terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Saudades Satisfeitas


                Catherine Hardwick pagou o perdao que lhe era exigido por ter feito “Crepusculo” com este “Já Sinto Saudades”(Miss you already)  ora em cartaz. Narrando bem, com muita câmera manual evidenciando closes para enfatizar a amizade entre as personagens de Jess(Drew Barrymore)e Mily (Toni Collette) ela conta a dedicação mutua entre as garotas que se mantem na idade adulta e vai até  a morte de uma delas com câncer.

                O enredo, vindo do roteiro original da atriz de TV, a inglesa Morwenna Banks,lembra alguns melodramas que partiram de doenças como o recente “A Culpa é das Estrelas”(The Fault in our Stars).Por sinal que o texto lembra Johnn Green, autor também de “Cidade de Papel”(Papers Town). A diferença é a favor de Hardwick cuja segurança artesanal e o desempenho fantástico de Toni Collette,incrivelmente não premiado em Hollywood ou adjacências consegue diluir um melodrama com um realismo salpicado de bom humor.

                Poucas vezes se vê no cinema um hino à amizade tão bem entoado. Boas atrizes capricham ajudando uma edição que se vale dos enquadramentos precisos e de uma direção de arte que usa com eficácia locações como a que inspirou Bronté em “O Morro dos Ventos Uivantes”. Ah sim o filme é inglês. Deu para deixar saudades do que fazia David Lean antes de se mudar para Hollywood.

                Milagre: copias só originais no Brasil. Sem as falas manjadas dos dubladores brasileiros.

 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Os Melhores do cinema


Meus melhores filmes em 2015:

1-DIVERTIDAMENTE

2-BIRDMAN

3-QUE HORAS ELA VOLTA?

4-LEVIATÃ

5-RELATOS SELVAGENS

6-MAD MAX, A ESTRADA DA FÚRIA

7-PARA SEMPRE ALICE

8-SAL DA TERRA

9-HOMEM IRRACIONAL

10-CAMINHO  DE TRILHOS

Diretor- Alejandro Iñarritu (Birdman)

Ator- Michael Keaton(Birdman)

Atriz- Regina Casé(Que Horas Ela Volta?)

Ator Coadjuvante- Ricardo Darin(Relatos Selvagens)

Atriz Coadjuvante-Charlize Theron(Mad Max)

Roteiro original- Pete Docter (Divertidamente)

Roteiro adaptado- Anthony MacCarten (Teoria do Tudo)

Fotografia-John Seale(Mad Max)

Edição- Margaret Sixel(Mad Max)


Cenografia-Best Art Direction
Adam Stockhausen
Rena DeAngelo(Ponte dos Espiões)

Animaçao: Divertidamente(Pete Docter)

 

Documentario-CINCO CAMERAS QUBRADAS de
Emad Burnat
, Guy Davidi

Ganhou uma animação. E prezo o fato de ser um filme criativo em meio às mesmices projetadas. Uma invasão no cérebro de uma criança consultando os castelos do ideário infantil, a chegada da adolescência com a sua carga hormonal, a luta da alegria com a tristeza entre o medo e a raiva.

Um desenho que dignifica o estúdio que fez “Up”, “Wall See” e “Toy Story”(especialmente a parte 3).

Para os colegas da critica “Birdman” marcou a maior cotação da historia, com 92 pontos. Justo. Que no ano novo cheguem filmes engenhosos que falem ao intimo de quem vê. Não aposto nas obras cerebrais que buscam inovações e esquecem a correspondência afetiva. OK, posso ser um sentimental, um “retrõ”. Mas assim é que vejo e amo cinema. Outra coisa: espero que a dublagem, cada vez mais participativa, não me deixe fugir das salas de exibições. Sou um pouco deficiente auditivo mas não é por isso que abomino a dublagem: acho um desrespeito ao original como foi a colorização de filmes rodados em preto e branco. E não se venha com o argumento de que se lê livros traduzidos. É uma outra forma de expressão, no caso apoiada em texto original. A dublagem tem pela frente a tonalidade da voz, a gama de ruídos, a inflexão correta, a característica do dono da voz,

Feliz Natal e Ano Novo aos que leem o blog.

 

domingo, 20 de dezembro de 2015

O Homem Irracional


            O chamado “déja vu” nunca afasta publico de cinema. Há até mesmo quem se sinta bem revendo sem a intenção de rever. E isto cabe agora ao ‘O Homem Irracional” de Woody Allen onde o cineasta volta a beber na fonte de crimes bem arquitetados e criminosos vestidos de galãs.

            “Irracional Man”trata de um professor de filosofia em crise existencial, o tipo que “toma café sem açúcar”, que planeja o crime perfeito como um processo caritativo, no caso a morte de um juiz que deve condenar uma sofrida mãe de família sem meios de refutar as acusações que pairam sobre seu comportamento. O professor namora uma aluna, faz sexo(quando pode, pois o estresse leva-o a impotência) com outra, e quando realiza o crime é descoberto pela esperta pupila que lhe pede rendição.

A história verdadeira de Leopold e Loeb, estudantes universitários que inspirados em Nietzsche,  assassinaram um adolescente, foi alvo de um filme de Richard Fleischer chamado “Estranha Compulsão”(Compulsion/1959), vindo de um roteiro de Richard Murphy com base em um livro de Meyer Levin. A historia cabe como uma luva na trama do “Homem Irracional”. E também evoca outros trabalhos de Allen como os ótimos “Match Point”( 2005  ) e “Crimes e Pecados”(Crime and Misdemeanors/1989). No caso de “Compulsão” chega até à citação do filosofo alemão não só  pelo professor vivido por Joaquin Phoenix como o recomendado à esperta aluna (outra vez Emma Stone, a atriz do anterior “Magia ao Luar”).

Um detalhe incomodo: o filme usa muito narrações em off como se o autor tivesse medo que se deixasse de compreender a trama. Esta narração se faz não só em  uma mas em duas vozes. A do professor fica anacrônica quando ele morre. E mesmo que se desse uma licença poética o ato de contar o que se vê mostra receio de se mostrar sem que se entenda.

            Bem, apesar dessas mancadas, gostei do que vi no Cine Libero Luxardo, cineminha agora beirando os seus 30 anos. E palmas à projeção e ao fato de ter contratado um filme que a gente pedia para ver e os nossos circuitos comerciais achavam que não valia (em $$ é claro) a pena.

 

 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

George Lucas


                Muitas crianças do meio do século passado amavam a ficção cientifica a partir dos quadrinhos de muitos anos antes. O Flash Gordon de Alex Raymond era um deles. Eu gostava que me enroscava (como cantava Sinhô na voz de Mario Reis)do Brick Bradford de William Gerry e Clarence Gray(no Gibi semanal chamavam de Dick James). Foram heróis comuns, gente sem superpoder como os que se fantasiavam de Superhomem ou de Homem Morcego. Mas instigavam a imaginação. Flash, que chegou ao cinema em 1936 num seriado da Universal,mostrava televisão de mais de 50 polegadas, naves a jato, raio laser, enfim o que a tecnologia ofertou muitos anos mais tarde. Brick viajava à lua e no tempo, chegando com a sua nave ao interior de uma moeda, a um átomo de cobre onde se via o núcleo como um sol e os elétrons como planetas, tudo bem no figurino do modelo atômico de Rutherford(HQ de 1935!!).

                Esses heróis impulsionaram a criatividade do garoto que queria ser automobilista e mudou de idéia depois de um desastre. Era George Walton Lucas Jr, o criador de “Star Wars” talvez a série de filmes mais lucrativa da historia do cinema . E ele também esteve nos filmes de Indiana Jones, adentrando por outra ciência, no caso a antropologia.

                Há pouco Lucas vendeu a sua firma para a Disney, Hoje trabalhou mais descansado financeiramente neste “Guerra nas Estrelas’ que ora chega aos cinemas mundiais.

                Meu gosto pelo gênero não era tão fantasioso nem bélico. Por isso gostava mais de Bradford. Mas a engenhosidade de Lucas deu ao cinema nova tecnologia, Pena que em Belém não se veja um seu filme em THX ou tela gigante com som correspondente. Tudo por um circo onde o espectador é convidado a viajar no Globo da Morte.

                Vou ver o novo Star Wars e talvez conhecer novos cinemas da cidade.Por sinal que Belém vai estar na alvorada de 2016 com quase 30 salas de projeção comerciais. Mas a maioria exibindo os mesmos filmes.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O Filme do Natal


                “A Felicidade Não SeCompra”(It’a Wonderful Life/1946) não foi feito para ser o que se transformou: filme de Natal. Frank Capra voltara da guerra onde filmou a série “Why we Fight”, e, criando a empresa Liberty com os colegas George Stevens e William Wyler, tendo ainda John Huston no pé, ganhou o sorteio para ser o primeiro a filmar na sua nova casa. Como nessa época o seu roteirista predileto Robert Riskin estava ocupado, contratou a dupla Frances Goodrich e Albert Hacker, usando a idéia de Philippe Van Doren Stern que aludia a um Natal onde a pessoa descobria o quanto faria falta aos amigos se não tivesse nascido. O roteiro final ganhou assinatura também de Capra(o único em sua carreira). Curiosamente o filme não fez sucesso e ele chegou a fazer campanha publicitária em pequenas cidades norte-americanas voando com o piloto James Stewart (aqui em seu melhor papel frente à câmeras).

                Eu descobri este autentico classico quando tinha 10 anos de idade. Escrevi a Capra dizendo de minha admiração. Ele respondeu. E mantivemos uma correspondência por algum tempo. Nessa época o filme já estava em reprise por Belém e eu, com perto de 30 anos, ficava admirado com a gentileza do cineasta que, inclusive, me convidara para assistir a entrega dos Oscar de 1966.Não fui e o amigo Edwaldo Martins, que na época sonhava em ver a festa da Academia de Hollywood, não perdoou minha falta (por sinal que cheguei a escrever para Harry Stone, que representava Hollywood no Brasil, e ele respondeu alegando que era difícil hospedagem em Los Angeles nessa época – fato que depois Capra afirmou que ao me convidar tinha a hospedagem implicita).

                Capra morreu com 94 anos em 1991. Consegui copias do filme em película de 35mm(que Alexandino Moreira exibiu no Cinema I) e  16mm. Fita VHS, dvd e bluray. Vejo-o sempre nos finais de ano. E a cada visão me emociono com uma narrativa exemplar de uma trama rica em valores humanos.

                “A Felicidade Não se Compra” que Capra gostaria de usar como titulo no lugar de “É Uma Vida Maravilhosa”, foi redescoberto pela TV  e virou o filme de Natal em toda parte. Hoje é um tido como legitima obra-prima. Através dele mantenho minha paixão pelo cinema. Este ano vai de novo ao cine Olympia de Belém. E aqui estreou em 1947 nos cinemas Moderno e Independência distribuído pela RKO Rádio.

               

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Victoria


Em “Festim Diabólico”(The Rope) Hitchcock brincou de plano-sequencia ou isenção de cortes. Jurava que filmou de uma só pancada todos os 100 minutos que seriam projetados. Na verdade colava a câmera numa pessoa, ou objeto, e nesse momento mudava rolo de filme. Eu filmei assim meus curtas em 16mm nos anos 50/60. Não tinha como editar o material filmado e nem usava negativo. Apesar disso, apelava para elipses que ajudavam a continuidade. Em “Brinquedo Perdido”(1962), por exemplo, focava uma tabua e o plano seguinte era uma rua.

                Agora o diretor alemão Sebastian Schipper tenta gravar em “Victoria”(2015) 138  minutos sem corte. Ponham um quase no caminho. Esforço enorme para o elenco para a iluminação, para toda a equipe. E há mérito no fato de se corporificar o drama de uma jovem espanhola que trabalha em Berlim e numa noite é alvo de ladrões que surpreendem por não a estuprarem, mas a levam de reboque a um assalto com mortes.

                Impressiona o comportamento do elenco quando se sabe que foi ensaiado como no  teatro, procurando uma naturalidade como se vivessem o acontecimento(nunca se pensa em representação).

                Creio que o filme só vai chegar por aqui em dvd. Mas quem pode, faz download.Ai de nos, cinemeiros, sem a tecnologia que nos supre...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A Baleia de Howard


Moby Dick, a  baleia gigante de Herman Meville volta ao cinema neste “No Coração do Mar” dirigido por Ron Howard.
O livro eu li quando adolescente e vibrei com o filme de John  Huston em 1956. Não esqueci o Cap. Ahab(Gregory Peck) tentando matar a baleia gigante enfiando o arpão montado em cima dela. Síntese de uma velha luta do homem com a natureza, esta se vingando deste. Houve, depois, versões espúrias do livro de Melville. E este de Ron Howard, aquele garoto de “Loucuras de Verão” que passou a dirigir bem como mostrou em “Apolo 13”, vence a maioria.
O roteiro não sai do clássico literário e sim do que escreveu Nathaniel Philbrick em 2000 sobre este clássico. A base do roteiro é a entrevista de Melville com o sobrevivente do  naufrágio do baleeiro Essex,chamado Tom Nickerson . Um papo forçado pela mulher do veterano maritimo(no tempo dos fatos é um adolescente) que precisa de dinheiro. Duas frases a considerar: o escritor afirmando que não escreverá um documento, mas uma ficção com base nesse documento, e a emoção de Tom ao saber que já se tira óleo da terra sem precisar sacrificar baleias, afinal a fonte do recurso na época (século XIX) para se ter, por exemplo, iluminação de casas e ruas.
Uma produção não muito cara para o novo padrão de blockbuster  usou recursos como CGI a recortes de fundo (a cidade vista em grandes planos e com iluminação modesta é cenário teatral). Mas Howard é bom diretor(“Apolo 13” e “Rush” servem de exemplo) e consegue que atores rendam bem apesar de seus papeis serem esquematizados, e confia numa montagem nervosa que impulsiona a trama mormente nas sequencias de tempestade em alto  mar e no ataque da baleia gigante.
Vendo o filme eu penso que os roteiristas da Disney ganharam pontos substituindo o tubarão do original Pinocchio por uma baleia. Viram substancia em Melville. Afinal a baleia é o maior animal sobre o planeta. E o enredo de todos os filmes derivados e clássicos da literatura pousa no confronto do homem com um rival marítimo (não só em termos de força mas de inteligência, pois a baleia tem faculdades acima de muitos animais). Também não se pensa que o filme minta como um programa de exceção no que oferece as nossas salas de shopping. Não chega a ser um “Naufrago” de Zemeckis,mas não deixa que se olhe para o relógio no meio da sessão.
 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O Pequeno Principe


O livro das misses ganhou um filme em stop-motion do diretor de “Kung Fu Panda”, o norte-americano de New Jersey Mark Osborn. Eu li o que ecreveu Antoine de Saint-Exupéry e admirei ainda mais quando li também, do mesmo autor, “Correio sul” e “Vento Noturno”(Vol de Nuit). Piloto do correio francês, soube jogar poesia nas suas viagens solitárias por céus pouco navegados. Era um piloto-poeta, ligando bem a passagem aérea pela maravilha de estar acima do insensato mundo. E morreu numa dessas viagens, com o seu avião caído no mar, deixando-o com aquela imagem igualmente poética de que simplesmente sumiu.

                O novo filme é pretensioso ao colocar a historia do pequeno herói de um asteroide descoberto por uma menina moderna que oprimida em casa sente-se viajando pelas estrelas através das narrativas de um vizinho idoso(seria o próprio Exupéry se escapado do desastre que o levou desta vida).Ela conheceria e ajudaria o Pequeno Príncipe assumindo a ideia do velho poeta que achou no deserto terrestre o símbolo de uma infância perene.

                Não creio que o novo Príncipe chegue à garotada moderna vidrada em videogame e apressada como manda a vida atual. Mas é um trabalho interessante conjugando os elementos poéticos do texto francês com imagens bem iluminadas e expostas na técnica de desenhar por sobre modelos humanos. Talvez um resultado um pouco longo e mal fechado, mas acima da média do gênero. Muito melhor do que os filmes anteriores do seu diretor.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Woody Allen


                Neste 1° de dezembro Woody Allen faz 80 anos. Poucos diretores de cinema podem, como ele, ser chamados de autores. Mesmo nos filmes que não dirigiu, como “Sonhos de um Sedutor”(Play it again, Sam) e “Testa de Ferro por Acaso”(The Front), deixou sua marca no tipo que interpretou.
                De Allen, em corpo presente ,gosto muito de “Hannah e Suas Irmãs”, “Crimes e Pecados” e mesmo “O Escorpião de Jade”. Só dirigindo estão obras primas como “Match Point”, “Blue Jasmine” e “A Era do Radio”. Claro que tem mais de 52 títulos que dirigiu .
                Um criador nesta arte que o comercio avilta a cada passo. Parabéns  a ele.

sábado, 28 de novembro de 2015

Frankestein de volta


                Frankenstein”, a obra literária de Mary Shelley, já possui 10 filmes no seu currículo. Mary imaginou a historia do cientista que ousava criar um ser humano em laboratório, antes das técnicas modernas de transplante de órgãos e células tronco, competindo numa aposta que fez com Lord Byron na casa de seu marido, Percy Shelley (um viúvo de suicida). A aposta girava em torno de historias de terror. Mary ganhou longe. Seu romance ainda hoje é muito vendido e no cinema já deu pelo menos um clássico, o de 1931 dirigido por James Whale para a Universal.

                Hoje estreia “Victor Frankenstein”de  Paul McGuigan com o ex-Harry Potter (Daniel Radckiff)como Igor o assistente do médico que pretendia reviver cadáveres. No papel-titulo  está James McAvoy, e a direção de arte já ganhou um premio ,o Creativity. A media critica é “razoável” mas o lançamento comercial nos EUA é de 25/11 ou seja a mesma data brasileira.

                A rigor nada de novo na telona.Lembro da piada do Zé Fidelis em que a mulher dele, Leonore, ia ver um filme do "tal Frankenstein" e o monstro "ao olhar pra cara dela assustou-se, do cinema pirou e a fita não terminou"

domingo, 15 de novembro de 2015

O Mundo de Amanhã

Brad Bird tem em seu currículo um titulo memorável: a animação “Ratatouille” da PIXAR. Agora que a firma é da Disney ele fez historia e roteiro de “Tomorrowland”, filme que andou pelos cinemas de Belém só em copias dubladas o que me afugentou (recuso esta aberração). Vi agora em DVD. E aprecio a trama que evoca a formula para um mundo melhor: a reforma individual. De posse de uma espécie de broche, a garota Casey (Britt Robertson) consegue vislumbrar uma cidade do amanhã onde a alta tecnologia patrocina a paz como se tudo fosse encantado. Bem, o filme começa com um adulto(George Clooney) contando o que se vai ver sobre um amanhã otimista. Ele é sempre interrompido por uma voz feminina e mais tarde nos vamos saber quem é quem.
A trama deixa margem a momentos de ação dignos dos blockbuster atuais. Mas a licença de  comercio não invalida a “moral da historia”. Como numa fabula, o filme fecha com o tal talismã, ou berloque,ou pequeno cartão, distribuídos por diversas pessoas de diversas classes sociais e em diversos países. Toda essa gente é convidada a conhecer “Tomorrowland” e aprender que o mundo como está vai chegar a um fim e que é preciso mudar para sobreviver.
O filme eu vejo no dia do atentado em Paris. Realmente as coisas vão mal. Bird cita os escritores que viram um futuro ruim: George Orwell, H.G. Wells,Ray Bradbury, e  outros que esqueci os nomes. De fato, não se acha facilmente quem pregue uma bonança. Nem quem escreveu “Five”(Os Últimos Cinco)  uma das melhores sci-fi de cinema sobre um fim de mundo. Como é difícil achar uma flor nesse matagal o filme vende peixe raro. E põe o “dr House”(Hugh Laurie) de um desiludido  moderno apelando para uma destruição sem antes tirar o corpo fora.
                Pena é que as boas ideias do diretor& escritor  não ganhem respaldo em cinema. Seu filme é muito bobo, muito da Disney de fim de ano, sem o recurso da animação que neste caso até que deveria funcionar melhor.
                Clooney e Britt Robertson deveriam aparecer de outro jeito. E as coisas ficam ainda mais confusas como “mensagem pacifista” quando se sabe que uma das heroínas do amanhã é um robô (papel ingrato para a jovem Raffey Cassidy). Seria como dizer que só uma menina-máquina daria credibilidade a um pacifismo que, por exemplo, diluiria a fúria sanguinária dos terroristas islâmico.





sábado, 14 de novembro de 2015

Mais Russos

“Tigre Branco”(Belyy Tigr/Russia,2012), filme baseado no livro de Ilya Boyashov com direção de  Karen Shakhnazarov ambienta-se na 2ª, Guerra Mundial e começa com um soldado com o corpo 99%queimado e por isso desenganado pelos médicos da enfermaria onde está internado. Todos se surpreendem quando, 3 semanas depois, ele se mostra saudável e até com as queimaduras cicatrizadas. O soldado apenas apresenta amnésia. Nem sabe seu nome e dos familiares. Mas a sua saúde leva-o a voltar à ativa como “tanqueiro”(guia de tanques).Ele busca um tanque alemão de cor branca que havia dizimado o de sua tropa(russa) e causador de sua queimadura. Para ele, o tanque caminha sem piloto, um fantasma da guerra que sobrevive até quando a Alemanha se rende.
O filme repousa no tipo criado pelo ator Aleksey Vertkov e tem uma direção de arte capaz de projetar o cenário da guerra com a necessária imitação do realismo.
O melhor desse filme feito depois da Perestroika é justamente a dose menor de patriotada. Embora diga sempre do fervor do soldado soviético ele tem a coragem de deixar a imagem de um espectro alemão e usar atores germânicos. Nunca é panfletário. A critica que se faz é a própria guerra, gerando esses monstros capazes de suportar os meandros da realidade.

Foi o melhor da mostra russa exibida no Olympia. Depois, mesmo na linha que endeusa o comunismo, está a versão de “A Mãe”, uma adaptação mais detalhada do livro de Gorki. Não chega ao espetáculo formal da versão dirigida por  Pudovkin nos anos 20 mas troca a cena final da mãe segurando a bandeira vermelha pela mãe assassinada por um espião tzarista. Boas imagens retratam um tempo.Longo mas bem feito o filme consegue ir além da implicação propagandística de uma ideologia.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Cinema Russo

Os cineastas soviéticos eram, invariavelmente, funcionários do Estado. Sergei Eisenstein,o mais evidente, terminou carreira desprezado de seu “emprego” por sair de uma linha de propaganda estatal. Disseram até que seu “Ivan, O Terrivel” era simpático ao tzarismo.
                Hoje o que se filma na Rússia é corajosamente critica. Mas o grosso da mostra que ora chega à Belém é fruto da propaganda do que se chamou “ditadura do proletariado”.       Vale desse tempo e espaço os ensaios formais de Eisenstein. E eles se veem em “O Velho e o Novo” onde o autor de “Potemkim” vislumbra o que se vendia como necessidade da revolução no campo. Os closes são históricos. A montagem dá ritmo ao pouco de enredo. Pode-se dizer que o filme é um ensaio de fotografia em preto e branco no meio em que o conjunto reflete a gênese do cinema (“arte da imagem em movimento”).
                Ainda hoje espanta as caras sofridas que se vê no filme. Certo que nem todas refletem a miséria objetivada. São gordinhos os tipos. Mas sabem deixar a feição da dor. Um ensaio formal que ensina como se pode fazer cinema.

                A mostra vai aos novos títulos sem chegar a um patamar que hoje se viu em “Leviatã”.E nem podia pois é veiculada por entidade oficial. No quadro lembro-me de um amigo que não ceguei a conhecer pessoalmente: o Borgerth, dono da distribuidora Cidef(SP) de quem alugava filme para o cineclube local nos anos 70. Ele tinha de tudo da Mosfilm e enfrentava a ditadura veiculando seu tesouro. Eu cheguei à ousadia de passar alguns desses filmes numa sala de base militar(o Cine Guajará da Base Naval). As autoridades só pediam reserva para “Potemkim”. Mas os cinéfilos da época aprenderam muito com as imagens de Pudovkin, e mesmo Kalatazov e outros cineastas da fase sonora da cinematografia soviética. 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Numa Escola em Havana

“Numa Escola em Havana”(Conducta) segue as lições do neorrealismo . Isto nunca foi demérito. Na Itália do pós-guerra, sem estúdios e com aparato técnico sofrível, os cineastas iam às ruas, contratavam artistas amadores, e filmavam o que lhes parecia a realidade. Foi assim que Lamberto Maggiorani(morto aos 73 anos em 1983) fez o operário a quem roubavam a bicicleta (a mim o ícone do movimento  deflagrado por Rosselini, Visconti e o próprio De Sica, autor deste “Ladri di Biciclette”).
Para contar a historia de Chala, menino de 11 anos filho de mãe drogada e aluno rebelde de uma escola onde uma velha mestra passa seus últimos anos de profissão, o diretor-roteirista Ernesto Daranas usa um jovem que espelha o que se pede, Armando V.Freire. O menino estreava em cinema. E comportava-se como um veterano. Lembra o Enzo Staiola de De Sica, também estreante. A câmera exige muito do garoto. Perseguindo-o pelas ruas de um bairro pobre não se contenta em focaliza-lo em largos e médios planos. Há closes. E se sabe que nesse tipo de tomada há um hiato, com a exigência de que o artista ria ou chora adiante da objetiva. Não é mole.
E há uma senhora interprete, Alina Rordiguez, que faz a mestra Carmella, protetora do menino. Por sinal que ela, uma enfartada no papel, morreu este ano. Faz uma bonita despedida na idosa que lutava para antes de se aposentar (ou “a aposentarem”) dar um rumo à vida de uma criança que fora da sala de aula vendia pombos, via cachorros em luta numa rinha patrocinada pelo amante da mãe(seu pai ?) e tentava namorar uma colega que também sofria problemas familiares.
O peso censório de governo não democrático podia ser observado com a censura a uma imagem de santo colocada no mural da escola. Mas há devotos na igreja local. O caso do “santinho” serve apenas para evocar o papel de Carmella,que mesmo assim, mesmo recolocando a estampa no quadro quando uma aluna (a namoradinha de Chala) havia tirado pensando em dar-lhe boas graças da diretora que a detestava, tem atitudes que refletem um temperamento sensível às necessidades da garotada a quem ensina.
A Havana do filme está longe de imagens pitorescas que o cinema divulgou anos a fio, do folclórico “Guys and Dolls” onde Marlon Brando chegava a cantar e aquele propagandístico “Yo Soy Cuba” de Mikhail Kalatazov.
Um bom filme. Milagre cegar à uma tela grande local.

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domingo, 8 de novembro de 2015

Spectre


               “007 Contra Spectre” começa com a formula de uma sequencia de ação.Agora é no México, numa festa de Finados (traço folclórico de lá)quando James Bond persegue um vilão. Não se tem informações de quem é o perseguido. 007 pula de telhados, cai de alturas gigantescas e ainda ataca de helicóptero. Esta sequencia como a dos outros filmes da série, dura aproximadamente 10 minutos. Mas não está só. Há outras perseguições homéricas no roteiro e Daniel Craig dá trabalho para o seu (ou os seus) dublê(s).

               O novo filme com o personagem criado por Ian Fleming aposta firme na bilheteria. Afinal,o anterior, “Skyfall”, deu 1 bi no mundo. Sam Mendes, o diretor, ri para as paredes. Mas os roteiristas começam a mostrar preguiça. Não há qualquer liame de logica na pintura do vilão interpretado pelo excelente Christoph Waltz. Nada de mais se durante a narrativa o “non sense”é abusado ao extremo. Cito um exemplo: a mocinha Lea Seydoux(Madeleine)muda de roupa como se estivesse num desfile de modas.Onde ela carrega a indumentária ninguém sabe. E nem se pense num avião que aterrissa em cima de arvores e praticamente vira carro atrás dos vilões.

               Fleming trabalhou durante a 2ªguerra no serviço de informações e criou um tipo que sintetizava suas experiências com o adendo da guerra fria.O cinema moldou o herói daí em diante. O autor morreu há 51 anos e hoje a produção que ainda tem assinatura de Albert Broccoli morto em 1996 aos 87 mas a bola é de sua filha Barbara (55).  Quem escreve é a equipe do anterior “Sykyfall”:Neal Purvis,John Logan, Robert Wade e agora mais Jez Butterworld. Claro que o roteiro é o que pediu a produção da MGM & Columbia(007 era da finada United Artista que a MGM comprou e hoje nem é citada).  Este processo administrativo é a base da coisa. Não vale a pena esmiuçar estética e dizer que a edição é eximia, que a musica é descritiva, que a iluminação é boa e que Waltz, pelo menos, tem bom desempenho. Tudo segue um figurino. O que se precisa saber é até que ponto as plateias vão aplaudir mesmices. Na minha sala pessoas saiam no meio de projeção(longa demais). Enfim, é melhor (re)ver um 007 do que procurar ouro na mina da Marvel.

sábado, 7 de novembro de 2015

Aliança do Crime

 John Connoly (Joel Edgerton) e James "Whitey" Bulger (Johnny Depp)foram meninos travessos das ruas de Boston dos anos 50. Por volta dos anos 70 eles se reencontraram.  Connolly passou a ser um nome de proa do FBI local e Whitney  virou protetor da máfia irlandesa. O conhecimento do mafioso com o figurão da politica e da agencia de investigações leva a um plano de sabotar a máfia italiana. Isso é tratado oficialmente pela agencia de governo e Connoly aproveita para, através desse prestigio, enveredar por outras facetas do mundo do crime. Segundo se diz o FBI sabia das articulações do bandido mas virava as costas. O objetivo era acabar com os mafiosos da Itália e paralelamente proteger o “ajudante”.
            O filme dirigido por Scott Cooper baseia-se na historia real de James Bulger por sua vez  tratada em livro de Dick Lehr e Grerard O’Neill, afinal transformado em roteiro de cinema por Mark Molluck e Jezz Butterworth. Nessas transposições fatalmente esvaziou-se a realidade. E por isso não se pense no filme como um docudrama. É ficção e como tal cumpre o seu trabalho, lembrando (e isso é elogio) os filmes de gangster dos anos 30 com James Cagney e Humphrey Bogart com diretores do nível de Michael Curtiz e Raoul Walsh.
            Na comparação com os velhos bandidos “Aliança do Crime”(Black Mass) perde feio. Mas a liberdade de expressão serve para mostrar o que a Warner queria no passado e a censura castrava. Havia o chamado “Codigo Hays,vindo do politico protestante William H. Hays, processo que não permitia certas incursões em terrenos tabus e chegava até mesmo a não mostrar sangue quando as pessoas eram atingidas por balas. Livre dessas amarras ridículas o novo filme exibe crueldade hipertrofiada e apesar de claudicar no ritmo(muito lento para uma peça de ação intensa) é capaz de dar uma ideia de como agiam os mafiosos e parceiros na sociedade hipócrita de um passado recente.

            Mas o interesse maior do filme, ou o que a Warner vende, é o trabalho de Johnny Depp. Eu não conheci o cara debaixo de uma maquilagem que lhe deu bochechas e alongou a face. Se não lesse o nome dele nos créditos não conheceria o  interprete de “Edward Mãos de Tesoura” e outros filmes de Tim Burton .E por sinal que há quem esteja pensando em Depp para o próximo Oscar, Se Leonardo di Capri deixar...

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Uma Odisséia no Espaço




               Desde que foi editado eu queria ver “2001,Uma Odisséia no Espaço”(1968). Mas o filme era vendido em 70mm e eu cheguei a ir buscar no aeroporto o gerente sulamericano da Metro que estava de visita ao nosso raquítico mercado cinematográfico. Quando eu falei do filme ele soltou a piada para Adalberto Affonso, representante do grupo Severiano Ribeiro no estado e que também tinha ido receber o visitante: “-Deixe de ser miserável, coloque 70 mm no seu cinema”.Esse conforto técnico nunca passaria pelos  planos do grupo Ribeiro. E só muito tempo depois é que a distribuidora lançou cópias em 35mm. Foi um sonho realizado. E correspondeu plenamente. Stanley Kubrick filmara uma historia de Arthur C. Clarke, cientista ligado aos foguetes espaciais Eu havia lido o conto dele, “A Sentinela”, de onde saiu a idéia do filme. Mas Kubrick foi além. Corajosamente fez um final sem amarras, deixando o astronauta regredido a um feto orbitando a Terra (só depois eu vim a saber que ele detonaria os satélites com bombas nucleares que estavam em orbita e depois de desfeita a radiação baixaria para reinar no novo mundo). Inseriam-se nos acordes de “Assim Falou Zaratustra” de Strauss a Teoria do Super-homem de Nitzsche . E todo esse apelo filosófico sem precisar do cinema-cabeça do estilo Godard. Bastava as cores aleatórias da viagem além de Júpiter, talvez um mergulho num buraco negro como anos mais tarde Christopher Nolan aventou  no seu “Interestelar”.

               “2001” abençoou a ficção-cientifica no cinema. E olhem que em 1968 o homem chegaria a lua pela primeira vez(e nesse julho o filme já estava pronto). Só ficou no ar dos furos a Pan American, falida antes deste século, e o ano que supunha uma base terrestre no satélite natural. Ao contrario, em 2001, para provar a aberração da espécie, explodiu-se as Torres Gêmeas de NY...

               O filme vai ser outra vez apresentado em Belém em sessão de cineclube (copia em bluray). Deve-se o original de cinema em 70mm e Imax. Quem sabe, um dia, chegue até nós. Meu bisneto espera, e ai se pode falar em 2021 quem sabe...

OBEDIÊNCIA


 
Obediência a uma fala impositiva onde impera a violência simbólica.
 
         A diferença entre trote e golpe é que o primeiro é inócuo, só se faz para assustar (ou enraivecer).O segundo tem lucro escondido. Semana passada quiseram me dar um golpe, com telefonemas falsos que eu pensei em trote, mas acabei conscientizando que era golpe. Agora vi o filme “Obediência”(Compliance, EUA, 2012).O caso vira uma agressão sexual e a descoberta da tramoia por um antigo funcionário da policia que também fala ao telefone  afirma que policia nenhuma pede que a suposta criminosa tire a roupa . Daí se passa para a inócua tentativa de se descobrir quem é o autor da “brincadeira “e a simultânea detenção da dona do restaurante.

               O roteiro fixa a ação na ameaça por telefone do suposto “tira”. Muitas pessoas são convidadas a responder suas indagações  inclusive o noivo de dona da casa que se revela um bêbado estuprador.

               Filme “indie” de câmera na mão, unidade de lugar e atores não conhecidos mal consegue ganhar campo na distribuição. Este ganhou até prêmios. E procede no modo como joga com imagens e som numa proposta de agonia. Quem conhece esse tipo de agressão sabe como ela funciona.  Gostei do que vi. A direção revela-se segura e a edição muito eficiente. O filme por aqui chegou a canal de TV por assinatura(Max). Se ainda for exibido vale olhar. E diz, no final, que mais de 30 casos semelhantes aconteceram nos EUA em um ano. A tecnologia de fones digitais pode gerar esse tipo de agressão psicológica. Pior quando ela embute uma forma de comercio .

 

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A Doce Vida

             

Anita Ekberg em "A Doce Vida", de Federido Fellini. No Cinne Líbero Luxardo
        

 “A Doce Vida”(La Dolce Vita)passou em Belém no finado Cine Palácio. Era o carro-chefe da produção da Art Filmes na ocasião. Mas afugentava o grande publico na opção por fatos e não por uma historia. Quem tinha visto “Os Boas Vidas”(I Vitteloni) e os filmes que Fellini fez com Giulietta Masina estranhava o painel da sociedade europeia nos anos 50, quando, num dos últimos planos, uma pessoa fala do futuro, 1959, dizendo que ali estará mais confuso o modo de vida dos citadinos. Isto depois de uma festa com ares de orgia romana (antiga).
               .
               Mudando de estilo o cineasta faz um painel de um tempo de mudanças. Já não impressiona uma “Miss Sereia ”gravida (em “Os Boas Vidas”). Nem a tentativa de reanimar Cabiria com os jovens cantando em seu redor. Fica o escritor que mata a família e se mata. E já no começo de quase 3 horas de projeção uma revoada da imagem de Cristo com as pessoas acenando como se fosse uma curiosidade alada.
               O desencanto é a tônica de “La Dolce Vita”. Fellini aproxima seus tipos dos que veria em Roma antiga na sua versão de “Satyricon”. São figuras que se enaltecem com o fugaz, desprezando as coisas de espirito. Na festa que encerra a ronda do jornalista (Mastroianni) pela Roma moderna há um vazio que se espelha na iluminação e no enquadramento do cinemascope.
               O filme fez sucesso. Especialmente na Itália. O banho de Anita Ekberg na Fonte de Trevi ganhou lugar entre as sequencias emblemáticas do cinema em geral. E a fonte ficou mais conhecida pelo mergulho da loura sueca (morta este ano aos 83).
               Rever o filme hoje é como ter contato com a Historia. Não só do cinema. Fellini estaria no cenário com o seu posterior “8 e Meio”. E depois desta visão apocalíptica da sociedade romana ele nunca mais visitou a seara de Gelsomina ou Cabiria .

               Reprise no Cine Libero Luxardo em cópia digital.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Os 33


              
Cena de "Os 33" contando a  saga dos mineiros chilenos soterrados. 

              O caso dos 33 mineiros que ficaram soterrados por dois meses quando trabalhavam na mina Copiapó no deserto de Atacama (Chile) foi noticia por meses na mídia internacional. Conta-se que até uma sonda da Petrobrás ajudou na retirada dos homens, época em que  já se tinham esgotados os mantimentos de emergência e as baterias das lanternas dos capacetes começavam a falhar condenando-os à uma escuridão que certamente selaria a sentença de morte. O caso gerou um livro de Hector Tobar e para o cinema uma corrida pelos direitos desse livro foi ganha pela Fox que exigiu falas em inglês e enxertou, no roteiro, cenas que seriam divertidas, “aliviando” o suspense que o fato gerou, mesmo que os espectadores já tenham conhecimento de como a historia acabou.

               A luta pela filmagem, repassada em parte para a Warner, gerou um roteiro bem hiollywoodiano a cargo de Mikko Alane, Craig Borten, José Rivera e Michael Thomas. Como ficou o filme lembra um pouco(e isso é elogio) “A Montanha dos 7 Abutres”(The Big Carnival) de Billy Wilder, aquele em que Kirk Douglas, como um repórter ambicioso faz para render sua matéria sobre um rapaz enterrado numa montanha quando pesquisava um cemitério indígena, a opção pelo uso de perfuradoras a patir do topo para a base onde está o personagem, ao invés de forrar as paredes de um túnel e chegar a ele (medida bem mais fácil de contornar do que o que aconteceu aos mineiros chilenos). Neste caso a medida não deu certo. Mas no drama dos 33 não havia outra solução exceto furar blocos de pedra de cima para baixo. E muitas perfuradoras quebraram e outras erraram o alvo.

               Para não ficar os 120 minutos de projeção restritos ao grupo que lutava pela vida o filme focaliza o relacionamento familiar de alguns deles, exibindo situações que provocam riso da plateia como mulher e amante de um sobrevivente se irmanando a torcida pelo mesmo homem, e, na caverna, o grupo contando situações que conseguem trazer gargalhadas. Custa-se a crer que esses homens tenham mantido humor na beira da morte.

               Mas há clima. A direção de arte partiu da locação em Nemocón, na Colombia e com uma iluminação a contento e câmera manual o tempo todo conseguiu dimensionar o espaço exíguo onde tanta gente viveu por tanto tempo.  O quadro é tão forte que eclipsa papéis avulsos como o do líder do grupo, protagonizado por Antonio Banderas, ou de um colega que dizia ter brigado com a irmã (papel minúsculo de Juliette Binoche) .Dá para se ver o filme, dirigido pela mexicana Patricia Riggen, sem cochilar. E realmente não é fácil tratar de unidade de lugar por muito tempo com um final previsível.

               “33” tem o brasileiro Rodrigo Santoro como o ministro chileno que não esmorece e no fim das contas é quem salva a turma enterrada(quando se pensava em óbito). E tem Gabriel Bryne, veterano que cuida das perfuratrizes e quase desiste da empreitada. Eles convencem.

              

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Fora do Alcance

               Quem viu “O Preço de um Homem”(The Naked Spur/1953)de Anthony Mann vai achar pontos de contato com este “Fora do Alcance”(Beyond the Reach) de Jean-Baptiste Leonetti, filme do ano passado e esquecido dos cinemas de Belém. A diferença é a pontuação da crueldade: Michael Douglas faz um milionário que se lança à uma caçada no deserto de Monjave, contratando um jovem experiente no assunto. No cenário ele mata um idoso habitante da região. Seria fruto de um tiro acidental. Mas logo o homem s revela um caçador de gente, um louco que passa a colocar como presa de caçada o próprio ajudante. Obrigando o rapaz a andar pelo deserto sem roupas (especialmente exigindo que ele esteja descalço), a saga patológica do sujeito chega a limites que desafiam a capacidade do rapaz em driblar armadilhas para sobreviver.
               Claro que o argumento não se detenha num espaço critico. O fim pode ser percebido. Mas a longa e cruel caçada impressiona. Filmado em locação expõe Douglas a um papel anômalo em sua carreira, pior do que o Robert Ryan no filme de Mann.

               Bom trabalho do novato Jeremy Irvane (premiado em Cannes por “Male Revelation”). E  de direção. O que estraga é mesmo o argumento plausível. Mas se o objetivo foi prender a atenção da plateia tudo OK. Vi tarde da noite em DVD e não dormi.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Planeta Vermelho


               Nas locadoras o filme “O Planeta Vermelho”(Last Days on Mars/2013) de Ruairi Robinson. Corajosamente o roteiro de Clive Dawson com base num conto de Sidney J.Bounds ataca o que já se viu muitas vezes. Marte em cinema já foi visitado e eu lembro essas visitas desde a década de 50 quando Llloyd Bridges(pai de Jeff e Beau) acabou indo bater por la quando sua nave, Rocktship XM, desviou-se da lua( no Brasil o filme se chamou “Da Terra a Lua” e eu pensei que tinha a ver com H.G.Wells ou Jules Verne). Daí em diante aconteceu de tudo no solo marciano. O pior foi quando ouviram de lá de longe o Sermão da Montanha. Em “O Planeta Vermelho” de original realmente “Red Planet Mars”,Peter Graves como Chris Cronyn ouvia a mensagem cristã e o filme do diretor Henrich Horner(1910-1994) então estreante, ganhava as bênçãos do senador McCarthy, o regente da “caça aos comunistas”. Engraçado é que a mensagem provocava uma nova revolução em Moscou...

               Marte foi visitado por muitos cineastas responsáveis, mas Tim Burton deu uma dimensão gaiata aos marcianos que caberia muito bem no bando de besteiras feitas em nome do planeta vizinho(relativamente). Em “Marte Ataca!” os ets malvados só perdiam a parada quando ouviam uma daquelas operetas que nas telas serviam à voz de Jeanette MacDonald.

               Agorinha mesmo Ridley Scott foi ao “vermelhinho” com “Perdido em Marte”(The Martian). Ganhou o fato de ser um dos poucos filmes do gênero a estremecer as bilheterias. Dizia-se na indústria do cinema que Marte dava azar. Scott quebrou esse tabu. Seu filme é bem interessante e corta essa de vilão marciano. Coisa que “O Planeta Vermelho” repisa, mas na forma de micro-organismo. Uma bactéria achada no solo contamina os pesquisadores terrestres e de um grupo numeroso só um escapa com vida  mesmo assim, falando em sua nave próxima à estação orbital que o levaria de volta à casa , que poderia estar contaminado e que, sem combustível e bateria estava condenado a ficar orbitando ate que lhe pegassem de algum modo.

               O filme que por aqui em cinema não chegou é interessante apesar de alguns chavões. Pelo menos respeita a topografia do planeta como se sabe pela ciência e alerta para um fato que não está isento de ser real. Interessante até por se eximir de um tipo de roteiro que via no solo marciano resquícios de uma civilização a dizer que nós, terrestres, viemos de lá quando os habitantes destruíram o ambiente com as mesmas ermas que estamos a destruir o nosso(tema de um dos filmes do tipo).

               Quem acompanha as “marcianatas” que veja o trabalho ora em DVD. Reparem que eu escrevo “marcianatas”. Marcianita era um rock primitivo que por aqui fez sucesso na voz de Sergio Murilo. Otimista pacas ele dizia que “nos anos 70 seriamos felizes os dois”(ele e a garota de Marte). Afinal em 68 estávamos no solo lunar e do jeito que estava a guerra fria era viável ganhar pontos mais adiante no espaço.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Sicario

               Vendo “Sicário, Terra de Ninguém”(no Mexico o nome quer dizer matador) com a protagonista fumando um cigarro atrás do outro penso em como se combate as drogas e se deixa livre uma das mais perigosas: o tabaco (o cigarro). Também se dá sinal verde à bebida alcoólica. E no caso das drogas pesadas, como cocaína, o contrabando leva a dimensões fáceis de compreender: os policiais que devem combater o trafico na verdade lutam contra concorrentes de quem os paga, sabendo-se que não devem ganhar um terço do que podem receber dos traficantes.
               O roteiro de  Taylor Sheridan ambienta a ação na fronteira do México com os EUA. Uma policial, Kate (Emily Blunt) é designada para acompanhar uma força tarefa que visa encontrar o chefe da quadrilha que vende drogas a partir do México ( e por sua vez da Colômbia) isto depois dela encontrar com seu grupo armado muito corpos em estado de putrefação, cobertos de capas plásticas, em uma casa na região desértica.
            O tipo que mais impressiona, e logo de entrada, é Alejandro(Benicio del Toro). Na reunião em que se apresenta Kate e um colega, ele é o único elemento “mal vestido”. E usa barba mal feita, além de aparentemente não possuir humor(jamais ri).
            Há outras figuras em cena mas o que importa é a mocinha audaz e correta em seus deveres e o homem que se apresenta como policial e se desconfia de suas atitudes nem sempre bem posicionadas.
            Com uma fotografia que joga a luz em momentos certos, trabalho de Roger Deakins, que esteve com o diretor em “Suspeitos”, além de uma produção que exibe o ambiente de modo a deixar a impressão de um documentário sobre o tema (magnifica direção de arte a cargo de Bjarne Sletteland e Paul Kelly, com edição caprichada de Joe Walker ,de “12 Anos de Escravidão”) o filme emociona. Vê-se de um folego. E nota máxima para Emile e Benicio. Há um momento, quase no final,que exige da atriz tem de lançar mão de mais de uma expressão (medo e raiva). Não é fácil e ela dá conta.

            Um dos melhores exemplares em torno de um tema que parece gasto pelo uso. Ponto para o diretor canadense Denis Villeneuve. E para a gente aqui, da Belém que via de regra fica ausente dos lançamentos em circuito comercial.

domingo, 25 de outubro de 2015

A Ponte de Espiiões

               “Ponte de Espiões”(Bidge of Spies) tinha que prestar. Os roteiristas são os hábeis irmãos Coen mais Matt Charman que andou se fazendo de ghost no “2012”de Roland Emmerich. E a direção de Steven Spielberg implicou num recurso de produção de quem pode ter isso e o manejo de um elenco de tirar o chapéu. Tiro o meu especialmente para o inglês Mark Rylance que faz o “Coronel”Abel. Merece o Oscar de coadjuvante.
               O filme narra a historia do advogado James Donovan(Tom Hanks) que teria sido designado para defender um espião russo flagrado durante a “guerra fria’ logo depois  dos Rosemberg terem morrido por isso. A tarefa é potencialmente inglória mas Donovan consegue livrar o homem da pena de morte. Nesse tempo um aviador americano sobrevoa a Alemanha Oriental com material de espionagem no aparelho. É abatido e cai no território ligado a URSS. Surge então a chance de trocar espiões: Abel pelo jovem piloto. E para a tarefa é escalado Donovan, que aproveita a chance de libertar também um jovem universitário preso por demonstrar-se contra o regime dominante nesse pedaço de Berlim.
               O filme se divide em dois momentos: nos EUA, com o processo de defesa do espião soviético, e na Alemanha do Este quando se faz  a troca de espiões. Nesse ultimo espaço a direção de arte recria a Berlim semidestruída que então construía um muro para separa-la da  parte ocidental. A fotografia de Janusz Kaminski dimensiona bem o território. Impressionante como se montou no set uma cidade de um tempo.  Nos dois momentos funciona uma linguagem direta, sem atropelos de flashbacks, seguindo uma linha documental posto que o fato realmente aconteceu.
               Não há nada que sobressaia de um conjunto harmônico. Mas até por isso o filme é bom. Spielberg não faz cinema para minorias intelectuais. E para não dizer que em filme sobre advogados fez excesso de falas há um introito quase sem palavras quando a câmera segue Abel pelas ruas até seu modesto apartamento onde ele começa a abrir as mensagens disponíveis para seu serviço e o FBI chega para prendê-lo.
               São 141 minutos de projeção.Não deixa cansaço. E mostra Tom Hanks sem a mascara de quando foi o “naufrago” de Robert Zemeckis ou ainda mais atrás no tempo do sujeito que “queria ser grande”. O tempo é inclemente e até por isso o ator está bem.

               Valeu.

sábado, 24 de outubro de 2015

Suspense sul-coreano


               Há pouco tempo eu vi um filme em que um policial, saído de uma comemoração quando bebeu além  da conta, atropela e mata uma criança e finge que encontrou o menino morto sem saber quem foi o atropelador. Agora  vejo este “Dia Difícil”( "Kkeut-kka-ji-gan-da­) produção sul-coreana de Kim Seong-hun com o mesmo gancho de argumento e daí partindo para soluções originais como o fato do atropelador, também policia, colocar o corpo do atropelado dentro do caixão de sua mãe e passar a lutar com quem diz que viu o acidente e ainda com colegas corruptos.

            O filme é um dínamo, com uma edição que não perde o folego. Vejo como síntese desse artesanato a sequencia em que o personagem, chamado Go (Lee Sun-kyun) , abre o caixão da mãe para inserir o corpo de sua vitima. O caixão já estava fechado e ele luta para desaparafusar a tampa sabendo que o tempo pedido para cultuar a morta é exíguo. Por sinal que ele tampa a câmera de segurança do aposento com balões que diz haver comprado para a filha. Mais: o morto era bandido e com ele está uma chave que abre um tesouro de traficantes.

            Penso que o roteiro só peca no final quando acelera as informações com novos detalhes. Mesmo assim o filme é um “thirller”competente, Gol do cinema da Coréia do Sul, naturalmente esquecido dos cinemas comerciais de Belém.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Mudança de Panorama


               Em 1972 o Cine Clube APCC corria forte pelos espaços do Cine Guajará(Base Naval), Grêmio Português, auditório da Faculdade de Odontologia e sede social da AABB. Eu anunciava os programas na minha coluna em “A Província do Pará”. Mas faltava “O Liberal” que assumia “A Folha do Norte”. Fui com Luzia e Edwaldo Martins falar com Romulo Maiorana, que havia comprado “A Folha...” e assumira também “O Liberal”. Fomos atendidos. Luzia, que na época só arranhava datilografia mas já era “cinemaniaca”(e não podia deixar de ser como minha “cara metade”), assumiu o posto. O próprio Romulo chamou a coluna que ela dominaria como “Panorama”, abrindo espaço não só para cinema mas outras manifestações artísticas.

               Em 42 anos Luzia escreveu muito. Fez não só criticas de filmes mas reportagens até de fora da área de cinema. Atualmente fazia também artigos sobre politica (pois é doutora na especialidade) no mesmo jornal. Pois apesar desse tempo e currículo foi despedida do emprego (apesar  de  exibir carteira assinada pelo próprio Romulo).

               Como estamos no mundo da comunicação  virtual, onde até o então clássico “Jornal do Brasil”deixou o papel, é certo que Panorama volte agora pela internet. Mas o lado humano da coisa fica na dor de uma espécie de ingratidão. Eu sofri isso quando “A Provincia...”acabou. Fiquei até sem os últimos salários. Nem “até logo”.

               Nos blogs e sites podemos escrever o que desejamos sem medo de ferir susceptibilidades. Por aí será o panorama de Luzia daqui para frente.

 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Colina Escarlate


               A Bela casa com uma Fera com pinta de galã (embora exale oportunismo no relacionamento, apostando no golpe do baú) e vai morar numa casa assombrada. Além de ver o espirito de sua mãe logo depois que ela morre a mocinha passa a ver 3 mulheres que o marido e a cunhada mataram para que ele embolsasse uma grana capaz de dar realidade a um projeto industrial.

               “A Colina Escarlate” tem fantasmas feios (como se as almas trouxessem o estado de seus corpos putrefeitos), acordes para assustar quem está cochilando na plateia, mocinha indefesa que se transforma em super-heroína, mocinho de ocasião que é ferido mas ainda assim só falta disputar corrida de obstáculo, e alguma menção do chamado “terror gótico” com uma sequencia em que o pai da garota é assassinado com empurrões de sua cabeça na pia do banheiro literalmente explodindo o crâneo do senhor.

               Guillermo del Toro notabilizou-se por dois filmes de terror: “A Espinha do Diabo” e “O Labirinto do Fauno”. Nos dois deixou uma plasticidade impressionante a partir do design do ambiente e chegando ao jogo de luz e cor. Aqui,em “A Colina...”ela existe, assim como os enquadramentos que evidenciam tipos em situações. Mas o argumento é tão banal que a coisa vira comédia. O final é hilário. Todo mundo sabe que o “ Fera” e sua mana, que também é amante, vão levar a pior.Mas do jeito que levam, com a ação da heroína que se veste de branco(os vilões de vermelho ou preto) e lança olhares cândidos, é mesmo para rir. Eu só não ri mais porque a sala em que vi o filme, no complexo Cinepolis Boulevard, estava tão gelada que mal sentia a ponta do nariz.

               Del Toro procurou fazer um Halloween (o filme de John Carpenter) erudito. Perdeu feio para Roger Corman no seu ciclo baseado em Poe e cometeu o sacrilégio de comparar seu trabalho, em entrevista, ao “Desafio ao Além” de Bob Wise.

               Não é ser toureiro adiante desse touro mas dessa vez ele ficaria melhor podando as arestas de sua trama e se inspirando mais no Jean Marais, o Fera de Cocteau.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Leviatã


               Em “Leviatã” se vê uma Russia humana, ou melhor,sacana como quase todos os países do mundo. Seria o monstro citado por Jó adentrando um pobre diabo que se chama Kolya e que vê de uma vez a tomada de sua casa, de sua indústria de pesca, de sua família (a mulher o corneia com um amigo que se faz de advogado dele) e  de sua liberdade ganhando fama de matador da adultera que na verdade se mata.

               O rolo trágico cabe numa terra onde antes se gabava o igualitário em um regime comunista, não que o homem fosse o lobo do homem como dizia Thomas Hobbes mas que o Estado pegasse os lobos.E Kolya seria vitima de lobos como o prefeito de sua cidade e o amigo que lhe cobrava os favores na cama com a sua companheira.

               O filme de Andrei Zvyagintsev impressiona a partir das longas panorâmicas da região à beira mar onde estão carcaças de grandes animais. Há um contraste entre este cenário amplo e a pequenez que envolve os tipos, realçando o corrupto prefeito que quer tomar a casa de Kolya e o amigo dele que lhe trai a tempo em que o defende em tribunal contra quem lhe quer tomar a propriedade. Além deles há o garoto, filho de Kolya com outra mulher, que ele cria com aparente beneplácito de Lilya, a esposa. Este representa um futuro fadado ao rancor na luta pela vida contra enormes injustiças.

               Candidato perdedor ao Oscar de filme estrangeiro é, sem duvida, um dos melhores deste ano por aqui, espaço lotado de mediocridades em especial nas salas dos shopping onde cinema, agora, faz parte de um verdadeiro parque de diversões.

sábado, 10 de outubro de 2015

Na Corda Bamba

               Apesar de tratado em primeira pessoa, com o personagem Philippe Petit narrando a sua odisseia de equilibrista do alto da Estatua da Liberdade, o filme “A Travessia”(The Walk) de Robert Zemeckis com roteiro dele e de Christopher Browne (com base no livro de Petit “To Reach the Clouds”) não diz quem é este francês que sonhou e realizou uma perigosa travessia das finadas Torres Gêmeas de Nova York usando um arame.
               O filme mostra o relacionamento dele com uma artista de rua, Annie. Ela teria seguido com ele para Nova York quando quis montar a estrutura da travessia no World Trade Center. Depois volta para a França. Se houve um relacionamento intimo o filme não define muito bem. Nem vai longe na amizade de Petit com o fotografo Jean-Louis que também o acompanha nos EUA. Será que essas figuras existiram mesmo da forma como são mostradas?Sabe-se pelas biografias nanicas do personagem que hoje ele vive próximo a Woodstock com uma pessoa chamada Kathy O’Donell (não confundir com a finada Cathy O’Donell atriz de “Ben Hur”). Se o objetivo, seguindo o texto original, era definir apenas o equilibrista, não parece novo o enfoque que já esteve no cinema no documentário premiado com o Oscar justamente chamado “O Equilibrista”(Man on Wire/2008).
               Começando em preto em branco com Philippe criança em Paris, é muito rápida a viagem da câmera pela infância que só se focaliza pois já estampava o amor pelo perigo, a porfia pela corda bamba(sem ironia). O filme atual é como uma seta que encaminha tudo para a sequencia da travessia das torres em NY. Em 3D ela realmente ganha do trabalho anterior de James Marsh (o citado “O Equilibrista). Impressiona até pela edição que joga os planos de forma a incitar o suspense mesmo se sabendo que tudo correu bem para o personagem. Mas é só. Zemeckis bota  o espectador por duas horas na sala escura vendo hora e meia de papo furado. Sinceramente achei que que voltar a um assunto bem tratado antes foi desnecessário. Será que o diretor queria mostrar como a peripécia do francês ganha emoção nas imagens tridimensionais ?Pode ser. E Annie ? Será que ela existiu mesmo ou foi um recurso comercial para melhor vender o filme ?  O que salta para a excelência é o trabalho de Joseph Gordon Levitt (34 anos) antes apresentado em “Lincoln” e “A Origem”. Ele se equilibra bem como o francês (caprichando no sotaque para o inglês) que virou noticia mundial.

               E eu pergunto: de que vive hoje Petit ? Deve estar ganhando copyright de cinema. A celebre travessia não foi patrocinada por ninguém. Prova de que um ideal não tem preço. Uma atitude cada vez mais rara no mundo que economicamente vive na corda bamba.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Cinema do Passado


               A exibição da versão muda de “O Ladrão de Bagdad” me lembra do tio Vavá(Oswaldo Nunes Direito). Ele era tão aficionado de Douglas Fairbanks que ao registrar o nascimento do meu irmão botou o nome “Douglas” entre José Maria Direito Álvares. Só quando o xará do artista foi fazer exame para serviço militar é que se espantou com o Douglas. E acabou botando esse nome num de seus filhos.

               Vavá também gostava de Ramon Novarro o astro do primeiro “Ben Hur”. Machista, nunca imagina que Ramon fosse homossexual. De uma feita escreveu no verso de uma sua fotografia: “Não é o Ramon Novarro, é o Direito”. Eu imagino como ele se sentiria sabendo que a paixão de Ramon por um jardineiro deu em morte e em um filme muito bom chamado “Deuses e Monstros”.   

               Eu conheci “O Ladrão de Bagdad” na versão sonora e colorida dos Korda (Alexander produtor e Zoltan diretor). Lembro que o vi com 9 anos e era improprio até 10. Minha madrinha que me acompanhava passou a sessão ouvindo um fiscal de menores na poltrona atrás pedindo minha saída da sala.Ela não saiu. Penso hoje que o tal fiscal queria era paquerar a moça.

               O filme dos Korda revelava Sabu. Ator indiano de baixa estatura, esteve em Belém filmando “O Fim do Rio”(The End of the River) para a Archers, empresa de Michael Powell(Inglaterra). A “Folha do Norte”publicou uma foto do artista no Ver o Peso. A atriz, no caso, era a jovem Bibi Ferreira. Ela cantava “Bumba meu boi” do nosso maestro Waldemar Henrique. Mas o nome do Waldemar não saiu nos créditos.

               Vi o filme de Fairbanks em vídeo. Imagino como impressionou meus antepassados com os efeitos especiais barrocos, muito antes dos computadores.E penso na grana que se gastou com tantos extras. Cabia nesse tipo de filme a piada do figurante que chegava para o diretor e dizia: “-Eu morri, agora o que é que eu faço?” A resposta era rápida: “- Va para lá e morra de novo”.

               Cinema de ontem vendo hoje dignifica a arte das imagens em movimento. É o desafio à morte, pois ainda mostra gente ativa quando é pó da terra...

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Dublagem e Bobagem


               Se não me engano foi do então senador Jarbas Passarinho a lei que obriga legendas em filmes, mesmo os nacionais. Protegia os deficientes auditivos. E certamente, no caso do filme estrangeiro, faz justiça à obra de um autor (ou de uma equipe produtora).

               Preso à dublagem perde-se falas que são básicas em narrativas cinematográficas. Dou um exemplo. Quem sabe inglês percebe que diabos significa “fuckn’you”. Na legenda resta “Vá se ferrar”.

               A proposito: saiu em DVD uma copia de “O Vale das Bonecas”(Valley of Dolls).Foi um dos primeiros filmes americanos a usar o chamado “palavrão”. Mas o filme, como o romance de onde ele veio, foi uma merda.Mark Robson fez o que mandou Darryl Zanuck, manda-chuva da Fox. Curioso no DVD atual é o bônus que mostra os bastidores da produção. Conta como os atores se digladiaram. Dá para lembrar as fofocas que a revista Cinelândia imprimia nos idos de 60.  Sabe-se que a infortunada Sharon Tate, afinal a mulher de Roman Polanki assassinada perto de parir, era a mais comportada do elenco.

               Quem gosta de cinema curte curiosidades em torno da indústria. Claro que tudo é arte. Besteira quando, no filme ora reapresentado, se fala em “filme artístico”. Mas assim é que se dividiam os programas: sessão para se pensar, sessão para se esquecer(e se dizia esquecer s problemas do cotidiano). Um tempo.