quinta-feira, 5 de março de 2020

Maria Sylvia Nunes


Maria Sylvia Nunes encontra hoje o seu Bené(Benedito Nunes) na eternidade. Tinha feito 90 anos. Foi professora de teatro(estética), dirigiu as primeiras peças dramáticas para a TV na pioneira local Marajoara (lembro de “O Morro dos Ventos Uivantes”) e no cinema esteve na f ficha técnica da animação “Manosolfa” além de fazer parte do primeiro cineclube local, “Os Espectadores”(1955) e na criação do Centro de Estudos Cinematográficos da UFPa.
Conheci Maria Sylvia bem jovem, aluna de uma aula de química de meu irmão(José Maria Direito Álvares)no Colégio Moderno. Na época sentava numa fila da frente com o namorado Benedito. Casados, demonstravam sempre amor ás artes e quando viajavam não deixavam de frequentar salas de teatro e cinema .
Os dois Nunes iam ao meu Cine  Bandeirante e era motivo de alegres conversas sobre a chamada Sétima Arte.
Bané chegou a ser meu professor de Historia e Filosofia também no Moderno. Iam muito ao nosso Mosqueiro, com casa no Maraú.
Sinto muito a partida da Maria Sylvia e reconheço que se inscreveu na historia cultural de Belém. Seu nome no teatro da Estação das Docas é muito merecido.



quarta-feira, 4 de março de 2020

Os Boas Vidas


Dificil o bom autor que não seja um memorialista. Federico Fellini foi um. Pelo menos por duas vezes recordou a sua Rimini da juventude focalizando os elementos que lhe marcaram a vida. A primeira vez foi neste “I Vitelloni”(Os Boas Vidas/1953), onde elegeu Moraldo(Franco Iterlenghi)seu alter-ego, chegando a prever uma sequencia das lembranças no “Moraldo en Cittá) que ele não conseguiu recurso para fazer(voltaria ao tema em “Amarcord” mas com notória diferença),
Há um momento do filme que dita bem a vontade de Fellini em lembrar de sua juventude na cidade italiana. É quando, no fim da madrugada, Moraldo vê passar pela rua um menino que trabalha na estação rodoviária. Ele reclama ao menino que é hora de ir para casa dormir, e este responde que na verdade acordou (devia ser quase de manhã). A noite dos “boas vidas”tem horário próprio. Ele acaba se cansando disso e toma o trem para Roma. A sequencia deixa flashes de onde estão no momento, os eternos colegas. E da forma como se o trem passasse por eles.
Muito rico em montagem, “I Vitelloni” (seria “Os Bezerros”) mostra uma juventude que paira sobre ideais nem sempre afinados a um meio de sustento. São como os nossos “filhinhos de papai/ou mamãe” que se lançam em descobertas da vida adulta, entre o sexo e a boemia.
Um belo exemplo de cinema que herda o neorrealismo do passado recente com uma poesia que mostraria o cinema italiano depois de 1950. Para mim o mais querido exemplar do tesouro deixado pelo mestre cineasta. Simples sempre, cativa a cada revisão.