quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Revivendo


            Este ano o cineasta Pietro Germi (“Divorcio à Italiana”,“Seduzida e Abandonada”,”O Ferroviário”)faria 100 anos. Ele morreu aos 60. Tambem fazia a vez de ator. E está nas duas funções em “Aquele Caso Maldito”(Um Maladetto Imbroglio) ora editado por aqui em DVD.

            Ver o filme de 1959 é matar saudades do neorealismo italiano. Mesmo numa trama policial e quando a escola de Visconti(La Terra Tremma) e De Sica(Ladri di Biciclette) já saía das telas.

            Germi investiga um crime e quem alcovita o criminoso é Claudia Cardinale esbanjando a beleza juvenil de tantos bons momentos da cinematografia romana. No filme está,inclusive, o Franco Fabrizzi com a cara do bezerrão(Vitelloni) de “Os Boas Vidas” felliniano.

            Ainda bem que as distribuidoras de DVD estão lançando no Brasil os filmes italianos  dos meados do século passado aqui chegados pela Art Filmes do conde Sarantino. Eu persigo “Até à Vista PaPAI”(Arivedercci Papa/1948) com Gino Becchi eleito o pai de garotos que para bascer procuram a mãe Mariella Lotti. Uma fantasia de Camilo Mastrocinque que os americanos clonaram mal com Clifton Webb em “Apuros de um Anjo”(For Heaven’s Skate/1950) de George Seaton.  Mas não é só este filme que eu persigo nos sites da vida. Há coisas que me pareciam mais fáceis como “Ainda Há Sol em Minha Vida”(The Blue Veil/1951)de Curtis Bernhardt e Busby Berkeley(que não assina). Um desses desejos parece que o Horacio Huguchi já pescou: “A Ultima Felicidade”(Hon Dansade em Sommar/1953) de Arne Mattson. E há mais para um cinéfilo que via de tudo , mais filmes que os dias do ano. Enfim, rever essas coisas em casa é mesmo aliviar saudade.        

 

 

 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

O Novo Dracula


Drácula de Tod Brownin com Bela Lugosi foi um dos filmes que deu dinheiro â Universal no tempo em que comandava o estúdio o filho do dono da empresa, Carl, Leammle Jr. Este dono de estúdio (mesmo temporário, ganhando o posto como presente de aniversário do pai) caçou os monstros da literatura indo da Criatura De Frankenstein de Mary Shelley ao Dracula de Bram Stoker (passando pelas lendas de Lobisomem e do Homem Invisivel alertada por H;G. Wells).

Dos anos 1930 para cá Drácula vestiu as caras de muita gente. A melhor. A meu ver, foi a de Christopher Lee na série da Hammer Films (Inglaterra). Agora, na onda revisionista tão de agrado à juventude que detesta figurinos antigos, chega um Dracula que se diz na origem, ou o Principe Vlad da Transilvânia que na luta contra os turcos vende a alma ao diabo. No caso, o poder do cão leva-o não só a trocar vinho por sangue como a dominar morcegos a ponto de destruir exércitos inimigos.

Vlad existiu mesmo e se notabilizou por empalar os derrotados em suas  guerras. Metia uma vara no rabo do inimigo que saía pela boca. E fazia um jardim de corpos nas suas terras. Se passou a beber sangue é por conta da lenda. No filme atual, dirigido por Gary Shore, ele só acaba vampiro por não resistir na bebida de sangue e chegar a ponto de sugar a jugular da amada. É um mocinho da trama, simpático até por ser um bom exemplo de pai de família.Mas o roteirista não deixa um final dramático com Vlad Dracula morrendo à luz do sol. Dá uma sequencia em que se vê o distinto no mundo moderno assediando a reencarnação de sua mulher. Será a deixa para uma continuação ? Ou um modo de eclipsar um final pouco popular ?

            “Dracula,A Historia que não foi Contada”” é o tipo do filme comercial de hoje. E sai da mesma Universal que trouxe Lugosi às telas. Na verdade puro oportunismo. E a gente se mete em fila de cinema para ver. Melhor, muito melhor, caçar esse tipo de filme na internet. Dãoloude nele!

           

domingo, 19 de outubro de 2014

Boyhood


      Uma tarefa maluca: filmar por 12 anos uma criança (e seus parentes próximos) sem dublês, sem artifícios que usem o tempo com arranjos técnicos. “Boyhood” é isso, um show de paciência do cineasta Richard Linklater, adentrando sobre a vida que passa e pessoas da classe média americana que estão no foco dessas vidas – ou desse tempo.

            Nada de extraordinário acontece em 160 minutos de projeção. Mas o que se vê, uma amostragem de rotina de um tipo de gente, ganha o interesse de um espetáculo cinematográfico. A ação é moldada no próprio avanço dos anos, ajudada no que se observa com o cabelo do jovem Mason (Ellar Coltrane),quando criança “a la Harry Potter”, quando adolescente podado a partir de uma ação despótica de um padrasto. Seguindo isso se observa a obesidade gradativa da mãe do personagem(Patricia Arquette),duas vezes casada e duas vezes separada, lutando sempre para formar o casal de filhos. Quem parece não envelhecer é o pai de Mason(Ethan Hawk,ator da trilogia “Antes do Por do Sol”do mesmo diretor). Por coincidência ou não os filmes da trilogia se equiparam, a este “Bouhood” na informalidade,como se fossem feitos de improviso, sem roteiro.

            Uma curiosidade: Lorelei Linklater que faz o papel da irmã de Mason, chamada Samantha, é filha de Richard,o diretor do filme.

            Não sei se os cinemas locais vão exibir esta obra rara. Se acontecer será um milagre a festejar e  um forte candidato a melhor do ano. Ensina muito da tolerância que se deve ter para com fatos & tipos que enfim fazem o cenário de muitos “alguéns”.

            Não sou de gostra muito de filmes longos mas este valeu. Dá para consumi-lo de um fôlego.

sábado, 18 de outubro de 2014


      Bob Downey Jr dá folga ao Homem de Ferro e aparece como um advogado de paletó e gravata em “O Juiz”. Bem humorado, surge mijando num colega enquanto espera um veredito difícil. Mas se é profissional de sucesso amarga o fato de defender o velho pai, depois da morte da mãe, acusado de atropelar sem socorrer um homem. Pior:o homem é um mau caráter que ele livrou da cadeia como juiz (de uma cidade dom interior) e detesta o salvador. Seria um atropelamento proposital .

            O filme poderia ser mais um “de tribunal” mas abre espaço (e tem muito em 141 minutos de projeção)para subtramas como os romances do advogado (está se divorciando e pode ser o pai de uma garota filha de uma garçonete de sua terra).

            Tudo é muito superficial para chegar ao grande publico. Mesmo assim a estreia no mercado norte-americano deixou o filme em quarto lugar do box-office. O melhor para Downey que é produtor junto com sua mulher, pode ser candidatura ao Oscar. Se der Robert Duvall,o velho pai atropelador, muito bem. Voto nele. Mas outra nomeação é bem do conchavo acadmêmico que premiou Gwynett Paltrow no lugar da nossa Fernanda Montenegro.

            Elogiar o filme é dizer que o assisti no ambiente polar de uma sala do complexo Cinepolis sem ter vontade de sair. O diretor David Dobkin tem esse trunfo na sua linguagem de cinema rotina. Qualquer outra pretensão é ver demais.

Trash


            Deixa ver se eu entendi: um financiador de campanha política de candidato ficha suja é perseguido pela policia e joga no lixo uma pasta com a lista de doadores da tal campanha. Três garotos acham a pasta no lixão. E apesar de protegidos por um padre norte-americano e uma professora de inglês são perseguidos pelos policiais. Não se diz como os tiras souberam do achado nem como foram atrás dos meninos que não são traficantes. Chefiando os policiais está um delegado mau que não hesita em ferver criança. Quando um dos meninos aceita mostrar ao tal delegado onde está o dinheiro das doações mencionadas na pasta (e também não se sabe como o tira conhece o teor da tal pasta) há uma reviravolta na historia, o menino ataca o mocinho/vilão e sai com a grana que está numa catacumba. Ele e os colegas jogam as notas de cem reais no lixo. Há uma chuva de dinheiro. Mesmo assim a molecada sai para uma praia deixando um pouco da grana com o padre.
            É isso ? “Trash” a meu ver é trash mesmo. E o diretor Stephen Dalry, de currículo apreciado (“Bill Elliot”,”As Horas”, “O Leitor”) embarcou nessa canoa. Viu os protestos de rua no Brasil de junho de 2013 e acrescentou a facada política na historia de colegas que podia se passar em qualquer país do mundo.
            Os ícones nacionais Wagner Moura e Selton Mello estão na festa.O primeiro é o corrupto que joga fora a mola da trama. O segundo é o malvado. Certamente pensaram no currículo que acrescenta trabalharem com um cineasta inglês de renome e ao lado de Martin Sheen(o padre) e Rooney Mara(a professora).
            Piada é os moleques falando inglês. Haja saco.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O Candidato Honesto


            Satirizar a politica brasileira não é novidade. “Simão o Caolho’ de Cavalcanti(1953) deu conta disso com o personagem de Mesquitinha chegando à presidência com um currículo cômico . E as chanchadas mostraram Oscarito imitando Getulio Vargas (“Nem Sansão nem Dalila”) e Violeta Ferraz assumindo um ministério onde as mulheres não tinham apenas voz: davam berros (a Madame Pau Pereira moldada no baião de Luís Gonzaga “Paraíba” no lamentável "É Fogo na Roupa!").

            “O Candidato Honesto” podia ir mais fundo no assunto com o tipo de Leandro Hassum. Mas nem  o diretor Roberto Santucci e muito menos o roteiro original fizeram empenho. Preferiram colar o filme “O Mentiroso”(Liar,Liar) com Jim Carrey. Dizer apenas a verdade caía mal num advogado e cai ainda pior num político. Mas se isso dava chance a se mostrar uma face real da nossa democracia surge como uma piada contada por quem não sabe contar e ainda por cima remenda com medo de ofender alguém.

            O filme não chega a ser honesto na sua denuncia de políticos corruptos. Quer fazer graça e chamar publico. O mesmo publico que a mídia de hoje orienta a seu beneficio.

           

domingo, 5 de outubro de 2014

Hugo Carvana


      Quando o Cinema 1 de Belém anunciou a comédia “Se Segura Malandro” acrescentou que o diretor & ator Hugo Carvana estaria presente na primeira sessão da noite. Nesse dia, Manoel Teodoro, gerente da casa, mandou fazer uma faixa anunciando a estreia com a presença do artista. Mas de tarde, eu estava no escritório de Alexandrino Moreira no Banco Sul Brasileiro e chegou a chamada do próprio Carvana, que estava em Salvador, afirmando (eu falei com ele) que não poderia vir a Belém pois tinha parente enfermo no Rio.Corri para avisar o Manoel. Ele tirou a faixa mas já era tarde para dizer que Hugo não estaria presente.

            Nesse período perambulava pela cidade o cineasta pernambucano Clinton Villela. Eu mesmo havia começado um filme com ele, rodando cenas no Ver o Peso (numa sequencia, a barraqueira que vendia “erva de chamar dinheiro” explicava que o efeito era nos fregueses. Respondendo à minha pergunta afirmou que em si não pegava). Pois o Clinton, que vivia consumindo biritas na Lanchonete Um,resolveu desculpar a plateia da falta de Carvana. Subiu ao palco,e, quase caindo de tão porre, só sabia dizer: “-É. O Hugo Carvana não veio”. Era uma repetição incomodativa e em dado momento um espectador gritou:”-Tira esse bêbado daí”

            Manoel puxou Clinton que felizmente se equilibrou na queda. E o filme, muito engraçado, alicerçou a piada ao vivo. Nunca me esqueci disso e hoje lembro com saudade, pois o Hugo Carvana morreu. Nunca veio à capital paraense. Só as imagens de seus filmes, especialmente de 3 que dirigiu: “Vai Trabalhar Vagabundo”, “Se Segura Malandro” e “Bar Esperança”.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Lunch Box


      Troca de endereço pode gerar, em roteiro para cinema, romance, drama ou comédia. Imagine mandar um rolo de papel higiênico para um amigo e a encomenda ser desviada para um político. Dá comédia. Mas um canivete para um depressivo é como um convite à morte. No filme “Lunch Box” do indiano Ritesh Batra, é uma marmita (ou merendeira, ou sem sair do inglês, “lunch box”). Quem ganha a encomenda trocada saboreia pratos jamais provados na rotina. E se apaixona pela cozinheira. Só que ela é uma garota e ele tem idade de ser seu pai.É um escriturário viúvo que atura um substituto no emprego nada experiente e extremamente chato.

            O filme é bem narrado mas diz tanto sobre coisa nenhuma. Seria um modo de ver a vida dos indianos de alguma província, não diz bem o lugar, onde a paisagem não muda muito da que vemos por aqui.

            Não há densidade ou substancia além de um aceno próprio do velho neorealismo. Mas é tão bem contado que diverte. Há quem diga que o roteiro é muito norte-americano, que não diz muito bem como são as coisas na Índia. Não sei. Hoje o mundo é uma ilha. O que se observa é que as paixões independem de etnia, cidadania, até mesmo idade. E se o filme não tem o vinco da Bollywood, ou seja a Hollywood indiana(uma industria muito fértil) também não sei dizer. Ultimamente só vi da Bolly a comédia “Seu Crime, seu Sofrimento”(Makkhi), uma pitada surrealista interessante onde um homem morre, encarna numa mosca e vai atentar que o matou (e ficou com sua garota). Mas isso não é coisa de figurino. A merendeira até que sacia a fome de cinema.