quinta-feira, 30 de julho de 2015

Os Melhores Filmes do Semestre


Está cada vez mais escasso o numero de bons filmes a se cotar no balanço dos melhores do período. Em meus tantos anos de cinemania nunca fui tão pouco ao cinema. Os filmes que mais me impressionaram no primeiro semestre de 2015 foram, em maioria, estreados nas salas especiais. Mas não são muitos. Anotei, na ordem de exibição,”Olhos Grandes”, “Selma”, “Teoria do Tudo”, “Jogo da Imitação”, “Birdman”, “Para Sempre Alice”, “Relatos Selvagens”,Mad Max Estrada da Furia”, “Minhas Tardes com Marguerite”, “Azul Nem Tanto Rosa”,”O Sal da Terra”, “Divertida Mente” e “2 Dias e Uma Noite”.

               Se a conta for dos piores há inflação de nomes. Vi agora “Pixels”. Um sacrifício ir ao cinema, pegar ar condicionado descontrolado na cabeça, sentir o cheiro de pipoca do vizinho de poltrona(sem poder mudar de lugar porque é a numerada que se escolheu) e ver o filme em 3D com uma lâmpada insuficiente. Isto e mais o besteirol da realização, com Adam Sandler de ator e produtor, ou seja, o burro puxando a carroça.

               Cinema hoje é na internet (download) e ainda nas locadoras & lojas de dvd & bluray. Com isso os piratas se esbaldam. Mas eles endereçam seus produtos aos Adans Sandlers que gostam de dublagem. Quase tudo é estilo moviecom, ou seja, com as falas em português que na maioria das vezes mete pena.

               Por isso é que ontem vi pela primeira vez um melodrama de 1920 dirigido por David Griffith: “ Way Down East” vendido como “As 2 Tormentas”. Duas horas e meia de linguagem dinâmica, com suspense de deixar inveja aos filhotes de Hitchcock. OK filme mudo. Mas como dizia Chaplin (e por aqui o mestre Chico Mendes), cinema é imagem em movimento.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Pacino


“Manglehorn”é o terceiro filme com Al Pacino em 2014. Ele faz um produtor de chaves para diversos fins, vivendo com uma gatinha branca e sempre lamentando estar longe de certa mulher que não foi com quem casou. Pai de um executivo com quem não se dá bem, conhece uma funcionária de repartição publica que lhe quer para companhia(ela também vive só) mas que ele recusa na obsessão pela namorada que nem responde suas cartas(e ele acaba achando todas, devolvidas pelo correio);

Pacino aproveita o tipo.É o que um bom ator deseja para expor sua capacidade interpretativa.  O diretor David Gordon Green dá o toque necessário ao bom resultado de uma peça introspectiva.

Gostei sobretudo como o filme encerra. Procurando se recuperar da lembrança de quem lhe deu atenção, o personagem do titulo, vê seu carro trancado com a chave dentro. Adiante dele está um mimico que tenta entrar em outro carro.O mimico faz menção de que joga uma chave para Manglehorn. Ele primeiramente ri mas depois “usa” a mimica. E dá certo porque sua vida mudou. Apendeu a dar valor ao próprio ato de viver.

Bom filme.

terça-feira, 21 de julho de 2015

A Familia de Scola


Revi “A Familia”(La Famiglia) de Ettore Scola. Foi reeditado agora em DVD. Vittorio Gassman é a figura que narra a sua vida desde o berço, começado o filme com um retrato dos familiares. Ele conta as brigas de pai com mãe, de sua relação com o único irmão, da adolescência, e da idade madura quando se apaixona por quem vai ser sua cunhada. Rapidas sequencia, muitas personagens que chegam,  até que alcance a velhice.

               O filme omite muito da historia italiana que corre em paralelo. O período fascista por exemplo, com os estragos da guerra, fica resumido em poucas falas. E a reconstituição do país, a influencia norte-americana, as diversas crises econômicas, tudo passa ao largo. Insuficiente também no esquema afetivo, dando a impressão de que o corifeu sofre de amnésia.

               Scola foi excelente em “Nos que nos Amávamos Tanto” e muito bom em outros filmes. Seu titulo mais novo, “Que Estranho se Chamar Federico” foi uma homenagem pífia a seu colega Federico Fellini a quem ele conheceu quando jornalista.

               “A Família” só não é pior do que “O Jantar”, outra reunião de tipos excêntricos.

              

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Mexicanos


A morte de Ninon Sevilla, aos 85, leva-me a lembrar como o cinema mexicano era querido em Belém. No tempo(1948) em que o Olimpia exibia um filme por 4 dias ele permaneceu 2 semanas em cartaz. A empresa Cardoso & Lopes, dona dos cinemas Modeno, Independencia e Vitoria, colocava em seu anuncio uma frase para atentar os críticos(que normalmente desprezavam as melodramas mexicano): “Dura lex, sed lex, filme bom é da Pelmex.” Pelmex era a distribuidora máxima dos filmes desse pais. De inicio exibiam nas salas de Severiano Ribeiro(Olimpia, Iracema, Guarani,Popular,Iris...). Depois é que passaram para a exibidora concorrente. Mesmo assim, Ribeiro lençava os mexicanos que chegavam pelam Columbia Pictures. O caso de “Pecadora” e de “Palavras de Mulher” além das comédias de Cantinflas.

               A moda mexicana era alta. Os homens usavam bigodinho e ainda cabelos alisados com laqué. As mulheres vestiam colantes que realçasse a bunda. E se pintavam em excesso.

               Os boleros minavam as emissoras de radio e gravadoras de discos de cera(antes do LP). Por sinal que cada filme vinha de um bolero. Augustin Lara era um ídolo. Feio como um Dracula sem caninos altos, compunha sua paixão pela bela companheira que o deixou: Maria Feliz. Ela era a Maria Bonita que lhe lembrava Acapulco. E a praia mexicana deu até em hit versado com Emilinha Borba(“Acapulco”), sucesso de venda nas fonotecas.

               Eu sempre rejeitei os dramalhões mexicanos. Mas vi todos. Tinha Libertad Lamarque em “A Louca”(La Loca) como tinha rumbeiras do tipo Ninon e especializadas em papeis de prostitutas como Emilia Guiu. Engraçado é que a maioria dos filmes era “impropria até 18 anos”. Eu só vi “Pecadora” em DVD através do colecionador Paulo Tardin. Fiquei espantado quando vi o conjunto brasileiro Anjos do Inferno cantando a embolada “ 4 e 400”.

               O normal era a mocinha (ou putinha) morrer tuberculosa. Quando tossia era sinal de que o filme estava perto do fim.

               Ninon Sevilla quis levar de Belém um amigo que imitava o Cantinflas. Ele não quis segui-la. Como Cantinflas não quis que seus filmes fossem distribuídos pela Pelmex. Ganhou Globo de Ouro por “A Volta ao Mundo em 80 Dias” mas não foi muito feliz com Hollywood:seu filme posterior, “Pepe”, deu prejuízo.

               Hoje os mexicanos batem os grandes norte-americanos. Iñarritu e Cuarón que o digam.

 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Filmes Morfeuticos


Há filmes morfeuticos. Não é morfético é morfeutico, de Morfeu. Dão sono. E tanto que deviam ser receitados no lugar dos ansiolíticos que viciam. Esta semana eu vi um desses “remédios”: “Jauja” filme argentino de Lisandro Alonso. Foi feito na Dinamarca e ganhou o premio “Um Certain Regard”de Cannes. Tudo um homem em busca da filha no deserto da região(creio dinamarquesa). Planos fixos intercalam-se na media de 2 minutos cada um. E muitos abertos, evidenciando  a paisagem como forma de dizer da solidão e distancia que se faz nas (ou entre as)personagens.

Morfeuticos são muitos filmes clássicos. No “Deserto Vermelho”de Antonioni a atriz Monica Vitti anda metros e metros acompanhada da câmera sem dizer para onde vai ou se o seu destino interessa a quem vê o filme (quer dizer, apenas, incomunicabilidade). Haja saco. E Godard é mestre nisso. Seus filmes são ágeis é verdade mas não dizem a que vieram. São imagens soltas como se estivessem ali na hora, sem artificio de quem quis que ela dissessem alguma coisa.

Hamlet dizia “dormir, talvez sonhar”. Quem passa a sonhar com os morfeuticos está de parabéns. Mas eles deixam a gente em REM, aquele sono pesado que não deixa lembrança. OK, terapêutica. Usem se acham necessária.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Ilustre Encolhido

A chegada do filme “ Homem Formiga” leva à lembrança “O Incrível Homem que Encolheu”, um grande filme B do prolifico Jack Arnold. Nele, o personagem interpretado por Grant Williams (ator que morreu cedo) pegava uma nuvem radioativa e ia diminuindo de tamanho sem perder as faculdades mentais. Há sequencias marcantes. Uma delas: quando ele começa um tratamento para estancar a sua involução e está conversando com uma rara amiga de seu porte, uma anã de um circo. Em dado momento ele percebe que ela está maior do que ele. E sai correndo desesperado: “-Voltou, voltou”. Mas de todos os momentos que ninguém esqueceu está o final, quando o encolhido está menor do que uma bactéria, passa pela grade do porão de sua casa, e vê as estrelas como se estivessem mais perto. Pensa (e a gente ouve) que apesar de cada vez menor ainda raciocina. E segue o aforisma de Descartes: “Penso,logo existo”.
               Jack Arnold ganhou uma homenagem no Festival de Cannes e, já doente, movendo-se em cadeira de rodas, respondeu a quem lhe indagou o motivo da produção não mostrar o processo revertido e o encolhido crescendo. Disse com ênfase: “Isto só aconteceria sobre o meu cadáver”.

               Foi o filme que celebrizou  Arnold. E pediu vaga entre as melhores “sci-fi”. Ali o homem encolhia e o intelecto subia. Não se pode dizer o mesmo de um super-herói da Marvel.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Lados de Cinema


               Em “Aviso aos Navegantes”(1950) Eliana define hipótese: “É uma coisa que não é mas que a gente pensa que é para saber como seria se fosse”. Assim um filme comercial que se vê é o que o argumentista idealizou, o roteirista adaptou, o diretor maquilou e o produtor aprovou. Pensei nisso ao ver em DVD “Os Dois lados do amor” primeiro longa de Ned Benson. Ele, diretor-roteirista, tinha planejado 3 etapas, ou 3 pequenos filmes. Um era dedicado ao homem, outro à mulher, e o outro, chamado “Them”,ao conjunto. O publico decidiria quem tem razão como em “Rashomon”, Pois a edição final ficou em um filme só e a confusão é terrível. Mulher se separa do marido atormentada com a morte do primeiro e único filho, ambos vivem crises e tendem a se reencontrar.

               Mesmo com esse resumo editado há cochilos de edição. Uma hora ele diz à mulher, dentro de um carro e com chuva, que o limpador de parabrisa quebrou. Logo se vê funcionando. Depois, já no fim, ele anda de paletó e logo está com o tal paletó dependura num braço.Seja  cochil o mas há senhores desempenhos como o da atriz Jessica Chatain,

               Claro que o filme não chegou aos nossos cinemas de shopping.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

O Duplo


               Richard Ayoade só tem um filme antes deste “Duplo”(The Double) ora nas locadoras de DVD: “Submarine” historia de uma garota de 15 anos que deseja perder a virgindade antes dos 16. Ele agora ataca o livro de Dostoievsky com  Jesse Eisenberg feito Simon, um tímido empregado de uma corporação (dominada por um tipo que se conhece por Coronel) que se vê diante de James, um novato com a sua cara e mais coragem para subir de posto.

               Não conheço o livro mas o filme lembra na sua estrutura “O Processo”(The Trial) que Orson Welles fez da obra de Kafka. Ali era um homem acusado de um crime que nem sabe qual e aqui é um preterido por uma cópia de seu físico, capaz, sem duvida, de se sair melhor com a colega Hannah, sua paixão.

               O estilo alucinante, ou alucinatório, usa de recursos que vão das cores (especialmente o vermelho), do enquadramento (nem sempre horizontal), da montagem (com licença acronologica) e dos atores(especialmente de Jesse, o garoto que descobriu o face-book em “Rede Social”) .

               A coisa funciona em tese mas o filme é árduo de ver. Mais do que Tony Perkins correndo pelos espaços que Welles dimensiona com profundidade de campo. De qualquer forma é uma experiência interessante. Não dá para deixar a base do que deve ter sido a ideia do escritor russo. Mas não adere ao fantasmagórico de indústria. Vale olhar.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Minhas Férias


               Vicente Cecim dirigiu um vídeo para a Unama sobre a minha cinemania. Chamou de “Lanterna Mágica”. Numa cena eu estou em Mosqueiro, na praia (do Farol) ,sentado em uma cadeira de pano, fazendo palavras cruzadas ou simplesmente contemplando o horizonte.

               Penso em julho quando não vou à ilha tão perto da cidade (e na verdade um subúrbio pois é parte de Belém). Antes eu ia, com meus pais. Era o tempo de se pegar navio para chegar até lá. Havia paz. Quando estou só, na praia, admiro a paisagem e penso em como pessoas desperdiçam a beleza natural entre copos de bebida alcoólica nas terríveis barracas edificadas na orla ou derramam conversa fiada sem olhar para o lado ou quadro em que se nota o capricho da natureza.

               Hoje busco o meu recanto que não é parte de lanterna, mas é mágico, no meio das semanas normais (ou “uteis”) .Aposentado, posso fazer isso. E seria bobagem perder a chance.

               Nas férias oficiais eu fico com o meu cinema caseiro exposto na TV que abriga meus DVDs e Blurays. Entre muitos filmes novos abro espaço para o passado e vejo ou revejo coisas que me impressionam na arte das imagens em movimento - pois é uma forma de vencer a morte mostrando pessoas que já se foram e aspectos culturais que desbotaram.

               Minhas “férias”(cabem as aspas),portanto, são em prisão domiciliar voluntária. Pago pelo crime de ser sensível às maquinações da memória e, sobretudo, a magia de um tipo de silencio.

               Ah sim: abomino os filmes chatos. Respondo-os com o sono. Também não vejo as besteiradas que passam pelos cinemas comerciais. Estas nem sono atiçam.

               “Voila” meus julhos. Deste século.

              

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Porre de Cinema


    Atendo a quem me pede para tratar de filmes sobre bêbados, especialmente "Vicio Maldito". Aí vai:
Há filmes emblemáticos sobre o alcoolismo: “Farrapo Humano”(Lost Wekend/EUA, 1945) de Billy Wilder a partir de uma historia de Charles R. Jackson “Vicio Maldito”(Lost Weekend/EUA, 1962) de Blake Edwards de um roteiro de J. P. Miller e o brasileiro “O Ébrio”(1945) de Vicente Celestino & Gilda de Abreu(marido e mulher).
          Ray Milland procurou uma garrafa que escondeu no patamar de seu prédio para que a mulher dele, Jane Wyman, não visse. Milland chegava ao delírio, vendo “coisas”. Ganhou o Oscar do ano assim como o seu filme e diretor.
          Jack Lemmon disputava a bebida com Lee Remick ao som da canção que fez sucesso e ainda hoje é lembrada quando se trata de musica de filme (“Dias de vinhos e rosas” de autoria de Henry Mancini. A musica levou um Oscar e Lee um Globo de Ouro e um Bafta(premio inglês)junto a Lemmon.
          E Celestino compôs a musica e escreveu a peça teatral com a sua mulher. Gilda de Abreu dirigindo tudo(peça e filme). Chegou a representar aqui em Belém, na Festa de Nazaré, no então Cine Moderno. O filme fez enorme sucesso. Melodrama total é lembrado com o personagem embriagado recebendo a ex-esposa, agora sem companheiro e sem dinheiro. Ela se ajoelhava diante dele pedindo perdão(pois fora a causa de sua desgraça, um medico bem sucedido que sucumbia à traição amorosa da cara-metade e aos roubos dos amigos). Respondia Vicente : “-Eu disse que perdoava mas não disse que reconciliava”.
          Claro que muito mais bebida foi, derramada em celuloide. Mas os títulos citados pediram guarida em minha memória. Todos existem em DVD.