quinta-feira, 30 de junho de 2016

A Onda

Não entendo como um “desastre movie” como “A Onda”(Bolgen) tenha ficado inédito nos cinemas comerciais locais mesmo sendo distribuído por firma nacional. De produção norueguesa o filme, dirigido por Roar Lithaug de um roteiro de  John Käre Raaske e Harakd Rosenkiw, é muito simples como trama, seguindo mesmo o modelo de Hollywood: um deslizamento de montanha no interior da Noruega leva a um tsunami e um geólogo que havia previsto o  acidente desdobra-se para salvar a família(filha pequena, um adolescente e a mulher que é recepcionista em um hotel quase sempre lotado de turistas).
                Os efeitos especiais não devem aos congêneres americanos. Mas os atores convencem, a paisagem local é muito  bonita, e a narrativa sabe usar da métrica tradicional com uma edição competente.

                Vi o filme em dvd e confesso que captou minha atenção em seus 105 minutos. Creio que não usou a 3d mas provou que isso não importa quando se trabalha imagens corretamente no conceito de espetáculo. Salta o enredo familiar, ressaltando a ligação afetiva das personagens. E sem melodrama. É cinema de bom nível no esquema popular. Mesmo assim a exibição comercial por aqui foi limitada. Faltou o impulso dos grandes estúdios ianques.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Lembrando os Cinemas i e II

                Em 28 de junho de 1979 os cinemas I e II abriam suas portas. Alexandrino Moreira realizava um velho sonho, ele que na juventude foi projecionista do único cinema de sua terra natal, Itaúna(MG),e locutor de radio com programa dedicado a cinema(além de levar atores & cantores ao interior mineiro). Eu o acompanhei e o estimulava, pois na época mantinha um cineclube que atuava simultaneamente no Cine Guajará (Base Naval), Grêmio Literário Português (ambos com películas de 35mm) e auditório do Curso de Odontologia da UFPa(16mm).
                A meta era trazer filmes de qualidade artística. Daí a empresa criada para administrar as casas chamar-se Cinema de Arte do Pará Ltda. O sucesso foi tanto que seguiu-se o Cinema 3 em 1989, duas salas no shpping Castanheira(as primeiras de shopping em Belém) e duas no espaço Doca (hoje shopping).
                O Cinema 1 inaugurou com “Chuvas de Verão”, drama de Carlos (Cacá) Diegues. O cineasta veio à Belém com om roteirista Lepoldo Serran, tomar parte na festividade de abertura. O Cinema 2 contou com “Dersu Uzala” de Akira Kurosawa.
                Eu programei os cinemas por mais de dois anos. Inclusive fazendo a publicidade para jornal. Mas não se podia alimentar aqueles espaços só com os clássicos de cineclube. Fechou-se contrato com a Columbia Pictures que na época saíra do concorrente Severiano Ribeiro. Mesmo assim havia brecha para obras raras de distribuidoras que não atingiam o Pará como a Sul  e a Franco-Brasileira.
                Os cinemas continuaram com a Cinema de Arte até o final do século  quando a forte concorrência e a chegada de empresas nacionais como a Moviecom, forçaram o encerramento das atividades.
                Ah sim: ainda existiu a locadora de vídeo Cinema IV, que Marco Antonio Moreira, filho de Alexandrino, passou a dirigir com a sua irmã Sandra.

                Hoje a lembrança desse tempo é banhada de saudade. Mas ainda estamos ativos, mesmo com AGM (como Alexandrino se assinava) em outra vida. Cinema, afinal, corre nas veias. De minha parte é a vez do “Monstro” que cito no livro de memorias “O Médico Direito e o Monstro Cinematográfico” a ser lançado em agosto.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

O Amigo Hindu

Plenamente compreensível o fracasso das exibições locais de “Meu Amigo Hindu”(2015) o filme de Hector Babenco. Só agora tive acesso a ele em cópia dvd. O roteiro é uma espécie de expiação do sofrimento que o cineasta sofreu com sua doença e tratamento. Portador de um linfoma, teve de fazer implante de medula óssea apelando para um irmão doador com quem não mantinha boa relação. E o longo trajeto entre hospital e espaço de convalescência, evidenciando o desnível na relação sexual, além da forte impressão de que caminhava para a morte, ganha a correspondência em imagens apoiando-se especialmente no ator Willem Dafoe, realmente bem colocado no que se exige do tipo.
Mas o filme é excessivamente particular, e as prioridades de lembranças seguem não o quadro clinico, mas o afetivo, tentando expor os sentimentos do enfermo, não oferecem embasamento para uma trama de cinema comercial. Nem chega perto do esboço da incomunicabilidade pintado por Antonioni em seus filmes mais festejados. Até mesmo a inclusão de uma figura que representa um enviado da morte(papel do ator Selton Mello), passa sem profundidade.
“Meu Amigo Hindu”é tão carente que o próprio titulo, com base em um menino que o doente vem a conhecer e que faz de confidente, não ganha a profundidade capaz de justificar a eleição de melhor lembrança.
Babenco é um argentino naturalizado brasileiro que entre nós fez bons filmes. Seu “Carandiru” saiu agora em nova edição dvd. Refeito do câncer, tenta a volta por trás das câmeras com muita pretensão. É compreensível o seu trabalho e sua sinceridade. Mas não comunica. Nem com os críticos que pedem cinema profundo sem exceção. Creio que dito assim compreendo o motivo de poucos espectadores por aqui no “Estação” e mesmo assim abandonando a sala antes do final ou saindo comentando a “chatice”.

Nem sempre apenas o que se sente possa ganhar filme. Há de se notar o que os outros também sintam.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

30 Anos do Cine Libero Luxardo

                Eu fui o primeiro programador do cinema Libero Luxardo(Centur). Na época era médico da Secretaria de Saúde e fui emprestado para a Secretaria de Cultura. Lembro de que a sala inaugurou com um documentário sobre Tancredo Neves politico que deu nome ao espaço cultural. O nome da sala para exibição de filmes (e também teatro) veio do então Secretario de Cultura, Acyr Castro. Como nesse tempo(1986) eu ainda mantinha o CineClube APCC que atuava simultaneamente no Cine Guajará da Base Naval, Grêmio Português e auditório do Curso de Odontologia da UFPa, conseguia bons contatos com as distribuidoras de filmes. Não existia dvd,  engatinhavam as fitas vhs, e projeção digital era ficção cientifica. Pagava frete de filmes em 35mm . Às vezes o frete aéreo era mais caro do que o aluguel do filme., Mas como eu tinha credito nas filiais de distribuição e ainda mantinha coluna e pagina de cinema, dava para manter sessões cineclubinas que normalmente saiam de meu bolso. Programando o Libero, arrisquei meu prestigio, pois o pagamento das faturas era burocrático, atrasava e ainda tinha de cancelar títulos que entravam na programação de peças teatrais, fato que me fez renunciar a tarefa de programador dois anos depois.
                Lembro de muitos filmes exibidos nos primeiros anos. Conseguia copias que as salas comerciais não queriam, como “Crimes e Pecados” de Woody Allen, e conseguia mostras de diversos países, a exemplo de uma da Polônia que contou com a presença do adido cultural da embaixada daquele país chamado Eugeniusz Zadusrski.
                Bem, dos meus anos programando o cineminha que levou o nome de uma pessoa que eu conheci de perto, lembro com emoção momentos como um festival da Atlântida que consegui diretamente com Severiano Ribeiro em raras copias de 35mm. A abertura com uma palestra de Olavo Lira Maia, que foi Secretario de Cultura e amigo da família de Oscarito, foi sensacional. Um grupo de teatro armou a cena de um carnaval atirando no publico confete e serpentina.
                Exibi raridades como “Berlim Alexanderplatz” de Fassbinder, dividido em partes que cobriam mais de 8 horas. E atendendo a estudantes, programava filmes de livros solicitados no exame vestibular como “Menino de Engenho”e “Capitu”. Era tanta gente que houve um acidente quebrando-se a porta de entrada.
                Hoje a sala comemora 30 anos. O programa que recebi não é nem de longe o que se mostrou. Penso que do grupo só estão “Vá e Veja” e “Morte em Veneza”. Mas é certo que se deve passar coisas novas. Vale o esforço mas vale principalmente a programação de rotina que traz o que as nossas salas comerciais desprezam. Agora com projetor digital a locação é mais tranquila embora as distribuidoras, sempre ávidas por lucro, cobrem uma garantia mínima da venda de ingresso que muitas vezes só se paga com dinheiro da casa. Enfim, é o espaço de cinema-cultura que a não chega às salas de shopping, cada vez maiores em numero e sempre lembrando onde estão, ou seja,um detalhe de consumo, ou um parque de diversões.

                Luxardo ficaria satisfeito vendo o cinema que leva o seu nome persistindo por 30 anos. Que somem outros tantos e tantos são os meus votos.  

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Chanchada Espacial

                Saiu no mercado brasileiro de dvd a comédia “Moonwalker”, na verdade uma chanchada que só é curiosa por advogar a historia de que a missão da Apollo 11 foi “chute” tendo sido filmada em estúdio e pelo cineasta Stanley Kubrick que pouco antes havia feito “2001 Uma Odisséia no Espaço”.
                No roteiro do inglês Dean Craig (de “Morten no funeral”e “Depois dos 30”), uma banda de rock, necessitada de verba para se manter, aceita a tarefa de arranjar um sósia de Kubrick e trabalhar na falsa aventura espacial, naturalmente com ordem do grande diretor que morava na Inglaterra.
                A trama que joga duvida sobre o primeiro voo do homem à lua surgiu pouco depois do fato. Por Kubrick ter mostrado uma lua verossímil no seu clássico do mesmo ano da viagem de Armstrong & colegas, ganhou a primazia de ser mencionado como o “autor” de uma grande farsa. Pergunta-se: e as outras missões Apollo, inclusive aquela que levou um jipe ao nosso satélite natural? E o drama da Apollo l3 que chegou a dar um bom filme de Ron Howard ?

                O diretor de “Moonwalker”, Antoine Bardou-Jacquet só tem credito em um curta metragem anterior. A sua ficha no imdb não dá nem a sua naturalidade. Será que ele próprio é uma fantasia dos Pinóquio de plantão? O filme não chegou aos nossos cinemas e foi feito na França. Tem furos homéricos como um pôster na sala do roqueiro datado de 1976 quando a ação de faz em 1968. Mas a comédia existe na própria mentira. Kubrick deve ter tido conhecimento da farsa e ao que se presume, riu e calou. Chanchada espacial nem melhor foi o nosso “O Homem do Sputnik”(1959) com Oscarito.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Invocação do Mal 2

James Wan é um cineasta relativamente jovem(39 anos) nascido na Malásia e criado na Austrália. Quando desejou fazer cinema pensou em filmar seus próprios sonhos. E a julgar pelo que já fez eram pesadelos. O pai morreu quando ele tinha 14 anos e parece que o fato levou-o a esses devaneios macabros.
Eu confesso que de seus 11 filmes já dirigidos só vi um: “Jogos Mortais”, primeiro de uma franquia que ele depois só produziria para faturar(e faturou). Vi agora “Invocação do Mal 2”e do primeiro do que pode ser (e será a julgar por um titulo em andamento) um apanhado do caso de Amityville, filmado muitas vezes, só ouvi falar.
O novo filme leva as personagens do anterior para a Inglaterra onde vão tratar de um fenômeno semelhante(casa mal assombrada). Basicamente é um replay do assunto. Uma garotinha é alvo de assédio de um espirito que os “caça fantasmas” americanos chamam, da mesma forma que o sacerdote local, de demônio.
Os interpretes capricham, especialmente a menina Madison Wolf que faz  Janet Hodson a possuidora. Mas apesar de bons momentos, de uma linguagem linear competente, o filme é seduzido por aqueles acordes na trilha sonora que pretendem (e o fazem)assustar a plateia. Para cada intervenção do fantasma há um som bem alto que em si assusta. Se o projeto não fosse apenas comercial, cortaria isso como diminuiria detalhes da investigação do ianque Ed(Patrick Wilson), colocada na tela com o pressagio da mulher dele, papel defendido por Vera Farmiga, de que morreria em ação (o publico fica torcendo ainda mais pelo mocinho em perigo). Mas “Inovação 2”, na onda do “1”, é mesmo um motivo para o espectador soltar gritinhos no cinema. E na minha sessão(lotada) não só houve isso como aplausos quando a projeção estava acabando e na tela surgiam os tipos que seriam os “reais” da trama.

                Numa época em que os cartazes comerciais vivem de blockbuster e refilmagens de coisas que começaram mal, o filme de James Wan até que vale a saída de casa. E para quem viveu um heroico passado de cinemas de rua isso é um sacrifício. Ver sem pestanejar um longa metragem de mais de 2 horas é elogio.  

terça-feira, 14 de junho de 2016

Festival de Terror

                Quem tem medo em cinema? Os chamados “filmes de terror” possuem publico desde que a “cena era muda”. Afinal de que se valia o expressionismo alemão além do fato de pressagiar o nazismo com o seu Caligari ?Hoje o nosso Olympia vai passar 6 filmes do gênero escolhidos entre os que amedrontaram espectadores. Eu confesso que temi “O Solar das Almas Perdidas”quando exibi a cópia 16mm no meu Bandeirante. A sequencia final, com Ray Milland atirando um castiçal sobre um espirito que se materializava na escada onde morava a filha (Gail Russel) desse espirito , realmente impressionava. Lewis Allen, o diretor,fez 63 filmes, muitos para a TV (de onde saiu seu único premio, o Emy). Focalizava uma jovem herdeira perseguida pelas almas da madrasta em luta contra a de sua mãe. Dois fantasmas reconhecidos pelo perfume que exalavam. Bom trabalho de uma esquipe capaz. Tanto que pode ser visto hoje depois de 72 anos de edição.
                Mas as minha filhas ainda não podem ouvir a musica dos coveiros em “Obsessão Macabra” um dos melhores filmes que o produtor-diretor Roger Corman fez com base em textos de Edgar Allan Poe. O original literário consome menos de duas paginas. Poe contava o horror de um homem que sabia possui a herança genética de catalepsia e tinha certeza de que seria sepultado vivo. Por isso construíra em sua casa um mausoléu com o necessário para fugir dali ao despertar do que se assemelhava o “sono eterno”. Só que a mulher dele, ambiciosa, enterrou-o longe para garantir a herança. E o homem despertava na cova e fugia para se vingar.  Ray Milland mais uma vez era veiculo de pavor.E a direção de arte que presidia a serie que Corman fez baseada em Poe deu o recado pretendido.
                “A Aldeia dos Amaldiçoados” a gente consumiu como ficção cientifica. Ets surgiam no ventre de mulheres de uma aldeia inglesa. Todos nasciam no mesmo dia e eram parecidos como gêmeos univitelinos. Andavam juntos e matavam quem os contrariasse. Um professor idoso que sabia ser impossível sua esposa ter engravidado por sexo com ele, assume a luta contra esses meninos diabólicos e a sequencia em uma sala de aula onde ele colocou uma bomba é clássica.
                O diretor Wolf Rilla era alemão e fez poucos filmes,notabilizando-se com este que seguia um livro de John Wyndham. Ele próprio figurou entre os roteiristas. E trabalhou muito bem o que tinha em mãos. Tudo funciona dando margem ao ultimo bom papel do veterano George Sanders.
                A mostra tem ainda homenagem a serie de terror produzida por Val Lewton para a RKO nos anos 40. “A Maldição do Sangue de Pantera”, sequencia de um sucesso dirigido por Jacques Tourneur, dava chance ao jovem editor da empresa, Robert Wise, conhecido por ter montado “Cidadão Kane” e alvo da briga com Orson Welles por encurtar, seguindo ordem do estúdio, “Soberba”, do mesmo diretor. Wise ganharia fama em diversos gêneros e neste pequeno ensaio de 1944 mostrava Simon Simon como  fantasma da mae da menina protagonista. Impressiona até hoje.
                Da mesma fonte é “A Morta Viva” que em Belém ganhou propaganda sui-generis, com horários próprios para quem tivesse medo. Um caso de vodu, feitiço havaiano que impedia a morte da personagem deixando-a em coma e ainda assim vagante pelas imediações. A direção é de Tourneur.
                Finalmente um terror relativamente novo: “A Tortura do Medo”. O produtor e diretor inglês Michael Powell (de “Os Sapatinhos Vermelhos” e quem bancou “O Fim do Rio” filme feito no Pará com Sabu e a então jovem Bibi Ferreira) narrava a ação de um fotografo maluco que desejava registrar o terror da morte acionando uma arma na câmera para gravar a face de quem sentia o potencial do medo. Karlheinz Bohm, o príncipe da série Sissi, fazia o doido.Por sinal que ele morreu em 2014 com 86 anos.
                Um senhor programa.