quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Anos de Critica

Eu comecei a escrever sobre cinema em um “jornal”(vale as aspas)que editava em casa objetivando os familiares. Melhor dizendo: “os jornais”(primeiro “Gipsia” depois “O Raio”). Em 1953 o depois deputado Raimundo Noleto, que morava em casa, estimulou-me a comentar no jornal “O Estado do Pará” o filme “O Cangaceiro” de Lima Barreto(assunto de todas as rodas). Depois disso um dos diretores do SESC no tempo em que meu pai (Pedro de Castro Álvares) presidia a entidade dos comerciários, José Maria Alves da Cunha, pediu-me um texto sobre um filme de capa-e-espada em cartaz no Olímpia. Publicaram em “Folha do Norte”. Passa o tempo, chega o Cine Clube Os Espectadores de Orlando Costa e meu cineminha, o Bandeirante, servindo de palco para as previas dos filmes, passei a colaborar na coluna de Acyr Castro em “A Província do Pará”. Na mesma época mantive uma coluna em “O Estado do Pará” com um vizinho chamado Fernando Mendes.Em 1966, com a mudança de Acyr para S.Paulo, passei a assinar a coluna diária que mantive até fechar o jornal em 2001. Quando em 1962 os críticos de cinema que mantinham espaço nos jornais da cidade resolveram criar uma associação de classe, eu presenciei tudo sem tomar parte na diretoria. Só em 1966 entrei nisso e como presidente. Por anos a fio o interesse dos jornalistas associados pelo cinema só se reuniam para votar os melhores filmes do ano. A eleição transformou-se numa festa natalina. E persistiu nas diretorias que se seguiram pelas décadas. Em um ano, com Luzia na presidência, a APCC ganhou uma sede. O espaço abrigou um curso de historia e linguagem cinematográfica e de uma feita recebeu o cineasta Joaquim Pedro de Andrade que viera a Belém pensando em filmar a trajetória de Oswald de Andrade (afinal o filme “O Homem do Pau Brasil”). No século XXI Marco Antonio Moreira assumiu a associação e tornou-a entidade registrada (com CPF). Nesse tempo todo escrever sobre filmes irmanou-se a exibir filmes.O Cine Clube APCC, criado em 1° de Novembro de 1967, durou até 1986 quando surgiu o Cine Libero Luxardo (Centur).Eu que programava o clube passei a programar o novo cinema daí achar que a missão prosseguia. Na época de cineclube exibia-se filmes em varias localidades e muitas vezes de forma simultânea (Cine Guajará. Grêmio Português,Faculdade de Odontologia- tudo no mesmo dia e hora). Meio século dessa aventura é de alguma forma confortante. A mim cabe dizer que satisfazia um desejo de “passar cinema”. E escrever sobre cinema. No trajeto andei filmando em 16mm e por duas vezes arranhei a área profissional(um documentário para o USIS e um roteiro para o Libero Luxardo). Bem, hoje faço vídeo e tenho este blog. Também colaboro com as sessões da hoje ACCPA com vídeos de meu arquivo maluco (um bando de discos que nem sei mais quais são). Não devo parar enquanto tiver forças. E olhos para ver imagens em movimento.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A Bela Adormecida

“A Bela que Dorme” de Marco Bellocchio dorme no fato de não conseguir ser uma discussão sobre a eutanásia com argumentos que prossigam o que outros cineastas fizeram, eu eu lembro Alessandro Amenabar com o seu “Mar Adentro”. Um roteiro ambicioso focaliza 3 casos de doentes terminais em paralelo com a realidade de Eluana Englaro, comatosa por 17 anos e alvo de discussões sobre o direito de morrer seja por parte do povo seja do governo italiano (morreu pouco depois do pai dela retirar os aparelhos que proporcionavam a sua respiração). Os casos são vistos pela ótica sentimental e deles escapa mais forte o de um senador, adepto da eutanásia, isto apesar de pedir a cura de sua mulher enferma. Um dos casos é o de um médico que vigia a sua paciente capaz de se levantar do leito e tentar se jogar da janela próxima. Este caso ganha um tom prosaico: a moça é obstada pelo médico, mas, quando ele dorme, ela tenta de novo e...desiste. Sem tomar partido, Bellochio acaba mostrando que a pessoa “deixada morrer” na verdade pode desejar viver desde que lhe deem chance para isso. E afinal de contas o ato médico pede a cura, nunca advogar a morte. Um filme inócuo. Não diz nada sobre um tema muito rico e por isso nada transmite que mexa com a consciência de quem vê. Premiado por aí afora, “A Bela que Dorme” na verdade cochila . Nem sonha sobre a descerebração. Poderia ganhar o beijo de um príncipe mas o clima de conto de fadas não é cogitado. Uma pena.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Gravidade,O Filme

Duas maçãs entraram na lenda: a de Adão(ou da Eva) e a que caiu na cabeça de Newton. Esta última teria sido a musa da Lei da Gravidade. Para quem não lembra da aula de Fisica, “a matéria atrai matéria na razão direta da massa e na razão inversa do quadrado da distancia”. Certo? No filme “Gravidade”(Gravity), ora em cartaz mundialmente, a lei ganha o titulo mas é jogada no espaço com certa liberdade estilística. Um exemplo em cinema: no clássico “Destino à Lua”(Destination Moon/1949) de George Pal & Irving Pichel, os dois astronautas que consertam uma antena de sua nave jogam um para o outro uma garrafa de oxigênio. A garrafa cai. Isto deu bode na critica. De fato não deveria cair pois no espaço não há queda (pois não existe chão). O rigor seria a garrafa ficar flutuando perto dos personagens, pois ela (matéria) seria atraída por eles. Bem, no filme de Alfonso e Jonas Cuaron a dra.Ryan(Sandra Bullock) está de fora de sua estação orbital junto com o colega Matt (George Clooney) quando estilhaços de uma nave chegam a eles e rompe-se o cordão que os prende ao objeto de trabalho(a estação). Há um impulso e os dois são arremessados para longe. Aí cabe o arremesso devido à força inicial. À deriva, pois distam muito dos objetos maiores, os dois estão condenados à morte quando parar oxigênio dos capacetes ou furar as vestes (qualquer descompressão mata na hora e o filme mostra um colega deles mumificado por desgaste nos trajes espaciais). A salvação dos heróis da história é conseguir chegar a um engenho chinês que existe nas proximidades (alguns quilômetros). Para isso usam propulsores anexos aos trajes. Tudo OK. Mas difícil num plano real até porque o estresse desgasta e por mais treinado que seja o astronauta ele, ao consumir demais oxigênio, tende a “pregar” no caminho. Kubrick em “2001” mostrou um dos tripulantes de sua nave espacial desprendendo-se e sumindo no espaço por conta da artimanha do robô Hall. Nem se cogita em ir atrás dele. O robô deu o impulso. E quando o outro astronauta consegue reentrar na sua nave há um brevíssimo momento de abertura da escotilha, impulso, choque de áudio e rápido fecho da mesma escotilha conseguindo evitar(de forma cientificamente discutível) o efeito da descompressão. Aqui, em “Gravidade”, a jovem medica consegue abrir com suas mãos a comporta de entrada da estação objetivada e entrar sem problemas. Ficção, mas perdoada, assim como o seu regresso a Terra numa fantástica reentrada na atmosfera em uma parte da nave-mãe e sua queda no mar com fôlego para emergir e chegar à uma ilha não importa de banque uma Robinson Crusoé feminina. Não importa porque o filme é mais do que uma aventura no espaço. Cuaron pinta a sua mocinha de mãe sofrida pela perda da única filha. Há um momento em que ela, já na estação chinesa, vê o colega considerado morto chegar, entrando sem dar bola para a descompressão e sentar-se ao lado dela. A rigor a mocinha morreria. Mas é um parêntesis poético. Os dois falam de suas vidas, Sem o recurso cômodo do flashback ai se fica sabendo quem é quem. Vários planos da Terra (diga-se fotos reais) são comentados por sua beleza. De fato impressiona como um crepúsculo ou uma aurora permanente no tom azul. Lá no cenário negro onde estão o casal astronauta procura esquecer o perigo no trabalho. Mas ainda assim comenta a visão do mundo-mãe. “Gravidade”é sobre isto: o ser humano fora de seu ambiente, percorrendo o que está além de seu “habitat”,dimensionado na pequenez que se lhes dá a situação. Chega a haver uma legenda à guisa de prólogo dizendo que no espaço o homem não pode viver. Teimoso, tenta isso e ir além. A conquista cientifica arranha a sensibilidade e quem no fim das contas está invadindo o espaço é literalmente estranho no ninho. E para quem apenas o vê, um objeto de admiração como um poema. No ser vivo em um silencio de morto está toda a grandeza anímica, toda a maravilha que é a pessoa física com seu tesouro psíquico. Poucos filmes se contentam só com isso:só com duas pessoas vagando no espaço. Os Cuaron jogaram forte no que se pode ver como thriller cientifico ou um pouco além. Ganharam. “Gravidade”é o filme do momento.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Sem Tempo e sem Vento

Jayme Monjardim fez um excelente trabalho na minissérie de TV sobre sua mãe,Maysa.Mas no filme “O Tempo e o Vento” sobre o texto extenso e intenso de Erico Veríssimo ele confunde cinema com televisão.Alterna closes com planos abertos de crepúsculos, coloca a fala como primazia, despreza os recursos de produção como as sequencias de batalhas ou qualquer outra externa além do improvisado cemitério onde o numero de cruzes sempre parece deficiente.Isto sem falar nas interpretações ruins, acomodando-se em estereótipos de valentes, tímidas, e o mais que engendre um enredo popular, isto sem dizer muito dos episódios históricos que cobrem grande parte da historia do sul brasileiro. O filme podia ser “...E o Vento Levou” canarinho. Perde a chance até pela ambição do roteiro em ser fiel ao original literário sabendo que era impossível condensar os 3 volumes da saga regionalista: “O Continente”, “O Retrato” e “O Arquipélago”. Como nas outras adaptações para a linguagem das imagens, o primeiro livro, escrito em 1949, ganha corpo sobre os outros. E agora com o filme de Monjardim não é diferente. Mesmo assim,mesmo tentando a síntese a partir de um trecho da obra literária, o filme tropeça feio. Abraça os estereótipos de melodramas e ainda se dá ao luxo de um final “poético” onde as figuras do passado ressurgem para também fazer parte da série de crepúsculos que pontua a narrativa. Cheio de furos de continuidade, satura em suas 2 horas e 10 minutos de projeção. A mim encheu...

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Lembranças

Um dos primeiros filmes que eu exibi no meu Cine Bandeirante(garagem de casa, na hoje José Malcher antes S.Jeronimo) foi “Almas Rebeldes”(Strange Cargo) que hoje revi em DVD. Uma revisão em 63 anos de um filme com 73 é prova de fogo. Mas não deu para queimar.Clark Gable suja a roupa em lama gulosa, depois toma banho com ela e ainda assim continua usando-a até que arranja outra não se sabe de quem. Joan Crawford perde o batom. Dá para mostrar uma cara sofrida embora o que passa na história fosse para dar mais ênfase a isso. O filme trata de prisioneiros que fogem pela mata próxima da Ilha do Diabo. O grupo vai morrendo e só Gable, Joan e um colega (Ian Hunter) escapam. Mas no fim das contas Gable se entrega à policia ao lado de sua namorada. Hunter profetiza (ele é o místico da historia) umm final feliz. Não sei se isso estava no romance de Richard Sale de onde veio o roteiro. Mas o artificialismo passava na época em nome de uma narrativa ágil por conta de Frank Bozarge, o cineasta “romântico” por excelência. Matei saudades. E gostei mais agora do que no distante 1950. No cinema comercial me diverti com “A Família do Bagulho”, raro titulo brasileiro melhor do que o original (We’re the Millers). Tudo estereotipado mas com situações bem armadas para fazer graça. E por tratar de títulos, o que valeu por aqui foi, por exemplo, “A Felicidade Não Se Compra”(para “it’s a Wonderful Life), a receber elogios do próprio autor, Frank Capra. Mas o normal é aberrações como “Meu Ódio Será Tua Herança”para “The Wild Buch” ou “Fé Demais Não Cheira Bem”para “Leap of Faith”. Em DVD vi um filme interessante também com titulo chamariz: “Paixão Obsessiva” para “The Good Doctor”. Orlando Bloom faz um médico jovem extremamente vaidoso que se apaixona por uma cliente e faz de tudo para que ela permaneça doente para tê-la perto de si. Um desses títulos de baixo orçamento que os distribuidores lançam direto em linha doméstica a não ser em mercados fortes como o do sudeste. Aliás, essa faixa cresce assustadoramente em DVD. Tanto que o melhor cinema agora, para quem mora numa cidade como Belém, é o de casa. E a faixa cineblubina está vivendo com datashow, ou seja, com o tipo de programa veiculado em disco digital. Lembro do meu tempo de cineclube onde lutava com cópias em película de 35mm e 16mm. O aluguel somava o preço do frete e o volume do produto quebrava mola de carro(o meu). Mas foi um capitulo de história e neste 2013 o Cine Clube APCC faria 45 anos e a Associação de Críticos 50. Marcos de tempo.