terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Bandeirante 62 anos


Foi em 26 de fevereiro de 1950 que inaugurei o Cine Bandeirante. Explico: tinha chegado de minha primeira viagem de avião, vindo no Constelation da Panair do Brasil do Rio de Janeiro onde passei dois meses com meus pais e minha madrinha. Trazia um projetor sonoro 16mm de marca Revere, presente de meu pai para que eu aturasse a vida na casa de meu tio, cenário que não casava de forma alguma com meu jeito de ser.

Logo em casa, às 4 da manhã, botava o projetor para funcionar exibindo um documentário do carnaval carioca desse ano. Mais tarde passei a alugar filmes de longa metragem editados na bitola, comércio efetuado pela firma F.Aguiar onde atuava como diretor um vizinho do Mosqueiro e amigo da família: Argemiro Tobias.

O primeiro longa a passar no Bandeirante (ah sim, o nome se deve ao pioneirismo no circuito domestico e pelo fato de eu ter viajado num avião da chamada Frota Bandeirante) foi “Um Rival nas Alturas”da Metro, com Heddy Lamar e William Powell. Meus vizinhos compareceram em massa à primeira sessão. E daí em diante fui exibindo o que desse das empresas contratadas pela F.Aguiar como a RKO (ligada a RCA que ela representava) e mais tarde Art Filmes. Passando os anos fui descobrindo outras fontes de distribuição, como exibidores do interior do estado, e programei Warner, Columbia e independentes, só faltando Fox e United, a primeira chegando quando a empresa exibidora Severiano Ribeiro aderiu à bitola menor(nos cinemas comerciais usava-se 35mm).

O Bandeirante foi o meu maior aprendizado de cinema. Via de tudo. Quando surgiu o primeiro cineclube da cidade (“Os Espectadores” em 1955) as sessões experimentais eram no Band, com a presença do diretor do clube, Orlando Costa, e quem fosse designado para apresentar o filme na sede da Sociedade Artística Internacional onde funcionava a exibição.

Tudo funcionava na garagem de casa. Os carros ficavam de fora e como eu não sabia dirigir seguia o incomodo para meu pai, meu irmão ou um motorista ligado à família.Só muito epois me dei conta desse incomodo. Mas foi vendo cinema que aprendi muito na vida. Muito de tudo. E o aprendizado se fez em todas as formas, vendo do bom e do ruim e logo também filmando(sempre em 16mm), usando raciocínio de quem vê muito cinema para efetuara edição na hora da filmagem posto que usava filme positivo (o normal seria negativo para fazer copião e editar). Aprendi fotografia “na marra”. E fui lendo historia do cinema para não alugar gato por lebre.

O Bandeirante acompanhou minha juventude. Durou exatamente 34 anos. Em 1984 a casa da família estava à venda posto que os donos já se tinham ido desta vida.  A ultima sessão foi num espaço molhado, com filmes caseiros. Triste.

Hoje vejo filmes em TV. Compro e gravo DVD & Bluray. Meu Bandeirante 2 tem pouca plateia e muitas vezes sou o único espectador, adormecendo em meio às  estrelas.

Gosto muito de cinema. Viajo através dele e por isso pouco saio de minhas dependências. E não tenho sequer curiosidade de ver além.A única saída é para a velha casa na praia do Farol, na ilha do Mosqueiro, onde também vivi meus verdes anos.

Hoje comemoro com uma festa intima, temperada de saudade, o cineminha de garagem que me fazia feliz. E era interessante como eu fazia os programas e distribuía na vizinhança. Cobrava ingresso para poder alugar os filmes. Todos queriam pagar porque queriam ver os programas. Nunca se pensou que se estava fazendo historia. Mas estava. Muitos espectadores viraram cineastas ou escritores & poetas que botaram o Bandeirante em suas matérias.

Um tempo.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Filmes de Fatos Reais


“Caçadores de Obras Primas”(The Monument Men) baseia-se em fatos reais. Civis norte-americanos são guinados a militares na busca de pinturas e esculturas levadas de diversas cidades europeias para a Alemanha nazista. Sabe-se que Hitler desejara ser pintor e ao mostrar um de seus quadros a um professor da escola que desejava cursar ouviu deste a sentença:”-Você pode ser um grande pintor...de parede”. Daí duas formas de ódio: aos artistas consagrados, que desejaria ver confinados ao futuro Museu do Reich, e à arte moderna, que não via significado em “rabiscos”.

O filme baseia-se no livro de Robert Edsen e ganhou roteiro do produtor-diretor e ator George Clooney e de seu parceiro habitual Grant Heslow. Mas o que poderia ser um relato histórico muito interessante ou uma aventura de suspense garantido acabou saindo um relato fragmentado, com os heróis entrando e saindo de palcos dos acontecimentos sem um embasamento que sequer lhes pinte de forma a sensibilizar as plateias com o que fazem, deixando que as pessoas se impacientem com a metragem acima do normal.

É o pior filme de Clooney. E com um tema dos melhores. Valeu foi o elenco,com Matt Dammon, Bill Muray, Jean Dujardin, John Goodman, Bob Balaban e até Cate Blanchett numa ponta que se insere na trama mais para não deixar de fora o elemento feminino.

Deu para eu olhar no relógio em meio a projeção. Sinal de que estava pedindo pelo fim.

Bom é “Clube de Compras Dallas”(Dallas Buyers Club) o filme que candidata o ator Matthew McConaughey ao Oscar(e aposto nele). Bem narrado pelo canadense Jean Marc Vallée trata de um vaqueiro & eletricista com AIDS que decide desobedecer ao prognostico do medico que lhe deu apenas 30 dias de vida. Adquire por trás das autoridades o remédio experimental (o hoje famoso AZT), chega a contrabandear a droga e vende-la aos que pagam por isso, e não deixa de praticar o que lhe possa ter causado a virose: drogas e sexo sem cuidados.

Matthew tem um senhor desempenho. Emagreceu para fazer o papel. Está longa do namorado boa pinta de Jodie Foster em “Contato”. E o filme sensibiliza a todos, começando e terminando com planos dos bastidores de um rodeio, no começo vendo o tipo fazendo sexo e no último acenando montado num touro. Uma pontuação que diz da teimosia do homem pela continuidade da vida. O tema que se ampara numa historia real.

               O filme foi lançado em Belém numa sala distante e em horário noturno. Um mau negócio pois teria mais plateia no centro.Realmente não se entende o critério da exibição em apostar sempre numa hegemonia de mediocridade da plateia.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Escravidão


A escravidão é um exemplo de bestialidade, de como se desrespeita o próximo. Muitos filmes a focalizaram, até o nosso “Sinhá Moça”(1954)      que eu acho uma das melhores coisas saídas da Vera Cruz(SP). Agora chega este “12 Anos de Escravidão”(12 Years Slave) dirigido por um negro que tem o nome de um ato branco já falecido, Steve McQueen. O foco é um homem livre,casado, com filhos, vivendo relativamente bem em Nova York, quando em uma viagem ao sul do país é agarrado como escravo e passa anos numa fazenda sofrendo o diabo.Claro que o tempo da ação é anterior ao ato de Lincoln que libertou os escravos e por isso foi assassinado.          

               O filme impressiona muito, quer pela narrativa coesa, que não desperdiça sequencias, como pelos atores, todos muito bem dirigidos. Eu não vou colocá-lo na minha lixeira mental, hoje cheia de tantas realizações cinematográficas não marcantes mesmo satisfatoriamente realizadas. É meu candidato aos  Oscar que estão chegando(escrevo no dia 19/2).

              

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Shirley e Virginia


Quando eu era criança aplaudia de coração a postura de Shirley Temple, uma linda menina de cabelos cacheados que cantava, dançava e encantava nos melodramas musicais da 20 Century Fox. Era a queridinha do dono da casa, Darryl F. Zanuck, e de tal forma que ele negou a Metro que a usasse em “O Mágico de Oz”(1939) abrindo caminho para a já madura Judy Garland.

               Shirley, como quase toda criança-prodigio das telas, perdeu status com a idade. Namorada do ex-soldado e ator John Agar fez com ele o western de John Ford “Forte Apache”. O casamento dos dois não deu certo nem profissionalmente. Shirley casou de novo e entrou no mundo da diplomacia. Trabalhou para a ONU. E a sua coragem também se mostrou ao derrotar um câncer no seio em época difícil para diagnostico precoce e tratamento.

               Hoje, aos 85, ela se vai. E no mesmo dia em que morreu por aqui pelo Brasil a vedete Virginia Lane, uma estrela que eu vi de perto no Teatro Coliseu ,na Festa de Nazaré, desfilando numa passarela que ia do palco a ultima fila de poltronas, trajando um biquíni com lantejoulas que brilhavam quando se apagava a luz do salão. Era um delírio erótico. E a marcha “Sassaricando” chegou a se desaconselhadas ou mesmo proibida pelos puritanos de plantão. Os hipocritas que na mesma época vetaram outra marcha carnavalesca: “A Voltinha na Maça”.

               Virginia foi querida de Getulio Vargas, o presidente que lhe deu o nome de “Vedete do Brasil”. Foi o ícone de um tempo. Hoje, com mais de 90 anos vividos, também se foi.

               Muitas figuras queridas de anos passados transformam-se em  silhuetas na paisagem e a gente sabe por isso que também assume a postura da velhice. O bom é vencer os anos com o organismo funcionando a partir de neurônios resistentes. Mas é melancólico saber das estrelas que se seguem o destino de meteoros, cortando o espaço.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Fassbinder & Vampiros


As tantas criticas encontradas no imdb sobre “O Mundo por um Fio” de Fassbinder(1973) esquecem “Vampiros de Almas”de Don Siegel (1956). O filme alemão, com base em um livro de Daniel F.Galoy, só faz trocar os seres de outro planeta que assumem os corpos das pessoas por um computador que passa a dominá-las. Como o livro e filme (para a TV) vieram depois, penso na influencia da Jack Finney que escreveu “Vampiros...”para Collier’s Magazine.

O filme de Fassbinder traz muito de cinema sobre a telinha. Reparem os travelling. Geniais. Mas há alguma barafunda na trama que na verdade critica a coisificação do homem. E o que salta agora é o fator tempo.Em 1973 computador ainda era bicho de sete cabeças. Agora qualquer moleque maneja lap e celular cada vez travestido de lap. O futuro é sempre o maior inimigo das sci-fi. Quando eu lembro da Pan Am em “2001” sinto pena(a empresa faliu). O melhor filme do gênero que gosto a me enroscar tem esse pecado. Assim como a ação no ano que hoje é passado distante. E a lua ficou abandonada pelo fim da guerra fria...

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Cinema a nu


Sou do tempo em que era ousadia mulher se despir diante das câmeras em produção cinematográfica comercial. Lembro de que fui barrado (mas acabei furando) numa sessão de um filme em que a atriz Françoise Arnoul(ainda viva e ativa aos 82 anos) aparecia de calcinha e em um momento a objetiva levantava e se via que ela estava também sem sutiã.  O filme se chamava “Tormentos do Desejo”(L’Épave), de 1949, dirigido por Willie Rozier. Lembro é da musica que se cantava “Perucha(a personagem dela) fille de la nuit/bien que predit la gitane/ um homme mourir d’amour...”).
Hoje a nudez em cinema é comum. Assim como os namoros passam de um beijo em close para uma sequencia de cama. O fascínio do sexo em segredo virou lugar comum. Mas eu nunca tinha visto em tela grande sexo entre mulheres. Vi agora em “Azul é a Cor Mais Quente”(La Vie D’Adele). E uma das parceiras é linda: Adéle Exerchopoulos, filha de gregos e com uma carreira promissora apesar do escândalo que despertou no Festival de Cannes onde o filme mostrou que Steven Spielberg, presidente do júri, não é moralista como se pode pensar(e pensavam).
               O diretor tunisiano Abdellatif Kechiche, que eu já conhecia de “ Esquiva”, “O Segredo do Grão” e “A Venus Negra”, ousou e deu certo. Mas não ousou à toa. Tratou não apenas de um caso de homossexualidade. Foi fundo na solidão que cerca duas mulheres, mesmo que a idade não aparente ser um tempo propicio a isso. A Adele do titulo não se entrosa com amigas/colegas. Gostar de uma mulher madura é uma opção de expandir sua necessidade de amar. Emma (Lea Seydoux , neta de um pioneiro da Pathé, empresa de cinema francês e uma das primeiras no mundo) já vê a dificuldade de relacionamento de outro modo. Está mais perto do quadro típico de solitária. As duas se entendem e se amam. O que o diretor escorrega é na prolixidade das sequencias de sexo. Não havia necessidade de tanto para medir o que as personagens sentem (e fazem). A prolixidade desequilibra o ritmo e o filme se estica demais(quase 3 horas). Mas é um exercício de cinema introspectivo muito interessante.
               Sexo explicito se acha também em “O Lobo de Wall Street”. O veterano Martin Scorsese, uma das pessoas que mais ama cinema nos EUA (ele é quem está remasterizando filmes em vias de extinção), lembra o colega Stanley Kubrick na sequencia em que varias pessoas fazem sexo num salão(“De Olhos Bem Fechados”). Mas isso não devia faltar na pintura da orgia que cerca os tipos de corretores ilícitos. O filme é bom e Leonardo diCaprio dá um banho de interpretação. Pena que este ano ele perca (talvez seu Oscar)para Matthew McConaughey em “Clube de Compras Dallas”.Por sinal que este ator rouba “O Lobo...” no pouco que aparece contracenando com DiCaprio. Emagreceu e cresceu. Está longe de bobagens que andou fazendo e até mesmo do namorado de Jodie Foster em “Contato”(filme que particularmente eu gosto e até mais do que o livro original de Carl Sagan).
               O cinema moderno nada esconde. Se por bem ou por mal depende dos argumentos filmados.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Disney e Mary Poppins


               Não sabia da batlha que foi a concessão de direito para Walt Disney filmar “Mary Poppins”.O filme “Walt Disney nos Bastidores de Mary Poppins” com base no livro de P. Travers(morta em 1996 aos 96 anos)  conta isso. Curioso é que Disney morreu aos 65 também em 1996 (ela em abril ele em dezembro). O que eu sabia é que o filme pegou Julie Andrews por seu papel no teatro por “My Fair Lady”. A atriz não era conhecida e por isso Jack Warner preferiu botar no seu “My Fair...” a famosa Audrey Hepburn dublada. Julie ganharia o Oscar por Mary e Audrey passou longe...

               O filme de John Lee Hancock que está chegando aos cinemas e é candidato pela musica devia ser pela atriz Emma Thompson (sensacional) que esteve assim no Globo de Ouro. Bem,é um filme sempre cativante embora sem muito cinema-arte. É produto para o fã. Tomara que os nossos cines de shopping o abrigue. E com as vozes de Emma e Tom Hanks como Disney,