sou o que sou”).
Desta
vez Aronhovsky ousou um tipo de cinema nada comercial posto que muito autoral.
E gastou bastante, talvez porque o estúdio(Paramount) gostou de seu “Noe”.
Claustrofóbico
(a ação se passa quase toda dentro da casa), com a câmera sempre na mão do
operador, usando ao máximo a capacidade interpretativa dos interpretes,
especialmente de Jennifer, o filme incomoda da melhor maneira possível. Ganha
duas horas em ritmo vertiginoso. Um
suspense, um terror, sem qualquer liame de gênero afeito a Hollywood. É
a ousadia surreal de um artista da letra que chega a pegar no coração de sua
musa para satisfazer a vaidade de quem espera sempre que a sua obra ganhe
repercussão universal (no caso a vaidade ganha o aspecto metafórico de uma
multidão aplaudindo um poema, coisa impensável neste mundo tão avesso à
poesia).
Um
filme diferente. Na minha juventude seria rotulado de “fita de arte”. Terror do
publico. Paraiso dos críticos. Creio que ainda hoje, a julgar pela receptividade
negativa no mercado americano, é assim.
Pedro,
ResponderExcluirEntendo tua posição, mas nesse caso o didatismo de Aronofsky não foi bem digerido. Achei as alegorias deveras caricatas e óbvias.
Abraços!