quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Melhores Filmes de 2013 - ACCPA

Esta relação é a final do cômputo geral das listas dos membros da ACCPA.

1. Amor , de Michael Haneke - 90 pts.
2. Amor Pleno , de de Terrence Malick - 66 pts.
3. Blue Jasmine, de Woody Allen - 52 pts.
4. O Nono Dia, de Volker Schlöndorff - 43 pts.
5. O Som ao Redor , de Kleber Mendonça Filho - 41 pts.
6. O Mestre , de Paul Thomas Anderson - 31 pts.
7. Hanami - Cerejeiras em Flor, de Doris Dörrie - 29 pts.
8. Tetro, de de Franc...is Ford Coppola - 25 pts.
9. Frances Ha, de de Noah Baumbach - 24 pts.
10. Gravidade, de de Alfonso Cuarón - 19 pts.
Ana Karenina, de Joe Dizzy Wright
Django Livre, de Quentin Tarantino.

MELHORES FILMES DE 2013 – PEDRO VERIANO




1- Amor (Amour) de Michael Haneke
2- Blue Jasmin –de Woody Allen
3- O Nono Dia (Der Neunt Taug) de Volker Schlondorff
4- Capitão Philips – de Paul Greengrass
5- Os  Suspeitos (Prisoners) de Dennis Villeneuve
6- Gravidade (Gravity) de Alfonso Cuarón
7- Moonrise Kingdom – de Wes Anderson
8- Anna Karenina – de Joe Wright
9- O Quadro (Le Tableau) de Jean François-Laguionie
10- Cerejeiras em Flor (Krischbluten Hanabi) de Doris Dörie

Outras categorias

Diretor – Woody Allen (Blue Jasmine)
Ator- Daniel Day Lewis (Lincoln)
Atriz-Emmanuelle Riva(Amor) e Cate Blanchett (Blue Jasmine)
Ator Coadjuvante- Barkhad Abi (Capitão Phillips)
Atriz coadjuvante- Sally Hawkins (Blue Jasmine)
Roteiro original- Aaron Guzikowsky (Suspeitos)
Roteiro adaptado-Billy Ray (Capitão Phillips)
Fotografia – Emmanuel Lubezky (Amor Pleno)
Edição- Melanie Olivier (Ana Karenina)
Animação- O Quadro
Efeitos Especiais- “Gravidade”
Musica- Steven Price(Gravidade)
Pior filme-“Amantes Passageiros”

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O'Toole e Joan Fontaine

Dois grandes intérpretes de filmes que de alguma forma marcaram a historia do cinema se foram em dias seguidos: Peter O’Tolle no sábado 14/12 e Joan Fontaine no domingo 15/12. O’Toole deixou a imagem de Lawrence da Arábia segundo o diretor David Lean. O filme permanece uma das raras superproduções de ampla qualidade artística. Em quase 3 horas na edição final o diretor de tantos clássicos reviveu o conterrâneo dele que de alguma forma trabalhou pela união do povo árabe antes da 2ª.Guerra Mundial. Curioso é que O’Toole não era nenhum astro capaz de justificar a escolha para um projeto de grande orçamento. O papel, aliás, teria sido oferecido a Marlon Brando que recusou por falta de tempo. Lean acreditou no jovem que até então só havia feito trabalhos de coadjuvante e algumas peças de teatro. Daí em diante muito se viu com a marca interpretativa de um bom ator, e é possível que no próximo a critica local programe “Becket, O Favorito do rei” um de seus bons papeis e no filme que contracenou com o colega de escola Richard Burton. Joan Fontaine era uma das quase centenárias que os fãs festejavam a longevidade. Não ganhou a irmã Olivia de Havilland, hoje com 97 anos, concorrendo com Maureen O’Hara que atualmente soma 93. Foi a descoberta de Hitchcock em “Rebecca”(1940) e nas mãos dele a vencedora do Oscar por “Suspeita”(Suspicion/1941). O último filme de Joan foi em 1994, para a TV (“Good King Wenceslas”). Ela fez ao todo 71 filmes e alem das obras de Hitchcock não se esquece suas aparições em “Alma sem Pudor”(Born to be bad/1950) de Nicolas Ray, “Carta de uma Desconhecida(Letter from na Unknown Woman/1948)de Max Phuls e “Jane Eyre”(1943) de Robert Stevenson onde contracenou com Orson Welles. Peter O’Toole só ganhou um Oscar honorário (por sua carreira). Perdeu em “Lawrence” para Gregory Peck por “O Sol é Para Todos”/To Kill a Mockinbird) e prosseguiu perdendo em mais 7 vezes. Joan foi candidata por “Rebecca” e por “De Amor Também se Morre”(The Constant Nymph/1943) de Edmund Goulding.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Blue Jasmine

Jasmine é possivelmente a mais triste das heroínas de Woody Allen. E dimensão dessa tristeza não seria percebida pela plateia sem a mascara de Cate Blanchett, especialmente quando lhe dão um close e ela fala de sua vida que foi muito rica em termos financeiros e tombou de forma súbita por sua própria vontade, vingando-se especialmente da infidelidade do marido corrupto. O filme é sobre irmãs de classe diferentes, embora ambas adotadas pelo mesmo casal que no correr do filme só resta a mãe, uma esbanjando fortuna em espaços principescos e não se importando de ter deixado de estudar quando estava próxima de ganhar um diploma, e, certamente, uma carreira. A outra irmã vive em outra cidade, luta por manter e a si e um flho pequeno, deixa o marido por conta da influencia da irmã que abre a ele uma porta viciada (essas que fecham logo quando não se as calça), namora um braçal estúpido mas honesto e fiel. A vida dessas personagens podia ser só uma novela sobre romances e fortunas efêmeras. Mas é um quadro dramático que ultrapassa os meios vividos por outras heroínas do autor. É tão melancólica a Jamine (nome que aceitou influenciada pela mãe, pois o seu não condizia com o seu “status”)que deixa saudades da Cecilia (Mia Farrow) que engolia a sua vida de cão com um marido bruto vendo Fred Astaire e Ginger Rogers dançarem, numa tela, “Cheek to Cheek”. Pode ser que Jasmine seja mais afeita às colegas de “Interiores” ou de outro Allen preocupado com o feminino que Hollywood não encara (seus tipos cabem mais nos filmes de seus ídolos Ingmar Bergman e Fellini). Mas o certo é que ajudado por Cate ele chega a um dos pontos mais altos da sua carreira a versátil que sabe fazer rir e meditar ao nível da lágrima com um cinema que foge das malhas industriais e para surpresa de muitos dessa indústria, chega à margem de lucro. Depois disso Allen precisa voltar ao riso, se preciso com ele mesmo atuando. Não é presságio, é receita.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Desafiando Limites

Gosto muito dos filmes de Terrence Malick o diretor americano que se poupa da rotina industrial e das festas de premiações. Mas depois de ter mergulhado na introspecção com “A Árvore da Vida”, assim mesmo procedente, pois alinhava os sentimentos humanos com a criação de um universo que ele, ser humano, dimensiona (sem questionar de onde veio ou está) o cineasta foi mais fundo com este “Amor Pleno” que se limitou aos circuitos “de arte”. Teria Malick pensado em filmar um sentimento, no caso o amor ? Lembrei da piada do louco que gastava papel e o médico lhe perguntou o que fazia. Ele respondeu que estava escrevendo o assovio. Quando o médico tentou ajudar soletrando a palavra ele respondeu firme: “-Eu quero dizer fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii’. Na literatura pode-se falar de amor pois o leitor completa a afetividade. Mas como dar uma imagem a um estado de espírito ? Botar na tela cenas bem fotografadas de lugares bucólicos ? Retratar o casal se afagando? Montar o idílio com a paisagem? Dar um close de sorriso e em seguida “rimar” com as arvores balouçando-se ao vento? Focar a foto de alguém nas mãos de quem está distante e percebe que este alguém lhe faz falta ? Afinal, como dizer mostrando que o amor é assim e assado? O filme é uma divagação que mesmo assim deixa margem ao enredo de um casal que se achou, viveu e se separou além de abrir espaço para um sacerdote que desencontrou sua fé. Para um espectador comum é um exercício sobre a fidelidade. Não diz que é um quadro de amor pleno. Muitos cineastas de ontem e de hoje usam as câmeras para divagar sobre o que pensam ou sentem. Mas é difícil que eles se comuniquem. E há quem veja nessa incomunicabilidade uma forma de expressão, ou seja, um modo coerente de fazer ver o que os neurônios impulsionaram. Eu respeito muito quem usa o cinema pesquisando o seu potencial. Mas com a idade aprendi que gosto do que me toca. “Amor Pleno”não me tocou.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Jogos Vorazes

Não li os livros de Suzanne Collins como também não li os de Stephenie Meyer ambas autoras de best-sellers que entraram firmes no cinema comercial. Mas ao ver os filmes, e confesso que só vi todos os de Collins (até agora) pois a mediocridade do universo de Meyer salta em poucos planos, posso dizer que a autora foi além das aparências, vendo um universo real dentro do futurista exposto com o papel gigantesco e opressor da mídia, o culto à imagem e, enfim, o apreço à violência mesmo banhado pelo medo. “Jogos Vorazes”(The Hunger Games) de Collins está em seu segundo livro. Contando com uma direção dedicada de Francis Lawrence mostra uma cidade em tempo a seguir onde o governador é um manipulador da opinião publica através da televisão e o “circo”é oferecido num certame em que casais de distritos são convocados para se matarem ficando o vencedor com um laurel que o povo aplaude como se ganhasse uma copa de mundo. No segundo filme que estreou em Belém, os vencedores do primeiro jogo, Katniss (Jenniger Lawrence) e Peeta Mellark(Josh Hitcherson) são convocados para uma segunda etapa até por ameaça de seus parentes e amigos serem punidos em caso de desistência. Como se viu antes, Katniss ama Gale(Liam Hemsworth), antigo namorado da província onde mora. Por isso consegue que se afaste o casamento que os donos do poder (não à toa “Capital”) pretendem realizar dela com Peeta dentro do programa de abertura da nova porfia. Mas há um entrave: o povo começa a se rebelar contra os mandantes. E um modo de não fazer da moça um ícone rebelde é matá-la durante o jogo. Por outro lado, a revolução contra o despótico Presidente Snow(Donald Sutherland) se arma englobando um novo mandante sanguinário,Pluarch (Philippe Seymour Hoffman). Claro que o filme numero 2 não fecha a historia. Mas cumpre o seu destino de retratar um mundo louco que se formos analisar é produto de quem se ajoelha diante do que os transmissores de pretensas verdades fazem e acontecem, propagando lideres que pagam os custos. Por sinal que as imagens, apesar da menção à tecnologia apontando recursos tridimensionais saindo do nada, não se omitem a arremedos de bigas romanas e saudações que passam pelas ditaduras da idade antiga e dormem nos cultos a Hitler, Stalin e outros monstros da idade moderna. Com isso a autora diz que o mundo se recicla nos instintos bestiais cultivados. Não há como contestá-la. E tem tido sorte no cinema. Os dois filmes “Jogos Vorazes” pulam adiante dos blockbuster saídos de quadrinhos ou arranhões na mitologia grega. Esperemos o terceiro tempo;

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Capitão Phillips

Assim como em “Gravidade, “Capitão Phillips” focaliza uma situação. O enfoque não deixa o personagem principal que acaba sendo o alvo de piratas somalis quando navega por mar africano comandando um cargueiro. Phillips é como se diz “nasceu de novo” pois foi refém dos atacantes e varias vezes sentiu um revolver apontado para a sua cabeça. Fazer um filme sobre um fato sem se deslocar desse fato e sem usar o recurso cômodo de narração em off, não é tarefa muito fácil. O diretor inglês Paul Greengrass sabe disso e enfrenta esse tipo de desafio apelando para dois fatores exponenciais: o enquadramento que leve o espectador para dentro da ação e a montagem que exige tomas curtas e movimentos de câmera nada comportados. A técnica é usar de uma linguagem que se pode chamar de jornalística. É como se um telereporter estivesse ali, na cena, registrando o que passa de forma a permanecer incólume. Evidentemente o arsenal técnico precisa de elementos humanos em foco. E os atores são ótimos. Tom Hanks está bem melhor do que em filmes que lhe deram prêmios. E os coadjuvantes somalis deixam forte impressão. São mascaras que espantam. E não se sabe o que fizeram antes em cinema ou teatro,apenas Barkhad Abdi tem trabalhos na TV mas depois de aparecer em “Capitão Phillips”. Diz-se que em criança fugiu com a família para o Yemem quando a Somália sofreu guerra civil. A produção do filme atual acertou cheio em usá-lo. Um dos melhores filmes deste ano.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Anos de Critica

Eu comecei a escrever sobre cinema em um “jornal”(vale as aspas)que editava em casa objetivando os familiares. Melhor dizendo: “os jornais”(primeiro “Gipsia” depois “O Raio”). Em 1953 o depois deputado Raimundo Noleto, que morava em casa, estimulou-me a comentar no jornal “O Estado do Pará” o filme “O Cangaceiro” de Lima Barreto(assunto de todas as rodas). Depois disso um dos diretores do SESC no tempo em que meu pai (Pedro de Castro Álvares) presidia a entidade dos comerciários, José Maria Alves da Cunha, pediu-me um texto sobre um filme de capa-e-espada em cartaz no Olímpia. Publicaram em “Folha do Norte”. Passa o tempo, chega o Cine Clube Os Espectadores de Orlando Costa e meu cineminha, o Bandeirante, servindo de palco para as previas dos filmes, passei a colaborar na coluna de Acyr Castro em “A Província do Pará”. Na mesma época mantive uma coluna em “O Estado do Pará” com um vizinho chamado Fernando Mendes.Em 1966, com a mudança de Acyr para S.Paulo, passei a assinar a coluna diária que mantive até fechar o jornal em 2001. Quando em 1962 os críticos de cinema que mantinham espaço nos jornais da cidade resolveram criar uma associação de classe, eu presenciei tudo sem tomar parte na diretoria. Só em 1966 entrei nisso e como presidente. Por anos a fio o interesse dos jornalistas associados pelo cinema só se reuniam para votar os melhores filmes do ano. A eleição transformou-se numa festa natalina. E persistiu nas diretorias que se seguiram pelas décadas. Em um ano, com Luzia na presidência, a APCC ganhou uma sede. O espaço abrigou um curso de historia e linguagem cinematográfica e de uma feita recebeu o cineasta Joaquim Pedro de Andrade que viera a Belém pensando em filmar a trajetória de Oswald de Andrade (afinal o filme “O Homem do Pau Brasil”). No século XXI Marco Antonio Moreira assumiu a associação e tornou-a entidade registrada (com CPF). Nesse tempo todo escrever sobre filmes irmanou-se a exibir filmes.O Cine Clube APCC, criado em 1° de Novembro de 1967, durou até 1986 quando surgiu o Cine Libero Luxardo (Centur).Eu que programava o clube passei a programar o novo cinema daí achar que a missão prosseguia. Na época de cineclube exibia-se filmes em varias localidades e muitas vezes de forma simultânea (Cine Guajará. Grêmio Português,Faculdade de Odontologia- tudo no mesmo dia e hora). Meio século dessa aventura é de alguma forma confortante. A mim cabe dizer que satisfazia um desejo de “passar cinema”. E escrever sobre cinema. No trajeto andei filmando em 16mm e por duas vezes arranhei a área profissional(um documentário para o USIS e um roteiro para o Libero Luxardo). Bem, hoje faço vídeo e tenho este blog. Também colaboro com as sessões da hoje ACCPA com vídeos de meu arquivo maluco (um bando de discos que nem sei mais quais são). Não devo parar enquanto tiver forças. E olhos para ver imagens em movimento.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A Bela Adormecida

“A Bela que Dorme” de Marco Bellocchio dorme no fato de não conseguir ser uma discussão sobre a eutanásia com argumentos que prossigam o que outros cineastas fizeram, eu eu lembro Alessandro Amenabar com o seu “Mar Adentro”. Um roteiro ambicioso focaliza 3 casos de doentes terminais em paralelo com a realidade de Eluana Englaro, comatosa por 17 anos e alvo de discussões sobre o direito de morrer seja por parte do povo seja do governo italiano (morreu pouco depois do pai dela retirar os aparelhos que proporcionavam a sua respiração). Os casos são vistos pela ótica sentimental e deles escapa mais forte o de um senador, adepto da eutanásia, isto apesar de pedir a cura de sua mulher enferma. Um dos casos é o de um médico que vigia a sua paciente capaz de se levantar do leito e tentar se jogar da janela próxima. Este caso ganha um tom prosaico: a moça é obstada pelo médico, mas, quando ele dorme, ela tenta de novo e...desiste. Sem tomar partido, Bellochio acaba mostrando que a pessoa “deixada morrer” na verdade pode desejar viver desde que lhe deem chance para isso. E afinal de contas o ato médico pede a cura, nunca advogar a morte. Um filme inócuo. Não diz nada sobre um tema muito rico e por isso nada transmite que mexa com a consciência de quem vê. Premiado por aí afora, “A Bela que Dorme” na verdade cochila . Nem sonha sobre a descerebração. Poderia ganhar o beijo de um príncipe mas o clima de conto de fadas não é cogitado. Uma pena.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Gravidade,O Filme

Duas maçãs entraram na lenda: a de Adão(ou da Eva) e a que caiu na cabeça de Newton. Esta última teria sido a musa da Lei da Gravidade. Para quem não lembra da aula de Fisica, “a matéria atrai matéria na razão direta da massa e na razão inversa do quadrado da distancia”. Certo? No filme “Gravidade”(Gravity), ora em cartaz mundialmente, a lei ganha o titulo mas é jogada no espaço com certa liberdade estilística. Um exemplo em cinema: no clássico “Destino à Lua”(Destination Moon/1949) de George Pal & Irving Pichel, os dois astronautas que consertam uma antena de sua nave jogam um para o outro uma garrafa de oxigênio. A garrafa cai. Isto deu bode na critica. De fato não deveria cair pois no espaço não há queda (pois não existe chão). O rigor seria a garrafa ficar flutuando perto dos personagens, pois ela (matéria) seria atraída por eles. Bem, no filme de Alfonso e Jonas Cuaron a dra.Ryan(Sandra Bullock) está de fora de sua estação orbital junto com o colega Matt (George Clooney) quando estilhaços de uma nave chegam a eles e rompe-se o cordão que os prende ao objeto de trabalho(a estação). Há um impulso e os dois são arremessados para longe. Aí cabe o arremesso devido à força inicial. À deriva, pois distam muito dos objetos maiores, os dois estão condenados à morte quando parar oxigênio dos capacetes ou furar as vestes (qualquer descompressão mata na hora e o filme mostra um colega deles mumificado por desgaste nos trajes espaciais). A salvação dos heróis da história é conseguir chegar a um engenho chinês que existe nas proximidades (alguns quilômetros). Para isso usam propulsores anexos aos trajes. Tudo OK. Mas difícil num plano real até porque o estresse desgasta e por mais treinado que seja o astronauta ele, ao consumir demais oxigênio, tende a “pregar” no caminho. Kubrick em “2001” mostrou um dos tripulantes de sua nave espacial desprendendo-se e sumindo no espaço por conta da artimanha do robô Hall. Nem se cogita em ir atrás dele. O robô deu o impulso. E quando o outro astronauta consegue reentrar na sua nave há um brevíssimo momento de abertura da escotilha, impulso, choque de áudio e rápido fecho da mesma escotilha conseguindo evitar(de forma cientificamente discutível) o efeito da descompressão. Aqui, em “Gravidade”, a jovem medica consegue abrir com suas mãos a comporta de entrada da estação objetivada e entrar sem problemas. Ficção, mas perdoada, assim como o seu regresso a Terra numa fantástica reentrada na atmosfera em uma parte da nave-mãe e sua queda no mar com fôlego para emergir e chegar à uma ilha não importa de banque uma Robinson Crusoé feminina. Não importa porque o filme é mais do que uma aventura no espaço. Cuaron pinta a sua mocinha de mãe sofrida pela perda da única filha. Há um momento em que ela, já na estação chinesa, vê o colega considerado morto chegar, entrando sem dar bola para a descompressão e sentar-se ao lado dela. A rigor a mocinha morreria. Mas é um parêntesis poético. Os dois falam de suas vidas, Sem o recurso cômodo do flashback ai se fica sabendo quem é quem. Vários planos da Terra (diga-se fotos reais) são comentados por sua beleza. De fato impressiona como um crepúsculo ou uma aurora permanente no tom azul. Lá no cenário negro onde estão o casal astronauta procura esquecer o perigo no trabalho. Mas ainda assim comenta a visão do mundo-mãe. “Gravidade”é sobre isto: o ser humano fora de seu ambiente, percorrendo o que está além de seu “habitat”,dimensionado na pequenez que se lhes dá a situação. Chega a haver uma legenda à guisa de prólogo dizendo que no espaço o homem não pode viver. Teimoso, tenta isso e ir além. A conquista cientifica arranha a sensibilidade e quem no fim das contas está invadindo o espaço é literalmente estranho no ninho. E para quem apenas o vê, um objeto de admiração como um poema. No ser vivo em um silencio de morto está toda a grandeza anímica, toda a maravilha que é a pessoa física com seu tesouro psíquico. Poucos filmes se contentam só com isso:só com duas pessoas vagando no espaço. Os Cuaron jogaram forte no que se pode ver como thriller cientifico ou um pouco além. Ganharam. “Gravidade”é o filme do momento.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Sem Tempo e sem Vento

Jayme Monjardim fez um excelente trabalho na minissérie de TV sobre sua mãe,Maysa.Mas no filme “O Tempo e o Vento” sobre o texto extenso e intenso de Erico Veríssimo ele confunde cinema com televisão.Alterna closes com planos abertos de crepúsculos, coloca a fala como primazia, despreza os recursos de produção como as sequencias de batalhas ou qualquer outra externa além do improvisado cemitério onde o numero de cruzes sempre parece deficiente.Isto sem falar nas interpretações ruins, acomodando-se em estereótipos de valentes, tímidas, e o mais que engendre um enredo popular, isto sem dizer muito dos episódios históricos que cobrem grande parte da historia do sul brasileiro. O filme podia ser “...E o Vento Levou” canarinho. Perde a chance até pela ambição do roteiro em ser fiel ao original literário sabendo que era impossível condensar os 3 volumes da saga regionalista: “O Continente”, “O Retrato” e “O Arquipélago”. Como nas outras adaptações para a linguagem das imagens, o primeiro livro, escrito em 1949, ganha corpo sobre os outros. E agora com o filme de Monjardim não é diferente. Mesmo assim,mesmo tentando a síntese a partir de um trecho da obra literária, o filme tropeça feio. Abraça os estereótipos de melodramas e ainda se dá ao luxo de um final “poético” onde as figuras do passado ressurgem para também fazer parte da série de crepúsculos que pontua a narrativa. Cheio de furos de continuidade, satura em suas 2 horas e 10 minutos de projeção. A mim encheu...

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Lembranças

Um dos primeiros filmes que eu exibi no meu Cine Bandeirante(garagem de casa, na hoje José Malcher antes S.Jeronimo) foi “Almas Rebeldes”(Strange Cargo) que hoje revi em DVD. Uma revisão em 63 anos de um filme com 73 é prova de fogo. Mas não deu para queimar.Clark Gable suja a roupa em lama gulosa, depois toma banho com ela e ainda assim continua usando-a até que arranja outra não se sabe de quem. Joan Crawford perde o batom. Dá para mostrar uma cara sofrida embora o que passa na história fosse para dar mais ênfase a isso. O filme trata de prisioneiros que fogem pela mata próxima da Ilha do Diabo. O grupo vai morrendo e só Gable, Joan e um colega (Ian Hunter) escapam. Mas no fim das contas Gable se entrega à policia ao lado de sua namorada. Hunter profetiza (ele é o místico da historia) umm final feliz. Não sei se isso estava no romance de Richard Sale de onde veio o roteiro. Mas o artificialismo passava na época em nome de uma narrativa ágil por conta de Frank Bozarge, o cineasta “romântico” por excelência. Matei saudades. E gostei mais agora do que no distante 1950. No cinema comercial me diverti com “A Família do Bagulho”, raro titulo brasileiro melhor do que o original (We’re the Millers). Tudo estereotipado mas com situações bem armadas para fazer graça. E por tratar de títulos, o que valeu por aqui foi, por exemplo, “A Felicidade Não Se Compra”(para “it’s a Wonderful Life), a receber elogios do próprio autor, Frank Capra. Mas o normal é aberrações como “Meu Ódio Será Tua Herança”para “The Wild Buch” ou “Fé Demais Não Cheira Bem”para “Leap of Faith”. Em DVD vi um filme interessante também com titulo chamariz: “Paixão Obsessiva” para “The Good Doctor”. Orlando Bloom faz um médico jovem extremamente vaidoso que se apaixona por uma cliente e faz de tudo para que ela permaneça doente para tê-la perto de si. Um desses títulos de baixo orçamento que os distribuidores lançam direto em linha doméstica a não ser em mercados fortes como o do sudeste. Aliás, essa faixa cresce assustadoramente em DVD. Tanto que o melhor cinema agora, para quem mora numa cidade como Belém, é o de casa. E a faixa cineblubina está vivendo com datashow, ou seja, com o tipo de programa veiculado em disco digital. Lembro do meu tempo de cineclube onde lutava com cópias em película de 35mm e 16mm. O aluguel somava o preço do frete e o volume do produto quebrava mola de carro(o meu). Mas foi um capitulo de história e neste 2013 o Cine Clube APCC faria 45 anos e a Associação de Críticos 50. Marcos de tempo.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Terror e Corrida

Um abrir de porta gera um acorde, uma noite de chuva exibe trovões contínuos que a sonoplastia agiganta dentro da sequencia, os espíritos maus exibem caras de cadáveres em decomposição, e o vilão demoníaco deixa o cenário dos heróis para ir, explicitamente, ao diabo que o carregue. Por mais que o artesanato de James Wan exiba um certo equilíbrio no modo como conta a sua historia, “Invocação do Mal”(The Conjuning) é a velha formula de assustar os assustáveis em sala de cinema. Há quem goste do que se chama “filme de terror” e em especial os namorados que aproveitam a incitação ao medo para uns amassos. O cinéfilo ri. E se o faz se diverte.É o mínimo. Melhor como diversão é ver as corridas de “Rush” o filme de Ron Howard sobre a rivalidade de Nick Lauda e James Hunt pilotos de Formula Um que maçaram o esporte nos anos 70. O filme cobre principalmente o ano de 1976 quando as corridas ganharam espaço em muitos países com muito interesse (e dinheiro). Os dois atores que fazem respectivamente Lauda e Hunt, Daniel Bruhl e Chris Hemsworth, dão conta do recado. O diretor usa de sequencias reais numa boa montagem com os rapazes nos volantes. Eu que não sou muito desse tipo de peleja não olhei para meu relógio durante a projeção. Valeu. Em casa vejo o mais recente filme de Sofia Coppola:”Bling Ring”. Sobre “filhinhos de mamãe” que roubam casas de artistas de Hollywood. Fica engraçado quando eles entram no palacete da atriz Lindsay Lohan que havia sido presa. E a garotada até que escapa de penas grandes. Bem narrado, o filme pinta uma realidade dolorosa ao ver os jovens se drogando sem perspectivas na vida que levam. É o outro lado da terra da fantasia.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Cine Holyúdi

Fazer cinema não é fácil. Eu tento fazer filme amador desde 1951 e lutando com película 16mm construí coisas de forma ousada, sem edição "a posteriori”(montava durante a filmagem usando película positiva). Por isso desculpo o amadorismo de “Cine Holyúdy”.uma produção “made in Ceará” com parcos recursos e moldada no folclore regional. Mesmo assim acho que a improvisação, a pintura especifica, tudo o que o autor Halder Gomes edificou, podia melhorar. Os tipos pintados de comédia com as tintas da caricatura são extremamente exagerados. O ideal seria o roteiro começar num circo e adentrar por uma dessas “peças” que se encenam nos palcos ao lado dos picadeiros em montagens interioranas. Claro que no passado. Hoje há um crivo tecnológico que desvirtua o clima de ingenuidade. Na aventura do idealista que quer montar uma sala para usar seu projetor sobra estereótipos grossos, atirados na tela sem um traço imaginoso. Dou exemplo: há uma cena e, que se vê um padre, no confessionário, movendo as mãos por baixo sem que se veja logo o que está fazendo. Pensa-se que o sujeito se masturba. Depois é que se sabe,num plano mais aberto, que está consertando seu pequeno rádio para ouvir o seu programa preferido. Esse tipo de anedota, surgida da surpresa, não se repete no filme. A plateia do cinema é mostrada como uma aficionada de kung-fu e suficientemente burra para engolir uma pantomima do dono da casa quando a sessão se interrompe antes do fim do filme. Nada de ver o espectador das brenhas que no Ceará como na Amazônia era um maravilhado sem a mascara de um bufão. Não deu para sair antes do fim mas não gostei do que vi. E não mostra o amor ao cinema exceto numa fala do político local que diz que “cinema é a vida e por isso enquanto há vida há cinema”. Com imagem Ettore Scola encerrou o seu “Splendor” onde a plateia não deixou que morresse sua sala de projeção e levou cadeira para o que já era um vazio e voltou a ver o que lhe emocionava.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Além da IMaginação

A série de TV “Além da Imaginação”(Twilight Zone) foi uma das coisas mais interessantes da época em que surgia o videocassete e a transmissão via satélite. Em Belém esteve no Canal 2(TV Marajoara), filial da Rede Tupi. O apresentador era Rod Serling, autor da maioria dos roteiros. As filmagens eram feitas na MGM. Mas tinham historias de Richard Matheson, hábil em sy-fy, morto este ano aos 87. Ele chegou a assinar 16 episódios. E a maioria era criativa, pulando armadilhas de mesmices. Revejo hoje boa parte da primeira temporada desta série(1959/60) reeditada em DVD.Alguma coisa envelheceu, mas ainda há episódios que dignificam a saudade da estreia.O que mostra uma cidade edificada nos sentimentos de um homem saturado das injustiças de um trabalho árduo, aquela comunidade antiga que ele vê de um trem e que acaba por desembarcar e na realidade aparecer morto é um deles. Também o da jovem motorista que vai trocar pneu careca de seu carro e daí em diante passa a ver um mendigo pedindo carona. Quando ela sente necessidade de uma voz amiga e telefona para a mãe sabe que esta se encontra hospitalizada pelo trauma da morte da filha em desastre rodoviário. E há muito mais nos 5 discos que estão sendo vendidos em um estojo cada um com 5 episódios. Amostragem de um cinema imaginoso que hoje faz falta...

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Dois Filmes Nacionais

“Elena” é um filme privado lançado corajosamente em público. Explico: a irmã da principal personagem fez o trabalho colando sequencias de filmes domésticos realizados desde que ela era criança (e a irmã, personagem-título, bem mais velha). Basicamente trata da busca pela tal Elena que se foi para os EUA| tentar o meio artístico. Não deu mais sinais de vida. Petra, a irmã, vai atrás. E a busca não dá conta das pouco mais de duas horas de projeção. O que interessa é o que sentia a cineasta, o quanto ela amava a mana. É impressionante como os filmes familiares deixam margem à difícil poesia cinematográfica. Não há palavras descrevendo os fatos. Na verdade Elena morreu –e dizem que se matou. Mas entre as lágrimas de irmã e de mãe estão as cenas da vida em comum e do sonho da jovem, perseguido sem se alcançar. Vendo este filme em seguida a “O Concurso” renovo meu respeito pelo cinema nacional. Sim, pois “O Concurso "é o que de pior se pode fazer com câmeras. Piadas gastas pelo uso, estereótipos da mesma forma, reprisam a pretensa comédia norte-americana “Se Beber Não Case”. Só que desta vez não se trata de casamento. Há sexo como nas pornochanchadas de todos os tempos, mas um Zach Galifianakis não existe. Ainda bem que o endereço às plateias descerebradas não é a única alternativa em programação. Há saídas como “Elena”. Mesmo que muitos espectadores saiam no meio do filme. Difícil se acostumar com cinema denso.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Aniversário de filmagem

Precisamente há 62 anos filmei pela primeira vez. Meu pai me deu uma câmera 16mm Bell Howell com magazine para 50 pés. O problema é que eu nada sabia de fotografia e nem manejar fotômetro. Soube que a abertura do diafragma em 11f ou 16f dava para se ter, à luz do dia, boa imagem (com filme Super X ou XX). E assim agi. Em 1952 cheguei a fazer pequenos filmes de ficção com vizinhos e gente de minha casa. Fui aprendendo errando e muito devo a Fernando Melo que me ensinou muita coisa dessa arte que nesse tempo precisava de técnica hoje suprimida com os enfoques automáticos. Filmei depois com câmera maior e usando rolos e 100 pés. Fazia a edição na hora da filmagem para não cortar filme positivo (não tinha recursos para usar negativo e copião). Só guardei dois títulos dessa aventura. Aprendi cinema vendo e fazendo. Lembro com saudades dessa ousadia.

Paciência Equina

Agnés Hranitzky e Béla Tarr são diretores húngaros. O ultimo, de 58 anos,é conhecido por suas sequencias de uma só tomada, extremamente lentas,fato que chegou a influenciar cineastas de outras plagas como Gus Van Sant. Esse tipo de linguagem o cineasta e companheiro usam em “O Cavalo de Turim”(A Torinói Ló/2011). Mais: as tomadas são geralmente fixas, com a câmera no tripé (ou grua). Lembrei ao ver o filme “Sacrifício”(Offret) de Andrei Tarkovsky onde uma tomada ficava na tela e só mudava depois da gente ir atender telefonema ou comer qualquer coisa. Não tenho afinidade com essa forma de “cinema d’art” como dizem os franceses. Para mim cinema é mesmo cinemática, é movimento. Outro dia revi em bluray “Janela Indiscreta”(Rear Window) de Hitchcock. Podia passar sem falas (embora elas deixem o tom sarcástico que pinta os tipos). A gente entende o que as imagens apresentam. Puro cinema. Em “Cavalo de Turim” mais de duas horas e meia são gastas na edição final para mostrar pai e filha numa cabana no meio do nada com muito vento e frio por fora e até um poço sem água. Pouco falam, pouco se define quem são. Num prólogo cita-se Nietzsche quando de uma feita o filosofo apartou um homem que maltratava seu cavalo e por isso sofreu, ao que se supõe, uma isquemia que o deixou doente até morrer. Béla Tarr é tido como filosofo, pelo menos pretendia isso até se tornar cineasta (o que não quer dizer que tenha abandonado a tendência quando se meteu em outra forma artística). Mas se o filme do cavalo é uma situação bem demonstrada, afinal a solidão dos personagens passa na lentidão narrativa, isso é o equivalente de se tratar uma caminhada de alguns quilômetros sem cortar planos, seguindo o corredor com a câmera posicionada em ângulo estratégico (como do alto de um edifício). Não se fala dos atores, todos expressivos como figuras de uma situação. Mas sempre se pergunta pelo motivo de estarem morando num casebre perdido numa área indefinida, algumas vezes tentando sair mas sem conseguir fazê-lo. Lembrei “Vidas Secas” que Nelson P. dos Santos fez do livro de Graciliano Ramos. O enfoque é semelhante, mas as vidas molhadas do filme de Tarr não estão ali para mostrar o cenário de seu drama. E os personagens de “Vidas Secas” não precisam ficar parados assim como a objetiva define bem onde vivem sem precisar dormir num enfoque. Basta a luminosidade natural da fotografia de LC Barreto para definir a “secura” fotogênica. E mais: o filme brasileiro gasta na tela pouco mais de 100 minutos. E diz de quem e do que se trata. “O Cavalo de Turim” no máximo diz do quadro feito. Parece que o que fica é a ira de Nietzsche, e felizmente o espectador não fica doente como ele ficou.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sessão Nostalgia

Uma festa para a garotada de quando eu me filiava nesse tempo era as sessões de seriados completos que os cinemas da firma Cardoso & Lopes, especialmente Moderno e Independência faziam às 2ªs e 3as. Feiras quando a exibição do filme em episódios havia chegado ao fim( e os exibidores apressavam esse fim para poder passar todos os episódios e uma vez, programa de mais de 4 horas que lotava as salas em dias de bilheteria fraca). É desse tempo a série “Zorro” (primeiro foi “O Guarda Vingador”). A gente comprava gibi usado na porta do cinema que servia também de abano, pois a sala lotada fazia um puto calor. Todos nós sabíamos que Zorro também era o nome do espadachim D.Diego que estava no filme “A Marca do Zorro” com Errol Flynn. Mas a mídia de então usava o xará caubói. Tinha até a marchinha que dizia: “Na Califórnia vivia um vaqueiro/um forasteiro denominado Zorro./tinha um cavalo que era ensinado/ e atendia pelo nome de Silver,/ e um companheiro que se chamava Tonto/ estavam sempre juntos para uma coisa qualquer....” O filme de Gore Verbinsky chegou tarde. Se lançado no final dos anos 40 ou inicio dos 50 seria posto no altar. Imagino a meninada em êxtase diante de um Zorro colorido e um Tonto maquilado numa aventura de luxo com direito a overdose de fantasia. Senti saudades de minha infância. E olhem que eu não era muito fã de faroeste. Mas gostava do mistério que envolvia o Zorro, um mascarado que distava dos colegas do gênero como o asséptico Tim Holt, o Durango(Charles Starret) Kid ou o (Alan)Rocky Lane. Gore Verbisnky e a turma da Disney pagando a empreitada de Jerry Bruckheimmer mostrou talento. Engraçado é que os críticos não gostaram e a bilheteria não deu caldo. Culpa, quem sabe, de uma critica política insinuada e de uma metragem além da conta (quase tempo de um seriado completo). Mas quem viveu a época do Zorro certamente gostou. Do alto dos meus agostos eu, intimamente, aplaudi.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Edwaldo e o Cinema

Muito se falou do Edwaldo (Didi) Martins nesse período que marca 10 anos de sua morte. Não se tratou do cinema. E era a paixão do amigo. Começou no jornalismo editando uma pagina sobre a tal “sétima arte” em “A Província do Pará". Rivalizava coma que Regina Pesce mantinha uma semelhante em “Folha do Norte”. Logo fundou a Associação Paraense de Críticos Cinematográficos com Acyr Castro, Rafael Costa, João Paulo Macedo, Ariosto Pontes e Alberto Queiroz. Nos finais de ano, quando a associação escolhia os melhores filmes do período, era quem contava os pontos das listas apresentada e brigava por suas ideias como a de que só se devia contabilizar os filmes exibidos nos cinemas comerciais. Meu primeiro contato pessoal com o Didi foi numa sessão do Bandeirante, meu cineminha caseiro, quando exibi “Um Domingo de Verão” de Luciano Emmer. Não sei bem o ano mas foi no inicio dos 60. Daí passou a frequentar minha casa onde tinha uma piscina. Gostava tanto dali que em um ano trocou a festa de réveillon de um clube que o convidara para ir passar a meia-noite lá nas águas da S.Jeronimo (hoje José Malcher). Também era ali que se fazia a eleição dos melhores filmes. Só uma vez foi no seu apartamento, na rua Benjamin Constant. O filme preferido do Didi era “Mompti” , melodrama francês que fora exibido no extinto cinema Nazaré. E como amava cinema tinha como um dos melhores momentos de sua vida a estada em Veneza, na Piazza S. Marcos, quando pediu para uma orquestra tocar “Summertime” a canção do filme “Quando o Coração Floresce” de David Lean. Falava muito disso. Creio que se tivesse a chance de viver o que o filme “Depois da Vida” projetou, aquela historia das pessoas recém-chegadas ao outro mundo filmar o melhor momento de sua existência passada, escolheria este. Diabético, não limitava sua rotina em que sempre havia rasto de glicose. Na verdade dizia amar a vida e com isso não se prender ao que mais cedo ou mais tarde a perderia. Antes que sofresse mutilações abdicou de tudo. E como num filme, partiu sereno. A gente que lida com cinema ficou sentindo a sua falta. Era de varar madrugada falando de filmes & estrelas. Elegia Marilyn Monroe a quem chamava de “Mariazinha”. E era extremamente franco, nunca prestigiando o filme cerebral que não tocasse seus sentimentos (“tocar meu passarinho”dizia). Já se vão dez anos sem o Didi. O fato é que permanece muito lembrado. Deixou muitos amigos. Inovou o colunismo social. Esbanjou sinceridade e por isso mesmo a sua lembrança é muito natural, muito fácil, muito característica de seu jeito de ser.

Herois de Várias Épocas

Engraçado: a façanha do piloto Henri Guillaumet caído nos Andes e sobrevivido depois de caminhar léguas pelo gelo ganhou um média metragem de Jean Jacques Annaud (“A Guerra do Fogo”, “O Nome da Rosa”) que só se comentou por ter sido exibido no processo IMAX (e 3D). Como por aqui só se alcançou em televisão (canal de assinatura) continuou em branco. E é bom. Vi atento, curtindo o suspense mesmo sabendo que Henri (Craig Sheffer) escapara. Na mesma época vi o teleplay “O Milagre de Corintha”(Das Wonder Von Kärnten/Alemanha, 2012) outro inédito no meio. Dirigido por Andrea Prochaska trata do caso real de uma menina de 9 anos afogada num lago próximo de sua casa e que é recuperada por uma equipe médica chefiada por um abnegado cirurgião que luta contra dificuldades técnicas de ressurreição e burocracia hospitalar. Luta também contra um político que estava esperando a colocação de um marca-passo no mesmo hospital e na mesma hora em que a menina dá entrada. Um dos melhores filmes que vi sobre medicina. E um exemplo a ser visto por toda a classe. Também é filme ignorado. Se não fosse o canal de TV (Max) teria perdido. Nos cinemas comerciais da cidade dois heróis dos quadrinhos que somam mais de cem anos (Super Homem nasceu em 1938, Lone Ranger em 1933). O primeiro está na superprodução “Homem de Aço”(Iron Man) que repete a historia do garoto que veio de outro planeta. O segundo põe luxo na trama do cowboy e seu amigo índio na luta contra bandidos do velho oeste norte-americano. Li que viram uma interpretação messiânica no herói criado pelos judeus Joe Shuster e Jerry Siegel. É forçar a barra, mas a coisa começa a virar comédia quando se vê naves espaciais fazendo barulho no espaço sideral (onde o som não se propaga). Aliás isso é comum em filmes. Só “2001” de Kubrick fugiu a regra. E o novo Superman (já nem se traduz o nome) ganha como inimigos os mesmos conterrâneos de “Superman II” o filme de Richard Lester talvez o melhor de uma série. É de rir Russel Crowe de pai do mocinho. E a Lois Lane, que nos gibis nacionais chamava-se Miriam Lane, é como dizia Nelson Rodrigues “bonitinha mas ordinária”. Quanto ao novo “homem de aço”(como se aço fosse invulnerável) a verdade é que se sente saudades de Christopher Reeve. O ator de 4 filmes do herói morreu em 2004 depois de anos de luta para recuperar seus movimentos perdidos numa queda de cavalo que lhe faturou a coluna vertebral. O jovem Henri Cavill, nascido nas Ilhas Canárias(UK) até que se esforça. E o novo Cavaleiro Solitário, que em Portugal é conhecido como Mascarilha e que a garotada do meu tempo via como Zorro (fazendo diferença com o espadachim), é secundário no filme de Gore Verbinski onde o principal personagem é o índio Tonto(Johnny Depp). Na hora em que escrevo para o blog ainda não havia visto o filme. Penso no seu tamanho (mais de duas horas e meia de projeção). Na sala gelada de um dos Cinépolis é duro. Mas vou ver. Quando criança acompanhei seriados do Zorro. O ator era Clayton Moore(1914-1999). Agora é Armie Hammer de “Rede Social” e “J. Edgar”. Cara nova. Na área especial tem as comedias antigas que saíram do meu arquivo. Interessante observar que a primeira reação ao cinema foi o medo (o trem que o pessoal pensava que ia sair do lençol estendido e cair na sala –ou salão de bar) mas em seguida o riso. Passado o susto do trem veio a gargalhada. E os Lumiére começaram a fazer comédia. Daí para as “fitas” de Alice Guy Blanché e Mack Sennett. Rir do visual ainda aparece. Quem suporta o riso quando uma pessoa vestida de roupa nova é banhada de lama por um carro que passa na rua? Welles mostrou isso em “Cidadão Kane”. Só não ri a vitima como provava Laurell e Hardy. Do grupo de comédias a serem revisadas está “O Calouro”(The Freshman) com Harold Llloyd. Depois dos curtas de Chaplin me parece o melhor. Lloyd era o sujeito “de boa familia”na época de educação europeia rígida. Usava óculos e mesmo assim dava quedas homéricas como seus companheiros do gênero. Bem, o programa é um balsamo na temporada de férias onde eu evito o meu Mosqueiro contaminado pela cidade.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Comédias & Surrealismo

Nem o homem que ri idealizado por Victor Hugo me convenceria da graça espontânea que ouvi provocada na sala escura do cinema por “Minha Mãe é Uma Peça”. Guardo minhas risadas para a revisão de Chaplin, Lloyd, Keaton, Langdon e a dupla Laurell & Hardy que estarão no Olímpia esta semana. E essa turma não precisava de muito papo. Fazia rir com sua expressão corporal. Fato que na comédia brasileira de hoje está ausente. Deixa saudades de um Oscarito, pouco valorizado pela critica em seu tempo mas a atração de minha turma de colégio que ia para a fila da porta do mesmo Olímpia ao meio-dia para a sessão das duas. Minhas sessões em DVD estão me alimentando de cinema. Vi o que não sabia se existia: um filme surrealista de Louis Malle chamado “Luz Negra”(Black Light).Conheci o cineasta francês pessoalmente e falei com ele no Hotel Central quando chegava meio clandestino de uma produção sobre guerrilhas na região. Tinha feito “Sopro no Coração”(Un Souffle au Coeur)que a nossa ditadura proibiu por tratar de incesto. Malle foi para os EUA e antes de fazer “Menina Bonita”(Pretty Baby) fez este pequeno filme muito independente(ele mesmo produziu). Cocteau aplaudiria. Penso em cinema surrealista e gostaria de ver um programa que tivesse Buñuel e Terry Gilliam alem do citado Jean Cocteau. Acho o Olympia muito grande para esse tipo de programa. O ideal seria na sala Acyr Castro do Memorial dos Povos. Mas ela permanece abandonada. E seria uma verdadeira sala de aula de cinema. Vi também em DVD o oitavo filme que Carlos Saura dirigiu: “Colméia”(La Madriguera/1969). Geraldine Chaplin é a mulher que se mantém criança e o marido aceita brincar com esse devaneio. Tudo muito bem orquestrado. Malle faria depois “Cria Cuervos”. O cinema espanhol saía das malhas da ditadura Franco com seus chatissimos miúdos cantantes Joselito e Marisol. O filme ilustra bem este alvorecer como a mulher que em pensar ser criança cria um pesadelo.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Mary Stuart,Rainha da Escócia

“Mary Stuart,Rainha da Escócia” segue “Ana dos Mil Dias”na produção de Hal B.Wallis e direção de Charles Jarrot. Elizabeth I, filha de Henrique VIII com Ana Bolena, ganha o último plano do primeiro filme focalizada quando criança; ela será interpretada no segundo por Glenda Jackson,a rainha da Inglaterra e se opõe à prima Mary Stuart guinada depois da morte do marido, rei da França, para o trono escocês que tem direito. A religião patrocina a guerra entre as monarcas(Elizabeth anglicana, Mary católica) e os filmes, fugindo do famigerado Código Hays(a censura dos estúdios), contam,por exemplo, o relacionamento de Mary com Henry Darnley, um bissexual a se notar numa sequencia ousada para a época . Mas o filme é das atrizes. Vanessa Redgrave(Mary) e Glenda (Elizabeth) duelam em interpretações que conseguem fugir do teatral. Edição em DVD de ótima qualidade.

domingo, 7 de julho de 2013

Sem magia

Mágicos promovem sessões onde os truques ajudam em roubos que efetuam ou ajudam a efetuar de forma simultânea. A ideia de “Truque de Mestre”(Now You See Me)é interessante. Mas o roteiro exagera. E fica um bolo de informações que tornam o resultado extremamente arranjado, coroando uma confusão em que bandidos e mocinhos se misturam sem se saber quem é quem. O filme dirigido por Louis Leterrier(de “Hulk”) é bem administrado mas sucumbe às normas industriais dos blockbusters apresentando os desastres de carros, as correrias, os tiroteios de sempre. Não merece ir ao cinema agora de cadeiras numeradas com a chance de se ganhar um vizinho inconveniente.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Monstruosidades

“Universidade Monstros”(Monsters University/EUA<2013) sepulta a fama da PIXAR criadora de obra de vulto no ramo da animação como “Toy Story”(as 3 épocas), “Ratatouille”, “Wall E” e “Up”. Produzido por John Lesseter, que foi do staff da Disney e volta ao estúdio que agora é dono da PIXAR, com direção de Dan Scalon ,da equipe do terrível “Carros” ( coisa do colecionador de automóveis e produtor) o filme repete tipos e situações e tenta dar lição de “boas maneiras”. Para se contar a hist7oria basta dizer que se passa na tal universidade (?) onde a prova maior é fazer mais medo às crianças. Lesseter comete o primeiro engano: o filme faz mais medo ao espectador adulto que se acompanha um fedelho é obrigado a passar quase duas horas num desses cinemas com 3D vendo correrias de desenhos toscos, fáceis de fazer. O filme é chato, a animação não traz novidades e para se dimensionar melhor a frustração basta dizer que uma das provas “universitárias "é uma corrida simples. Sem fazer caras feias (exceto as que já são assim). Creio que os autores, guiados pelo caráter Disney de produção, pensaram apenas nos menores de 10 anos. Quem soma mais idade se irrita. E só não sente que perdeu tempo por conta do curta metragem que antecipa: “O Guarda Chuva Azul”. Beleza. É um sinal dos criadores do estúdio que nessas pequenas amostras libertam seu potencial.

domingo, 30 de junho de 2013

As Vantagens do Cinema em Casa

Vejo a média de 2 filmes por dia em DVD. Cinema caseiro tem vantagens imensas que começam com o conforto. Para ir a uma das salas de projeção do shopping perto de onde moro tenho de caminhar pela rua surrealista que tem 2 postes em paralelo numa calçada. Depois os cinemas são excessivamente refrigerados. Creio que os zumbis de “Guerra Mundial Z” ficam conservados nesse gelo que emprega dois compressores por uma pequena área. Depois ainda há deficiência de lâmpada no projetor, enxurrada de trailers de blockbuster e propaganda ruim projetada em datashow. Isso e horários inconvenientes com a espera para se entrar numa sala depois de sessão anterior e limpeza do espaço. É sacal mesmo. Hoje com a facilidade de baixar filme pela internet, com os piratas vendendo barato imagens de boa qualidade, só se lamenta é o apelo pela dublagem, o mal maior de uma plateia preguiçosa que é alimentada, agora, por certos exibidores (um circuito local radicalizou: só exibe filme dublado). Eu me irrito. Não suporto ouvir vozes intrometidas em tipos diversos. E às vezes bendigo uma certa deficiência auditiva que me livra desses desrespeitos ao cinema. Se for comentar o que vi em DVD exagero o espaço do blog. É tanto que me esqueço de um pouco. Não dá para memorizar tudo. Mas há um processo de seleção. Retenho o melhor. E assim vou continuando minha cinemania.

Guerra Entre Vivos e Mortos

Há varias leituras para “Guerra Mundial Z”(World War Z) roteiro de Matthew Michael Canahan e Drew Goddard (e mais 2 colegas) de uma historia de Max Brooks filho do cineasta & comediante Mel Brooks e da atriz (já falecida) Anne Bancroft. Uma das leituras cai na questão ecológica, na destruição da camada de ozônio que envolve a Terra, no desmatamento, no lixo das grandes cidades. Outra pesa na pandemia que possa ocorrer quando surge uma doença bacteriana ou viral que não se pode evitar até porque faltam meios para a produção imediata de vacina. E finalmente um quadro político: com cenas em Jerusalém pinta os israelitas como alvos de zumbis palestinos que os atacam em fúria. Esses zumbis seriam mortos-vivos metafóricos, ou seja, criaturas descerebradas criadas por entidades internacionais. Superficialmente o filme é uma aventura típica de blockbuster (superprodução cinematográfica) com mocinho invulnerável e bandidos de feições deformadas. O mocinho é o agente da ONU interpretado por Brad Pitt que também assina como produtor. Não há um vilão especifico. Os zumbis que atacam os seres vivos, andam mundo afora depois de um certo tempo em que se multiplicam pela contaminação da saliva. Seriam os “bichos papões” se fosse um conto de fadas. Nesse olhar espanta o cuidado da produção com muitos efeitos de CGI (imagens inseridas de computação gráfica) e a edição (montagem estafante de sequencias em que se observam pessoas como formigas atacando o que estiver perto delas e desastres de todos os tipos). Quem vai a cinema como vai a um espetáculo de feira, contentando-se com o que é servido aos olhos sem deixar resíduos no cérebro, pode gostar do programa. Mas, felizmente, a coisa não é aleatória como parece. Não sei se eu vi demais ou se o jovem Brooks quis mesmo formar uma metáfora de um apocalipse fabricado pelo desleixo dos homens. Não quero crer na leitura que simplifica o conflito na Palestina entre judeus e árabes como uma nação moderna subjugando “quem morreu e não sabe”. É terrível pensar desse jeito, mas, infelizmente, há brechas para isso. Pitt disse que fez o filme, dirigido pelo amigo dele Marc Forster, para as suas crianças. Ele cria muitas com a sua mulher, Angelina Jolie. Por sinal o herói da historia tem duas filhas, toma conta de um menino latino, devota grande afeição pela esposa, e sempre está pensando na família. Esse modo de pintar o personagem o torna simpático ao publico. Não seria de outra forma um tipo criado para Brad Pitt, galã do cinema industrial moderno. Mas se ele chega a se contaminar com uma doença curável para afugentar os mortos que andam (e no caso sugere que os incuráveis respeitam quem está doente e repelem quem é são) o esforço do modo como é mostrado é mais um motivo de se estruturar um super-homem americano. Claro que ele vai terminar a aventura abraçando os seus. Mas quem morreu morre de novo. Lembrei de uma frase de Rachel de Queiroz em “O Cangaceiro”(1953) filme de Lima Barreto: “-Tu vai matar o defunto cabra da peste?”. Neste “Guerra Mundial Z”é isso aí.

sábado, 8 de junho de 2013

Shyamalan Depois da Estréia

M. Night Shyamalan começou bem a sua carreira de diretor. “De Olhos Abertos”(Wide Awake/1982), “O Sexto Sentido”(The Sixty Sense/1999) e “De Corpo Fechado”(Unbreakable/2000) davam ao jovem indiano (hoje ele conta 43 anos) a promessa de um autor(escreveu todos os roteiros). Mas a partir de “Sinais”(2001) começou a fazer besteira. E se teve uma boa ideia em “A Vila”(The Village 2004) afundou feio nos seguintes “A Dama na Água”, “Fim dos Tempos” e “O Mestre do Ar”. Agora, com “Depois da Terra”(After Earth) não dá sinais de melhora Bom artesanato não sustenta uma historia boba que enaltece a amizade entre pai e filho- não à toa Will Smith e seu primogênito Jaden. Se a ideia foi realçar justamente isso, o amor paterno, faltou o poético de “De Olhos Abertos” onde um menino, depois da morte de seu pai, procura (e acha) Deus. Aqui, na aventura interplanetária, a Terra é um inferno por onde anda o astronauta Jaden em busca de uma peça que salva a nave do pai. O adolescente vira uma espécie de Bomba, o filho de Tarzan, e os perigos que ele enfrenta esticam a metragem subtraindo o valor da missão que é não só salvar o genitor como demonstrar que ele é corajoso “e digno de ser um oficial da armada doutro planeta”. “Depois da Terra”, ou depois do melhor de Shyamalan, seria divertido simplesmente se fosse um filme B de um cineasta C. Não é nada disso. Salvam-se a direção de arte e a edição.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Hanek e Malick

Queria ver a reação de quem detestou “Amor” por ser amargo ao ver este “O vídeo de Benny” obra anterior do diretor austríaco Michael Hanek. Deve sair faísca. O filme é realmente assustador. O Benny do titulo se diverte matando um porco e filmando em “ralenti”o ato. Sem isso é divertido, mais ainda quando mata uma colega.O moço de classe média seria um filhote de Jason, Freddy Krueger ou outro monstro qualquer de Hollywood. Penso que Hanek quis mostrar a distorção moral de uma classe. O riquinho mimado é o assassino furioso.Diagnosticar o temperamento do garoto é chover no molhado. Diriam que é um caráter genético. Os nazistas o acolheriam, ou o matariam. Benny é visto como um demônio que não se satisfaz com nada exceto chamar a morte. Nem com o sexo. É uma fera que se vê rosnando num cinema de fácil linguagem-o que o torna prejudicial para uma juventude que vê herói nesse tipo de vilão só porque é avesso às regras sociais. Gosto muito de “Amor” mas não gosto de “O Vídeo de Benny”.Para mim é o pior de um cineasta capaz. E vi “ Amor Pleno”(To the Wonder/EUA<2012)o novo filme de Terrence Malick. Parece que “A Árvore da Vida” deu frutos. Visual belíssimo a cargo de Emmanuel Lubezky deixa ver imagens soltas de um casal que se une e se separa, analisando-os na paisagem e na fala de um dos parceiros à guisa de narração. É uma longa divagação em torno de sentimentos como se a câmera tentasse a forma de um poema, no caso do que se lê e sente sem que as palavras restem como um tudo. Bem Affleck e Olga Kurylenko vivem um romance que ela dimensiona como a grandeza da paisagem. Mas ainda assim ela o trai. E ele tinha outra no currículo. Várias passagens por vielas e até corredor de aeroporto surgem como pontos de uma pausa no idílio. Ou o ponto final. Mas não é simples o enfoque de amantes. Há flashes espalhados que muitas vezes escapam de um raciocínio do espectador. Aliás, é besteira tentar acompanhar uma história de amor nesse caso. Tudo é devaneio é como uma canção de apaixonado. Malick passou a fazer cinema de autor muito mais fechado do que seus colegas de língua inglesa (por sinal que a maior parte da fala é em francês). Vai na onda de um Godard. Mas ainda assim pousa num cenário (Godard é devaneio total). Achei um filme bonito, mas não achei que respondesse ao que Malick realmente queria. Ficou em sua maioria mudo como o personagem de Bem Affleck. Difícil chegar a cinema de Belém.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Gilda Hayworth

Gilda,o filme, foi um mito em dois tempos: como realização cinematográfica, seguindo de perto “Casablanca”,o equivalente da Warner, e como atriz-mulher, Rita Hayworth. Coube à Columbia de Harry Cohn construir a coisa. Rita dançando como a Gilda de cabaré, tira as luvas com uma sensualidade que lembrava o strip-tease tradicional, ou seja, a roupa toda. Na época a censura Hayes estrilava. Mas não podia reclamar: Gilda só tirava as luvas. Mas dança e canto (o canto dublado) como “Amore Mio”, ouriçava. O filme tinha um enredo bobo, e pôs até George Mccready como um arremedo do Conrad Veidt que Bogart mata no fim de “Casablanca”. Aqui o alemão é presa do jogador americano protagonizado por Glenn Ford. Ele quer a sua Gilda como o outro também quer. E a Columbia vendia o slogan de que não havia nenhuma mulher igual à ela. Tanto que no avião que atirou a bomba atômica no atol de Bikini estava Rita/Gilda pintada como aparecia na dança erótica. Nada mais afinado. Rita faria absurdos no cinema, entre eles uma Salomé que ao invés de pedir a cabeça de João Batista pedia o contrário, que Herodes poupasse o depois santo. E comm uma dança de véus a lembrar as odaliscas da Universal tipo Maria Montez. Casada com Orson Welles depois de “Gilda” foi como um peixe no deserto. Durou pouco, Mesmo assim o criador de Kane a botou como a mocinha de um seu filme, “A Dama de Shangai (1947). Engraçado é que Welles achou o filme uma bosta e escondeu seu nome do credito de diretor. Fez para Rita. Sem nada a ver com a Gilda erótica. No fim de carreira e vida veio o Mal de Alzheimmer. Esqueceu a gloria. Mas nos anos 70 o mundo era outro, não havia mais Código Hays e muitas mulheres disputavam o trono de Gilda. E sim, tiravam mais que luvas.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Permanente Suspeita

Joseph Stefano escreveu o roteiro de “Psicose”(Psycho) o filme de Hitchcock. Na ocasião ele pediu, e Hitch atendeu que as pessoas não contassem o fim do filme. As sessões de “Psicose” chegaram a ser moduladas, até aqui em Belém, com entrada no salão de projeção só quando vazio (e antes era permitido se entrar no meio da projeção). Este roteirista aplicou a mesma sentença em “Tortura da Suspeita”(The Naked Edge/UK, 1961) que ele escreveu para Michael Anderson dirigir com base em um livro de Max Ehrlich. O filme está agora em DVD e há muito que ver nos 100 minutos que dura na tela (grande ou pequena). É a despedida de Gary Cooper. Já doente (ele morreu no final de 1961 de câncer no estômago), interpreta o executivo norte-americano George Radcliff, residente em Londres, casado com a socialite Martha(Deborah Kerr) e desejoso de expandir seus negócios comprando uma área da zona portuária. George é testemunha de um crime. Um dos donos da firma onde trabalha é assassinado e some um pacote com 60 mil libras. No júri o americano diz que viu o colega Donald Heath(Ray McAnnaly) correndo nas imediações da sala onde se deu o crime. Essa afirmação leva Heath à cadeia. Mas fica a dúvida. E o fato de logo surgir recurso para realizar a ideia de George leva a suspeita de que ele é o criminoso. Martha começa a investigar por conta própria e chega a um impasse quando acha um antigo advogado que sabe das coisas. A narrativa é conduzida de forma a evidenciar a dúvida. E o modo como o personagem principal surge e sai de cena, reforçado por acordes de William Alwyn, conduz à suspeita e ao terror por parte da esposa investigadora. O espectador conscientiza que dificilmente se colocaria Gary Cooper como um vilão sanguinário. Mas se ele não é o culpado, quem é ? Há pistas para desviar a atenção, mas, como na maioria dos filmes do gênero suspense uma penúltima sequencia evidencia o quadro real dos acontecimentos. E de modo cruel, com perigo de vida para quem mexe com a coisa. O previsível não condena o filme. Mas é a direção de arte e o modo como Anderson conduz os elementos de linguagem que fazem a festa. Os planos exemplificam o que se chamou de “film noir”. As sombras caem sobre objetos, a profundidade de campo deixa que a suspeita ganhe corpo adentrando em cena, o enquadramento coloca as personagens em pontos estudados para compor um momento de angustia. São marcas de uma forma elaborada dentro do que se quer dizer mesmo que esse contudo seja vulnerável à uma pesquisa mais séria. “Tortura da Suspeita” deve ser revisto.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Reliquias de Cinema

Não conhecia “Emile Zola” de William Dieterle o dono do Oscar de 1937. Foi a primeira cinebiografia de uma série da Warner. Vi agora em DVD. Pareceu-me a mais interessante do grupo que tem “A Historia de Louis Pasteur” e “Edson, O Mago da Luz”. Paul Muni faz de forma apaixonada o escritor de “Nana”. O filme passa voando pela carreira de Zola como romancista e se detém na luta que ele assumiu no caso Dreyfuss, advogando a inocência do militar condenado por arranjo dos colegas (e superiores) para salvaguardar a moral do exército. Nesse ato o roteiro imprime suspense e faz uma das mais empolgantes sequencias de tribunal. Mesmo sabendo como foi a historia a gente torce pelo escritor virado réu. O DVD traz o cinema que até os cinéfilos como eu deixaram passar. Tenho uma lista de filmes que gostaria de rever (e neste caso é rever) e ando procurando sem êxito. Não achei janela para download nem aval de colecionadores como o Paulo Tardin(RJ) e Ariana66(SP). Mas um dia essas relíquias (re) aparecem. Martin Scorsese salvou muitos filmes da pena de morte. Aqui no Brasil, infelizmente, não houve quem salvasse muita coisa. Lembro-me de como o cineasta Sylvio Back constatou esse drama ouvindo a viúva de Moacyr Fenelon o fundador da Atlântida. Quase tudo que ele filmou não mais existe.Por sinal que eu gravei o “canto de cisne”desse diretor: “Tudo Azul”(1951). É um titulo que pode ser até baixado pelos internautas. O resto se foi como chanchadas e dramas. Cinema é a arte que resiste à morte. Os atores de há muito viraram pó, mas ainda são vistos ativos e falantes. Um crime que os matem de vez caçando suas imagens. Por isso eu sempre bato palmas às relíquias que surgem em discos digitais. É a chance de a nova geração conhecer historia do cinema.E a de veterano aliviarem a saudade.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Nuvem 9

Os velhos também transam. O titulo poderia ser imaginado por aquele “tradutor” que botou “Os Brutos Também Amam” em “Shane”. Mas no caso de “Nuvem 9”, filme alemão da safra de 2008, ele procede. Uma senhora saindo da casa dos 60 deixa seu marido beirando a de 80 por um freguês de suas costuras com a idade aproximada de 70. A tal senhora chega a se olhar no espelho e, com senso critico observar o desgaste que o tempo fez no seu corpo. Mas a sensibilidade baixa ainda propicia orgasmo. E ela parece que não sente, ou se sente é pouco, no desgastado marido. O sabor de uma aventura também serve para sair da rotina. O filme dirigido e escrito por Andreas Dresen é pungente. Não pelo fato de se ver as pessoas enrugadas e pesadas se rolando numa cama ou mesmo desnudas na frente da objetiva. É assim porque mostra a separação de quem pensa estar unido como disse na hora de casar “até que a morte separe”. E no caso de criaturas que já estão perto da morte. Nunca no cinema o sexo quase “hardcore”, ou explicito, deixa tanta impressão no espectador. Não é pela ousadia, mas pela constatação do desgaste que se vê nos corpos. E como a mulher do enfoque pretende esquecer esse desgaste já que o outro a aceita, e uma aceitação fora de casa parece uma gloria de quem não concebe envelhecer. Desde “Amor” eu não via um filme tão denso. E se parece com o trabalho de Michael Hanek, Oscar de filme estrangeiro este ano. Até nos enquadramentos, deixando os objetos e a sala vazia pontuar o vazio das vidas focalizadas. É duro mas extremamente real.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Liberdade de Expressão

No Dia Mundial de Liberdade de Imprensa lembro-me das cenas cômicas que vi durante o governo militar (1964-1985). Naquele tempo eu dirigia um cineclube e era obrigado a levar a programação deste cineclube ao escritório da censura que ficava na sede da Policia Federal. Uma vez o censor que sempre me atendia apresentou-me a um colega que havia feito um curso de cinema e teatro em Brasília. O cavalheiro foi dizendo que aprendeu tudo em 30 dias.E acrescentou: “-Estudei tudo sobre aquele tal de Hamlet”. E eu remendei: “Shakespeare”. E ele: “Esse cara mesmo”. Outro, no caso uma senhora, explicou o corte de um filme porque o personagem posando nu para um quadro “se mexia”. Estava escrito no certificado de censura que o nu só era permitido estático. E assim mesmo sem “as partes pudendas” explicitamente à mostra. E as sessões do cineclube recebiam agentes da censura disfarçados em espectadores comuns. Uma vez anunciamos apenas um debate, sem projeção. A sala estava vazia quando surgiram dois homens. O amigo Roberto Lobato da Costa que sempre prestigiava sessões semelhantes interrogou o que eles estavam fazendo ali. “-Viemos ver o filme” disseram em coro. E o Lobato: “-Pois não vai ter filme, boa noite”. E os caras saíram acabrunhados. Era pandego o texto de um certificado de censura de filme. “Macunaíma” foi recordista. Uma lauda de cortes. Um deles implicava com a blusa da atriz que tinha escrito “Aliança Para o Progresso”, o plano norte-americano que se dizia de autoajuda mas na verdade era de espionagem. Vivíamos na castidade imposta pelos donos do poder. Quando foi liberado “O Último Tango em Paris” a gente sabia que ia ver o trailer. De fato, surgiu um filme curto. Anos mais tarde vi o original e fiquei impressionado como os pudicos revisores de opinião andaram cortando sequencias como quem monta um quebra-cabeça. Tudo em nome do que diziam “moral e bons costumes”. Há muita anedota macabra em torno desse tema. Reaver esse tesouro de imbecilidades é uma tarefa para faquir. De minha parte esqueci a maioria. Os neurônios fazem a vez de censores estéticos.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O Homem de Ferro

Quatro senhores assinam os quadrinhos do Homem de Ferro: Stan Lee, Don Heck, Larry Lieber e Jack Kirby. O personagem da Marvel Comics agora morando no império Disney, está pela 3ª. vez no cinema com este filme dirigido por Shane Black roteirista que paradoxalmente chegou a ser candidato ao prêmio dos críticos londrinos e ao mesmo tempo ao“razzie”(framboeza), dado aos piores do cinema norte-americano (tudo pela historia do filme “O Último Grande Herói”, afinal uma boa ideia). “O Homem de Ferro 3”(Iron Man 3) é o blockbuster do momento e se propõe a fechar uma trilogia começada em 2008. Mas a julgar pela bilheteria que está fazendo antes mesmo de estrear nos EUA dificilmente cumprirá a promessa. No final deste novo trabalho o herói, Tony Stark(Robert Downey Jr)joga fora um amuleto&arma que lhe salva diversas vezes ao longo da aventura. Seria o fim, mesmo porque várias armaduras que ele cria surgem para a batalha final contra Aldrich Killan (Guy Pearce) o verdadeiro vilão escondido na imagem de um ator, o Mandarim (Bem Kingsley). Aliás, neste pretenso fecho a tal armadura ganha uma automaticidade de corar qualquer alfaiate (?). Voa aos pedaços para cobrir o corpo do criador - ou de que tenha ordem para usá-la. Bem, não interessa as manhas da história. O que salva “O Homem de Ferro 3” é a total rendição à comédia. Os absurdos atendem a um tipo de humor que em si critica os quadrinhos originais. E não poderia ser de outro modo a julgar as aberrações de continuidade. Por exemplo: uma ferida no rosto do mocinho muda de posição várias vezes. Um garoto que se torna amigo de Stark devia estar ensopado depois de um aguaceiro provocado pela queda de um reservatório de água, mas logo a seguir está não só enxuto mas com uma capa que não se explica de onde tirou. Bem, eu penso que mais ridículo é o critico perder tempo enumerando essas ratadas de continuidade. O melhor é ver o filme como um festival de aberrações. A mocinha (Gwynett Paltrow) cai numa verdadeira fogueira e surge incólume apenas com os olhos “em brasa”. E o bandidão(Pearce) perde um braço que logo se refaz e só morre mesmo quando explode. Há uma avalanche de inverossimilhança a guinar o filme para o surrealismo. Fosse obra de um Dali e estaria sendo cultuado nesse tom. O problema é que a aventura de absurdos hilários é grande demais. Passa-se mais de duas horas no cinema vendo explosões e ouvindo as mesmas sem que se ganhe um pé de lógica ou mesmo se saiba perfeitamente quem é quem e os motivos que levam os malvados a serem malvados (é assim e acabou-se). Como a idéia é não fazer pensar, a sessão só pode ser aproveitada com folga aos neurônios do espectador. É tentar curtir a zorra audiovisual ou cair fora da sala de projeção. Eu vi a coisa em 2D. Não creio que em 3 seja diferente. Cinema comercial do tipo é primeiramente objeto de venda. Maquilagem como a tridimensionalidade é o papel celofane que envolve a mercadoria. Robert Downey Jr, um bom ator, faz o serviço que lhe pedem. Ben Kingsley disse que brincou muito. Piada a sua prisão como entrando num teatro e sendo aplaudido pelo pessoal que faz sereno na porta. Essas e outras tiradas humorísticas compensam um pouco a chateação. Mas só um pouco. Eu consultei meu relógio pelo menos 4 vezes pedindo penico. Em tempo: o novo filme de Superman vai se chamar por aqui "O Homem de Aço"(como nos antigos gibis). Então já temos homens de ferro e de aço. E o de madeira ?

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Dianna e Roberto

Deanna Durbin(1921-2013) encantou uma geração por 12 anos, tempo em que filmou 22 comédias musicais. Ela tinha voz de soprano e na época se vendia bem as operetas. Como a maioria do gênero pertencia a Metro, dona dos contratos de Jeanette MacDonald e Nelson Eddy, a mocinha era estrela da emergente Universal. E rivalizava no seu porte juvenil com as estrelas Judy Garland , da própria Metro, e Shirley Temple, garota prodígio da Fox. Em minha casa as moças velhas diziam maravilhas da Diana Durbim(como pronunciavam). Eu, criança, era obrigado a ver seus filmes. E gostava de alguns. A mocinha era bonita, aparentava ter menos idade do que tinha, e cantava sem enjoar quem não suportasse filmes cantantes. Claro que tudo era “água com açúcar”, mas fez um tempo de cinema. Jeanette morreu no dia 30 de abril aos 91. Mais uma estrela que se transporta para o verdadeiro firmamento. No mesmo dia morreu aqui em Belém o amigo Roberto Cortez, antropólogo com passagem no Museu Goeldi e frequentador do meu Cine Bandeirante. Tinha 72 anos e começou uma doença desafiadora nos idos de 1980. Achava extraordinário como ele “pulava a fogueira” da morte com muito humor. Penso no Cortez bem acompanhado da famosa Deanna. A gente que fica guarda na memória essas figuras que viu projetadas ou em pessoa. E sabe que foi grato aos céus por isso.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

O Silva

Na 4ª Feira, 24 de abril, perguntei ao Marco Antonio sobre o Silva. Doente, prestes a completar 90 anos, o amigo distribuidor de filmes era um relicário que eu sabia encaminhado, como escreveu Getulio Vargas, da vida para a história. Pois o Silva se foi logo no dia seguinte. Lembro-me do muito que ele deixou marcado nas andanças pelo mundo do cinema regional. O começo dessa lembrança passa por uma conversa que eu e Luzia tivemos com ele no antigo Pará Boliche, ocasião em que contou a sua participação na 2ª.Guerra Mundial como soldado da Força Expedicionária Brasileira(FEB) em campanha na Itália. “-A gente andava engatinhada para trás até chegar à casamata onde estava o comandante. Chovia bala e o comandante pensava que era ação dos aliados. Dissemos que na frente só tinha alemão. Ele foi conosco, de gatinho, para um lugar seguro.” Em 1945,de volta à sua Recife, o praça Antonio enterrou explicitamente a farda. Casou e passou a funcionar como vendedor (distribuidor) de filmes da Columbia Pictures. Seu primeiro trabalho: lançar nos cinemas do nordeste e norte o famoso “Gilda” com Rita Hayworth (a imagem dela no papel chegou a figurar na bomba atirada em Hiroshima). Surgiu o “Silva da Columbia”. Os exibidores tinham medo dele. Rigoroso, lutou muito com os dirigentes da Empresa Cardoso & Lopes de Belém (cinemas Moderno, Independência. Vitória)para que eles exibisse, de per si os episódios dos muitos seriados de aventuras. Victor e Arthur Cardoso faziam de tudo para passar a exibir o seriado de uma só vez quando corresse no circuito a última série(dois episódios). Nos anos 50ª a Columbia havia deixado de programar para Severiano Ribeiro e em Belém só atuava nas salas da Cardoso & Lopes. Na época o estúdio ganhava o patamar das grandes produtoras, mesmo assim com um grande acervo de filmes B e C. O método de venda era “da produção do ano”com os títulos mais pretensiosos encabeçando uma lista que seria alugada. Só os títulos “da cabeça” eram negociados em percentual sobre a renda na bilheteria. Quando eu me meti a passar filme, Silva foi logo contratado. O amigo José Maria Lopes, que tinha sido fiscal de distribuidoras, apresentou-me a ele. De uma feita eu o experimentei Meu cunhado havia perdido o certificado de censura de uma copia em 16mm alugada para o cineclube. Quando eu devolvi o filme veio a cobrança. Exorbitante. Fui imediatamente à sede da censura onde em plenos anos de chumbo se tinha de liberar qualquer programa. O censor, que já me conhecia, ao ler a cobrança se revoltou: “-Deixe isso aqui que eu mando prender o cara”. Mas eu pedi que não fizesse isso. Mandei uma carta para o Silva dizendo que a Policia Federal daria de graça uma segunda via do certificado. Foi o bastante para ganhar a amizade do distribuidor. E daí em diante sempre me ajudou nas tarefas de cineclube e depois nos cinemas 1,2 e 3. Quando fui a Recife tratar do I Festival do Cinema Brasileiro de Belém, em 1974, Silva fez questão que eu e Luzia ficássemos em sua casa na praia de Boa Viagem. Muitas vezes nos encontramos tratando de cinema. Alexandrino brincava que Silva era namorado de Miss Liberty a marca da Columbia. Dedicado a essa empresa jamais a deixou ou ela o deixou. Criando uma firma domestica que chamou de Sétima Arte, foi sempre da Columbia. Com a morte do Silva acabou uma fase do cinema que eu conheci. Outros distribuidores como Werneck Sereno, Barbosa, Josué, Arlindo Gusmão, todos já se foram. Eles lançavam os filmes em 35 mm (alguns também em 16mm) no setor que ia do Recife ao Acre. E ajudavam bastante na divulgação, contando com os jornalistas. Eu e Luzia como parte desse grupo ganhamos a confiança deles. Hoje os cinemas de rua ficaram restritos a salas especiais, os borderôs (relatório das exibições para computo da locação) foram levados à Internet. Tudo mudou menos o amor que a gente tinha pelo que via como arte. O Silva está nesse passado que nos sensibiliza.

terça-feira, 23 de abril de 2013

101 Auroras

O cinema Olimpia emplaca 101 anos. Eu o conheci quando tinha 5. O filme foi “O Mágico de Oz” com Judy Garland cantando “Over the Rainbow”. Mas o que roçou minha memória foram as muitas matinais de domingo e as sessões da tarde em dias de semana. Eu morava perto e não perdia estreia que me interessasse. Creio que descobri cinema a partir dessas visitas ao prédio de Pça da Republica. Neste aniversário exibe-se “Aurora” de Murnau. E é sobre ele meu registro. A primeira escolha de melhores filmes de sempre feita pelo pessoal da APCC(Associação Paraense de Críticos Cinematograficos) foi publicada em um dia dos anos 70 e no seguinte ao da publicação encontrei Francisco Paulo Mendes meu ex-professor de literatura portuguesa e então frequentador assíduo do meu Cine Bandeirante (na garagem de minha casa) que ao me ver foi logo perguntando: “_Cadê “Aurora”? E eu, desconhecendo o filme, fiquei no ar. Só anos depois deparei com uma cópia em 16mm. Vi e parei. Nessa noite veria outro filme em seguida. Não quis mais ver. Bastou aquela aurora de brilhante cinema, com aquele romance que promovia o ator de faroeste George O’Brien a grande interprete. E Janet Gaynor que morou em Goiás, imortalizou a esposa que reencontra o marido, o quase seu assassino. Toda uma lovestory na linha expressionista .Um dos derradeiros sucessos do cinema mudo. Nos 80 eu e Luzia demos para o maestro Izoca, de Santarém, uma cópia VHS de “Aurora” sabendo que ele amava o filme. Veio um agradecimento lapidar: “-No crepúsculo da minha vida vocês me deram a aurora”. Nada melhor para saudar o filme. E hoje, imitando ontem, ele passa com musica ao vivo. Nada melhor para saudar mais uma etapa de um cinema que orgulha a gente por abriga-lo. Salve Olimpia de tantas gerações!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Esquecimento Providencial

Sempre gostei de ficção cientifica. No cinema, antes de “2001 Uma Odisséia no Espaço”era, quase sempre, produto B no olhar da grande industria. Mas é nesse enquadramento que ficaram obras perenes como “O Dia em que a Terra Parou”(1951), “O Incrível Homem que Encolheu”(1956) e até alguns monstros como as formigas de “O Mundo em Perigo”(Them). Lembro de poucas produções de grande porte que abordaram, por exemplo, viagens espaciais. “O Planeta Proibido”de 1956 foi uma delas. E era inteligente. O monstro vinha da cabeça de Walter Pidgeon. Hoje há um abuso. Confunde-se sci-fi com aventuras ligadas aos quadrinhos de super-heróis. A maioria carece de imaginação. Por isso o roteiro de “Oblivion”me chamou. Terra devastada por guerra nuclear, inimigo suposto como remanescentes dos que guerrearam, humanos deslocados para o espaço, enfim aquilo tudo que se viu na excelente animação “Wall E”. Mas o pessoal foi além. O principal personagem, interpretado por Tom Cruise, começa sonhando (em preto e branco) com uma Nova York antes da guerra e com a garota que lhe chama a atenção na rua. Seria logo a sua mulher. Mas a realidade focalizada é um futuro onde ele e uma(outra) companhia feminina imposta por autoridades de quem se sabe pouco, vasculha o deserto que restou das grandes cidades e quando acha a garota do sonho conscientiza de que os vencedores da guerra são, na verdade,opressores de um mundo novo onde ainda existe gente como a gente. Vai tudo bem na história até que o herói lute com um outro eu, ou seja, com um piloto de nave espacial que é ele mesmo. Sonho? Mistura de tempo? Materialização do ego? O rapaz briga sem comentar que o inimigo é a sua cara. E no fim da historia, quando ele salva o mundo detonando a estação espacial onde moram os opressores, vê-se que ele volta, apesar de ter se sacrificado na explosão, acenando para a mulher e já uma filha.Quem é quem ? Batman, há pouco, detonou uma bomba atômica no mar e numa sequencia posterior vê-se Bruce Wayne tomando num café. Licenças que podem ser até consideradas poéticas, podem dispensar explicações. Mas se a licença arranha “happy end” a coisa complica. “Oblivion”, que quer dizer esquecimento,pode se enquadrar na amnésia de alguém ou de uma população. O esquecido ganha forma como se um sonho se materializasse. Beleza, mas a exposição dessa extravagância requer, em cinema, uma forma correspondente. Alian Resnais é mestre nisso. Joseph Kosinski , diretor e co-roteirista do filme(roteiro de William Monahan, Karl Cajdusek e Michael Arnd baseado num quadrinho dele), não contraria um grande estúdio fazendo cinema-cabeça. E se ele resiste em explicar quem duplicou Tom Cruise deu, afinal, um passo adiante na sci-fi do varejo. Seu filme é diferente. Ainda bem.

domingo, 14 de abril de 2013

Disque Halle Para Salvar

A pequena miss Sunshine(Abgail Breslin, aniversariante de ontem, 14, completando 17 anos) é sequestrada por um maluco obsediado por cabelos de mulher. Desesperada ela telefona para a emergência policial e é atendida por Halle Berry. A atendente já havia perdido um caso de sequestro feminino. Pelo mesmo maluco. Empenha-se, então, a resolver o caso. E o que acontece pelo meio do ajuste de contas é motivo para engrossar o suspense que sustenta “Chamada de Emergência”(Call) afinal um filme com jeito de série de TV mas sem perigo de fazer cochilos de espectadores. O diretor Brad Anderson dá conta do recado e faz a gente perdoar as mentirinhas do roteiro de Richard Ovidio. Como diziam nossos avós, são “coisas de cinema” Exemplo: a telefonista vai sozinha, de noite, sem arma, seguir o GPS do carro do vilão chegando à uma área deserta e vasculhando o chão até achar (de noite, com lanterna) um alçapão que leva ao lugar onde a presa está sendo torturada.O vilão é atlético, a mocinha sequestrada alem de muito jovem está ferida(ele havia começado a operação de escalpo). Mesmo assim as duas mulheres lutam e vencem. “-Somos guerreiras”diz Halle. Talvez da Marvel. Na sessão em que eu fui o projecionista passou com lente normal os traillers scope. Pouca gente reclamou. Barbeiragem ou preguiça?(o filme era plano e ele pode ter deixado a lente sem mudá-la para os traillers). Bem, pior ainda foi o caso do projecionista que foi embora e deixou que o filme fosse desenquadrado por conta de uma emenda. Acontece. Por isso eu ando preguiçoso: prefiro cinema em casa na minha TV 42’’.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Pior é Impossivel

“Mama” chama quem viu “O Labirinto do Fauno” e passou a acreditar no mexicano Guillermo del Toro (diretor/produtor). Mas, mama mia, que decepção. Del Toro pede um toureiro assistindo seu pupilo Andres Muschietti (co-roteirista e diretor). Além da absoluta confusão da trama, perguntando-se por que um fantasma que deseja companhia no outro mundo poupa 2 meninas por 5 anos podendo levá-las logo, há um cochilo grave na amostragem de um óculos quebrado que se conserta por ele mesmo muito tempo depois. Isso e aqueles acordes bruscos para assustar quem possa estar cochilando no cinema (ou queira um motivo para abraçar a companheira/o). Como filme ruim não é filho único, ”Invasão à Casa Branca” segue-lhe os passos. A sede do governo norte-americano é tomada por um coreano maluco que quer acionar uma bomba atômica capaz de arrasar Washington. O presidente vira refém desse vilão e um ex-agente vira herói ao invadir o teatro da ação e dominar sozinho o terrorista com toda a sua patota de choque. Morgan Freeman, fazendo um vice de ocasião, só falta dormir nas cenas em que aparece. Aaron Eckhart apanha mais que sovaco de aleijado mas dá a Gerard Butler a honra de ser carregado por ele quando baleado pelo vilão. A Casa Branca já foi alvo de marcianos e outros ETs (“Independence Day”,”Marte Ataca!”). O cinéfilo suspira: pior seria atacar Casablanca e deixar Boggie sem Bergman(antes dela trocá-lo por Paul Henreid) e Claude Rains, todos atacados pelos nazistas de Conrad Veidt.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A Hospedeira

A voz da consciência põe o Grilo Falante a brigar com Pinóquio. Mas a et que invade o cérebro de uma jovem humana em futuro distante quando os irmãos dela já estão quase todos dominados pelos espíritos vindos do espaço não é ordeira como o tipo criado por Carlo Collodi. A “invasora”quer dominar o que resta da dona do corpo. E o pior é que a dona do corpo gosta de um rapaz e invasora passa a gostar de outro. Ambos humanos não contaminados. Esta é a base de “A Hospedeira”, historia escrita por Stephenie Meyer filmada agora por Andrew Niccol. Meyer é aquela norte-americana que vendeu vampiros amantes na serie “Crepúsculo”. Deve ter pensado que o mesmo público gostaria de namorados interplanetários. Mas escolheu mal o co-roteirista e diretor. Niccol é dos raros cineastas americanos de hoje com imaginação demonstrada. Seu “Gattaca” viu a seleção pelo DNA, seu “Simone” viu um romance virtual e seu roteiro de “O Show de Truman” viu um Big Brother com jeito de Big Mother in Law. Niccol privilegiou a sci-fi e deixou cenas como uma retirada de alma com a remessa dessa alma para o espaço profundo. Poesia mesmo. E se vê um rosário energético passando de mão em mão para ganhar guarida numa espécie de ovo metálico que deve usar magnetismo para se impulsionar rumo às estrelas. Niccol também subtraiu as sequencia de sexo. Fala-se em beijos, não se fala em cama. E se um corpo liberto de um parasita extraterreno acha o seu namorado bem terrestre(até morando no fundo da terra) há a licença da invasora desejar um amiguinho dele como uma espécie de sinal verde para o acasalamento de espécies. Aliás, no início do filme uma voz diz que a Terra passou a ser um mundo sem pecados depois dos seres do céu se apossarem dos corpos dos pecadores. Radicalismo religioso evocado. Com as imagens deixando muito mais a ideia de que as pessoas são naturalmente flexíveis, e que as sociedades, mesmo as “perfeitas” posto que de outros mundos, podem se “corromper” adotando a moda terrestre. Há detalhes pitorescos: os invasores deixam nos corpos olhos azuis. Os mortais vivem em caverna como seus longínquos ancestrais. O céu de quem está literalmente no fundo do poço é um ninho de vagalumes que não piscam. “A Hospedeira”(The Host) é isso: cinema forçando caminho entre a pieguice literária. Não consegue se libertar totalmente mas pelo menos deixa a pista de que o cocô pode virar diamante se metabolizado seu carbono...

quinta-feira, 28 de março de 2013

Herzog e Maximilliam

“Alem do Infinito Azul” ou “Alem do Infinito Selvagem” é um Herzog dos primeiros tempos. O estilo é aquele de “Os Anões Também Começam Pequenos”. Longas sequencias oníricas, ou dessa linha, costurando a poesia por imagem. No filme de 2007 que agora chega por aqui via Embaixada da França ele se ampara na ficção cientifica e trata e uma viagem a um planeta distante, justamente de onde veio uma raça de ETs e um deles serve de narrador no inicio do filme, falando para a câmera. O planeta é aquático a lembrar de Tarkovsky em “Solaris”. Os humanos caçam amostras pensando em vida microscópica. É um mundo morto que tentam reviver. E não há tempo para isso. Voltam numa espécie de túnel entre mundos a seguir de perto a Teoria das Cordas com avanços no espaço-tempo.Tudo isso sublinhado por uma trilha sonora a cargo do violoncelista de jazz holandês Ernst Reijseger. Achei o planeta com o jeito de Andara o mundo criado pelo nosso Vicente “Godard”Cecim. Por sinal que o estilo de Herzog passa pelo do Cecim em seus curtas. E para sorver esse poema é preciso mais que sensibilidade. É preciso paciência. Não é cinema para curtir. Acho sacal embora compreenda a base. Meu mundo de sonhos passa longe dessa orbita e navega com a memória de combustível, impulsionando o que minha imaginação infantil porejava. Outra galáxia. Vi em vídeo “O Santo Relutante”(The Saint Reluctant/1962) de Edward Dmitryk. Se me dissessem que Maximilliam Schell ia fazer o papel de Giuseppe Cupertino eu ria. O ator de “Julgamento em Nuremberg” vendeu por anos a imagem de alemão nazista. Hoje ele está com 83 anos e ainda ativo. Sua irmã, Maria(de “Gervaise” e “Superman I”),quatro anos mais velha,morreu em 2005. E a critica largou o pau nele como o santo que levitava. Pois me surpreendeu. Aplaudi intimamente o esforço de Maximilliam e a sinceridade do diretor-produtor. O filme é sensível e traz outra surpresa que é Ricardo Montalban como um padre que não acreditava no “retardado” Giuseppe. Ricardo era um dos canastrões de plantão na Metro, par de Lana Turner em “Meu Amor Brasileiro”Ele quem ensina ela a dizer “Você tem cavalos lindos”.Doía no saco. Em “O Santo...”,na pele do sacerdote Don Raspi, descrente em Giuseppe, ele está estereotipado de vilão mas até que aceitável no objetivo do conjunto. O filme do diretor de “O Preço de uma Vida” e “A Lança Partida” acaba sendo uma das raras cinebiografias de santo feitas por Hollywood que se aproveitam.

terça-feira, 26 de março de 2013

Contato

Gostei tanto de “Contato” quando vi no cinema que procurei logo ler o livro de Carl Sagan. Fato raro, mas achei o filme melhor. No livro é a mãe da heroína quem morre e com quem ela se encontra num outro mundo. No filme é o pai. Casa melhor com o tipo que Jodie Foster interpreta. E aquela sacada de chegar do espaço as imagens de Hitler inaugurando as Olimpíadas de Berlim (1936) com a repercussão hilária do mundo moderno é muito bem colocada espelhando comportamentos irracionais e históricos. O filme consegue sobreviver aos diálogos pretensamente filosóficos da jovem que pesquisa sons vindos do espaço com o namorado religioso. Um momento me pareceu legal: quando ela se diz descrente de Deus posto que indefinível e ele pede que ela conte com palavras o que sentia pelo pai. Também indefinível. Mas existe o sentimento. E sentimento nem o cinema consegue expor, embora transmita. O filme de Robert Zemeckis é inteligente sem ser pedante e sem se fechar como ostras de sua arte. Por sinal que Sagan trabalhou no roteiro. Não perdia a série “Cosmos” que ele produziu para a TV. Era um astrônomo que não se eximia do poético que vem do cosmo. “Contato” está na sessão da Saraiva programada pelo pessoal de ciência. Meus parabéns pela escolha do filme que abrirá a temporada deste ano da associação. Ele e “Naufrago! ,também de Zemeckis, são meus vídeos de cabeceira. Vejo-os de vez em quando com o interesse de primeira vez.

segunda-feira, 25 de março de 2013

A Busca

Raquel de Queiroz botou na boca de Alberto Ruschell em “O Cangaceiro”(1952) filme de Lima Barreto, as sentenças: “Quem procura quer acha, quem pergunta quer saber”.No filme “A Busca”(2012) de Luciano Moura o personagem chamado Theo(Wagner Moura)quer saber por onde anda o filho de 15 anos que deixou a casa e se mandou por rumos ignorados.O garoto se encheu das brigas do pai com a mãe e com ele. Mas se ele sumiu pai e mãe querem achá-lo. E o pai, sentindo-se culpado, sai estrada afora perguntando pra saber. O filme não é só a longa viagem de um pai atrás de um filho. Quer ser também, ou primordialmente, um pai se encontrando ou se redimindo com as palavras de Raquel como escudo. E esse “também” é que deixa as brechas do roteiro e escapam para as imagens. Se visto na forma realista o filme é insustentável. Começa com o menino cavaleiro, capaz de cortar estados num corcel preto, ele criado no meio urbano de classe média. Depois há aqueles chavões clássicos das roupas que se enxugam, dos meios de transporte que se alternam com facilidade, dos tanques de gasolina sempre cheios, dos tipos sertanejos saídos de Graciliano Ramos em closes de Eisenstein, até um parto francamente simbólico para mostrar um renascer do improvisado parteiro, tudo isso como um arcabouço ficcional para veicular a sensibilidade do personagem em crise. As licenças de ficção poderiam ser até saudáveis se a alegoria básica ganhasse uma feição explicita. Poderia figurar num tipo de pesadelo, numa visão pessoal que em linguagem de cinema ganharia feições correspondentes. Não me parece crível um aceno realista num drama muito pessoal, muito particular. Seria como Antonioni dirigir um “Roma Cidade Aberta”(sem ganhar aplausos de Ingrid Bergman). “A Busca”só tem uma vantagem: chega numa época em que o cinema brasileiro cerca o publico com o que se pode chamar de neo-pornochanchada. É o que dá dinheiro. Fazer um enredo sério, sem apelar para o espiritismo (outra mina de ouro) é arriscar capital. Penso que o cineasta que se arrisca pergunta depois do lançamento: “E aí, comeram?” Visto assim, o cartaz de agora é saudável. Torço para que o “comam”. Afinal é uma proposta interessante E as imperfeições são relevantes. Eu vi sem consultar meu relógio. Isso é raro.

domingo, 24 de março de 2013

Sem Segurança Nenhuma

Kenneth(Mark Dyplass) põe um anuncio no jornal que precisa de acompanhante para uma viagem o tempo. Jornalistas ligados à uma revista decidem investigar que loucura é esta. Cabe a tarefa a Darius(Aubrey Plaza) tímida garota de Seattle.Claro que ela e o doidão vão curtir um romance. Mas se ele é doido, e aumenta a possibilidade quando diz que sua antiga companheira morreu quando Darius a descobre bem viva, roubos de peças de centros laboratoriais botam gente do governo atrás de Kenneth. E no fim das contas surge mesmo a máquina do tempo e Darius é convidada a viajar. “Sem Nenhuma Segurança”(Safety not Guaranteed) é um filme “out Hollywood” curioso por desapontar quem aposta nas manhas da ficção cientifica tradicional. Interessa mais a vontade do cientista do que o funcionamento de seu invento. E quem quiser ver além acompanha a fuga da realidade, a pugna por descartar os tropeços de um mundo cheio de vaidades insatisfeitas. O roteiro é de Derek Connely a direção de Colin Trevorrow(estreante no longa de ficção) e a produção 5 prêmios da critica americana inclusive o Spirit para estreante. Claro que não andou pelas telas grandes de Belém. Mas chegou em DVD & Bluray. Sirvam-se.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Videos raros

Antes de Vincente Mennelli aparecer com “Uma Cabana no Céu” em 1941, Edgar G.Ulmer havia feito “Lua Sobre o Harlem” em 1939. Este filme chega agora ao Brasil em DVD pela distribuidora maranhense Lume. É uma relíquia, pois foi feito em 16mm gastando apenas 4 dias de filmagem e com alguns atores ligados ao jazz. Custou pouco, rendeu pouco e hoje é peça de museu. Como de museu é “O Presidente”(Praesidenten/1919) de Carl T.Dreyer, também lançamento brasileiro em DVD. Este foi o primeiro filme que o cineasta de “A Paixão de Joana D’Arc” dirigiu. Sua filha,ao que diz uma legenda na cópia, “coloriu” as imagens de acordo com os dizeres do pai. Não creio posto que Dreyer era um perfeccionista e essa historia de colorir filme é um desrespeito à obra do autor. Pior ainda no chapadão amarelo&azul como se vê, também, nas edições em DVD de “Intolerância”(Intolerance) de Griffith. O filme de Dreyer é um melodrama que se realiza com o cuidado de quem sabia de quanto pode um enquadramento fazer efeito simbólico ou ajudar na com concepção da história contada. No caso o drama de um juiz que é guinado a julgar sua filha acusada de matar seu neto recém-nascido. Desta vez o apelido de clássico vai bem. Não sei se o filme está nas locadoras mas comprei em loja. Obras raras do cinema felizmente ganham espaço nas videotecas modernas graças à nova tecnologia. Quem estuda a arte&industria deve organizar um arquivo do tipo pois entre nós não existe uma videoteca cultural.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Oscar 2013

Vi a entrega dos Oscar sem cochilar. Milagre. Mas não quero dizer com isso que aprovei tudo o que vi. De meus bolões faltaram (e gosto disso) Ang Lee com o seu “Pi”(que eu preciso ver de novo pois vi numa sessão em que o projetor digital parecia iluminado por uma brasa). De até Jennifer Lawrence uma atriz jovem e bonita que sempre me pareceu talentosa. Pena que a vez dela tenha tomado a de Emanuelle Riva pelo fabuloso “Amor”. O Oscar tem chatices.Uma delas foi aturar Seth MacFarlane o dono do Ted aquele ursinho pornofonico que se viu e riu sem muito entusiasmo. O rapaz se acha engraçado e ultrapassou o limite dos piadistas que sempre apresentam a festa da Academia de Hollywood. O pior é que a plateia achava graça. Americano ri de seu umbigo, como, de certa forma, nos rimos do nosso e de nossos ancestrais portugueses. Mas as chatices caminharam por números musicais mornos, cantados em sua maioria por gente que exercitava a voz sem entusiasmo. Melhor a patota de “Miseráveis” que a meu ver foi o concorrente mais chato da temporada. Daniel Day Lewis é um camaleão. Muda nos papéis que faz. Pessoalmente, quando vai falar, gagueja. E demora a se expressar. Mas não podia ser outro vencedor com um Lincoln que até fisicamente se parece com os quadros que se conhece do presidente americano. Interessante: eu pensei que fosse dar “Lincoln” e Spielberg quando Michelle Obama falou de liberdade e o filme candidato pugnava por isso focando a emenda constitucional que abolia a escravatura. Deu “Argo”. OK, o filme de Bem Affleck exalta valores nacionais. Há um finale propagandístico. Mas se a gente pensar bem, o golpe do filme falso para liberar diplomatas presos no Irá é genial. Merece cinema. E Ben Affleck fez cinema, aquele que eu gosto pois dinâmico, de imagem em movimento, dessas coisas que a gente vê sem pensar que o tempo está passando. Gostei de “Argo” a ponto de colocá-lo na minha lista de fim de ano para avaliação de nossos críticos. A turma que ainda prefere matar cabeça com coisas como “Fausto” e viu qualidades em “Febre do Rato” ignorou. Já passei por esta fase. Com tantos anos de vida e de cinemania aprendi que diabos é mentira 24 vezes por segundo(nunca verdade como dizia um cineasta do chamado “cinema novo”). E o minuto da saudade começado com Ernst Borgnine, o solteirão de “Marty”. Passa por gente que eu não sabia estar morta. É um momento sublime do Oscar, reverenciar quem moldava a nossa memória.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A Hora Escura

Antes que eu me esqueça: a opção pela lembrança do teatro na linguagem de “Ana Karenina” por Tom Stoppart (roteirista) e Joe Wright(diretor) foi um adendo à elegância da cena na época da ação descrita por Tolstoi. Poderia ser um musical, com o fausto da melhor cenografia de Hollywood & Pinewood,mas ficou na estrutura. Outro filme da campanha do Oscar que chega aos cinemas de Belém é “A Hora Mais Escura”(Zero Dark Thirty) de Katherine Bigelow. O roteiro de Mark Boal focaliza a gigantesca operação da CIA em encontrar Osama Bin Laden. O autor do atentado ao World Trade Center ficou na mira dos americanos desde o fato em 2001. Havia uma gana em capturar vivo o terrorista e levá-lo aos EUA para um julgamento que não precisaria de bola de cristal para se saber o veredito. Mas o homem foi morto. E na casa onde foi achado estavam mulher e filhos. Estes foram poupados. Bem, a história andou sendo contada pelo militar que atirou na cabeça do perseguido. Não se sabe detalhes. E o filme passa quase duas horas costurando a operação em si, como se delineou a busca até achar a “toca” da presa. Bigelow deve ter pensado num replay de seu “Guerra ao Terror”, zebra do Oscar de quatro anos passados. Creio que não vai dar. Longo, seguindo uma linha documental que não deve interessar a muitos (especialmente quem acompanhou pela imprensa a caça a Bin Laden) o filme perde a chance de ir fundo na ideia sinistra do personagem em atacar o centro de Nova York como forma de “liquidar” um inimigo (e nem se fala no relacionamento de Osama e parentes em negócios como o petróleo). A mim foi um sacrifício passar 157 minutos assistindo. Claro que uma obra de ficção, mesmo baseada em fato real, permite desvios autorais. Mas um fato recente pedia outra coisa. Pedia mais informações e processo narrativo na linha que Henry Hathaway criava como “semidocumental”. Se a opção foi por uma simples amostragem da caçada ao inimigo público não era preciso tanta amostragem burocrática que no fundo exala propaganda. Em poucas palavras: “A Hora Mais Escura” escureceu, sim, o prazer de ver cinema. E Jessica Charlstein, candidata a Oscar, está OK, mas concorrer com Emanuelle Riva(Amor) é absurdo.

Ana Karenina

O relacionamento do cinema com o teatro sempre foi intimo, mas, como marido e mulher, cada um tem suas características e muitas vezes estas se mostram irreconciliáveis. Filmes vindos de peças teatrais muitas vezes são registros de falas perseguidas em atuações exageradas de atores que as câmeras seguem afoitas com medo de parar e com isso fazer a vez de um passivo espectador na plateia (melhor: no camarote).Pouco cinema. Esse parentesco é desfiado em “Ana Karenina”(EUA,2012) de Joe Wright o competente diretor inglês que traduziu bem o universo de Jane Austen na sua versão de “Orgulho e Preconceito”. O filme começa com uma tomada de um palco. Abre-se a cortina, há uma visão passiva de um quadro cênico mas logo a câmera se intromete e vaga por lugares insuspeitados, sempre numa posição de quem dança, bailando literalmente por sobre o classico literário que em cinema deu um dos melhores momentos de Greta Garbo. Wright brincou de teatro e literatura. Sua Karenina antes de se jogar sobre o trilho do trem parece que a toda hora vai cantar. Não se trata de um musical, mas eu arrisco chamar o filme de musical sem musica. É tudo o que perseguiu a versão operística de “Os Miseráveis” sem fazer cinema. E como cinema é movimento, a dança que sai e entre no palco (vai e volta) engloba trechos e falas do original com a demonstração cativante de direção de arte (cenografia), figurino, fotografia, e mobilidade de varias objetivam(cinegrafia que usa lentes de vários milímetros). Uma festa para os olhos sabendo que muitos da plateia sabem quem é a personagem principal e seu destino. Ah sim: o filme é candidato a Oscar técnicos. Todos justos.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Oscar 2013:Candidatos Estrangeiros

Na década de 50 eu vi no antigo cinema Moderno o documentário “Kon Tiki” do norueguês Thor Heyersahl. Foi o Oscar do gênero e sempre me marcou a ideia de que a missão de cortar oceano numa jangada era para provar que os nossos índios vieram da Polinésia. Hoje, vendo “Kon Tiki” de Joachim Ronning e Espen Sandberg fico sabendo do contrário, ou seja, a expedição de Thoe partiu do Peru para afirmar que os polinésios são descendentes dos sul-americanos. Importa que o novo filme, uma recriação do fato histórico, impressiona categoricamente. Encabeçados pelo idealista Thor, seis homens se lançam numa aventura suicida, perseguindo a ideia de que a viagem aconteceu, de fato, muito antes de Colombo chegar à America. O filme consegue ser dinâmico sem sair do fato histórico e só utiliza um viés de romance para alimentar a plateia que poderia desprezar a simples amostragem dos heróis focalizados com a dimensão humana restrita ao medo de morrer no mar. Este romance é justamente o de Thor (Paul Sverre Valheim Hagen) com a esposa Liv (Agnes Kittelsen) mãe de seus dois filhos. Ela não suporta a febre idealista do marido e o abandona antes de saber que ele chegou bem a seu destino no trajeto de cerca de 4300 milhas. Deixou-lhe uma carta que um colega de viagem leva para ser entregue a ele ao desembarcar no solo polinésio. Um trabalho de direção de arte muito bom e de uma edição capaz de ritmar a monotonia da longa viagem(apesar da ameaça de tubarões). È o candidato da Noruega ao Oscar de filme estrangeiro este ano(2013). Não deve repetir o feito de seu antepassado cinematográfico mas exibe o insuspeitado bom cinema do país. Outro candidato a Oscar é “Rebelle”, representando o Canadá. Filmado no Congo narra a historia de uma jovem assolada pela violência da guerra tribal e obrigada pelos inimigos a matar pai e mãe. Depois ela segue com as tropas desses inimigos e dentre muitas barbaridades vê a morte do amante e engravida de um truculento militar. Ela narra o seu drama e não é obrigada a estar viva para contar sua odisseia. O recurso da narração oral apenas facilita o ritmo de um filme que se debruça na crueldade,mostrando (bem) o lado animalesco de seres humanos. O diretor é Kim Nugyen com mais 6 filmes no currículo. Filmado em locações nos pontos citados pelo roteiro do próprio diretor custa a tirar a noção de documentário. Um elenco expressivo dá conta de uma realidade copiada com o rigor de quem quer deixar bem nítido os fatos. É um dos filmes mais cruéis que vi em anos. Mas essa crueldade é objetivada pelo autor. Impressiona especialmente o desempenho de Rahel Mzuanga como Komona, a sofrida heroína. No Brasil o filme vai se chamar “A Feiticeira da Guerra”. Isto porque Komona, para se livrar de torturas, diz-se bruxa. E acreditam nisso. Os dois filmes que eu menciono vão perder a estatueta de Hollywood para o grande “Amor” de Michael Hanek. Mas eles ganham longe alguns dos candidatos a filmes concorrentes de língua inglesa.