sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Vendo em casa

Três amigos decidem visitar um bordel espanhol. Eles moram na Bélgica, são filhos de classe média e, portanto podem pagar a passagem para o país que oferece pela Internet como as delicias do comercio do sexo. O problema é que um é tetraplégico, outro cego e outro paraplégico devido a um tumor canceroso em atividade. “Hasta la Vista”(Belgica/Alemanha 2009)é escrito por Pierre Declercq é vendido como uma comédia. E os personagens esforçam-se para dar esse tom. Mas em meio à viagem que pode ser a última pelo menos para um deles, é muito dramática para sustentar o riso. E como os atores são bons, a direção afiada e o roteiro linear, a troca de emoções é um desafio. Nada de obra-prima, mas um filme a ser conferido. Evidentemente não passou nos cinemas de Belém. Outro titulo que vi só em DVD chama-se “Diário de um Jornalista Bêbado” . Johnny Depp dá o recado: um homem de jornal em crise, tentando os pés num periódico em falência na Porto Rico dos anos 60, ele, jornalista que gosta de uísque, cismado com a gana dos capitalistas norte-americanos em tomar conta de(e destruir) uma bela praia. O diretor e roteirista (baseado em um livro de Hunter S.Thompson) é Bruce Robinson, ator de 17 filmes tendo começado como o Benvolio de “Romeu e Julieta”de Franco Zeffirelli. Uma amostragem de revolta e apego profissional que não amadurece, mas, ainda assim, entra no estreito rol dos filmes engajados – e não apenas do grupo que se faz para se esquecer à saída do cinema. Também não chegou à nossa Belém. E pudera: até um filme com Clint Estawood ( “Curvas da Vida”) não ganha espaço ocupado por “Amanhecer Parte 2” e outras besteiras. E o melhor: “Moonrise Kingdown” de Wes Anderson, delicada observação de adolescentes experimentando liberdade e amor. Um filme sensível que emociona a todos. Mas os nossos exibidores acham simples demais para quem consome blockbuster. Pode ter sido feito apenas umas 3 ou 4 cópias. Mas na era do digital quem sabe se não existe uma nesse tipo de veiculação de imagens. Se existiu com certeza não se procurou. Esperem o DVD ou façam como eu fiz: vejam em “download”, ou seja, baixando da Internet. A biblioteca de cinema.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Prometheus

Revi “Prometheus” ,agora em DVD. Confesso que aturei melhor o filme de Ridley Scott. O problema é que a gente ao se defrontar com dilemas filosóficos dentro de ficção cientifica é guinado a lembrar o “2001” de Kubrick. Digo Kubrick pois o filme superou o texto de Arthur C.Clarke. Ali o nosso possível ancestral é encontrado, ou nos encontra, e refaz a humanidade produzindo um feto que irá marcar a nova etapa da evolução biológica. No filme de Scott, astronautas chegam a um mundo que foi, pode-se dizer, uma das casas de criaturas que iriam marcar presença na Terra. Há influencia de “2001”. Na primeira sequencia vê-se um homem atlético (ou um mutante) à beira de um abismo, abrindo uma espécie de concha de onde sai uma substancia, ou um ser vivo, que o leva a cair no abismo. No futuro não muito longe (marcam 2069, uma ousadia profética), humanos vão achar numa caverna em um planeta de outro sistema solar as marcas desses seres que nos precederam. Mas sem um robô malévolo como HAL, o filme lança mão de criaturas hibernadas que despertam para eliminar quem as despertou, ou pretendendo estar em tempo de invadir o mundo onde estiveram (e parece terem sido mal recebidos). São os vilões disponíveis. Scott faz uma festa cenográfica com a sua espaçonave. E vai bem na amostragem de seu planeta desértico embora com uma atmosfera acessível ao pessoal da Terra. Não especifica quem é parecido com os seres humanos ou quem lembra o seu alien (do filme “Alien,O Oitavo Passageiro”). Continua tratando da penetração de genes anômalos, no caso uma astronauta que engravida de um colega que já tinha um desses aliens incorporado. Na confusão pensa-se que navegaram pelo espaço grotescas coleções de células e o mais próximo da nossa constituição. Por aí não entra mais Kubrick.A Terra abrigaria monstros em meio a seus “homo sapiens”. Parece dizer que,em tom bíblico, o bem e o mal ganhariam o mundo. Mas a missão de uma astronauta, particularmente, não termina com “Prometehus”(nome da nave). Ela fica no estranho planeta atrás de mais evidencias de quem nos gerou, ou “de onde viemos”. Isto quer dizer que os tipos da caverna extraterrestre não são constituem o nosso “ovo”. Há mais adiante. Certo um novo filme. “Prometheus” é blockbuster e quer sempre se pagar e dar lucro. O tema é explorado como uma aventura nas estrelas sem necessariamente uma guerra (e menos uma fantasia).É um terror que troca fantasmas com avôs de criaturas dignas do dr. Frankenstein. Mas até ai roteiro de Scott é insuficiente: o tipo de Mary Shelley é um castigo religioso. O homem só faz o homem com amor na com pedaços de cadaveres. Isto no século em que viveu a escritora (hoje tem proveta & cultura celular&clones). Na ficção do cinema moderno a mocinha teima em usar um cordão com um crucifixo.Persiste a fé em Deus criador. E continua buscando Adão. Fosse um filme dos Monty Phyton encontraria o Golem. Mas aguardemos. Enquanto não chega o “Prometeus 2” deliciemo-nos com este coquetel de informações apressadas de um cineasta administrador .Pelo menos ele instiga a imaginação.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Noir

O critico francês Nino Frank foi quem primeiro escreveu o termo “film noir”. Seria o filme escuro, geralmente os policiais rodados em preto e branco. A estética derivava do expressionismo alemão e não à toa entre os percussores do gênero estavam cineastas vindos da Alemanha ou da Áustria como Fritz Lang e Billy Wilder. Quando eu comecei a escrever sobre cinema tinha com o exemplo de “noir” aquelas aventuras de detetives tipo Philip Marlowe (concebido por Raymond Chandler). Lia esse tipo de história na revista X-9 e nos “pocket-books”. E via os filmes em que Humprey Bogart, especialmente, andava de capa comprida, chapéu de feltro e cara amarrada. Os noir derivaram do ciclo de gangsteres vindos dos anos 30. Paul Muni foi Al Capone no tempo em que o traficante ainda vivia (“Scarface”). James Cagney moldou muito bem o tipo no soldado vindo da 1ª.Guerra que ficava desempregado e achava o melhor meio de ganhar dinheiro na proibição de bebidas alcoólicas advinda da crise de 1929(“Heróis Esquecidos” é fundamental). Como esses filmes pediam uma fotografia contrastada, e até porque a censura proibida que se visse sangue, a identificação com o expressionismo dos anos 20 levou a que os críticos chamassem a coisa de “negra”. Engraçado foi um que viu nisso a economia de eletricidade usada por Jack Warner na Warner Bros, diminuindo os refletores(spots). Uma revisão dos “noir” vai ser feita hoje no Olympia pela ACCPA. Do grupo de filmes escolhidos eu gosto de “Relíquia Macabra”(ou “Falcão Maltês”),”O Segredo das Joias”(ambos dirigidos por John Huston) e não sei se está “Um Retrato da Mulher” de Fritz Lang. Ah sim, tem o “Laura” de Otto Premminger onde Clifton Webb desafiou a homofobia de Daryl F. Zanuck, o chefão da 20th Century Fox por imposição do diretor. Um grande desempenho que quase dá o Oscar ao ator. Essas mostras que estão sendo apresentadas no nosso cinema-vovô são interessantes para quem gosta e estuda cinema. Eu espero a de ficção cientifica. Acompanhei o gênero desde criança. Vivia no mundo da lua sem a careta edificada por George Mèliés. Durante este programa, a ter lugar em dezembro (desde que o mundo não acabe no dia 21 desse mês), vai figurar um curta que eu fiz: “O Maia Brasileiro”. Vou estar lá.

sábado, 17 de novembro de 2012

Fantasia Romantica

Do muito que tenho visto em DVD destaco “Ruby Spark, A Namorada Perfeita”, comédia de gente que eu não conhecia, a começar com a roteirista e atriz Zoe Kazan neta do famoso cineasta Elia Kazan. A trama lembrou-me alguns filmes como o nacional “A Mulher Invisível” de Claudio Torres.Só que a mocinha desta vez não é deliberadamente uma ilusão. Ela entra na vida do tímido escritor como uma estranha que ele viu num parque e depois na sua própria casa sem pedir licença. Quem é, como foi parar ali, ninguém sabe. E ele ganha uma paixão que lhe dá a Ideia de seu melhor livro. Ela seria a sua musa e um dia vai embora. Ou pode voltar. Fantasia bem cinematográfica e tratada com muito carinho pelos diretores Jonathan Dayton e sua mulher Valerie Faris(dupla de “A Pequena Miss Sunshine”) . O acerto começa com os atores. Paul Dano é o tipo do abobalhado genial e a própria Zoe faz a mocinha enigmática, ou o ideal romântico de quem vive no mundo da lua. Pena que este filme não tenha chegado aos cinemas locais. Mas os cinemas locais radicalizam atualmente o conceito de comércio preferindo os blockbusters que faturam alto nos EUA. Formam um circulo vicioso, pois o povo vai ver o que acha que gosta e não quer mudar de gênero ou ideia. Uma comédia como esta “Ruby Spark”teria plateia. Mas até “Miss Sunshine”, candidato a Oscar, passou longe daqui (só nos alcançou em DVD). Vendo em casa o que me agrada fico preguiçoso. Mas é o jeito. Sair enfrentando a rua surrealista minha vizinha(a Aristides Lobo) que tem dois postes em paralelo na calçada é duro de roer. Que eu ache mais essas namoradas perfeitas como na Hollywood do tempo do avô da atriz-roteirista é um balsamo. O cinema-fantasia que felizmente está sendo relembrado.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Suspense e anemia

“Argo”, o filme de Ben Affleck imprime um suspense de tirar o fôlego. Observei que ninguém deixou a sala de projeção antes do fim. E muitos espectadores não se espreguiçaram nas poltronas: ficaram nas pontas, como quem quer entrar na tela. A primeira sequencia historiando o que aconteceu com a Pérsia (hoje Irã) é didática. Perfeita síntese. Chegando ao domínio dos aiatolás mescla cenas de documentários com o que o diretor criou em locações longe do marco geográfico e no próprio set. Tudo funciona. Só no final escorrega-se por uma sequencia em que o herói chega em casa, beija a mulher que estava na fase do “dar um tempo” e deixa que se veja atrás dele a bandeira americana. Antes disso soube-se que o rapaz não obteve a gloria pelo que fez. Coube aos canadenses. Se recebe algum galardão, este foi escondido. Política internacional. E se tudo o que se mostrou foi verdade quem viu pouco se importou. Afinal, estamos em uma democracia laica, nossas mulheres não cobrem a cabeça, podemos falar de quem quer que seja de boca ou no face-book. Ruim é saber que menininhas fizeram fila à meia noite diante de uma sala de cinema, para ver “Amanhecer Parte 2”. Felizmente o culto ao vampiro na irresponsabilidade da “escritora” Stephanie Meyer, chega ao fim. Não sei como ficam os pais draculinicos de uma garotinha ameaçada pela concorrência. Nem quero saber. Casualmente, no velho Olímpia, passa o Nosferatu de Murnau. Vampiro clássico. Um dos que tomava Puritonico. Não sabem o que é ? Na nossa era do radio tinha um comercial que cantava assim: “O sangue é a vida e o Puritonico é a vida do sangue”. Pois esses galãs vampiricos, devidamente anêmicos (inclusive de ideias) desconhece o remédio. Mas pelo mundo de besteira em torno deles não há remédio que dê jeito.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Contato

Revi, agora em Blu Ray, “Contato”(Contact) que Robert Zemeckis fez do livro de Carl Sagan(1934-1996). De aplaudir. Conheço o livro do astrônomo e apresentador da série “Cosmos”e o que muda mais intensamente é a troca da mãe pelo pai de Eleanor(Jodie Foster). É a mãe que ela vê num espaço intermediário para onde é jogada quando viajando na maquina desenhada pelos habitantes do mundo que orbita a estrela Vega. Mas é o que menos importa. O filme e o livro ultrapassam os limites da sci-fi como o “2001” de Kubrick. Entra a filosofia, e discute-se a presença do ser inteligente no mundo. A começar com a resposta do pai (ou mãe) da principal personagem quando ela pergunta se ele (ela) acredita em vida fora da Terra: “-São tantos mundos no universo que se estamos só é um grande desperdício”. O tema tem coragem de invadir o terreno da fé. Quando Eleanor pede ao teólogo amigo/amante Jess (Mathew McConaughey) uma prova da existência de Deus ele responde perguntando: “-Você amava o se pai?” Ela responde: ”-Amava”. “Então prove”. Sou fã do gênero, antes de ser comentarista de filmes fazia parte da Associação de Amadores de Astronomia, tinha um telescópio mirim e devorava livros e filmes que me lançassem no “mundo da lua’”. Por isso sou um pouco exigente com o tema. Tive um amigo, Helio Titã, que também curtia essas coisas e se dizia coomólogo. Por tudo isso “Contato” sempre me impressionou. E a sacada critica quando o mundo sabe que as imagens vindas do espaço são da própria Terra de anos antes, iniciando com Hitler abrindo as Olimpíadas de 1936, é sensacional. As pessoas reagem de acordo com suas culturas & sensibilidades. É o lado cômico da história, o enfoque da estreiteza mental de tantos. Sagan abria uma brecha no seu ceticismo evocando um cenário que se pode ver como espiritual. Arthur Clarke via dessa forma o encontro com o extraterreno que mobiliava um quarto para o astronauta “se sentir em casa”. Errava no tempo (a decoração era da época de Luis XV). Mas em “Contato”é a mesma forma de não amedrontar o viajante (o “túnel” descrito pela autor pode ser um buraco negro – como pode ser aquela descrição de um quase morto que se vê saindo do plano físico, imagem que alguns interpretam como a memória do feto ao atravessar o canal vaginal da mãe). O que seja é interrogado pela jovem que volta sem ter ido. Ou que foi e não sabe dizer como, onde e o que fez(resta a estática gravada por muitas horas no aparelho que levava para registrar som e imagem). Muito bem dirigido, o filme de Zemeckis é um de meus preferidos. Revejo sempre que posso. Em alta definição de imagem faz a vez do que vi anos atrás em tela grande. Por aí uma (outra) viagem no tempo.