quinta-feira, 30 de junho de 2011

Imagens

Cinema é imagem em movimento. Embora muitos filmes se apóiem em falas, as imagens bem elaboradas cativam o espectador. E eu revi agora dois trabalhos (os primeiros longas) do diretor Terrence Malick, onde as imagens ganham especial relevo. Tanto em “Dias de Paraiso”(Days of Heaven), estreado nos cinemas locais com o nome de “Cinzas do Paraíso”, como “Terra de Ninguém”(Badlands), a fotografia eleva o drama ao limite do poético. E isto é um desafio porque os dois filmes são trágicos. No campo de trigo onde se passa a maior parte de “Dias de Paraiso” o fotografo Nestor Almendros consegue planos que dizem do que sente a heroína entre um amante pobre como ela e a oportunidade de ser rica com um apaixonado dono de terras. Um enquadramento dos personagens contra um céu de nuvens bem desenhadas e com alternância de cores é mais do que a busca de um postal. É o belo sobre o drama, lembrando o “belo horrível” que se chama às fotogenias dantescas como o cogumelo atômico. Isto se repete em “Terra de Ninguém”, aqui ainda mais coerente com o teor dramático. O casal de amantes (a seguir o filme anterior) é sempre perseguido. E ele foge matando. A cada assassinato um plano aberto do cenário de fuga. Um interior belo sustentando o horrível, ou o homem maculando a beleza natural.
Mallick usou 3 fotógrafos em “Terra de Ninguém”: o japonês Tak Fujimoto e os americanos Steven Larver e Brian Probyn. A composição é sempre estudada, com o enquadramento procurando colocar os tipos na ação como eles representam, ou seja, como são pequenos numa terra paradisíaca e como se ocupam do espaço em pontas de cena, o bastante para que sejam notados.
Quando eu filmava com Fernando Melo a gente buscava os planos como se eles fossem unicamente o interesse do filme, Para ele, fotografo de profissão, era isso. Eu cutucava por mais e tentava fazer luminosidade com funcionalidade dramática. Era a teimosia do garoto doido por cinema. Mas eu já sabia que cinema era imagem. Sem

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Cada Doido com a sua Mania

Eu tenho carro porque preciso para viagens de grande distancia. Mesmo assim é uma peça de museu: um fusca 1994. Gosto dele como um amigo que me leva ao Mosqueiro, minha Inisfree ou Passárgada ou Shangri-la desde que observado nas épocas vazias (meu itinerário é de 4ª. a sábado em mês de fora das estações de veraneio). Mas há quem adore carro. Meu irmão era um. Tinha modelos do ano. Vivia debaixo desses carros ajeitando peças (a seu modo). Minhas filhas & genros andam em carros novos. Eu faço exercício na direção mecânica do Volks encomendado por Hitler (a única coisa boa que ele fez). Por esta distância que cultuo de carros achei um saco ver “Carros”(Cars) de John Lassetter em 2006. Saí no meio de uma sessão no finado Cine Nazaré. Teimoso, e acompanhando a mulher que leva a sério a coluna diária de critica de filmes que mantêm em um jornal, fui ver “Carros 2”. Pensei que é uma forma coadjuvante da tortura que passo tratando dos dentes. E pensei bem.
O filme reporta viagens dos carrinhos falantes a competições internacionais defendendo as cores norte-americanas. Como tal, devem enfrentar vilões terroristas. Se é engraçado, esses ganham cores e sotaques distintos. Mas no fim das contas o filme, de quase duas horas de duração, é a mesma cantilena de automobilismo acelerado.
Humanizar carros pode até valer para o meu fusca. Mas ele não fala, não me diz que as ruas estão esburacadas, que eu não o lubrifico desde o século passado, ou pede desculpas para as vezes que me deixou na estrada seja por sujo no carburador seja por quebra de cabo de acelerador.
O filme da PIXAR é só para a garotada (de 6 a 60 anos) que choca mexer em automóveis. Há e tudo neste mundo, como quem se vidra em avião (meus sobrinhos(), em informática (meu neto mais velho), em feminismo (minha mulher). Eu só tenho um vicio: cinema. Vejo a média de 2 filmes por dia em DVD. E vou às estréias. Às vezes pego outro tipo de carro, como algumas comédias ditas românticas ou blockbusters que a mim parecem apenas busters. No caso de “Carros 2” eu tentei homenagear com a minha presença a produtora de “Up” e “Wall E”, desenhos que me sensibilizaram. Enfim, há cada um tem direito à uma mancada, E Lasseter é o dono da bola. Ou do gol contra.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Cinema Privado

Vejo em casa a média de 2 filmes por dia. Em DVD naturalmente. Alguns ajudam no sono. Prefiro ver as coisas chatas de tarde. Nesse período aturo até um Godard. Por sinal que vi o documentário “Godar e Truffaut: a Nouvelle Vague”. Interessante mas omisso. Focaliza muito Jean Pierre Léaud, ator em filmes dos dois mas não mostra nenhuma entrevista dele. E não explica bem o “estilo” adotado por Godard, passando pelo seu tropismo vermelho quando propagou as idéias de Mao Tse Tung.
Truffaut era doido por cinema e fazia filmes que gostaria de ver. É do time de sonhar filmando, aquilo que em “Sonhos de um Sedutor”(Play It Again Sam) Deanne Keaton critica Woody Allen dizendo que ele é “um espectador da vida”(pois prefere ver tudo numa tela ao invés de visitar lugares). Eu sou desse grupo. Por isso gosto de ver o que Truffuat fez (mesmo assim há alguns títulos chatos). Godard nunca me atraiu. Ele diz, no documentário, que não gostou quando seu primeiro filme fez sucesso popular e passou a trabalhar para mudar esse conceito. Fazia e faz o que não se gosta. Cinema para ele é motivo de matar a cabeça. Nunca um prazer. E nisso vai pelo ralo a definição de que arte é o belo.
Um filme ultra modesto, “O Sal da Terra”(Salto of the Earth/EUA,1954) só agora chega ao Brasil (e em DVD). Trata de uma greve de mineiros no Novo México. Esses operários são todos de origem latina. Há preconceito para dar e vender. Humilhados, os mexicanos, em maioria, resolvem grevar. Mas os patrões da mina apelam para a violência. Eles são presos e proibidos de continuar a greve. As mulheres tomam a vez. Desafiando a cultura machista de então. Algumas levam os filhos para um desfilme adiante da mina onde os maridos trabalham com risco de vida. A coisa piora quando os anglos resolvem tomar as casas dos mineiros, todas em propriedade da firma. É a hora de um mutirão de solidariedade.
O filme andou vetado nos EUA por se achar “comunista”. Imagino ele projetado na época do macarthismo. Mas acima de tudo é um drama humano bem focado. Poucos atores profissionais estão no elenco e dentre eles a extraodinária Rosaura Revueltas.Ela me lembrou a Falconetti do “Joana D’Arc” de Dreyer. Um de seus closes faz lagrima em pedra. Por sinal que o filme comove. E ensina que cinema para coração e mente não precisa ser piegas nem cerebral. O diretor chama-se Herbert J. Biberman (1900-1971).
E vi “Burlesque”, que perdi (propositadamente) no cinema comercial. Ganhei ficando em casa. Da primeira seqüência se advinha as outras. Cher é a dona do cabaré onde a mocinha (Christina Aquilera) vai atuar. A estrutura do roteiro(o próprio diretor Steve Antin) lembra “Cabaret” de Bob Fosse. Mas a lembrança piora a cotação. O filme dista léguas dos musicais americanos dos anos 30/40/50/60 e a linha dramática é tão frágil que nem dá para....rir.
Vi também “Becket, o Favorito do Rei”(Becket) de Peter Glenville. Teatro filmado que dá asas a Peter O’Toole como Henry II. O Becket de Richard Burton é passível de critica. O ator devia ter tomado umas e outras no set. Só convence quando tem de ser ríspido encarnado no arcebispo de Canterbury. Já O’Toole está à vontade. É um ator de recursos imensos que esteve varias vezes no pareo do Oscar e só recebeu um honorário. O filme é uma superprodução que troca a ação pela densidade dramática da peça original (de Lucienne Hill). A autora ganhou um Tony(premio de TV)em 1961.”Becket” foi a sua vez nos palcos.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Memória Erudita

“Meia Noite em Paris”(Midnight in Paris/2011)é um Woody Allen europeu que lembra o nova-iorquino de “A Rosa Púrpura do Cairo”. A diferença é geográfica desde que se considere o tempo fora dessa geografia. Aqui a viagem pelo passado leva um tipo de agora pela Paris dos anos 20 com direito a um beliscão mais atrás para se ver Toulouse Lautrec pintando o can can.
No filme um escritor (o chato Owen Wilson) saturado da mediocridade de sua mulher, aproveita a estada em Paris e viaja de carro pela cidade de quase um século atrás. Vê gente que lhe inspirou intelectualmente: F. Scott Fitzgerald e sua Zelda, T.S.Elliot, Ernst Hemmingway, Gertrude Stein,Josephine Baker, os pintores Picasso, Gaugin e Dali,o compositor Cole Porter(e a musica dele aumenta o encanto do filme)_ sobrando uma fala para lembrar James Joyce. Nesse mergulho temporal há um romance com uma das amantes de Picasso(intervenção da atriz Marion Cottilard) e uma mudança de estado civil na volta ao presente para ficar morando em Paris (Gabrille/Lea Seydoux). Tudo para dizer que a capital francesa ainda é o paraíso dos intelectuais, a substituição perfeita da Manhattam que Allen amou e que acabou revisando quando percebeu que só lhe entendem na França (onde seus filmes se pagam).
Citações eruditas pulam mais pelas falas do que pelas imagens (o desconto de um prólogo com vistas turísticas da capital francesa). Mas o que se ouve (mais do que se vê)é bastante divertido para se achar que o filme é curto. Não olhei para o relógio no meio da sessão (o que é raro atualmente). Engraçado é que o roteiro, escrito em 2006, é de Allen para Allen. O personagem de Owen Wilson seria seu. A gente sente isso. E Wilson fisicamente é o anti-Woody Allen. Um desafio que não compromete porque a imaginação do comediante-autor mostra-se saudável. E se as citações englobam os artistas que as pessoas inteligentes conhecem,com maior ênfase para os de língua inglesa, faltando apenas René Clair. WA deve ter visto “Les Bellles de la Nuit”,o belo filme de Clair, onde uma viagem de jipe pelo tempo mostra que o saudosista sempre se manifesta elogiando o que passou. Até o homem das cavernas.
Carla Bruni, a mulher do presidente francês, faz uma ponta como guia de museu. Até aí a homenagem ao país. E com um detalhe que escapa dos guias turísticos: Paris é mais romântica com chuva. Essa é nova.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Ir a Cinema já é um Filme

Fui ver “X-Men, Primeira Classe” na sessão de 10,40 de um domingo numa das salas do grupo Cinépolis no shopping Boulvard. Ao entrar pela porta lateral, como faço habitualmente por vir a pé, de casa, a poucos metros dali, fui interpelado por um segurança que só faltaram me segurar e botar para fora do prédio. Teimou comigo que o horário do cinema estava errado, que o shopping só abriria suas portas as 11 e na comunicação com outro segurança por interfone constatou a sua afirmativa. Eu não me conformei e quando o guarda se descuidou segui uma jovem que se encaminhara para o elevador, talvez funcionária de alguma loja. Fui ao andar dos cinemas e constatei que as bilheterias e portaria estavam funcionando normalmente. Só que não havia público. Eu era o único espectador a chegar na hora da sessão. Disse o que ocorreu, de como os porteiros estavam tirando platéia das salas. Não sei em que deu. Sei que a projeção começou na hora certa e chegaram mais espectadores. Bem, o filme não é nenhuma jóia que cinéfilo compra para o seu tesouro intelectual. Para quem acompanha a série, é curioso como adentra nas origens dos tipos criados por Stan Lee e Jack Kirby. Diz como surgiram apelidos como Magneto e Fera e como o professor Xavier ficou aleijado. E como ele e Magneto foram amigos e se estranharam nos anos 60, justamente na época em que os mutantes salvaram o mundo impedindo a guerra nuclear que estava a ponto de ser declarada quando os russos queriam montar foguetes com ogivas nucleares em Cuba (qua qua qua).
Hoje se a gente não se meter a sair de casa, engavetando o comodismo, não vai mais a cinema. Tudo tem horário fixo, nos fins de semana há enorme afluência (compensando o deserto dos chamados dias úteis),as pipocas com seu cheiro de cocô de cachorro invadem as salas em pratos que rivalizam com restaurante “fast food” (ou eu posso chamar de “speed food”), as salas contiguas levam a filas enormes que se misturam e se bifurcam entre as direcionadas às bilheterias e às portas de entrada, e ainda por cima há um data show projetando comerciais antes dos trailers(um monte deles) que primam pelo mau gosto. Em casa o DVD traz cinema que se quer (a Imovision chega a ter o slogan”Você leva para casa o filme que você gosta”- certamente um auto-elogio maroto, extremamente discutível) e quem tem aparelho de televisão de mais de 40 polegadas pode ver o que quer no enquadramento original desde que não se limite às legendas que idiotas colocam muito abaixo do quadro, numa faixa preta (nada a ver com arte marcial). O processo é tão convidativo que se você quiser interromper a sessão para comer, beber ou visitar o sanitário pode apertar numa tecla que todo o elenco do filme fica esperando diretinho sem reclamos.
Lembro sempre do meu Cine Bandeirante, projetando filme de 16mm, levando para a garagem de casa os clássicos esquecidos dos exibidores comerciais. Engraçado é que as cópias destinavam-se às salas interioranas, obviamente também comerciais. Mas havia uma triagem mais lisonjeira com relação à Inteligência da platéia. Essa escola de cinema foi a minha, ao lado da leitura especifica e do treino com filmadora. Hoje eu posso reclamar do “conforto” do cinema servido como dependência de um centro de compras. Ali você adquire numa livraria um DVD de filme “de arte” e paga para ver filme migrado de vídeo-game. É o tempo moderno que Chaplin abordou no apertar de parafusos. E o que se deve fazer para não se desatualizar, ou virar tatu com o focinho enterrado, é fazer das tripas coração e enfrentar a fera. Eu enfrentei de forma explicita no domingo em que fui ver os X-Men. Lembrei dos gorilas do tempo de ditadura. Acontece.O passado sempre aflora quando se soltam os cães interiores de certas pessoas.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Antes da Árvore Crescer

Todos sabem que o norte-americano adora resumos. Tem preguiça de escrever e ler muito. Criou o “Reader’s Digest” o Twitter, o Facebook e outros meios de sintetizar o que quer dizer. O problema é que não são hábeis em sínteses. Geralmente escrevem em poucas linhas o que os gastrenterologistas chamam de “fezes caprinas”(o cocô de cabra). E é até bom que assim seja. Escrever muito sobre filmes como “Se Beber não Case 2” é bradar no deserto. Apesar da critica oficial estadunidense ter caído de sola na seqüência das palhaçadas dos amigos milionários ela rendeu o bastante para encabeçar o box-office da semana de seu lançamento. A certeza de outro casamento no próximo ano com outra bebedeira dos personagens (e dos realizadores).O público parece gostar do pior.
Enquanto os cinemas lotam para ver “Se Beber não Case 2”, “Piratas do Caribe 4”, “O Noivo de Minha Melhor Amiga”, “Velozes e Furiosos 5”, resta uma interrogação se vai se ver em tela grande, nesta Belém de cinepolos e movicachorros, digo movicães,”A Arvore da Vida”, o novo filme de Terrence Malick, uma cabeça-pensante nos EUA que faz cinema de forma bissexta mas geralmente acerta.
Malick é um intelectual que foge das badalações comuns aos “astros”da industria cinematográfica. Tanto que não foi a Cannes segurar a sua Palma de Ouro. É um Woody Allen aprimorado. Quero muito ver seu filme. Nem que seja através de uma “baixa” na internet . Ruim é perder. Sei que faz falta passar por cima desta realização que vislumbra o nascimento do universo como forma de chegar ao núcleo do homem. Lembra os macacos de Kubrick no “2001”. E há quem compare os filmes.
Às vezes sinto-me feliz de não ter mais obrigação de escrever sobre filmes, diariamente, para jornais. Tenho “A Voz de Nazaré” mas isto é especial, atendo a amigos religiosos. E tenho o blog. Detesto twitter e facebook. Mesmo assim sou relapso com o blog por falta de motivação. Penso que estou entrando no esquema do texto frio que critiquei acima. Enfim, é o modo de saudar ou protestar. Hoje protesto por antecipação. Sei que vai ser difícil estrear aqui “A Arvore da Vida”. Lamento mais esta prova de desmatamento. O pior: desmatamento intelectual, deixando de saldo o deserto da burrice. Se estou enganado farei um texto para pedir penico. Vazio.