segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Festa dos 99

Fui ao Olympia no dia de aniversário da casa. Não poderá faltar posto que naquele cinema “me criei”. E a festa que o Marco Antonio “Kubrick” Moreira organizou valeu a viagem. Do coral da Fumbel às senhoras que dançaram como se homenageassem o cinema de seu tempo, de certa forma lembrando os filmes mexicanos que propagavam boleros e levavam multidões de chorões ao cinema, tudo funcionou. E mais ainda Salomão Habib tocando no violão acordes de trilhas sonoras de filmes populares, de “Em Algum lugar do Passado” a “Cinema Paradiso”(este popular em toda parte menos em Belém).
O filme escolhido para soprar as 99 velas, “Inverno da Alma”, foi de fôlego imenso. Jennifer Lawrence é uma menina bonita e inteligente, talvez por isso ainda não tenha feito blockbuster. Mesmo impondo a maquilagem em cenas de angustia e usando umas luvas que entram e saem das mãos sem motivo aparente (um cochilo perdoável), a garota comoveu como a filha em busca do pai a ponto de esquecer que o “velho” era traficante e ela própria podia fazer uso de drogas (e preferiu ser séria e tomar conta dos irmãos menores-uma forma de santificar sua personagem).]
Guardei o nome da diretora-roteirista, Debra Granik.
E só espero estar vivo e firme na festa do centenário, ano que vem.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Perto dos Cem

O cinema Olympia completa 99 anos neste 24 de abril. Gravei a data quando era bem criança pelo simples motivo de ser o aniversário de minha mãe. Ela festejava os seus 12 quando Antonio Martins e Carlos Teixeira inauguraram o que seria o primeiro cinema de luxo da cidade, o espaço que os sobreviventes da época da borracha pareciam pedir. Antes cinema era programa do Beco do Carmo, de uma dezena de barracões com lençol estendido e projetor de manivela entre bancos corridos e, na concepção mais elegante, de programas entre peças cômicas ou dramáticas do Cine Theatro Chalet ou, ainda, das “fitas” que passavam nos dois cinemas do seringalista Antonio Llopis.
Lembro de que meus pais não gostavam de freqüentar o Olympia porque tinham de vestir roupa de festa e eles gostavam de ir a cinema com o traje dito esporte, fazendo as sessões noturnas das casas de periferia como o Guarani ou o Universal da Cidade Velha ou o Independência perto do Largo de S. Bras. Não iam ao Moderno pois minha mãe tinha medo de incêndio num espaço fechado (o salão não tinha portas laterais).
Eu é que praticamente me criei no Olímpia (com “i”). Morava perto, e por causa ia a pé, levando os trocados do ingresso no bolsinho da calça. Minhas sessões preferidas eram a de 15 horas nos dias úteis e 9 de domingo. Curti de tudo, descobrindo que gostava de filmes menos comerciais, achando beleza no estranho de imagens que não se esgotavam no letreiro do fim. E graças ao cinema li o que não leria comumente, como peças de Shakespeare.
A minha cinemania era tão intensa que em 1950 passei a exibir filmes em casa, usando películas de 16mm. Era como o DVD de hoje. Graças ao manejo dos projetores aprendi as manhas da técnica e depois as de filmagem usando câmeras diversas que me obrigavam a conhecer fotografia (nesse tempo automatismo era ficção - cientifica).
Quero estar vivo para festejar os 100 anos do cinema que de alguma forma foi meu professor. E não apenas isso. Namorei, testemunhei romances e brigas, acompanhei diversas fases do espaço que só merecia atenção dos proprietários quando começava a deteriorar.
Penso o Olímpia como minha outra casa. Lá ficou um pedaço de tempo em que minhas preocupações se esvaiam nas intrigas de mentirinha onde estrelas como Ingrid Bergman, Rita Hayworth, Judy Garland, Humphrey Bogart, James Stewart, Gary Grant, Jean Gabin, Michelle Morgan, Gina Lollobrigida, Oscarito, Anselmo Duarte, e tantas mais de tantas partes do mundo viviam para sensibilizar quem as visse atuando. Eram filmes para sentir, não para discutir como os novos cineastas capitaneados pelo franceses propuseram a partir de 1959. Claro que tenho saudades desse tempo, mas reconheço que me encontro numa época maravilhosa onde posso trazer todo esse céu de estrelas para minha sala, no conforto da TV de alta definição.
O Olimpia é parte de Belém, é orgulho da gente por sua longevidade onde a espécie tende a morrer cedo. Parabéns a ele pelo quase centenário.

sábado, 16 de abril de 2011

Silhuetas da Paisagem

Helio Gueiros e Ápio Campos, mortos no mesmo dia, deixaram muita história para ser contada. Hélio como jornalista e político. Ápio como religioso. Conheci os dois e como a minha odisséia leva às terras do cinema lembro-os em fatos ligados a isso. Hélio freqüentava as vesperais diárias do cinema Olímpia antes de ir para a redação do jornal “O Liberal”. Trajava sempre terno branco e foi a primeira pessoa que eu vi deitar-se na poltrona e botar os pés por cima da anterior. Quando comentava um filme expandia uma irreverência peculiar. Disse uma vez que “as fitas do Libero Luxardo eram uma merda”. Qualificava pelo que a gente comungava, mas hesitava em dizer. O cônego Ápio eu conheci quando procurei um cálice pertencente à atriz Marilyn Monroe que um bispo tinha trazido para Belém. Fui procurá-lo no Colégio Santa Catarina de onde ele era capelão. Mostrou-se muito atencioso, deixou que eu fotografasse a peça e o tema deu uma boa reportagem em “A Província do Pará”. Depois eu o chamei para rezar em casa a missa em ação de graças pelos 80 anos de minha mãe. Uma cerimônia muito bonita onde ele ressaltou o que essa idade guarda de melhor.
Os dois mortos de agora faziam parte da Academia Paraense de Letras. Chamava-se a isso de “imortais”. Acho muita graça do qualificativo. Morrem muitos pela inexorabilidade da falência do organismo humano no passar do tempo. Bem, o que as silhuetas deixam na paisagem fazem a história que devemos guardar; Aquela coisa que remenda o titulo dado no Brasil ao “You Can’t Take It With You”filmado por Capra: Do mundo nada se leva. Mas muita coisa de deixa...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sidney Lumet

Irrita a subestima de alguns nomes exponenciais do cinema. Quando morre um astro, a mídia propaga. Quando alguém segura um Oscar é status. Sidney Lumet morreu com poucos espaços na imprensa internacional noticiando a sua morte e jamais ganhou uma estatueta dourada de Hollywood. E olhem que ele deixou um lastro de obras meritórias, obras que deram a seus intérpretes os prêmios que fizeram jus.
Foi Lumet quem me fez conhecer melhor Sean Connery, antes limitado a ser o James Bond de Ian Fleming, mandando S. Majestade britânica às favas como o prisioneiro de “A Colina dos Homens Perdidos”(The Hill/1965). Foi dele o duelo de bastidores entre jurados que deviam ou não condenar uma pessoa (“12 Homens e Uma Sentença”/Twelve Angry Men, 1957). Dele uma abordagem lúcida no teatro de “Quando o Espetáculo Termina”(Stage Struck/1958). E Henry Fonda, depois de ser um dos doze homens para uma sentença tentando evitar uma guerra quente na versão dramática de “Fail Safe”(Limite de Segurança) que Kubrick filmaria em ritmo de sátira no seu “Dr. Fantástico”. Dele o “Mágico Inesquecível”, ou de Oz onde se via Michael Jackson adolescente cantando e dançando. A seu cargo a máscara de Rod Steiger em “O Homem do Prego”(The Pawnbroker/1965). De seu mando Al Pacino como policial nada ortodoxo em “Serpico”(1973) e “gay” assaltante em “Um Dia de Cão”(Dog Day Afternoon/1975). E que dizer da “Rede de Intrigas” (Network/1976) que deu um Oscar póstumo a Peter Finch ? E quem lembra o duelo de Michael Caine com Christopher Reeve na versão da peça de Anthony Schaffer( “Armadilha Mortal”) posterior a que botou Laurence Olivier de frente ao mesmo Michael Caine ? E a Agatha Christie cristalina em “Assassinato no Orient Express””(1974) premiando Ingrid Bergman ? Ponha-se mais: “Garbo Fala!”, “Até os Deuses Erram”, “O Grupo”..... até chegar ao prodigioso “Antes que o Diabo Saiba que você Está Morto”, despedida em 2007 já com 82 anos ?
Sidney Lumet fez bom cinema. E muito cinema. Ao todo foram 72 filmes como diretor. Foi candidato ao Oscar por 4 vezes. Deu 33 prêmios a seus atores e técnicos. Escreveu 5 roteiros, produziu 9 filmes e atuou em 4. Uma bagagem notável que ficou para se rever e rever.
Com a morte de Lumet o pessoal que veio da TV nos anos 50 praticamente sumiu. Era formado por John Frankenheimmer, Arthur Penn, Martin Ritt, Sidney Pollack, Hal Ashby, e poucos mais, com menos ainda vivos e ativos.
Mais um gol da morte.