quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A Comunidade

Á Comunidade”(Kollektivet/Dinamarca,2015)é o novo filme de Thomas Vinterberg, egresso do movimento Dogma 95. Liberto do vicio desse estilo que pregava uma filmagem em plano-sequencia sem artificio técnico(uma espécie de reportagem fílmica) o diretor aborda uma peça teatral de sua autoria e trata de forma direta um drama especialmente humana.
A famosa apresentadora de telejornal Anna (Trine Dyrholm) convence o seu marido, professor universitário Erik (Ulrich Thomsen) que a casa herdada de seu falecido pai deve se tornar uma tipo de comunidade. Apoiado pela filha Freja (Martha Hansen), o casal convida amigos para participar do experimento.Chega até mesmo a abrigar um estranho e o grupo passa a se reunir em uma espécie de assembleia onde discute as diversas formas de regir o empreendimento.
A comunidade, como o falecido Dogma 95, vai andando até que Erik dê trela à uma aluna com idade de ser sua filha. Logo se forma um casal e o adultério do praticamente diretor do grupo de moradores passa a espelhar a falibilidade da primitiva idéia e comecem as debandadas.
O miolo da historia condena uma forma de comunismo. Prega a heterogeneidade da pessoa humana e com isso a incapacidade dela viver bem em comum acordo com parceiros. Dentre as desavenças cabe um primeiro lugar ao sexo. No patamar freudiano rola a instabilidade do casal Erik & Ana e não satisfeito segue Freja num relacionamento que se pode questionar.

Excelentes desempenhos aproveitados em uma edição que joga bem com os planos próximos e médios além de uma prudente movimentação de câmera, fazem esquecer a origem teatral e registrar o melhor cinema. Ainda bem que foi este o cinema que Vinterberg achou depois de sair da ideia do colega Von Triers e fazer um filme denso como “A Caça”(Jagten) e agora este “Comunidade” que está anunciado em sala comercial de Belém mas eu duvido que chegue a estrear em nossas salas de shopping sempre ocupadas com bockbusters.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Cinema Mexicano do Passado

                Mais um programa de filmes mexicanos no tradicional Olympia. Curioso é que desta vez há espaço para os velhos artistas daquele país. O caso de Maria Antonieta Pons(1922-2004) que está em “Viva Mi Desgracia” de 1944 dirigido por Roberto Rodriguez(1909-1995).Maria era conhecida como rumbeira, ao lado de Ninon Sevilla(1929-2005), como ela uma cubana que andou pelo Brasil.
                Aqui Maria esteve com Oscarito em 1952 na chanchada “Carnaval Atlantida’de Jose Carlos Burle e Carlos Manga.Ninon foi mais longe: chegou à nossa Belém e dançou com um amigo meu, o Dorival que a gente chamava de Cantinflas por imitar o cômico mexicano.
                Maria Antonieta é uma das poucas figuras do velho cinema asteca que está no novo programa enviado pela embaixada mexicana. Pedro Infante (1917-1957) também surfou na onda dos melodramas, mas não foi estrela como Ramon Armengod. Lembro dessa fase que levava muita gente brasileira aos cinemas e aqui lotava salas como o velho Olympia e ainda as concorrentes Moderno e Independência.
                O tempo era do cine-bolero, inaugurado com “Pecadora”(1947)de Jose Diaz Morales. Cada filme inseria na pista de som um bolero. E geralmente a musica virava sucesso em radio e disco. Nos filmes a tônica era prostituta infeliz que acabava tuberculosa. E o publico chorava por isso. Filmes que a critica odiava (e eu no meio). Mas hoje sei que espelhavam uma cultura com certo apego. Interessante é que muitos exemplares pensavam no Brasil e em “Pecadora” tinha até o conjunto brasileiro “Anjos do Inferno” cantando a embolada “Sete e Setecentos”.
                Gostaria que num desses programas veiculados pela embaixada do México entrasse o ciclo de dramalhões populares nos anos 40 e 50. Libertad Lamarque, Emilia Guiu podiam ser encontradas cantando em lagrimas. Engraçado que  a censura brasileira proibia as produções até 18 anos. E a molecada fazia força para furar o bloqueio e ver as coisas (até para saber o que tinha de proibido).

                Na atual retrospectiva que deve estar no final de agosto no Olympia há de tudo, até o clássico”Amores Brutos” de Iñarritu. Um hiato na programação das salas de shopping que abrem largos espaços para drogas como o novo “Ben Hur”.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Ben Hur Rides Again

Refilmar “Ben Hur”é uma ousadia dispensável. O filme de William Wyler com Charlton Heston ganhou 11 Oscar e foi sucesso de publico e de critica. Aqui, no saudoso Cine Palácio,fez filas apesar da sala ter mais de 2 mil lugares. O livro tinha em casa, meu pai havia lido mais de uma vez e eu folheei. Achei o filme um modelo de superprodução. Claro que não havia qualquer tentativa de aprofundar o drama do homem sentenciado injustamente e o poderio romano no tempo de Cristo. Como o livro, o filme prendia-se à trama e ,por continuidade, ao espetáculo. Uma dessas obras que Hollywood se orgulhava de ter feito. Era a fase crepuscular da Metro, ma,ainda assim, fazendo jus ao urro de seu leão (eu diria papão).
                Por que refilmar ? Pelo alcance do CGI, por custar menos e parecer mais ? Por demonstrar que a técnica auxilia o fausto do cenário ? Besteira. Cinema é muito mais que pirotécnica. E quem viu “Ben Hur”em 1959 dificilmente vai aplaudir este de 2016. Por sinal que hoje não existe o garbo de Hollywood. A Metro é parte de outros estúdios. Os tycoons acabaram. Vivem os computadores que muitas vezes se inspiram no passado porque não possuem suficiente imaginação para trabalhar além da tecnologia básica.

                Não sei se vou ver este novo filme. São mais de duas horas de replay . Sem Wyler, sem Heston, sem Boyd, sem uma turma que vendia cinema...

Tarde Demais

“Tarde Demais”(The Heiress/EUA,1948) veio de um livro de Henry James,(1843-1916)escritor americano que foi muito explorado pelo cinema. Pelo menos duas obras-primas eu vi com base em seus trabalhos: “Os Inocentes”(The Innocents/1961) baseado em “The Turn of the Screw”, e este que ora volta para a Sessão Cult do Cine Libero Luxardo.
O foco é sobe uma jovem considerada feia, tímida, filha de um medico rico (havia disso nos EUA do século dezenove) que é, num baile, assediada por um jovem desempregado mas de origem aristocrata. Ela que se julgava incapaz de manter um romance apaixona-se pelo rapaz. O pai logo percebe que se trata de um “caça dote”. E pressiona a filha, edificando um relacionamento ruim. O fim da historia não merece que se conte. Mesmo porque o filme, dirigido pelo mestre William Wyler de um roteiro de Ruth e Augustus Goetz (eles escreveram também “Perdição por Amor”(Carrie) que Wyler também dirigiu e foi outra obra-prima, encerra com uma sequencia antológica. Nos papeis principais Montgomery Clift e Olivia de Havilland mostram talentos que a gente conhece mas, ainda assim, se espanta com a criação de tipos que James aplaudiria. E ainda tem Sir Ralph Richardson como o pai da herdeira, um veterano muito respeitado do teatro inglês.
A exibição por aqui prende-se ao centenário de Olivia, hoje residente em Paris na casa de uma filha. É a sobrevivente de clássicos do cinema,incluindo “...E O Vento Levou”.

Programa que faz jus ao termo que justifica o nome da sessão: cult(cultuado).

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Milagre em Milão

                “Milagre em Milão”é uma fabula que Vittorio De Sica dirigiu como a dizer que o neorrealismo italiano não estava isento da fantasia, ou que os desafortunados por uma guerra ainda podiam viver num recanto onde a fachada de favela abrigaria os sonhos burgueses.
                A historia veio de Cezare Zavattini o autor de “Ladrões de Bicicleta” o primeiro êxito internacional do De Sica diretor. Totó, o principal personagem, nascia num repolho, era portanto “imaculado e cheio de graça” como um santo. A idosa Lollota(Emma Gramatica) o criava até que as forças pudessem. Morta, Totó passa para um orfanato. Sai de lá ainda puro, dando “bom dia’ a quem passa. E por ter seus objetos roubados acaba numa favela. Ali acende e esperança, e ensina a cantar um hino de louvor a isso.Quando o espirito da avó aparece, dando-lhe uma pombinha que realiza desejos, os favelados materializam seus sonhos e revelam orgulho(há uma favelada que pede à pombinha um candelabro e no seu barraco ele nem entra).
                A magica de Totó vai até que os pobres sejam presos e consigam fugir voando em vassouras para uma terra onde “bom dia quer mesmo dizer bom dia”.
                É irresistível frear a emoção no que De Sica chamou de “ingênua fantasia”.Francesco Golisano(Totó) e Brunella Bovo (Edvige, a amiguinha da favela) encabeçando um bloco que dança e canta “A nós basta uma cabana para viver e morrer...” Fazem parte de um poema que não se esquece com o passar dos anos.Digo por mim que nunca esqueci este filme. Gosto muito dele, tenho-o entre os meus preferidos, desses que vejo muitas vezes.
                Certo, o neorrealismo pariu um conto de fadas. Não há príncipe encantado nem beijo final de mocinho com mocinha. Curiosamente os protagonistas saem do planeta. Não em nave espacial mas no veiculo de Harry Potter.

                E lembro para terminar de uma sequencia em que um favelado não se deixa contaminar com a felicidade de Totó “il buono” e quer se jogar no trilho do trem. Totó o acode e pede que ele diga: “A vida é bela, tralalala”. Desajeitado ele repete.  Zavattini pinta a miséria da cor da esperança e o filme não precisa do technicolor para dizer isso. Obra prima.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Suicídio Cinematografico

“Esquadrão Suicida” abre com US$135 milhões nos EUA. Um recorde. Penso como o Marco Antonio Moreira: se alguém me flagrar entrando numa sala de cinema para ver uma coisa dessas ou estou com Alzheimer ou em crise masoquista.
Os super-heróis pularam dos quadrinhos para as telas grandes alimentados pelo CGI. Hoje a luta pela supremacia do mercado exibidor corre entre as editoras MARVEL (Grupo Disney)e DC COMICS(WB). Não satisfeitas com os seus astros agora manipula os vilões desses astros. Mas eu reparei que no grupo atual não está Luthor ou outro qualquer inimigo do Superman. Aliás eu quero ver como a DC, através da Warner, vai ressuscitar o Homem de Aço depois do horrível “Superman Vs Batman”. Sabe-se que nesse filme o herói morre e é sepultado. Deve ressurgir dos mortos como um deus. Tudo é possível. E os dólares alimentam o Homem Morcego que Bob Kane criou modestamente (achava os desenhos feios) e através de cineastas como Christopher Nolan (“Batman,  O Cavaleiro das Trevas/2008)virou “obra de arte”(houve quem votasse no filme entre os melhores de seu ano).

Gosto mesmo é de que as salas exibidoras repitam essas doses e me deixem ficar em casa. Hoje prefiro ver meus filmes na minha tela LED 3D através de dvv&bluray editados por empresas ou pinçados em download. Vejo à hora que quero e no conforto domestico. Nesse terreno os “suicidas” não entram.

sábado, 6 de agosto de 2016

Cabiria

Dirigido por Giovanni Pastrone em 1914 e escrito pelo poeta Gabriele d'Annunzio “Cabiria”é a primeira superprodução cinematográfica italiana. Feito em 1921 o filme chegou a inspirar David Griffith para realizar “Intolerância” clássico mairo do cinema.
            Remasterizado neste século através de material gravado com a graça de ter sobrevivido à guerra, o filme pode parecer confuso ao olhar de hoje, Mas a sua direção da arte impressiona sempre. Conta a historia de uma garota nobre que é sequestrada por piratas e fadada a ser sacrificada ao deus Molock. Mas é salva pelo romano Fluvio e seu criado Maciste(sim, o herói de filmes italianos dos anos 1970). `
`           Pensando que na época da chamada “cena muda” não havia recurso técnico como o CGI imagina-se o trabalho de Pastrone e sua equipe. Um monumento de mais de duas horas de projeção que se torna básico no aprendizado de historia da chamada Sétima Arte.

            “Cabiria”está no Olympia na Sessão com Musica do dia 9. No piano Paulo José Campos de Melo

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Janis Joplin

Janis Joplin é a cara feminina da Era do Rock ou o inicio da febre juvenil que o ritmo trouxe a partir de Elvis Presley. Mesmo assim, a moça, quando estudante, ganhou de seus colegas o titulo de “o homem mais feio da escola”. Querendo a independência de gênero numa época em que ainda não havia medrado da geração Woodstock ela sofreu o diabo desde que morava com os pais. Muitos relacionamentos fortuitos, um deles tendendo a dar certo e descoberto como um parceiro volúvel, Janis se drogou cedo. E a droga a levou aos 27 anos. Sua historia é a meta do filme de Amy Berg que só chega aqui pelo esforço da programação do Cine Estação, devendo ficar em cartaz até o final dom mês.
                “Janis, The Little Girl Blue” é um documentário feito de recortes de entrevistas, de fotos &pequenos filmes, enfim de recortes da vida da cantora, procurando sempre uma cronologia mas inteligentemente avesso ao relato acadêmico que poderia transformar a artista em mais uma biografada made in Hollywood.
                Eu passei um pouco distante do rock ( e mesmo do blue) nos meus verdes anos. Mas não era alienado a ponto de desconhecer algumas estrelas do ritmo. Janis, por exemplo, chegou a viajar para o Brasil em curta temporada. De sua musica eu pouco ouvi. Mas o filme não se detém na parte musical. É biográfico na linha anárquica que traduz o biografado embora esse recurso não seja novo (eu já vi filmes parecidos).

                Vale como uma homenagem à cantora que uma geração aplaudiu e a um tipo de cinema que varre a realidade perseguindo detalhes dessa realidade. Um programa diferente que o publico deve prestigiar. 

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Amigo Gigante

Roald Dahl (1916-1990) foi piloto da RAF durante a 2ª,Guerra e escreveu historias envolvendo crianças embora de conteúdo bastante adulto. Um exemplo que fez sucesso no cinema foi “A Fantástica Fabrica de Chocolates’ ganhadora de duas versões. Dele é este “The BFG”(O Bom Gigante Amigo) que a Disney produziu em conjunto com a Amblim, empresa de Steven Spielberg(e este dirigiu).
O filme fracassou em critica e bilheteria nos EUA. Mas exibe efeitos especiais estonteantes assim como apresenta um desempenho notável do ator Mark Rylance ganhador do Oscar de coadjuvante por “A Ponte dos Espiões” também de Spielberg. Ele faz o gigante idoso e camarada que leva a pequena Sophie (Ruby Barnhill) de um orfanato à Terra dos Gigantes onde mora escondido de colegas em estatura mas de comportamento feroz.
Os autor da historia é inglês assim como os dois principais interpretes. E o filme tem a mascara de ufanismo britânico, adentrando pelo Palácio de Buckingham e colocando a rainha (que num quadro visto antes lembra Vitoria mas acaba parecendo com a atual Elizabeth II )como hostess do gigante e até mandataria de uma esquadrilha de helicópteros para banir os grandes malvados das vizinhanças do amiguinho de Sophie(que no acordar de um sonho aparece num luxuoso quarto do palácio real).
O roteiro, e eu não sei até que ponto obedece o livro original, pareceu-me um pouco confuso na idéia poética de um mundo onde os sonhos são produzidos numa garrafa e soprados literalmente para as pessoas que dormem. Não se evidencia a contento como se firmou na amizade da garotinha órfã com o velho gigante que lhe rouba de um espaço odiado por ela. Nem se vai muito longe no trabalho do gigante que ajuda na idéia de um sonho maior da menina (e afinal despertada dentro desse sonho).Mas apesar de uma narrativa cheia de lombadas o visual é muito interessante e os atores capricham para deixar a emoção pedida.
O filme é mais Disney de hoje e muito menos do Spielberg do tempo de “ET”. O cineasta foi mais feliz no seu Tintim (2011) vindo do belga Hergé (1907-1983). Ali a narrativa se fez no processo “motion capture animation” ou desenho por sobre imagens reais. Mesmo assim “BFG” não é ruim. Há momentos marcantes como close final de Rylance quando Sophie tenta se comunicar com ele à distancia. Por sinal que o melhor do filme é a mascara do ator. Um velhinho simpático que faz jus ao tamanho que os efeitos especiais lhe deram.

Ah sim: tive a sorte de ver uma copia no som original com legendas. Como é importante a fala de  BFG, embaralhando silabas, penso no absurdo que foi dublada. Infelizmente a maioria das copias exibidas em Belém é com falas em português. 

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Mais Bourne

Jason Bourne encabeça a bilheteria nos EUA. O filme é uma metralhadora de planos. Tematicamente é uma piada pois fica entre a cruz e a caldeirinha na trama em que a CIA é a vilã. Se o heroi vai voltar à agencia de espionagem norte-americana isto fica para um proximo capitulo. No fim deste ele diz apenas que "vai pensar". Dolares estimulam.