quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Revendo a Chanchada

                Falar em filme de carnaval é lembrar os da Atlântida, empresa fundada por Moacyr Fenelon e vendida para Severiano Ribeiro Jr que alimentou um gênero de cinema com musica popular que a critica dos anos 40 chamou de chanchada no afã de dizer que era besteira.
                A formula era muito simples: uma trama policial bem leve, com bandidos e mocinhos, entrecortada por marchas e sambas -interpretados por cantores populares no radio- e que seriam imprescindíveis nas festas e blocos de um proximo carnaval. As filmagens normalmente eram feitas no segundo semestre de um ano visando a estreia normalmente em fevereiro. E as tramas exigiam comediantes. Oscarito e Grande Otelo comandavam na Atlântida. O concorrente, Herbert Richers, já nos anos 60, atacava de Ankito. E ainda estavam “na reserva”Zé Trindade e Violeta Ferraz. No time de coadjuvantes Zezé Macedo e Yvon Cury, E como mocinhas, Eliana Macedo, sobrinha de Watson Macedo um dos primeiros diretores do gênero na empresa de Ribeiro, e ainda Sonia Mamed, Fada Santoro e Adelaide Chiozzo.
                Eu vivi o auge da chanchada. Para vê-la, nos primeiros dias de exibição no Olímpia, era preciso ir cedo para entrar na fila adiante da bilheteria. No colégio tudo que se via na tela era comentado e imitado. Chanchada era moda. Tudo muito ingênuo como a vida que se vivia.
                 A volta de “Aviso aos Navegantes” nos atuais dias de carnaval e no cinema que lançou o filme em 1951 é um brinde nostálgico. Recentemente eu vi em casa a chanchada derradeira:”Garotas e Samba”(1957) de Carlos Manga com Zé Trindade defendendo a parte cômica ao lado de Yvon Cury e Renata Fronzi(só agora vim a saber que ela morreu em 2008).Ri como antes da besteirada em tela. Todo o cafona de então estava ali, gerando piadas que a gente repetia por muitos espaços. E nesse filme e ano havia uma espécie de despedida da turma do carnaval: todos desfilavam no fim, caminhando para a objetiva, e acenando como quem diz que vai embora. E foi mesmo. Manga achou de fazer outro tipo de comédia com “O Homem do Sputnik” e “Entre Mulheres e Espiões”. Oscarito estava velho e morreu em 1970. A Atlântida foi se esvaindo com a chegada do “cinema novo”. Era a intelectualização  do divertimento popular com o preço da distancia entre o que se passou a fazer e a cultura popular entendia. Além disso, o Brasil entrou na rolha ditatorial do golpe de 1964. Surgiu a reação com a pornochanchada onde o sexo se buscava nos roteiros idiotas moldados em S.Paulo(note-se que  a chanchada ingênua era carioca).

Creio que não se pode ensinar cinema brasileiro sem conhecer este nosso carnaval de imagens e som. Uma boa a volta de “...Navegantes”. Era como se fazia comédia cinematográfica, filha adotiva do teatro de revistas e dos programas radiofônicos. A avó da TV.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Trumbo

Dalton Trumbo (1905-1976) foi um dos dez integrantes dos estúdios de Hollywood(especialmente roteiristas) que foram presos como comunistas e por isso inimigos dos EUA no auge da chamada “guerra fria”com a União Soviética.
Trumbo era casado, tinha 3 filhos, e morava em um rancho distante da região metropolitana(Los Angeles). Ao sair da prisão, vendo-se desempregado, passou a escrever roteiros para outros apresentarem com nomes fictícios. Nesta operação ganhou Oscar por “A Princesa e o Plebeu”(Roman Holiday) e “Arenas Sangrentas”(The Brave One).
Sobre ele sai agora o filme Trumbo”(2015) por onde o ator Bryan Cranston é candidato a Oscar.
Vi o documentário de Peter Askin feito em 2007. O trabalho atual, de Jay Roach,é melhor Não sob o ponto de vista de informações, mas pela criação dramática que humaniza o personagem. Nele se vê o marido e pai devotado, embora de gênio explosivo, que passa a maior parte do dia na velha maquina de escrever colocando no papel não só as ideias que gerara livros como os filmes de diversos gêneros.
Os dois filmes se ocupam da “lista negra”como chamava o senador McCarthy.E mostram os “dedos duros” da indústria do cinema como Walt Disney, Robert Taylor,Edward G.Robinson, John Wayne, e a colunista Hedda Hopper(no filme de agora representada muito bem por Helen Mirren).
São filmes especialmente sobre a liberdade de expressão. E o cinema de agora usa isso com muita frequência (só no páreo do Oscar estão “Spotlight”e”A Grande Aposta”).De festejar.Só não gostei de terem omitido o único filme que Trumbo dirigiu e baseado em um de seus romances: “Johnny vai à Guerra”. Excelente recado anti-bélico.



sábado, 23 de janeiro de 2016

45 Anos

                Por “45 Anos”(45 Years) Charlotte Rampling  dona de 22 prêmios internacionais é candidata ao seu primeiro Oscar. Ela faz a mulher de um antigo campeão olímpico que se prepara para comemorar com eles seus 45 anos de casada. Nas vésperas, o marido recebe uma carta em alemão, idioma que não domina bem, avisando que acharam congelado, na neve, o corpo de sua antiga namorada. Este romance nunca foi revelado á mulher com quem reza um eterno amor. E abala a festa dos 45.
                O filme dirigido por Andrew Haigh(é seu segundo longa metragem)tem roteiro dele com base numa historia de David Constantine. Pode-se dizer que se exime de lances dramáticos. Corre a vida, com suas surpresas e sua rotina, focando duas pessoas idosas que alimentam a vitória de estarem juntas por largo período e se dedicarem como autenticas “almas gêmeas”. E isso exige muito dos atores. Rampling e Tom Courtnay merecem aplausos (e se foss no teatro, onde cabe a historia, receberiam logo). Seria ótimo se agora Hollywood premiasse Charlotte. Mas vai ser difícil, e é indesculpável o esquecimento de Tom, comediante de 51 filmes a notar “O Mundo de Billy Liar”, “Rei de um Inferno” e coadjuvante de clássicos como “Dr Jivago” e “A Noite dos Generais”.
                Tom, Charlotte e o filme são ingleses. O diretor também. Há um toque do melhor David Lean. Um quadro de família a lembrar o “Amor” de Trintignant & Riva sem aquele fecho de tragédia.

                Oxalá o filme chegue por aqui, e eu penso que só pode acontecer numa sala especial e agora com o Cine Estação em projetor digital a oportunidade aumenta.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Os Meninos e o Mundo

                Em dois filmes candidatos a Oscar um menino descobre o mundo. Em “O Quarto de Jack”(Room) ele passa 5 anos, desde que nasceu, num quarto ao lado da mãe, sequestrada dois anos antes pelo pai dele. Depois desse período consegue, graças à estratagema da mãe.sair do quarto e descobrir um cenário que só conhecia da TV. Em “O Menino e o Mundo”,animação brasileira, o garoto é filho de lavradores que sofrem a seca e caminha por outras plagas adentrando com marcos históricos da civilização. Os filmes merecem aplausos. Creio que “O Quarto de Jack”é o mais acessível ao grande publico dos concorrentes aos principais Oscar. Excepcionais os desempenhos de Brie Larson(mãe) e Jacob Tremblay(filh), este com apenas 7 anos quando fez o papel do Jack do titulo (hoje vai fazer 9).
                A descoberta de um cenário novo por uma criança é um tema difícil de ser tratado tanto em cinema como em literatura. O caso de Jack ganha do aspecto clinico(ele chega a ter dificuldade de acomodar a vista na claridade que desconhecia) a exaltação do ego(como vai entender o que é).No desenho experimental isso escapa. Interessa o cenário. Em “Room”. dirigido por Lenny Abrahamson, irlandês de 49 anos (tinha 46 ao fazer o filme) , o foco é a pessoa, é o ser humano que se acomoda no que lhe dão para viver(o quarto do titulo) e não atina o que é que existe além da claraboia   que todo dia observa ao levantar o pescoço. Chega a se espantar quando vê folhas verdes posto que só conhecia folha morta que o vento levava para o teto de sua morada.

                “O Quarto de Jack” é um dos melhores filmes que eu vi nesses ultimos anos. 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Mustang ou 5 Graças

Sonay (İlayda Akdoğan), Selma (Tuğba Sunguroğlu), Ece (Elit İşcan), Nur (Doğa Zeynep Doğuşlu) e Lale (Güneş Nezihe Şensoy), são jovens turcas órfãs de pai e mãe, vivendo com a avó e monitoradas por um tio que se pauta na mais reacionária posição moral que a sociedade do interior da Turquia exibe.
O filme “Mustang” começa com as meninas e alguns colegas saindo da ultima aula do período letivo e passeando pela praia onde acabem no banho com jogo de empurra montadas nos ombros dos rapazes. Isto é o bastante para as fofocas locais verem investidas de sexo e o bastante para começar uma porfia do tio, acobertado pela avó, para que elas casem logo, tendo a mais velha passar por um vexatório exame do hímen quando, ao casar, não suja a roupa de sangue(ela teria o chamado “hímen complacente” e pode não ser danificado numa primeira relação sexual) .
O terror do sexo caminha para um suicídio e uma verdadeira guerra das meninas que restam do grupo com os adultos, justamente na hora em que uma delas deve receber os parentes de um futuro marido.
O filme ganhou o titulo de “Mustang” que é o nome dado a um cavalo. No Brasil deve se chamar “Cinco Graças”. Falado em turco, rodado na Turquia, mesmo assim está no páreo do Ocar de filme estrangeiro como francês. Um belo trabalho da diretora Denis Gamde Erguven, ela em seu primeiro longa depois de atuar em 4 filmes e dirigir dois curtas, Com interpretes convincentes causa repulsa aos métodos de vida de uma sociedade que lembra o que muitos ocidentais viveram em distantes eras, muitas vezes orientada pela religião.
Soube que “Mustang” vai ser exibido no Cine Libero Luxardo no inicio do próximo mês. Boa nova sem duvida.


domingo, 17 de janeiro de 2016

Solaris


                O polonês Stanislaw Lem(1921-2006) escreveu sobre um planeta aquático que materializava os pensamentos das pessoas que entrassem em sua orbita. Andrei Tarkoviski(1932-1986) fez um filme com roteiro de Fridrikh Gorenshteyn(1932-2002) e dele próprio baseado nesse engenhoso texto. É raro um filme de ficção cientifica se embrenhar num processo filosófico denso como este. Lem não gostou muito. Trakovskli viu mais o homem do que a astronomia. E se o livro for comparado à versão que dele fez o americano Steven Soderbegh em 2002 pode-se avaliar a distancia.
                No belíssimo trabalho de Tarkoviski um astronauta que orbita o planeta Solaris, seguindo colegas que anteriormente estavam na estação espacial, passa a ver e sentir a mulher dele que havia (tragicamente) morrido. Ela revive, morre, revive a cada passo de uma jornada que o astronauta vai conscientizando como o melhor de sua vida. E este melhor ganha um epilogo que expõe a opção do personagem por uma ilha que passa a criar e morar no mundo de água, materializando figuras de sua infância, percebidas pelo espectador que encontra a diferença da realidade no fato de não existir uma brisa a balouçar as matas  assim como um lago próximo. Não importa. Ao abraçar o pai que surge de dentro da casa de infância o filme sintetiza toda a força da memória que revive e se eterniza.
                Um dos mais belos que já se viu em cinema. Uma superprodução da Mosfilm que por não conter ranço de propaganda da URSS deu inicio ao ostracismo do diretor(enfim saído do “paraiso comunista” em busca de seu próprio Solaris, ou Shangri-la, ou Inisfree, ou Utopia, como se queira chamar o mundo interior.
                Há quem diga que “Solaris” é o 2001 russo. Procede. Gosto mais do trabalho de Kubrick mas tenho o de Tarkovski entre os meus preferidos em qualquer época.
                E atenção: o filme estará no Olympia no final deste janeiro 2016. Aproveite.
 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

A Grande Aposta


                Um verdadeiro milagre este “A Grande Aposta”(The Big Short) chegar aos cinemas comerciais de Belém. Baseado no livro de Michael Lewis sobre a crise econômica de 2008 que saiu dos EUA para muitos outros países (o nosso escapou por pouco e penso no que seria se ela se desse dez anos depois) O filme dirigido por Adam McKay(“Tudo por um Furo”) vai fundo no caso exibindo o vocabulário econômico que mesmo tentando explicar alguma coisa para os leigos(como uma cena onde uma personagem, numa banheira, tenta dizer que diabos é CDOs e outros trocados ) torna o resultado distante do espectador médio, justamente aquele que sofreu a crise, que perdeu casa e empego, que foi enrolado pelos planos econômicos que saíram da área de governo e acabaram por ferrar bancos e deixar muita gente na pior. Este povo não sabia e continua não sabendo qual foi a “aposta” dos economistas. Por isso vi o recorde de pessoas deixando a sala de projeção antes do filme acabar.

                Mas é impossível deixar de mencionar que o trabalho é prodigioso como cinema, usando uma linguagem dinâmica, tentando até mesmo fazer rir no bojo de uma tragédia, tudo com excelente rendimento do elenco e uma senhora edição.

                Reconheço um filme difícil. Mas é a melhor forma de elogiar a democracia norte americana, revelando podres de cima como o colega “Spotligh” que faz auê com os padres pedófilos.

                Palmas à exibição.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Spotlight

Pincei esta frase do critico Paulo Villaça: “Jornalismo, quando realizado com jota maiúsculo, não só é um exercício nobre, mas também um instrumento fundamental da democracia – e não é à toa que uma das primeiras medidas de qualquer ditadura é acabar com a liberdade de imprensa. Praticar a profissão com o único interesse de servir aos patrões e permanecer relevante é usá-la não para buscar a verdade, mas como forma de publicidade pessoal”. Ele coloca a proposito do filme “Spotlight”, argumento que trata do caso real de jornalistas do Boston Globe, prestigiado jornal estadunidense, que se omitiram ainda no século passado em denunciar padres pedófilos nas paroquias locais. Tempos depois o jornal muda de gerencia e o tema é solicitado levando-se em conta o aumento de abuso sexual em meninos e meninas por sacerdotes católicos.
            A volta ao assunto reflete não só o crime que aumenta com o tempo como a falibilidade de uma imprensa comprometida com um tipo de moral(ou o medo de ser odiada por tratar de assunto tabu).
            O filme dirigido por Tom McCarthy, roteirista do excelente “Up” da PIXAR, é objetivo, reportando os fatos reais sem limpar a barra de alguns repórteres medrosos. Também aborda os advogados que apadrinharam os pedófilos e chega à “nomeação” de um bispo que sai dos EUA para exercer cargo majoritário em Roma.
            Isento de pitadas românticas, “Spotlight”, que no titulo reflete o papel de uma imprensa policial, empolga, pois satisfaz quem já sabe dos crimes cometidos por sacerdotes e ocultos pelo medo de se ferir uma autoridade que confundida erroneamente com a fé.
            Duvido que o filme ganhe Oscar. Pode contrariar alguém, Mas além do tema, com um tratamento condigno sem ser brilhante, ressalte-se Mark Ruffalo em desempenho diferente do que costumou apresentar em cinema. Ele já perdeu o Globo de Ouro. C’estla vie.

            Em tempo: numa sequencia alguém diz que a Igreja Católica deve acabar com o celibato. Correto. Por certo diminuiria os abusos sexuais dos padres. Afinal eles lutam contra a natureza de seus corpos. Seriam deuses pelo jejum sexual. Uma tarefa que certamente não cabe a tantos.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Belém 400


                Quando eu filmei “Brinquedo Perdido”,em 1962, fui para o alto do edifício Manoel Pinto da Silva tirar uma panorâmica da cidade. Era o ponto mais alto da capital paraense. Antes, o teto era o Edifício Berne na 15 de Agosto (que viraria Presidente Vargas). Dizia-se que o candidato a suicida que se jogasse dali não morreria. Bem, eu morava na S. Jeronimo, que era avenida, mas nascera como Estrada da S. Jeronimo (a paralela era Estrada de Nazaré).

                Belém de antes era pacata. Dois crimes de morte ganharam manchetes de jornais: nos anos 1920 o da senhora Tejada por Red Lucier, enfim preso por mais de 20 anos e eu o conheci quando médico do presidio, e nos 1950 o do sr.Pires Franco pelo sobrinho dele, Jaime Leite. A área policial limitava-se aos “ladrões de quaradouro” ou “ladrões de galinha”. Em meio aos bondes circulava um povo simples. Via de acesso era por agua ou por aviões com hélices, a maioria composta por bimotores do tipo DC3 ficando os Constelation da Panair do Brasil para a classe mais abastada (Belém-Rio consumia 6 horas de viagem direta).

                Quando S.Paulo fez 400 anos, em 1954, eu vi no cinema Emilinha Borba cantando um samba que o carioca dedicava ao estado vizinho. Foi em “O Petróleo é Nosso” de Watson Macedo. Hoje Belém chega a isso. Não ouvi nenhum samba de parabéns. Também deixei de ser caçador de sons. Mas reparo e conto o numero de edifícios que desafiam o chão roubado das aguas (na Doca Souza Franco, por exemplo, vi barcos de grande porte atracados no que se chamava de Igarapé das Almas).Eu próprio deixei casa para me entrincheiras no que chamo de poleiro. Culpa da falta de segurança. Com via de acesso por terra desde a criação da estrada Belém-Brasília, a população esticou . Veio de tudo: mantimentos e migrantes pensando em vida nova na Amazônia promissora.

                Canto no intimo a minha terra natal neste momento de 400 janeiros. E sempre desejo à ela o bem que se quer ao que se ama.  

O Regresso de Iñarritu


                Não é de espantar o Globo de Ouro para Leonardo DiCaprio em “O Regresso(The Divernant). Espanta o premio ao diretor Alejandro Iñarritu, vencedor do  Oscar ano passado por “Birdman”.É raro alguém ganhar premio norte-americano de cinema por dois anos seguidos. Mas eles procedem. “O Regresso”é um drama tenso sobre um caçador de peles atacado por um urso que é dado como morto pelos companheiros. O fato de terem matado o filho dele gera um sentimento de vingança que o alimenta , recuperando-o milagrosamente e dando margem à uma caçada ao outro caçador que não só matou o rapaz como abandonou-o no meio do mato afirmando que estava morrendo.

                DiCaprio maquilado de forma a se tornar quase irreconhecível faz um grande esforço físico para dimensionar o tipo rude que sustenta a historia. Narrado linearmente o filme é sempre tenso, aproveitando muito bem a locação e expondo uma direção de arte que recria o tempo exibindo inclusive o papel de tribos indígenas que combatem os caçadores.

                São mais de duas horas de tensão. Tom Hardy como o algoz do caçador ferido é outro a merecer premio. Já tem 10 em seu currículo. Pode (e deve)ir ao Oscar.

                Iñarritu tem muito mais trabalho do que em “Birdman”, apelando para segunda unidade de produção. Enfim, o filme salta no programa costumeiro de cinema comercial e não sai da esfera do blockbuster em apelo visual. Creio que vai chegar por aqui.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Carol e Lili

Patricia Highsmith escreveu o romance que gerou “Carol” o filme de Tod Haynes que concorre a 5 Globos de Ouro e certamente vai levar a disputa do Oscar as protagonistas Cate Blanchett(também produtora) e Rooney Mara.
O enredo é simples: mulher casada e com uma filha apaixona-se por outra mulher e o marido,por causa disso, pede divorcio e mando da menina. No vai e vem judicial Carol(Blanchet), a esposa lesbica, conhece Therese(Mara), uma balconista de loja e muda de paixão. Só que Therese é de temperamento tímido e leva o romance muito a sério.
Gostei de planos finais que saltam de um close de Therese a um médio de Cate com amigos em mesa de restaurante. A primeira estampa decepção, a segunda não importismo. Lembrei de outros amores perdidos em filmes notáveis. Este é das atrizes. Mais de Rooney Mara. Embora elas mostrem o talento que possuem o filme não decola para muito alto. A substancia gerada por um amor homo fica nas caras de uma socialite que mais do que as parceiras quer continuar sendo mãe e a proleta que descobre sua tendência afetiva e ao mesmo tempo se decepciona.
Melhor me pareceu “A Garota Dinamarquesa”(The Damish Girl) onde Eddie Redmayne tenta bisar premio ganho por”A Teoria do Tudo”onde fez o físico Stephen Hawking. Aqui ele é Einar, marido de Gerda(Alicia Vikander) mas aos poucos deixando fluir a personalidade de Lili, a mulher que sente ser a sua verdadeira personalidade.
O filme se baseia no livro Lucinda Coxon e é tratado como um caso real onde se tentou uma mudança de sexo, nos  anos 1930 (ou 40) com a morte do(a) paciente. O diretor Tom Hooper conta bem o caso e define através de Redmayne o tipo principal.  Um filme denso que se vê com agrado sem adentrar por um cerebralismo que diluiria o teor dramático.
               


domingo, 3 de janeiro de 2016

Os OIto de Tarantino


“The Hatful Eight”(Os Oito Odiados) gasta quase 3 horas da vida do espectador diante de uma tela que exibe uma trama claustrofóbica, ou seja, a ação quase que toda dentro de uma sala. Mas o roteiro do próprio diretor, Quentin Tarantino, hoje assumido como um dos mais prestigiados cineastas, tem amplitude considerável. Pode se perceber a historia da América do Norte a partir da Guerra da Secessão, adentrando pelo preconceito racial, o relativismo da lei, o sentido de justiça(“Quem usa de paixão não pode fazer justiça” diz um personagem) e ainda o papel da mulher no quadro violento dos homens.Eu pensei que Tarantino tivesse usado o termo OK,dito por alguém,como fora do tempo. Podia ser do modo como é dito no filme por um dos oito do titulo, mas cochilo mesmo foi "pen pal" que se falou pela primeira vez em 1938(a ação tem lugar no século XIX). Nos”goofs” observados pelos detetives da plateia o que mais salta é as marcas da diligencia na neve, estranhas dentro do cenário. O que dá xeque-mate nessa coisa é o fato de que o roteiro(do diretor) abraça a gênese teatral(podia ser apresentado num palco) e consegue ação suficiente para interessar o espectador – e até mesmo dar-lhe a cota de suspense.

         O segundo filme de longa metragem de Tarantino,”Cães de Aluguel”(Reservoir Dogs/1962) também se passava entre 4 paredes onde bandidos discutiam o modo de repartir o roubo. Observando a trajetória desse cineasta que se pode dizer bastante pessoal, percebe-se bem a sua cultura eminentemente cinematográfica. Funcionário de uma locadora de vídeo apaixonou-se pelos faroestes europeus e a violência de gangster tipo James Cagney que via bastante. Quando passou a fazer cinema, expressou o que gostou de ver nas telas. Apesar de se dizer fã de Hitchcock o que mais substancia seu trabalho é o artesanato de Sergio Leone. Sempre a amostragem da violência. E neste “Oito Odiados”,que diz ser seu oitavo filme e deve rimar com o “8 e Meio” de Fellini em termos numéricos(só isso), dá um banho de sangue em todas as figuras mostradas. O espectador que conhece o autor de outros carnavais sabe que a trama só vai acabar quando morrer todo mundo. Bem, há quem escape. Mas ensanguentado.

         Eu pensei que não fosse aguentar as tantas horas de violência. Mas do meio para o fim (ou do 3° capitulo em diante, pois a coisa é dividida em capítulos),me prendi. Afinal tive o que apreciar. Bom roteiro, bons enquadramentos, boa edição. Todo o arcabouço a serviço do que se pode achar um carnaval barroco.

         Certo: não estou entre os que odeiam Tarantino. Mas respeito  quem assim seja. E neste novo filme ele dá uma senhora dose de faroeste espaguete.