segunda-feira, 29 de abril de 2019

Não Será um Estranho (?)


 “Não Serás um Estranho”(Not as a Stranger/1955) foi o primeiro filme que Stanley Kramer dirigiu. Ele já era um produtor aclamado por filmes como “Cruel Desengano”, “8 Homens de Ferro”, “A Nave da Revolta” e mais alguns quando se lançou a dirigir e faria outros grandes trabalhos. Eu me impressionara ao ver o filme quando ainda estudava medicina e achava que era o melhor já feito sobre o curso medico e o que o formando faria na vida pratica. Hoje revi e sinceramente achei que o entusiasmo do passado era próprio de um tempo. Mas o filme é bom. Tem Robert Mitchum num papel digno de seu porte (sempre me pareceu antipático). E Frank Sinatra brilha no papel de coadjuvante.
                O medico falha, diz o roteiro de Edna Anhalt, Edward Anhalt e Moton Thompson. Se o doutor novato de Sinatra tira um sinal do rosto de uma paciente e Mitchum briga pois podia ser canceroso, ele, Mitchum, operaria seu professor apressadamente e o paciente morreria “na pedra”       
                Há inclusive alusão à instabilidade emotiva com  doutor de Mitchum sendo infiel à dedicada esposa vivida por Olivia de Havilland (a sobrevivente do elenco, com hoje 102 anos, pouco faltando para 103) . O roteiro desafia o parâmetro hollywoodiano dos bons moços. E o filme narra bem os fatos. Um bom trabalho de Kramer embora não se demore nos perfis psicológicos nem adentre pelo curso medico em geral, sem mostrar os colegas dos principais personagens (afora os planos de auditório, com todo mundo visto de longe).
                Vale ser visto agora, mesmo com os cursos médicos não serem mais os mesmos.












segunda-feira, 15 de abril de 2019

O Cinema de Val Lewton


Val Lewton (Vladimir Leventon) nasceu na Rússia em 1904 mudou-se coma a familia para Berlim em 1906 e para os EUA em 1909. Foi jornalista e chegou a fazer até espaços de anedotas. Contratado pelo produtor David O. Selznick em 1933 passou a escrever para cinema chegando a fazer uma sequencia de “...E O Vento Levou”(1939). Em 1942 foi contratado pela RKO para produzir filmes de terror com baixo orçamento. Fez vários e ficou na historia por isso. Morreu em 1951 devido a infarto. Seus pequenos filmes dirigidos por Mark Robson, Jacques Tourneur, Robert Wise (estreando depois de uma fase na edição de longas como os de Orson Welles), e Gunther Fristh, ganharam espaço na historia não só do estúdio como da indústria cinematográfica em geral.
                É muito bom rever os filmes de Lewton na RKO. No Olympia serão exibidos “A Sétima Vitima”, “O Asilo Sinistro” e “A Morta Viva”. O ultimo é o mais caraterístico da fase. Uma jovem inglesa que morreu numa província africana é revivida na macumba até que se tire uma flecha encravada numa estatua em sua casa. O filme quando estreou em Belém, no cinema Independência, ganhou uma publicidade engenhosa. Passava só nas sessões noturnas “pois era muito forte como terror”. A iluminação expressionista e a edição que subtraia explicações evidenciavam o clima proposto pelo roteiro de Curt Siodmak e Ardel Wray com base num episodio do romance “Jane Eyre”de Charlote Bronté(irmã de Emily a autora de “O Morro dos Ventos Uivantes). O diretor era o francês Jacques Tourneur que havia feito para Lewton  “Sangue de Pantera”(Cat People), clássico que mereceu uma continuação ainda melhor (“A Maldição do Sangue de Pantera” de Wise & Gunther).
                Os outros filmes a serem exibidos refletem a maestria de Lewton em condensar a cenografia podando os gastos. Em “Asilo Sinistro”, por exemplo, ele trata de um hospício no século XVIII com o cuidado de não esvaziar a época limitando até mesmo as cenas de rua.
                Os filmes da RKO eram exibidos por aqui nas salas da empresa Cardoso & Lopes(Moderno,Independencia, Universal e Vitoria- antes chamado Rex). Muitas vezes eram exibidos com episódios de seriados. Davam muito publico. A critica ignorava-os. Mais tarde foram descobertos a partir dos textos franceses. Hoje estão no espaço devido de obras marcantes na historia do cinema. Os mais jovens devem conhecer. Os mais velhos vão checar boas lembranças.

sábado, 6 de abril de 2019

Shazan


Os quadrinhos do Capitão Marvel surgiram no final de 1939 sendo publicados em janeiro de 1940 pela Fawcett. O herói era o radialista Billy Batson , escolhido por sua bondade para ser o super-herói capaz de proezas que se via no Super-Homem (Superman), herói nascido pouco antes nos gibis. Aqui no Brasil o Capitão Marvel aparecia no Gibi Mensal . A palavra magica que transformava o ingênuo Billy no herói, conhecida por SHAZAM, derivava cada letra da mitologia grega: S (sabedoria), Hércules (vasta força física), Atlas (resistência, invulnerabilidade), Zeus (poderes mágicos), Aquiles (coragem) e Mércurio (velocidade, capacidade de voo).
Os quadrinhos duraram até que a DC Comics entrasse em juízo como plagio de Superman. Os desenhistas deixaram a trama que só voltaria anos depois que a própria DC passasse a usar o herói em seu quadro do gênero. Hoje ele aparece como Shazam porque a concorrente da empresa, a Marvel, está usando o termo em seu logotipo e até  uma heroína que chamou de Capitã Marvel, nada a ver com a palavra magica dos velhos tempos.
O filme que chega agora aos cinemas mundiais nem de longe lembra o seriado que saiu nos anos 41 dirigido por John English e William Witney com Tom Tyler, Foi um prazer para a garotada de então. Tyler fez 183 papeis em cinema e as crianças dos anos 1940/50 lembravam que ele havia sido também O Fantasma Voador, herói dos quadrinhos de Lee Falk que também ganhou seriado (chegou a um filme de 1993 com o ator Billy Zane, perdendo popularidade quando em entrevista depois das filmagens Zane revelou sua posição homossexual).
O novo filme do Capitão Marvel, agora só Shazam, acertou como comédia. O roteiro de  Henry Gayden de uma historia de Henry Gayden passa pela origem do vilão Silvana dá outra dimensão a Billy Batson (um menino que se perde da mãe e cresce num orfanato), põe Freddy Freshman como um estudante sabido(não é o jornaleiro do gibi) e Mary Marvel chega no fim da festa.
Mas foi sorte o ator de TV e videogame. Sem qualquer nuance interpretativa é um “cara de pau” guinado a super-herói sem pedigree. Sua falta de jeito acaba gerando situações cômicas interessantes e o filme só peca pelo excesso de efeitos digitais. No final, então, cansa a se ver Shazam (ou Cap. Marvel) tentando tirar o olho de vidro de Silvana, chave da maldade do tipo.
Felizmente as duas horas na tela não geram cansaço. E afinal de contas é o que de melhor se espera de uma trama ingênua, boba como nasceu nos quadrinhos de um tempo em que se consumia um gênero de aventuras sem dar bola para qualquer verossimilhança.
Parece um gol da DC na trave da rival que saiu com uma Capitã Marvel ridícula.


 









sexta-feira, 5 de abril de 2019

A Mula


“A Mula”(The Mule) o novo filme dirigido por Clint Eastwood baseia-se em um artigo publicado no The New York Times, em 2014, sobre Leo Sharp, um idoso de noventa anos que trabalhou como mula para o cartel de El Chapo no oeste norteamericano. Clint faz o papel de Earl Stone, homem que se desvia dos familiares, chegando a faltar ao casamento da filha, e acaba aderindo ao transporte de drogas para poder pagar despesas como a hipoteca de sua casa.
Clint não usa maquilagem. A velhice está presente no rosto enrugado, na magreza percebível, em certa dificuldade de locomoção. Mas é fato que Leo, aqui chamado Earl, faz mais de dez viagens para os drogueiros e acaba preso como única forma de escapar com vida dos próprios traficantes que percebem suas falhas (inclusive quando deixa tudo para ir ao encontro da esposa moribunda).
O filme é bem construído como os demais do diretor. E ele deixa a imagem que pede  o tipo principal. Quem viu CE em westerns desde os de Sergio Leone, lamenta que o ídolo das vesperais de ontem esteja vencido pelo tempo. Mas ainda dá conta da arte que abraçou. Seu filme do ano passado merece ser visto. Clint fará 89 anos em maio próximo. Quem o aplaude em tantos títulos que interpretou e dirigiu espera que passe dos 90. É um dos poucos heroicos veteranos do cinema.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Um Caminho Para Dois


“Um Caminho Para Dois”(Two for the Road) é um exemplo de road-movie criativo. Aqui não se trata de documentar uma viagem ou viagens de um casal . O caminho que ele e ela percorrem é segmentado de forma a constituir a metáfora do relacionamento, de como os dois se conheceram, se amaram, se desamaram gradativamente e de como podem (ou não) se reencontrar(uma sequencia sugestiva do embarque em uma balsa).
Audrey Hepburn e Albert Finney fazem o par que se vê por vários caminhos e em diversos tempos. Ora eles são focalizados jovens enamorados pedindo carona por falha em seu carro, ora dirigem cerros deles por vários destinos, ora seguem com pessoas que os acolhem e que se revelam desamadas, seja a mãe que tenta tolerar a filha menor insuportavelmente mimada, seja o marido motorista que assume a postura de um coadjuvante contrariado no quadro familiar.
Audrey era uma atriz competente e bonita, Estava linda neste filme, E Finney cumpre a sua tarefa da imagem de um homem independente e incapaz de render esta independência por conta do afeto dedicado à companheira. E são muitos os percursos que eles fazem através de estradas e tempo, um espaço ganhando a metáfora de outro, estudando a vida a dois com todos os desníveis que possam acontecer para mudar isso.
Stanley Donen dirigiu o seu mais criativo filme não musical. Considerado “o pai” do gênero que abraçou por anos na Metro, especialmente ao lado de Gene Kelly como em “Cantando na Chuva”, ele tentou outros gêneros mas sem o mesmo vigor. Neste exemplar de 1967(ele fez cinema até 2003 contando vídeos), seguiu em seguida duas ironias (“O Diabo é meu Sócio” e “Os Delicados”).O ultimo musical foi “Cinderela em Paris”de 1957, já com Audrey no elenco.Ali  estava longe de um “7 Noivas Para 7 Irmãos” onde deixou uma coreografia antológica na sequencia da construção de uma casa.
Doney morreu este ano. Finney também. Os dois são lembrados na reprise de “Um Caminho para Dois”. Mas eu acho que a homenagem espalha para Audrey. Ela deixou este mundo em 1993 aos 63 anos e 34 filmes. Seu papel na viagem romântica gerenciada por Donen é capital para que o filme seja ao mesmo tempo uma comedia, um drama, uma analise comportamental, um esboço de estudo psicológico do casamento.
Revi o filme este ano e senti que os anos machucaram um pouco. Mas serve como uma luva para lembrar 3 astros do cinema.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Duas Rainhas


 Mary Queen Of Scots (Duas Rainhas) é mais um filme sobre a monarca católica que desafiou a Inglaterra de Elizabeth I (filha de Henrique VIII e chefa da igreja anglicana). Com roteiro de Beau Willimon e John Guy com base no livro deste ultimo, consegue dimensionar o conflito histórico graças à excelente cenografia (recria-se bem a época) e grandes interpretações de Saoirse Ronan (Mary) e Margot Robbie (Elizabeth). Os outros filmes no assunto passam primeiro pelo curta metragem produzido por Thomas Edson  The Execution of Mary Stuart”(1895) dirigido por Alfred Clark, seguindo-se “Mary Stuart Rainha da Escocia”(Mary of Scotland/1936)de John Ford e Leslie Goodwin, “Mary Queen of Scots” (1971) de Charles Jarrot, “Elizabeth”(1999) de Shekhar Kapur,”Mary, Rainha da Escocia”(Mary Queen of Scots/2013) de Thomas Inbach e “Elizabeth, A Era de Ouro”(2017) de Shekhar Kapur.
            O novo filme prefere delinear o perfil de Mary, seu relacionamento na corte da Escocia e seu casamento. Só no final focaliza o embate com a prima Elizabeth, e chega o seu sacrifício sendo degolada por ordem da rainha inglesa.Por sinal a primeiro sequencia é da morte de Mary, sem maiores detalhes de quem e de como se deu o fato.
            Um dos melhores filmes sobre  o assunto. Ainda bem que está sendo anunciado em nossos cinemas, oxalá nos de Belém (e melhor ainda em copia legendada).  Vale aguardar e conferir.