sexta-feira, 29 de março de 2019

No Portal da Eternidade


Pelo menos dois filmes eu assisti tratando da vida de Vicent Van Gogh o pintor que marcou a arte visual: a animação “Com amor Van Gigh”(Loving Van Gogh/2017) de Dorata Kobiela & Hugh Welchman e o drama “Sede de Viver”(Lust for Life/1956)de Vincent Minneli. Há outros, que eu não vi, mas este “No Portal da Eternidade”(At Eternity Gate/2018) de Julian Schnabel  faz jus aos antepassados, especialmente ao filme de Minneli. E deve-se a Willem Dafoe(candidato ao Oscar pelo papel) que faz um Van Gogh historicamente mais perto do que seria a realidade, adentrando pela causa de sua morte.
O filme não chega ao clímax da criação & neurose mostrado por um dos melhores desempenhos de Kirk Douglas (o papel dado por “Sede de Viver”), deixando de lado a questão da influencia do opio, dada pela ingestão de papoula no cenário onde o pintor morou, mas ganha terreno no relacionamento com seu irmão Theo (Rupert Fiend), embora menos com o colega Gaugin(Oscar Isaaac).
O filme na realidade é do ator. O que Van Gogh viveu entre crises emocionais, ganhando corpo na hora em que sofreu um tiro(seria dado por um menor que lhe via pintando ) passa sem aprofundamento psicológico, ou seja, não se dimensiona com clareza o que sofria o artista. Tampouco se aventura nos seus exílios voluntários para fazer seus quadros. Resta a mascara do interprete, tentando a impressão que o próprio Van Gogh deixou pintada e que Minneli consegui deixar em um dos melhores trabalhos do veterano Douglas(ainda vivo aos 102 anos).
                Um filme importante sem duvida. Não chega à raia de obra-prima mas ganha corpo entre as biografias de um mestre do pincel que em vida pouco foi festejado(vendeu um ou dois quadros apenas). Felizmente chega à Belem (Cine Libero Luxardo).

quinta-feira, 28 de março de 2019

\Cafarnaum


Cafarnaum, é uma cidade bíblica que ficava na margem norte do Mar da Galileia, próxima de Betsaida (terra natal de Simão Pedro) e de Corozaim. No filme atual o cenário é libanês(pais produtor) e não se fala no fato de que o espaço geográfico  juntamente com Betsaida e Corazim foram amaldiçoados por Jesus, que predisse a completa destruição das três cidades. Cristo havia pregado e feito milagres ali, mas aconteceram fatos que levaram o Mestre a se mudar, ganhando caminho de Jerusalém.
O filme dirigido por Nadine Labaki trata de Zain (Zain Al Rafeea) um garoto nascido em berço humilde, fadado à marginalidade como outros de seu tempo e espaço. O menino chega a ser preso por falcatruas e mesmo um quase assassinato (esfaqueou uma pessoa). Na cadeia prossegue maldizendo a sua própria vida, generalizando como “um mal” que se deve evitar “não nascendo”.
Tamanho pessimismo ganha imagens bem compostas, com atores brilhantes, conseguindo manter um ritmo ágil apesar da trama ser estruturalmente episódica.
Quem for ver vai sair do cinema impressionado com o desempenho de Al Rafaeea. Dá para pensar num documentário que focaliza o tipo real do menino-bandido. Em nenhum momento se menciona o espaço geográfico, mas se delineia a feição politica. Reina a desigualdade terrível de classes, a miséria sem uma saída iminente. É como se o velho neorrealismo ganhasse novas lentes,sem duvida mais assustadoras.
Um filme importante. Ainda bem que chega por aqui (Cine Libero Luxardo).

terça-feira, 26 de março de 2019

Nós


Jodan Peele o cineasta que fez “Corra!” e andou ganhando prêmios pela ousadia de uma amostragem menos trivial do racismo nos EUA, voltou com muito mais abrangência em “Nós”(Us), filme não à toa assim chamado.
Logo no inicio legendas tratam de tuneis existentes nos EUA e que muitos já perderam identidade por anos vazios. Daí se passa para uma parque de diversões onde uma garota negra  saia de perto dos pais e envereda por uma sala de espelhos onde vê uma imagem que pode ser o seu reflexo mas que apresenta atitudes pessoais (dela, imagem). Anos depois, a menina já mãe de um casal de filhos vivendo com o marido boa praça, recusa passar as férias na mesma praia  (a do parque) por onde andou na época do espelho. Mas a perseverança do marido ganha e a família vai ao cenário. Ali, em uma noite, vê surgir defronta da casa onde está hospedada, outra família, no caso cópias dela mesma,  das três personagens com apenas detalhes que se vai conhecer quando invadem o ambiente: a mulher usa tatuagens, veste vermelho, e um o filho abusa de mascara branca, contrastando com o garoto da casa que usa uma de monstro.
Começa uma batalha pela supremacia. Os visitantes seriam o lado mau das criaturas. E nessa luta que assume a face de filme de terror & aventura, acaba mostrando que as imagens “más” estão dominando a cidade, dizendo apenas, em uma vez, que “somos americanos” (e citando um versículo bíblico- de Jeremias). De uma feita a mãe (excelente Jupita Nyon) procura seu garoto que sumiu do carro onde estavam fugindo do lugar, e entra numa sala de aula subterrânea onde uma personagem de professor conta a historia da dicotomia que sempre existiu e que no momento a face má quer assumir a chefia do mundo. Não à toa se vê dezenas de figura trajando vermelho, de mãos dadas, adentrando a praia. E na areia casais mortos (a maioria de brancos). Nessa hora a mãe (Lupita) briga e mata a “outra”. Acha o filho e de volta ao carro da família (já uma ambulância) . As ultimas tomadas não são conclusivas na historia. Afinal, o “mal” persiste e hoje está bem vivo na politica mundial, especialmente  na Era Trump.
                Mr. Peele conseguiu fazer um filme denso com embalagem comercial capaz de faturar mais e US$60 milhões na primeira semana de exibições nos cinemas americanos. E o fez de forma tão sutil que as lebres engoliram os gatos –e não à toa, no enredo, os maus comem coelhos.
                Nada é de graça em “Us”. Nós somos as vitimas de nós mesmos desde que fraquejemos voltando ao cenário (bem amplo) de nossas piores lembranças. Afinal uma lição de historia: assim como os tuneis fantasmas os americanos vivem rodeando os espaços que o passado sabiamente deu a esquecer, ou seja, ao pior que escondem em si.
                Há muito a ver nos entre planos do filme. Raridade que promove um cineasta inteligente.

domingo, 24 de março de 2019

Meu Romance


Há 62 anos eu tinha marcado encontro com uma garota que seria a minha primeira namorada. Fui ao cinema (era um domingo pela manhã) ver “Nasce uma Estrela” versão com Judy Garland. Ela me encontraria la(Cine Nazaré). Mas não apareceu. Fiquei desapontado e mais uma vez ciente de que não seria eleito por nenhuma jovem da época. Na saída, encontro-a com um menino que a acompanhava e não entrou no cinema por causa da idade (o filme era improprio até 14 anos). Saímos andando .E marcamos outro encontro cinematográfico. Agora na vesperal do Olimpia quando passava “Sinfonia Carioca”. Eu já tinha visto o filme mas ia rever por causa dela. E realmente só valeu o encontro. Sala lotada. Saímos e fomos para um dos bancos da Praça da Republica onde ficamos conversando de mãos dadas. Daí em diante foram cartas que seguiam para o Colégio Santa Rosa, onde era interna, e rápidos reencontros nas poucas folgas que lhe davam.
Foram creio que 2 anos de namoro. Seguiu-se um de noivado. E o casamento se deu quase 4 anos depois do primeiro encontro.
Maria Luzia desafiou minha timidez. Fez eu viajar de avião (Cessa) para a sua  terra natal (Abaetetuba), conhecer seus pais, acompanhar cenas tristes como a morte de sua mãe de criação, até chegar a hora do altar(em casa), depois uma temporada no Mosqueiro (onde minha mãe dizia que eu fui concebido) e a chegada de uma família grande, começada com 4 filhas e daí 10 netos e (até agora) 1 bisneto.
Luzia é minha companheira, fonte de meu afeto, cuidadora na chegada da velhice, enfim, o meu outro eu. Não mais imagino a vida sem ela. E tudo começou com um bilhete que escrevi à ela depois que a conheci em casa quando foi estudar com uma colega que era das pessoas do interior do Maranhão que meu pai abrigava ganhando freguês da sua loja de tecidos (Africana). Nem sei o que escrevi. Uma freira rasgou o tal bilhete.Para as madres a menina abaetetubense seria uma futura madre. Foi, mas de crianças. Uma benção que recebi e todos os dias agradeço à Força Superior por isso.