terça-feira, 30 de outubro de 2018

Finados


Dia de Finados (2/11)  no Mexico é uma data festiva. A concepção da morte ganha diferença do luto que cobre civilizações diversas. Lembro de dois filmes que trataram disso: o distante”Macario(Entrevista com a Morte) de Roberto Gavaldón, e o recente “Coco”(Viva a Vida) do estúdio de animação PIXAR.
                Em “Macario” a morte, em forma de homem, serve a um camponês que passa a tratar as pessoas enfermas com a ajuda desse homem que aparece na cabeceira do doente afirmando ou não que aquele corpo está morrendo ou não. Em “Coco” um jovem que deseja tocar violão e a família não deixa, entra no reino dos mortos, conhece um violonista famoso (que se revela um tratante) e consegue mudar conceitos.
                Também há uma concepção de morte diferente em “A Morte Cansada”(Der Müde Tod) de Fritz Lang(1921) onde um ser vivo busca a amada no mundo dos mortos e fica sabendo pela “regente” deste mundo quem vai ou não morrer. No caso não há festa, apenas uma concepção poética do fim da vida a lembrar “Orfeu” que no cinema ganhou uma excelente versão por Jean Cocteau com o seu Jean Marais.
                O cinema realmente venceu a morte. Interpretes de filmes que já se foram do mundo dos vivos surgem esbeltos em nossas telas quando repassamos seus trabalhos gravados em imagens bem delineadas. Eu até costumo pesquisar, depois de ver um filme de certa idade, quem do elenco já não mais está vivo. Há casos interessantes. Outro dia revi “Quem é o Infiel? de Joseph L. Mankiewicz e dos interpretes só Kirk Douglas permanece neste mundo, somando 101 anos(fará 102 em dezembro desde 2018). No caso contei a artista mais nova, Linda Darnell, que morreu cedo(42 anos) num incêndio. Os Lumiére e Edson não devem ter imaginado o quanto fariam gravando as imagens de pessoas diversas. Revejam agora os candidatos a defuntos. Quando muitos de nos já se foram eles devem permanecer nos filmes, bastando para isso que se cuide dos negativos ou diversos tipos de copia
               

terça-feira, 23 de outubro de 2018

O Primeiro Homem na Lua


                “O Primeiro Homem”(First Man on the Moon) impulsionou a carreira do diretor Damien Chazelle, conhecido por “La la Land”, e ainda o ator daquele filme, o hoje muito solicitado Ryan Gosling . Curioso é que o novo trabalho, com roteiro baseado na biografia do astronauta Neil Armstrong, quem chegou à lua na Apollo 11 em 1969, foi produzido por Steven Spielberg que, desta vez, preferiu ficar apenas na executiva do projeto. Mais curioso ainda é que o filme já está na linha dos possíveis candidatos ao próximo Oscar assim como o ator e a atriz Claire Foy que, mesmo em papel pequeno, mostra uma sinceridade capaz de estimular aplausos (basta a sequencia em que ela encontra o marido no quarto de quarentena depois da viagem histórica e os dois se comunicam através do vidro da janela ).
                O que se vê pouco foge de uma linha documental, acompanhando Neil nos voos de treinamento em especial do Projeto Gemini (inicio dos anos sessenta). Imagens tremulas, sugerindo interiores das espaçonaves e o que sentia o piloto. Escapando disso, e pretendendo mergulhar na pisque do astronauta, a vida em família, em especial a perda da filha de pouco menos de dois anos, trauma que ele guardou para sempre. As sequencias em terra, especialmente em casa, revelam o homem  ligado a seu trabalho, ele que não era um militar a serviço da NASA, mas reconhecido pela competência e resistência física.
                Há um momento em que o projeto Apollo é criticado por muitos que veem desperdício de verbas que seriam destinadas a planos sociais. Por sinal que a viagem à lua foi  coroação de uma disputa na guerra fria entre EUA e URSS. Hoje não se faria isso e a projetada viagem a Marte depende de projetos internacionais (como da Rússia, China e EUA).Ha mesmo um fragmento de cinejornal que mostra o então presidente John Kennedy prometendo a “conquista da lua”na década proposta(60). Como ele foi assassinado em 1963 a meta milionária prossegui no governo Johnson.E apesar de existir quem duvide do que aconteceu na verdade outras missões sucederam, isto sem contar no drama da Apollo 13 que não conseguiu alunissar e voltou para a Terra em perigo(há um bom filme de Ron Howard sobre o assunto).
                “O Primeiro Homem” não deixa de enaltecer o país produtor(do tema e do filme), mas é bem realizado, traz bons desempenhos e pode mesmo estar no futuro Oscar. É longo (mais de 2 horas ) mas não cansa. Ponto a favor. Agora um detalhe: aquela frase “um pequeno passo para um homem e um grande passo para a humanidade”me parecer com aquela “se é para o  bem do povo e a felicidade geral da nação diga ao povo que fico”(Pedro I). Decoreba promocional.


sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Dois filmes italianos


Dois filmes da mostra de cinema italiano ora em Belém mereceram especiais atenções: “Gli Equilibristi”(Equilibrista) e “Em Guerra por Amor”(Em Guerra per Amore), O primeiro trata de um homem que aceita se separar da mulher e não consegue manter um padrão de vida (ele é funcionário publico) que dê para pagar necessidades dos filhos, a quota de esposa e sua misera rotina. Vai passando gradativas necessidades e passa a dormir em seu carro. O fecho da historia não chega à explicitude de um final feliz, mas deixa a entender que vai voltar a morar em casa com mulher e filha(além de um menino). O segundo é mais importante como politica&historia do que como realização artística. Para ganhar a licença do pai da namorada para um casamento, o jovem siciliano que mora nos EUA aceita embarcar como militar para a Sicília em pleno período de guerra (a II mundial) e acaba se metendo no conluio dos ianques com a máfia para diminuir as baixas na tropa. O final é antológico: o rapaz e sua noiva estão sentados num banco defronte da Casa Branca esperando que o presidente Franklin Roosevelt responda a uma carta que ele, soldado, trouxa da Itália, escrita por um oficial amigo que fora morto, denunciando o papel dos mafiosos no governo siciliano (“construir uma ditadura no lugar de outra”). Aqui e agora se sente papeis de omissão e violência licenciada como formula de governo “democrático”(ou pre-ditatorial).
                Bem realizados, os filmes impressionam. Especialmente o  caso  da atuação do ator Valerio Mastrandrea que faz o “equilibrista”, ou o sacrificado marido fora de casa (um amigo dele chega a dizer: “Volta para casa, divorcio é para rico”). Confortante saber que o cinema da RAI conseguiu respirar depois da morte dos grandes cineastas. Por sinal que “Em Guerra...”é dedicado a Ettore Scola o diretor de clássicos como “Nós que nos amávamos tanto...”

sábado, 13 de outubro de 2018

Fantasia e Realidade


Saiu em blu-ray “Fantasia”, o filme de Walt Disney (produtor) feito em 1940. No estojo que está nas lojas também se encontra “Fantasia 2000”, produção de 1999 que dá vez à musica popular (no filme anterior a prioridade são os clássicos).
Lembrei a propósito da revisão de “Fantasia” o que me contou o amigo Waldemar Henrique que frequentava com assiduidade o meu Cine Bandeirante (garagem de casa, na então Av. S. Jeronimo, hoje Gov José Malcher). Waldemar dizia ter conhecido o maestro Leopoldo Stokovsky, quem afinal rege os números musicais da produção, e lembrava de uma feita em que uma jovem da orquestra estava com um decote largo e o maestro dizia: “-Cuidado que eu estou ficando excitado”.
Waldemar também conheceu George Gershwin e se espantava quando via o nome do compositor na ficha de “Sinfonia de Paris”(Na American in Paris) que eu exibia em copia 16mm no mesmo Bandeirante (“-Ah o Gershwin!...”).
No mundo do vídeo, que hoje satisfaz minha fome de cinema, gostei muito de “A Monster Call” no Brasil chamado de “7 Minutos Depois da Meia Noite”. Dirigido pelo espanhol J. A. Bayona. Trata de um menino que conversa com um monstro, ouvindo deste 3 historias em troca de uma que ele, menino, contaria. E na família do garoto pesa a doença da mãe, o pouco contato com o pai, a avó megera e uma governanta nada simpática (papel anômalo de Sigourney Weaver). Uma narração primorosa sem pesar nos costumeiros meandros de filmes sobre psicologia, ganhando ponto na interpretação de Lewis McDougall escocês que na época tinha 12 anos). Passou no canal Max da Sky.
No cinema comercial gostei de “Buscando”(Serching) onde a trama se coloca no computador de uma jovem a quem o pai desconhece embora more junto. Quando ela some, a procura por seu paradeiro é feita por este senhor e uma agente policial mãe de um adolescente problemático. O diretor Aneesh Chaganty não foge da tela do laptop .E  deixa um ritmo ágil, com suspense pouco visto. Tudo funciona.