segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Do Mundo Nada se Leva

Uma das sequencias mais engraçadas da historia do cinema é a que se vê Misha Auer ensinando luta livre com Edward Arnold, este fazendo um industrial esnobe, no clássico “Do Mundo Nada se Leva” (1938) de Frank Capra.
A ser sempre revisto, o filme trata de uma família de classe media-baixa que abriga tipos insólitos e vê a filha se enamorar do herdeiro do citado industrial. O confronto das duas famílias é hilariante registrando o ridículo de quem se esquece de que “do mundo nada se leva”.
Capra gostava muito do filme. Foi o seu segundo Oscar (o primeiro foi “Aconteceu Naquela Noite” em 1934). James Stewart e Jean Arthur formam o casal romântico.


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Blade Runner 2049

                Uma volta ao universo de “Blade Runner”, roteiro de Hampton Fancher inspirado numa historia de Philip K. Dick,autor que levou a muitas “sci-fi”admiráveis como “Minority Report”, não me parecia convidativo. Tanto que relutei a ver o filme sabendo que levava na tela 3D mais de 2 horas e meia e as sessões de copias legendadas, em Belém, ficaram marginalizadas a horários noturnos e salas congeladas (o ar condicionado de um pequeno espaço usa 2 compressores e só é suportável com boa frequência). Mas ouvi e li elogios que me impulsionaram. E agradeço a eles. O filme está longe de ser ruim. Mesmo seria difícil este qualificativo com a direção de Denis Villeneuve o responsável por “A Chegada” meu melhor filme do ano passado.
                A base da nova historia passada 30 anos depois da primeira e trazendo nas falas o fato de que houve um “apagão” que mudou muito o cenário, apoia-se em alguns pilares: primeiro: os replicantes (robôs humanizados) ganharam nova geração e caçam os que restaram do passado (diz-se 2019, data marcada no primeiro filme). Os novos querem se unir e lutar por uma independência dos humanos. Segundo, a base da trama é um replicante guinado a blade runner ou seja “caçador de replicante”, que se entusiasma ao saber que uma das mulheres-maquinas pariu uma criança (humana), filha de um caçador(blade). Seria ele  a criança? Depois ainda tem uma demonstração de classes sociais mesmo de maquinas. E há vilãs.
                Do primeiro filme resta um gancho interessante que leva a imagens de um “passado” onde cabem Elvis Presley, Frank Sinatra e Marilyn Monroe. Imagens em uma casa de estilo antigo, muito mais antigo do que a data referida no roteiro anterior. Neste conjunto encontra-se o blade runner da primeira historia, vivido pelo mesmo Harrison Ford, possivelmente com pouca maquilagem a mostrar o ator como ficou ao passar do tempo.
                O novo caçador de robôs chama-se Joe, mas é conhecido na profissão como K, a lembrar o personagem de Kafka em “O Processo”. Interpreta-o Ryan Gosling, impulsionado ao estrelato depois de “La la Land”. Quando encontra o velho Rick (Ford) o filme entra numa reta perigosa onde os dois viram vitimas de um ataque (terrorista, certo) e quem pensa em um parentesco entre eles torce para que Joe salve Rick até de um naufrágio produzido pela vilã-mor (com direito a brigas de mocinho e bandido como em uma produção  comercial).
                Mas a base dessa trama é o fato de se ter descoberto em exame de ossos que uma replicante engravidou e teve uma criança humana. Dizem: quem nasce tem alma (obviamente quem não nasce é maquina). Soma-se a questão do amor, a produção de  um ser vivo sem a parafernália tecnológica. E no caso quem foi o bebê que sumiu (e nem se pode contar detalhe disso, pois é a chave da historia).
                O filme tem felizmente  o dedo de Denis. Um diretor competente usa uma direção de arte capaz e uma fotografia belíssima que não se furta à cidade fantasmagórica de antes, mas abre espaço até para uma espécie de jaula onde floresce um belo jardim (a metáfora de que a natureza deve superar a tecnologia, mesmo com sacrifício, porejando poesia).
                Pena que no final renda-se ao espetáculo bem de acordo com as aventuras cinematográficas tradicionais. E deixe que se veja uma novai investida num futuro que prevê maravilhas . Aliás, datar futuro de magica tecnológica é piada. O que se viu como em 2019 é daqui a dois anos e não há perspectiva de colônias espaciais e robôs com cara de gente. Para 2049 há mais perspectivas que agora se vê como extremamente fantasiosas. Espera-se é que haja sorte como nas historias de Flash Gordon onde, nos anos 1930 se via foguetes, tv gigante, e mais “invenções” que chegariam daí a 20 ou mais anos.
                Bem, Denis Villeneuve não deve assinar o próximo Blade Runner. Ou será seduzido pela bilheteria que agora festejou seu trabalho no porto de origem(EUA), mas não tem andado às mil maravilhas em lugares como o nosso. Pelo menos o filme nas nossas salas de shopping só está em sessões noturnas e poucas com o som original (terrível dublar um filme desses).



sábado, 7 de outubro de 2017

Sci-fi datada

                Datar historias de ficção cientifica é um perigo. No cinema eu lembro que o “Daqui a Cem Anos”(Things to come) de William Cameron Menzies com roteiro de H. G. Wells, um avião do século XXI ainda não usava jatos e motores de explosão ficam abaixo de tombadilhos onde os passageiros “tomavam banho de sol” como se estivessem num transatlântico. Neste filme, a viagem a lua seria só em 2036.  No “Blade Runner” de 1982 a ação se passa em 2019 (daqui a pouco mais de um ano) e já se fala em colônias espaciais e robôs de forma humana numa Los Angeles que parece Hong Kong. Não há telefone celular embora impressões vocais abram portas. Agora uma nova versão joga a historia para 2049 e a tecnologia ajuda a servir de trampolim. Ainda não vi o novo filme mas de entrada me parece oportunismo comercial. Ridely Scott entregou a direção a Dennis Villaneuve saído do excelete “Chegada”. Por ele merece uma ida ao cinema. Mas é bom lembrar “Barton Fink” e ver que filme comercial bisa, acima de tudo, faturamento.

                É bom frizar que o “2001”de Kubrick não queria dizer o ano. Era o século iniciante. Nesses filmes espera-se milagres tecnológicos e tragédias acompanhantes. Os profetas de cinema não são nada animadores.

domingo, 1 de outubro de 2017

O Estranho que nós Amamos

“The Beguiled” romance de Thomas Cullinan foi ao cinema em 197l por Don Siegel com Clint Eastwood. Foi um filme estranho na carreira de Eastwood então afeito a western. Ele fazia o soldado ianque durante a Guerra da Secessão que surgia ferido nas vizinhanças de uma escola de moças e pelas jovens e a diretora do lugar, era abrigado, tratado, e depois sacrificado quando sofria mutilação (perde uma perna) por conta do tratamento de emergência à infecção que pegou. O tema serve agora ao filme de Sofia Coppola que recebeu o mesmo nome tanto no original como em português (“O Estranho que nós Amamos”). Por ele Sofia ganhou premio em Cannes.E muitos elogios até apressados de quem certamente não lembra ou não viu o de Don Siegel.
            A meu ver a nova versão é comportada, sintética e com produção eficaz assim como interpretações. Mas ainda voto na anterior. Lembro bem da mascara de Eastwood e de como ea recebido por Geraldine Page. Elzabeth Hartman, Jo Ann Harris e outras figurantes. O tema não me parece ter mudado e nem evoca o machismo que se diz agora quando se compara com a versão atual que seria “feminista”( como ?!).
            Nicole Kidman, Kristen Dunsten e a irmã de Dakora Fanning, Elle, não acrescentam ao que mostraram suas antecessoras. E a direção comportada não exibe a virulência que a obra exige e que o diretor que deu a mão a Eastwood nos EUA(depois de ganhar fama na Itália nos spaghetti de gente como Sergio Leone) não avança numa possível visão introspectiva dimensionando melhor o temperamento das jovens que freavam seus instintos num retiro forçado (corria fora do prédio a guerra civil).

            Mas não há de se jogar fora. O novo “Estranho..” de Colin Farrell tem seu valor, especialmente na programação liliputiana da cidade nos dias atuais. Precisa é fazer comparação com o que foi feito na área.