quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Meu Jeito de Ver Cinema

Para mim cinema é sentimento. Gosto do que eu gosto. Quando mais novo embarcava na canoa dos produtos “artísticos” que mexiam com a paciência mas instigavam os neurônios. Hoje,aos 76, posso dizer que troco a troca de informações cerebrais pelo que atinge o conjunto anatomo-fisiologico. Simplificando: aposto no coração. E nesse ponto lembro o amigo Edwaldo Martins que dizia entender o filme “que balançasse o passarinho”. Este ano molhei os olhos vendo “O Artista”, “Intocáveis”, “O Impossível” e mesmo na TV de imagens gravadas de filme de cinema, “O Conto Chinês”e “O Garoto da Bicicleta”. Por ver e ouvir meu tempo de criança vibrei com “Gonzaga, De Pai Pra Filho”. E só não aplaudi mais o “Pi” do tailandês Ang Lee porque a projeção e o frio da sala que exibia o filme jogou um pouco de minha atenção na lixeira próxima. Não afino com coisas cerebrais como o “Fausto” de Sokurov(alias nada que esse cineasta fez me atinge), ou “Cosmópolis” de Cronemberg. Da lenda que Goethe imortalizou prefiro aquela adaptação com Yves Montand e Michelle Morgan (Margeritte de la Nuit) por Claude Autant-Lara. E o mundo dentro de um carro poderia ser diferente do cosmo que o diretor do Canadá imaginou. E o ano foi do cinema mudo, do ator que de dramático vira dançarino e do menino que descobre o fascínio dessa arte no seu autor mais sugestivo: Mèliés. Isso e o tsunami do espanhol Boyona, uma onda por sobre cinema chato, ou seja, o que parece “impossível” mas só aos olhos de quem vê, analisa e anota. Não sente.

Melhores do Cinema em 2012

Filme 1-O ARTISTA 2-A INVENÇÃO DE HUGO CABRET 3-INTOCÁVEIS 4-A SEPARAÇÃO 5-IMPOSSIVEL 6-ARGO 7-UM CONTO CHINÊS 8-A AVENTURA DE PI 9-O GAROTO DA BICICLETA 10-GONZAGA,DE PAI PRA FILHO Diretor- Michel Hazanavicius (O ARTISTA- Ator- Jean Dujardin (O Artista) Atriz- Rooney Mara(Millenium,Os Homens que não Amavam as Mulheres) Ator coadjuvante- Omar Sy (Intocáveis) Atriz coadjuvante- Sareh Bayal (A Separação) Roteiro original- Michel Hazanavicius (O Artista) Roteiro adaptado- Chris Terrio (Argo) Fotografia- Robert Richardson (Hugo Cabret) Direção de arte (Cenografia)- Martin Foley & outros (Hugo Cabret) Edição(montagem)- Elena Ruiz (Impossivel) Maquilagem – Equipe de “O Impossível” Trilha sonora- Ludovic Burce (O Artista) Animação- “A Origem dos Guardiões”(Dream Works) Efeitos Especiais- Equipe de “A Aventura de Pi” Figurino- Sandy Powell (Hugo Cabret) Reprise- “Violencia e Paixão”.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Animação

Eu só aturo dublagem em desenho animado. Quando criança decorava as falas traduzidas por Braguinha (João de Barro) e Gilberto Souto. As canções de Cinderella me pareciam ótimas. E no tempo de colégio colegas discutiam o que, por exemplo, dizia Pinóquio e sua turma. Tanto que foi um vexame a redublagem de clássico Disney em DVD. O novo Pinóquio trocava “anêmico”(“Este menino está anêmico!”)por “alérgico”. Pior no musical “Melodia”(Melody Time). A trilha de Pecos Bill foi toda alterada e a graça de 1956 virou desgraça. Hoje eu gostei de ouvir “A Origem dos Guardiões”. Aquele papo de Jack com uma garotinha sobre os ídolos infantis foi genial. Criança precisa sonhar. Descrer cedo do Papa Noel é ser órfão depressa. Órfão de ideias. O guardião diz: “- Você esquece o sol quando ele vai embora e chega a lua ?” Pois é: o sonho é básico. E em cinema é a muleta da sensibilidade. Por isso meus melhores filmes são os que me tocam a nível de sonhos. E é a diferença que faço dos filmes chatos: estes não fazem sonhar, fazem dormir. Outro dia vi em DVD “O Mundo dos Pequeninos”, animação japonesa da turma do estúdio Ghibi. Imaginei como ficaria encantado com o filme se o visse aos 10 anos. Um universo de criaturas minúsculas, mas de anatomia humana. Uma espécie de Alices em país de maravilhas sem o terror imposto por Lewis Carrol. A gente, quando miúdo, quer encontrar mais miúdos, esses super anões que disputam com formigas os grãos na terra. O filme, com base num texto de uma escritora inglesa, podia estar competindo no Oscar da categoria este ano. Mas não tem cancha de enfrentar os donos de produtos digitais modernos. Ainda usa desenho quadro a quadro. E já me lanço a escolher os meus filmes do ano 2012. Não dispenso os que tratam do próprio cinema: “O Artista” e “Hugo Cabret”. Saudosismo à parte, elogio os cineastas que foram buscar inspiração na base de uma arte que virou mina de ouro.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Vendo em casa

Três amigos decidem visitar um bordel espanhol. Eles moram na Bélgica, são filhos de classe média e, portanto podem pagar a passagem para o país que oferece pela Internet como as delicias do comercio do sexo. O problema é que um é tetraplégico, outro cego e outro paraplégico devido a um tumor canceroso em atividade. “Hasta la Vista”(Belgica/Alemanha 2009)é escrito por Pierre Declercq é vendido como uma comédia. E os personagens esforçam-se para dar esse tom. Mas em meio à viagem que pode ser a última pelo menos para um deles, é muito dramática para sustentar o riso. E como os atores são bons, a direção afiada e o roteiro linear, a troca de emoções é um desafio. Nada de obra-prima, mas um filme a ser conferido. Evidentemente não passou nos cinemas de Belém. Outro titulo que vi só em DVD chama-se “Diário de um Jornalista Bêbado” . Johnny Depp dá o recado: um homem de jornal em crise, tentando os pés num periódico em falência na Porto Rico dos anos 60, ele, jornalista que gosta de uísque, cismado com a gana dos capitalistas norte-americanos em tomar conta de(e destruir) uma bela praia. O diretor e roteirista (baseado em um livro de Hunter S.Thompson) é Bruce Robinson, ator de 17 filmes tendo começado como o Benvolio de “Romeu e Julieta”de Franco Zeffirelli. Uma amostragem de revolta e apego profissional que não amadurece, mas, ainda assim, entra no estreito rol dos filmes engajados – e não apenas do grupo que se faz para se esquecer à saída do cinema. Também não chegou à nossa Belém. E pudera: até um filme com Clint Estawood ( “Curvas da Vida”) não ganha espaço ocupado por “Amanhecer Parte 2” e outras besteiras. E o melhor: “Moonrise Kingdown” de Wes Anderson, delicada observação de adolescentes experimentando liberdade e amor. Um filme sensível que emociona a todos. Mas os nossos exibidores acham simples demais para quem consome blockbuster. Pode ter sido feito apenas umas 3 ou 4 cópias. Mas na era do digital quem sabe se não existe uma nesse tipo de veiculação de imagens. Se existiu com certeza não se procurou. Esperem o DVD ou façam como eu fiz: vejam em “download”, ou seja, baixando da Internet. A biblioteca de cinema.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Prometheus

Revi “Prometheus” ,agora em DVD. Confesso que aturei melhor o filme de Ridley Scott. O problema é que a gente ao se defrontar com dilemas filosóficos dentro de ficção cientifica é guinado a lembrar o “2001” de Kubrick. Digo Kubrick pois o filme superou o texto de Arthur C.Clarke. Ali o nosso possível ancestral é encontrado, ou nos encontra, e refaz a humanidade produzindo um feto que irá marcar a nova etapa da evolução biológica. No filme de Scott, astronautas chegam a um mundo que foi, pode-se dizer, uma das casas de criaturas que iriam marcar presença na Terra. Há influencia de “2001”. Na primeira sequencia vê-se um homem atlético (ou um mutante) à beira de um abismo, abrindo uma espécie de concha de onde sai uma substancia, ou um ser vivo, que o leva a cair no abismo. No futuro não muito longe (marcam 2069, uma ousadia profética), humanos vão achar numa caverna em um planeta de outro sistema solar as marcas desses seres que nos precederam. Mas sem um robô malévolo como HAL, o filme lança mão de criaturas hibernadas que despertam para eliminar quem as despertou, ou pretendendo estar em tempo de invadir o mundo onde estiveram (e parece terem sido mal recebidos). São os vilões disponíveis. Scott faz uma festa cenográfica com a sua espaçonave. E vai bem na amostragem de seu planeta desértico embora com uma atmosfera acessível ao pessoal da Terra. Não especifica quem é parecido com os seres humanos ou quem lembra o seu alien (do filme “Alien,O Oitavo Passageiro”). Continua tratando da penetração de genes anômalos, no caso uma astronauta que engravida de um colega que já tinha um desses aliens incorporado. Na confusão pensa-se que navegaram pelo espaço grotescas coleções de células e o mais próximo da nossa constituição. Por aí não entra mais Kubrick.A Terra abrigaria monstros em meio a seus “homo sapiens”. Parece dizer que,em tom bíblico, o bem e o mal ganhariam o mundo. Mas a missão de uma astronauta, particularmente, não termina com “Prometehus”(nome da nave). Ela fica no estranho planeta atrás de mais evidencias de quem nos gerou, ou “de onde viemos”. Isto quer dizer que os tipos da caverna extraterrestre não são constituem o nosso “ovo”. Há mais adiante. Certo um novo filme. “Prometheus” é blockbuster e quer sempre se pagar e dar lucro. O tema é explorado como uma aventura nas estrelas sem necessariamente uma guerra (e menos uma fantasia).É um terror que troca fantasmas com avôs de criaturas dignas do dr. Frankenstein. Mas até ai roteiro de Scott é insuficiente: o tipo de Mary Shelley é um castigo religioso. O homem só faz o homem com amor na com pedaços de cadaveres. Isto no século em que viveu a escritora (hoje tem proveta & cultura celular&clones). Na ficção do cinema moderno a mocinha teima em usar um cordão com um crucifixo.Persiste a fé em Deus criador. E continua buscando Adão. Fosse um filme dos Monty Phyton encontraria o Golem. Mas aguardemos. Enquanto não chega o “Prometeus 2” deliciemo-nos com este coquetel de informações apressadas de um cineasta administrador .Pelo menos ele instiga a imaginação.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Noir

O critico francês Nino Frank foi quem primeiro escreveu o termo “film noir”. Seria o filme escuro, geralmente os policiais rodados em preto e branco. A estética derivava do expressionismo alemão e não à toa entre os percussores do gênero estavam cineastas vindos da Alemanha ou da Áustria como Fritz Lang e Billy Wilder. Quando eu comecei a escrever sobre cinema tinha com o exemplo de “noir” aquelas aventuras de detetives tipo Philip Marlowe (concebido por Raymond Chandler). Lia esse tipo de história na revista X-9 e nos “pocket-books”. E via os filmes em que Humprey Bogart, especialmente, andava de capa comprida, chapéu de feltro e cara amarrada. Os noir derivaram do ciclo de gangsteres vindos dos anos 30. Paul Muni foi Al Capone no tempo em que o traficante ainda vivia (“Scarface”). James Cagney moldou muito bem o tipo no soldado vindo da 1ª.Guerra que ficava desempregado e achava o melhor meio de ganhar dinheiro na proibição de bebidas alcoólicas advinda da crise de 1929(“Heróis Esquecidos” é fundamental). Como esses filmes pediam uma fotografia contrastada, e até porque a censura proibida que se visse sangue, a identificação com o expressionismo dos anos 20 levou a que os críticos chamassem a coisa de “negra”. Engraçado foi um que viu nisso a economia de eletricidade usada por Jack Warner na Warner Bros, diminuindo os refletores(spots). Uma revisão dos “noir” vai ser feita hoje no Olympia pela ACCPA. Do grupo de filmes escolhidos eu gosto de “Relíquia Macabra”(ou “Falcão Maltês”),”O Segredo das Joias”(ambos dirigidos por John Huston) e não sei se está “Um Retrato da Mulher” de Fritz Lang. Ah sim, tem o “Laura” de Otto Premminger onde Clifton Webb desafiou a homofobia de Daryl F. Zanuck, o chefão da 20th Century Fox por imposição do diretor. Um grande desempenho que quase dá o Oscar ao ator. Essas mostras que estão sendo apresentadas no nosso cinema-vovô são interessantes para quem gosta e estuda cinema. Eu espero a de ficção cientifica. Acompanhei o gênero desde criança. Vivia no mundo da lua sem a careta edificada por George Mèliés. Durante este programa, a ter lugar em dezembro (desde que o mundo não acabe no dia 21 desse mês), vai figurar um curta que eu fiz: “O Maia Brasileiro”. Vou estar lá.

sábado, 17 de novembro de 2012

Fantasia Romantica

Do muito que tenho visto em DVD destaco “Ruby Spark, A Namorada Perfeita”, comédia de gente que eu não conhecia, a começar com a roteirista e atriz Zoe Kazan neta do famoso cineasta Elia Kazan. A trama lembrou-me alguns filmes como o nacional “A Mulher Invisível” de Claudio Torres.Só que a mocinha desta vez não é deliberadamente uma ilusão. Ela entra na vida do tímido escritor como uma estranha que ele viu num parque e depois na sua própria casa sem pedir licença. Quem é, como foi parar ali, ninguém sabe. E ele ganha uma paixão que lhe dá a Ideia de seu melhor livro. Ela seria a sua musa e um dia vai embora. Ou pode voltar. Fantasia bem cinematográfica e tratada com muito carinho pelos diretores Jonathan Dayton e sua mulher Valerie Faris(dupla de “A Pequena Miss Sunshine”) . O acerto começa com os atores. Paul Dano é o tipo do abobalhado genial e a própria Zoe faz a mocinha enigmática, ou o ideal romântico de quem vive no mundo da lua. Pena que este filme não tenha chegado aos cinemas locais. Mas os cinemas locais radicalizam atualmente o conceito de comércio preferindo os blockbusters que faturam alto nos EUA. Formam um circulo vicioso, pois o povo vai ver o que acha que gosta e não quer mudar de gênero ou ideia. Uma comédia como esta “Ruby Spark”teria plateia. Mas até “Miss Sunshine”, candidato a Oscar, passou longe daqui (só nos alcançou em DVD). Vendo em casa o que me agrada fico preguiçoso. Mas é o jeito. Sair enfrentando a rua surrealista minha vizinha(a Aristides Lobo) que tem dois postes em paralelo na calçada é duro de roer. Que eu ache mais essas namoradas perfeitas como na Hollywood do tempo do avô da atriz-roteirista é um balsamo. O cinema-fantasia que felizmente está sendo relembrado.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Suspense e anemia

“Argo”, o filme de Ben Affleck imprime um suspense de tirar o fôlego. Observei que ninguém deixou a sala de projeção antes do fim. E muitos espectadores não se espreguiçaram nas poltronas: ficaram nas pontas, como quem quer entrar na tela. A primeira sequencia historiando o que aconteceu com a Pérsia (hoje Irã) é didática. Perfeita síntese. Chegando ao domínio dos aiatolás mescla cenas de documentários com o que o diretor criou em locações longe do marco geográfico e no próprio set. Tudo funciona. Só no final escorrega-se por uma sequencia em que o herói chega em casa, beija a mulher que estava na fase do “dar um tempo” e deixa que se veja atrás dele a bandeira americana. Antes disso soube-se que o rapaz não obteve a gloria pelo que fez. Coube aos canadenses. Se recebe algum galardão, este foi escondido. Política internacional. E se tudo o que se mostrou foi verdade quem viu pouco se importou. Afinal, estamos em uma democracia laica, nossas mulheres não cobrem a cabeça, podemos falar de quem quer que seja de boca ou no face-book. Ruim é saber que menininhas fizeram fila à meia noite diante de uma sala de cinema, para ver “Amanhecer Parte 2”. Felizmente o culto ao vampiro na irresponsabilidade da “escritora” Stephanie Meyer, chega ao fim. Não sei como ficam os pais draculinicos de uma garotinha ameaçada pela concorrência. Nem quero saber. Casualmente, no velho Olímpia, passa o Nosferatu de Murnau. Vampiro clássico. Um dos que tomava Puritonico. Não sabem o que é ? Na nossa era do radio tinha um comercial que cantava assim: “O sangue é a vida e o Puritonico é a vida do sangue”. Pois esses galãs vampiricos, devidamente anêmicos (inclusive de ideias) desconhece o remédio. Mas pelo mundo de besteira em torno deles não há remédio que dê jeito.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Contato

Revi, agora em Blu Ray, “Contato”(Contact) que Robert Zemeckis fez do livro de Carl Sagan(1934-1996). De aplaudir. Conheço o livro do astrônomo e apresentador da série “Cosmos”e o que muda mais intensamente é a troca da mãe pelo pai de Eleanor(Jodie Foster). É a mãe que ela vê num espaço intermediário para onde é jogada quando viajando na maquina desenhada pelos habitantes do mundo que orbita a estrela Vega. Mas é o que menos importa. O filme e o livro ultrapassam os limites da sci-fi como o “2001” de Kubrick. Entra a filosofia, e discute-se a presença do ser inteligente no mundo. A começar com a resposta do pai (ou mãe) da principal personagem quando ela pergunta se ele (ela) acredita em vida fora da Terra: “-São tantos mundos no universo que se estamos só é um grande desperdício”. O tema tem coragem de invadir o terreno da fé. Quando Eleanor pede ao teólogo amigo/amante Jess (Mathew McConaughey) uma prova da existência de Deus ele responde perguntando: “-Você amava o se pai?” Ela responde: ”-Amava”. “Então prove”. Sou fã do gênero, antes de ser comentarista de filmes fazia parte da Associação de Amadores de Astronomia, tinha um telescópio mirim e devorava livros e filmes que me lançassem no “mundo da lua’”. Por isso sou um pouco exigente com o tema. Tive um amigo, Helio Titã, que também curtia essas coisas e se dizia coomólogo. Por tudo isso “Contato” sempre me impressionou. E a sacada critica quando o mundo sabe que as imagens vindas do espaço são da própria Terra de anos antes, iniciando com Hitler abrindo as Olimpíadas de 1936, é sensacional. As pessoas reagem de acordo com suas culturas & sensibilidades. É o lado cômico da história, o enfoque da estreiteza mental de tantos. Sagan abria uma brecha no seu ceticismo evocando um cenário que se pode ver como espiritual. Arthur Clarke via dessa forma o encontro com o extraterreno que mobiliava um quarto para o astronauta “se sentir em casa”. Errava no tempo (a decoração era da época de Luis XV). Mas em “Contato”é a mesma forma de não amedrontar o viajante (o “túnel” descrito pela autor pode ser um buraco negro – como pode ser aquela descrição de um quase morto que se vê saindo do plano físico, imagem que alguns interpretam como a memória do feto ao atravessar o canal vaginal da mãe). O que seja é interrogado pela jovem que volta sem ter ido. Ou que foi e não sabe dizer como, onde e o que fez(resta a estática gravada por muitas horas no aparelho que levava para registrar som e imagem). Muito bem dirigido, o filme de Zemeckis é um de meus preferidos. Revejo sempre que posso. Em alta definição de imagem faz a vez do que vi anos atrás em tela grande. Por aí uma (outra) viagem no tempo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Gonzagas, O Filme

Nos meus verdes anos eu era colecionador de discos (aqueles de cera). E a maioria era da nossa musica popular. Foi o tempo em que se lançou “Baião” de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira com interpretação de Luiz. O depois deputado Raimundo Noleto, que morava em minha casa, achava, vaidoso, que a letra mencionava a sua cidade natal, Xerente (Go). Não deu para contestar, mas o disco fez sucesso. E o que Luiz gravou a seguir também. Lembro-me de “Qui Nem Jiló” com saudade de um tempo em que sanfona, digo acordeom, era moda. No Mosqueiro, onde minha família se refugiava nos períodos de férias, as moças amigas de meus pais tocavam isso. Eram as “gonzaguinhas”, quando, na verdade, já seguiam Mário Mascarenhas, aquele que apareceu tocando sobre uma carroça no último filme de Humberto Mauro “O Canto da Saudade”(a música era “O Canto do Pagé” de Villa-Lobos). O mundo musical de Lua (Luiz Gonzaga) surge no filme “Gonzaga: De Pai Pra Filho” escrito e dirigido por Breno Silveira. Vi contendo a emoção. Mas rendi meu senso critico no final quando surgiu, acompanhando os créditos, “O Que é O Que é” de Gonzaguinha. Ali está a síntese do drama que rolou entre pai e filho. Mas o filme cobre a infância do pai, dá conta do agreste, consegue a cor nordestina, e mesmo fazendo locações turísticas no Rio(o Pão de Açúcar em segundo plano para efeito de exportação), deixa a ideia de como foi sacrificada a vida do compositor& instrumentista & cantor. O drama real passa na rapidez da linguagem direta como um (bom) melô. A vida é assim mesmo e o filho do sanfoneiro diz bem que ela “podia ser melhor e será, mas é bonita, é bonita e é bonita”. Daí um quase fecho apoteótico com o show dos dois músicos se reconciliando no tom e no abraço. Antes, o primeiro abraço deixa o sol no fundo. Recursos velhos de linguagem que ainda fazem efeito. Ninguém deixa de fazer cinema do tempo da “cena muda” por vergonha de ser “demodée”. Gosto desta opção do Bruno Silveira. Nos filmes dele “não há vergonha de ser feliz”(ainda a canção do Gonzaguinha). E até por isso o filme não chega às mortes dos personagens, tão próximas uma da outra. Gostei do que vi. Cheguei a conter as lágrimas incitadas pelo encadeamento dos fatos. E os atores foram tão parecidos com os tipos vividos (especialmente Julio Andrade no Gonzaguinha adulto) que espantou. Espero que o publico prestigie o filme. Já chega de lotar cinema só com neopornochanchadas.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Hollyood Contra Hitler

A Versatil Home Video lançou um pacote de DVDs com o nome ‘Hollywood Contra Hitler”. São 6 filmes rodados pouco antes e durante a 2ª.Guerra Mundial. São eles: “Confissões de um Espião Nazista”(1939) de Antaloe Litvak, “Uma Aventura em Paris”(1942) de Jules Dassin, “Tempestade D Alma”(1940) de Frank Bozarge, “Horas de Tormenta”(1943) de Herman Shumin, “A Sétima Cruz”(1944) de Fred Zinnemann e “Os Filhos de Hitler”(1943) de Edward Dmityrk. Do grupo eu só não gostei do que eu não conhecia: “Os Filhos de Hitler”. Mas todos merecem aplausos. E emocionam hoje como ontem. “Tempestade D’Alma” e “A Sétima Cruz” são cruciais na demonstração do terror de uma ditadura. O primeiro focaliza a família de um pacato professor (Frank Morgan) que não vê, a principio, ameaça na eleição de Hitler para Primeiro Ministro. O quadro político vai se firmando no fanatismo gerado por uma xenofobia só explicada na ânsia dos alemães em superar a crise econômica pós-Primeira Guerra e na lenda de Sigfried onde se prega a supremacia racial (como se os jovens alemães pensasse, que eram como dizia Hitler, um povo superior por determinação eugênica). O professor é preso e morre. A filha é seguida pela história na sua fuga do país. Mas o filme não pousa no romantismo de Hollywood. É cruel. Como cruel é o drama do fugitivo de um campo de concentração que sempre espera favor dos amigos e encontra uma aventura amarga – mesmo antes do furor nazista. Filmes bem realizados, com ótimos atores e o cuidado de produção que cercava a velha Hollywood onde ao invés de locações se lavava o mundo para dentro dos sets. De parabéns a distribuidora pelo lançamento.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Melodramas

Volta ao Olympia “Sublime Tentação” (Versão de Douglas Sirk com Rock Hudson e Jane Wyman). Eu me lembro de quando fui exibir um filme em cópias de 16mm no Colégio Santa Rosa por volta de 1958. Fui para ver a minha namorada, Luzia, aluna do internato. Levei comigo Orlando Costa, então dirigente do Cine Clube “Os Espectadores” e o filme “Amanhã Será Tarde Demais”de Luciano Emmer, premiado em festivais. Dezenas de jovens aplaudiram Pier Angeli fugir com o namorado. Mas o interessante foi um debate após a projeção. Perguntei qual o filme que elas preferiam dentre os recentes estreados nos cinemas comerciais. Foi um coro: ”Sublime Obsessão”. O ator que elas admiravam: Rock Hudson(não sabiam que o ator, por sinal um notório canastrão, era homossexual). Um escândalo para os cinéfilos projecionistas. Na época o filme do diretor Douglas Sirk era considerado de tremendo mediocre. Hoje é elogiado desde que um francês adepto da “nouvelle vague” escreveu amável citica na revista “Cahiers du Cinéma”. Mas a explicação para a preferência foi puro extrato de romantismo. Ou de uma sexualidade fechada forte nos preceitos religiosos que faziam o roteiro de casa e colégio. Rever os melodramas antigos é muito interessante se a gente pensar na plateia que movia esse lado da indústria cinematográfica. As meninas da classe média aplaudiam o que saía de Hollywood. As menos favorecidas ficavam com os mexicanos que seguiram o clássico “Pecadora”(1948). Mas qualquer garota gostava de bolero. E os boleros traduziam o potencial romântico de cada uma. No festival de agora há um titulo que marcou a historia do próprio Olympia:”Amar foi minha Ruína”. Quando este filme estreou as cópias que chegavam à Belém eram quase sempre deterioradas e as interrupções de projeções eram constantes. Os vereadores que estreavam uma câmara ausente no tempo da ditadura Estado Novo queriam fechar o cinema se continuassem os intervalos. Eles não entendiam que a culpa era das cópias. Nesse tempo o “seu Chico”, revisor da empresa proprietária do casa exibidora, fez trabalho de relojoeiro na cópia que chegou do nordeste caindo aos pedaços. Conseguiu que passasse sem acenderem as luzes no meio da sessão. Vitória. O filme é um dos raros melodramas sem “happy end”. Gene Tierney faz uma vilã pouco imitada e ficou celebre a sequencia em que se joga de uma escada, grávida, para perder o filho do odiado marido (Cornel Wilde). O melodrama fazia as espectadoras chorarem. Esta resposta emotiva deu até samba.Nossa resposta aos boleros de Augustin Lara e seguidores. Um programa coerente na festa do centenário do nosso Olympia.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Programas

NA FRENTE DAS TELAS “A Entidade”(Fearless) ouve cantar o galo. Tudo o que se passa com o escritor que em busca de ambiente para um livro de sucesso defronta-se com uma lenda macabra é ligado a cinema. Ele vê em filmes Super 8 os mortos e desaparecidos. Uma caixa com esses filmes é o convite para o personagem adentrar no mundo de horror. E ele acaba virtualmente dentro de um desses filmes. Infelizmente o diretor Scott Derrickson rende-se a formula do susto fácil. É o tipo do programa pra ver com a namorada. Cada objeto despencando é um ruído que assusta. E as meninas procuram os braços dos acompanhantes. Medo & amasso fazem a festa. Chance de cinema inventivo desaparece nas sombras das muitas noites da história. E poucos filmes exibem tantas noites... “Os Infratores”(Lawless) lembra os filmes de gangster onde James Cagney reinou. A família de fabricantes de uísque na época da Lei Seca(anos 30) existiu mesmo e o roteiro vem de um livro do neto de um dos traficantes. O público é convidado a torcer pelos bandidos. Aliás, a trama se divide no confronto entre mais e menos bandidos. Fosse aqui teríamos o “uiscão”(posto que temos o mensalão). Mas os 3 irmãos que saciam os bêbados americanos do governo Roosevelt não são parentes de Bonny e Clayde e por isso não morrem no fim do filme. Ao contrário: terminam bem com mulheres e filhos em cenários aprazíveis. Um trabalho de reconstituição de época acima da média, uma boa direção (John Hiklcoat) e atores competentes tiram o resultado da vala comum. “Fausto” de Sokurov é criativo, puxa pela arquitetura dos fotogramas mas é chato. A lenda que serviu ao melhor de Goethe passa na linguagem de cágado do diretor de “A Arca Russa”. Perdoem-me os críticos “profissionais” (eu nunca me considerei assim - nem amador) mas cinema,para mim, é movimento, é filho da Cinemática. Sokurov assim como Tarkovsky,seu ícone, fazem (faziam no caso do último)filmes extremamente contemplativos, lentos, recheados de detalhes que desviam o interesse do espectador. Engraçado é que o canadense David Cronemberg embarcou nessa canoa. Seu “Cosmopolis”(não creio que chegue a estrear por aqui) divaga através de um milionário dentro de sua limusine. Ele quer ir ao barbeiro mas até chegar esbanja filosofadas que lembram aqueles preceitos soviéticos de evidenciar desigualdades sociais. Curioso é ver Robert Pattinson, o vampiro da série “Crepúsculo” no papel “sério” ou de “filme de arte”. Há momentos em que a gente pede que ele volte a cheirar o pescoço da coleguinha Kristen Stewart. Detesto filme chato. Antes eu ainda aturava, pois achava que cinema também era passível de dissertações intelectuais capazes de torrar neurônios. Felizmente me vacinei disso. Meus melhores filmes deste ano começam com “O Artista”, “A Invenção de Hugo Cabret” e “Os Intocáveis”. Os dois primeiros tratam do próprio cinema. Cinema como eu conheci e me fez espectador assiduo.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Busca Rentável

No primeiro “Busca Implacável” a filha do agente americano era sequestrada por árabes terroristas (?) e o pai dela matava todos os sequestrados para libertar a garota. O filme deu dinheiro e Luc Besson, cineasta francês que começou fazendo “filme de arte”, achou que uma sequencia também daria . Fez este “Busca Implacável 2” onde pai e filha lutam para libertar a mulher/mãe sequestrada pelo pai dos primeiros sequestradores, agora desejoso de vingar a morte dos filhos na primeira aventura. É isso: o filme de hoje, com direção de Olivier Megaton no lugar de Pierre Morel (da primeira busca),é apenas uma troca de lugares, ou “a volta dos que não foram”. Resultado pratico: no fim de semana passada deu US$49.5 milhões nas bilheterias dos cinemas norte-americanos (custou apenas 80 mil). Liam Neeson é pau pra toda obra e assim como fez aquela lista (de Schindler)e esteve entre os sobreviventes de um desastre aéreo em “A Perseguição”, dá conta do recado. Imune às balas dos antagonistas, bom de soco no confronto com um atleta árabe, pula telhados ao lado da filha, ostenta apenas uma cicatriz na cara, e sorri no fim quando a moça reapresenta seu namorado, antes indesejado por ele. Ah sim: Neeson volta às boas com a mulher de quem estava separado. Moral da coisa: remédio para divorcio é sequestro de um dos conjugues. O pior de tudo é que a coisa diverte. Prudentemente curta(pouco mais de 90 minutos)não me fez consultar o relógio. A montagem acelerada caça a chatice. Por sinal que o diretor montou nas costas do editor. Bem dizia Kubrick: a edição é a arma especifica do cinema (só ele tem este recurso criador). E penso na minha ignorância nesse quesito da produção. Em meus vídeos de hoje peço penico para netas editoras. E espero sentado que elas falam uniam de pedacinhos de imagens roubadas daqui e dali...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Tarzan

Não esqueço uma vez em que fui ao escritório da Aerovias Brasil buscar um filme 16mm com o programador da empresa Paramazon, o já idoso Gurjão (parente distante do general).Ele reclamou o desvio da encomenda argumentando: “-É uma fita de Tarzan, uma fita caríssima....” Eu ri porque sabia que os filmes desse herói criado por Edgar Rice Burroughs eram baratos, feitos em selva de estúdio com bichos emprestados de documentários e a macaquinha que em alguns exemplares era macaquinho. Mas tudo bem: “fita” de Tarzan era lucro certo para o distribuidor & exibidor. Eu curti as “fitas caríssimas” no velho cinema Moderno, ou no Iracema (ambos no Largo de Nazaré). Johnny Weissmuller falava fino e tudo bem, pois pouco falava. Maureen O’Sullivan, que seria mãe de Mia Farrow, era Jane, a companheira que a censura da época permitia não ser casada. Depois passou o útero para Brenda Joyce. E tinha o filho adotivo do casal, o “Boy”(Johnny Sheffield), que depois fez filme sozinho como Bomba (e era mesmo uma bomba). A gente, e eu digo a tropa da minha idade, comprava gibi na porta do cinema e ia torcer pelo “homem macaco” macaqueando nas poltronas sem estofo. O Moderno tinha duas classes (cada uma com um preço de ingresso) divididas por uma tabua sendo a segunda com bancos no lugar das poltronas que representavam o “luxo”da primeira. Foi quando eu vi/ouvi, antes de saber de Marx(o Karl não o Grouxo) uma “luta de classes”. Jogava-se papel amassado e até pedrinhas de uma para outra. Na tela, Tarzan gritava para Tantor (o elefante) salvar quem torcia no seu time ecológico das garras de caçadores malvados. O final feliz era festejado no plano de Cheeta fazendo gracinha com a sua dentadura impecável. Uma festa. Hoje se comemora o centenário do herói de tantas gerações. Burroughs nunca foi à África, começou escrevendo ficção cientifica, e descobriu a mina num espasmo criador pensando em Rômulo & Remo e naquele moleque que Truffaut filmou em “L’Enfant Sauvage”. Ficou rico. Pudera, até na selva amazônica se jurava o mato de Tarzan.Lá pras bandas do Quênia devia ser a mesma coisa. Sem ir ao cenário descrito, o jornalista norte-americano caçou a fera. E marcou gerações. Os moleques tufavam o peito e se diziam tarzans. Eu nunca fui isso (sempre exibi meus ossos), mas gostava dos filmes e livros desse herói. E uma das piadas que mais acho graça é aquela de Tarzan jogando pingue-pongue e pedindo a macaca sua amiga para buscar a bola caída no chão próximo. Quando Cheeta voltava estava um trapo. Toda quebrada. Tarzan, com a fala econômica, aconselhava firme: “- Cheeta, Tarzan disse bola de pingue-pongue não de King Kong”. No também centenário Olympia vai acontecer um programa dedicado a Tarzan. São 6 filmes a serem exibidos na base de um por dia. Todos da fase da Metro (anos 30/40)com Johnny Weissmuller(depois tudo passou para a RKO). Acompanhem (os).

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ted

Quando eu era criança ganhei de meus pais um urso de pelúcia. Chamei de Totó .Ainda guardo o brinquedo num armário. Mas ele nunca falou comigo. Nem quis conversar com ele. Cada macaco no seu galho. Mas o urso do norte-americano John do filme “Ted” de Seth MacFarlane, não só falou com o dono como passou a andar com ele e a monitorar sua adolescência e sua vida sexual na idade adulta. Farlane foi animador do grupo Hannah & Barbera e andou pela Disney. Fez na TV coisas como “Familia da Pesada”. É um quarentão bem humorado. Seu filme provocou gargalhadas no cinema como eu não ouvia há muito tempo. Quem pensa que é coisa de menininho, de conto de fadas, quebra a cara. É sacanagem bem administrada como disse o Lorde Cigano(José Wilker) no “Bye Bye Brasil” de Cacá Diegues. Quem adora pensar em cinema vai descobrir muita coisa em “Ted”. Ali está a criança intimidada, o adolescente ingênuo, o homem maduro que só o é na idade (35 anos , se diz). E a repercussão do fato de existir um brinquedo falante e móvel passa meteoricamente pela mídia. Dá a entender que as coisas bizarras são tantas no mundo moderno que um ursinho fazer a vez de gente, até mesmo curtindo droga e fazendo sexo (com o “dispositivo” a seu alcance) não causa uma perene admiração. Vendo assim o roteiro critica o comportamento de uma sociedade acomodada que só se admira do fato que é noticia. E a noticia morre quando perdura. Também se fala (ou se vê) como o “happy end” funciona em propostas surrealistas. A plateia ficaria revoltada se no fim do filme “matassem” o Ted. Para ele, uma cirurgia de pluma e agulha de crochê dá conta de um milagre. E para isso mostra-se até as “estrelas cadentes” que a cultura ocidental acata como motivo para se pedir uma graça. Legal o filme. Quem pensou, como um deputado, que é “imoral”, não vê a violência diária das imagens difundidas em todas as vias de acesso público e quer ser o próprio menino a busca de um brinquedo falante. Eu sugeria a ele um Pinóquio.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Cine Bandeirante

O meu Cine Bandeirante (1950-1984) atendeu ao meu amor pelo cinema. Exibiu filmes em 16mm alugados de distribuidoras locais e de cineclubes como ‘O Espectadores”(1955-1956). A”sede” era na garagem de minha casa (Av S Jerônimo, hoje José Malcher). E as sessões eram frequentadas pelos vizinhos, que ajudavam no pagamento dos alugueis dos filmes. Ali foram exibidos de clássicos a boleros mexicanos. Valia tudo. E eu aprendi cinema assim, vendo de a joia e o lixo. Quando Orlando Costa criou “Os Espectadores”, primeiro cineclube local, levava os filmes para que eu os exibisse no Bandeirante contentando quem iria fazer apresenção na sede da SAI (Sociedade Artística Internacional, hoje sede da Academia Paraense de Letras). Frequentadores, além dos vizinhos, lembro de Waldemar Henrique, Benedito e Maria Sylvia Nunes, Francisco Paulo Mendes, Carlos Coimbra, Silvério Maia, um grupo de intelectuais que arrumavam suas cadeiras adiante de uma parede pintada de branco. O Bandeirante também lançava os filmes da Eldorado, ou minha “produtora”, como se fosse uma “premiére” de Hollywood. Os atores iam ver e nem sempre aplaudir. Bem, essas considerações seguem agora, pois andei lendo que o nome do cineminha tinhas um “s” no fim (BandeiranteS) e era restrito a cineclubismo. Nada disso. O nome veio do pioneirismo na exibição domestica do 16mm e do avião que trouxe do Rio o primeiro projetor (um Bandeirante da frota da Panair do Brasil). Penso botar essas considerações em um livro de memórias. É preciso o pingo nos ii pois a Historia que não se registra é, como alguém já disse, a prostituta que todo mundo pega e nem sempre paga.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Corações Sujos

No Brasil dos anos 40 os imigrantes dos países em guerra com os Aliados, os conhecidos como RoBerTo (Ro de Roma, Ber de Berlim e To de Tóquio) eram confinados em ares escolhidas pelo governo federal mesmo sem imitar os campos de concentração que existiam nessas terras, especialmente as dominadas pelos alemães. Engraçado é que vivíamos uma ditadura (a de Vargas). E o nosso ditador chegou a manter correspondência com o colega germânico(Hitler). Mas os norte-americanos viraram a mesa quando 4 navios brasileiroa afundaram e se culpou submarino alemão. Roosevelt, o presidente dos EUA, veio ao Rio pedir a Getulio(Vargas) que o brasileiro entrasse na briga. Outro ponto curioso é que o mesmo Roosevelt (Franklin Delano) havia tentado suportar uma neutralidade de 1939 a dezembro de 1941. Foi preciso os japoneses atacar Pear Harbor para ele se decidir. Eu era criança e sabia das histórias da guerra. Sabia da caça aos alemães,italianos e japoneses. Um alemão que era meu vizinho no Mosqueiro, teve seu estabelecimento comercial depredado (a Foto Amazônia) . E ele era judeu e fugira de sua terra com medo da perseguição a seus irmãos de credo. Também os italianos foram perseguidos. E os japoneses. Já depois do conflito, fui varias vezes ao Natal do Murubira, também no Mosqueiro, e vi os Yamada em sua horta. O patriarca dessa família havia estado no Presídio S. José e se dizia que lá ele começou a pintar. Fez muitos quadros elogiados na época. O filme “Corações Sujos” de Vicente Amorim trata dos japoneses confinados em Paulínia(s.Paulo). Quando o Japão se rendeu, eles relutaram a aceitar isso. Nem vendo fotos do General Mac Arthur com o imperador nipônico depois da rendição aceitavam o fato. E pediam aos conterrâneos que resistissem a ponto de praticar haraquiri. Como ninguém queria cortar a barriga em nome de uma inverdade eles eram assassinados. É o tema do livro de Fernando Moraes que deu luz ao filme. Não conheço este livro, mas o filme é competente. Nada de obra-prima. O elogio maior é chegar perto da cultura nipônica com a ajuda providencial de atores japoneses. Todos muito bem, mesmo quando os papéis exageram e deixam um epilogo melodramático que quase estraga tudo. Amorim contou com uma boa produção e seu filme conseguiu ser distribuído depois de um ano de espera. Hoje como ontem o cinema brasileiro privilegia chanchadas por conta de um mercado vicioso: o público paga para ver “quem comeu” e lhe é servido um mesmo prato. Vicente Amorim é filho do ex-ministro Celso Amorim que foi diretor da Embrafilme no tempo da ditadura. Foi ele quem acabou com a agencia regional da entidade sediada em Belém.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Intocável

Um homem rico , erudito e paralitico, precisa de um negro atlético, ex-presidiário e semianalfabeto e para cumprir as suas mais corriqueiras tarefas. “Intocáveis”é um filme francês muito simples que exala emoção. E o faz principalmente porque os dois principais atores convencem. O desconhecido (pelo menos para mim) Omar Sy dá um banho de interpretação. Faz rir de um tema sério- ou triste. O roteiro dos diretores Eric Toledano e Olivier Nakache baseia-se em fato real. Tanto que no fim da projeção, quando passam os créditos, abre-se uma janela para que se veja a dupla que inspirou a filmagem. Dessa forma, o fim é conhecido. Não há “happy” nem “bad” end. Há sempre o quadro alegre de uma dedicação que supera a qualidade de um bom empregado diante de um patrão que nem tem por onde reclamar. Há momentos hilariantes, como o de Driss (Sy) na ópera (ele que nunca havia visto uma). E a experiência desse personagem na pintura. O quadro cômico não atrapalha (ao contrário, endossa) um tratamento sério de um drama real. Nada a lembrar “O Escafandro e a Borboleta” por exemplo. Nunca se diz que Philippe(François Chezet), o tetraplégico, quer se matar. E não faltam dissabores: alem de ter se ferido num acidente que lhe tirou os movimentos a esposa querida morreu. E Driss também não vive nas nuvens: o irmão menor está no caminho do crime e a vida na casa da mãe dele é um inferno, com a própria mãe lhe ralhando. Apesar disso, a dupla sabe brincar. E a sequencia inicial do filme, com os dois desfiando policiais do tráfego, é superlativa em humor. É um dos poucos filmes que eu vi este ano que não me fez olhar para o relógio nem me queixar do ar condicionado em exagero. E a minha sessão foi uma das raras sem que espectadores a abandonassem antes do fim. Assim é o cinema que eu gosto: emotivo e longe de ser chato. Ultimamente deixei de aturar as obras “primas” de festivais que deixam a gente passear e voltar para diante da tela sem que o plano se modifique. Afinal cinema é cinemática, é movimento.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Métodos em Anarquia

A comédia de Sacha Baron Cohen lembra a de Olsen & Johnson(com direção de H.C.Potter) exemplificada em “Pandemônio”(Hellzapoppin/1941). A diferença reside na liberdade de expressão. Os comediantes antigos não podiam nem mesmo dizer “merda”. Cohen deixa neste seu novo filme, “O Ditador”(The Ditactor) uma sequencia em que o herói faz um parto e espalha tudo o que daria infarto no Sr, Hayes o autor do Código de Produção que vetava até mesmo mulher grávida e cama de casal. Mas a anarquia do cômico inglês judeu que vende a imagem de árabe antissemita volta a perder unidade, como nos seus filmes anteriores . Apesar de agora haver uma história com principio meio e fim, isto não implica numa linha narrativa que endosse as piadas do ditador guinado a cidadão americano comum. Falta coesão de situações no argumento e sobram excessos no roteiro. Tudo bem que “Pandemônio” sofria do mesmo mal. Mas de propósito. O clássico de Olsen & Johnson é metacinema o tempo todo. Lembro do momento hilariante em que o projecionista troca as partes do filme e entra numa sala de baile a cavalaria de faroeste. A anarquia em “O Ditador” fica na fase do funcionário de loja que joga inadvertidamente a lata de lixo em cinema de um carro que passa e mete o pé na bunda de um garoto que lhe faz uma afronta (lembrança de W.C.Fields). Na verdade “O Ditador” só traz de novo os termos chulos dos diálogos e a citada sequencia do parto. Um leve aceno a critica política está no discurso do personagem principal sobre democracia, aludindo a males que atacam os países ditos democráticos. Mas nada impede um “happy end” bem tradicional que no caso é uma excrescência.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A Ronda de Meirelles

“360” é um La Ronde modernoso e longe da classe e malicia que pariu o filme de Max Ophuls. Lembro que ao ver o filme no antigo cinema Moderno estava o amigo e professor Francisco Paulo Mendes que voltou no meu ônibus elogiando o que viu. Era a belle époque dissecada pelo escritor Arthur Schnitzier e pela classe do ator Anton Walbrook que no prólogo vestia casaca e dizia “-Vocês já devem ter adivinhando que vamos tratar de amor”.E ao girar um carrossel cantava “Tourne, tourne, mes personages/la Terre tourne en jour et en nuit...” No filme de Fernando Meirelles,a ronda é dos espertos. Diz uma figura: “-A gente deve aproveitar a oportunidade que a vida oferece”. Uma prostituta apanha, mas aproveita da morte do cliente e do cafetão para fugir com mala cheia de euros.A irmã dela conhece o leão de chácara do cliente da mana, revoltado por ser capacho do patrão, e sai com ele mundo afora. Uma garota brasileira quase é vitima de um maluco sexual e conhece um senhor que procura a filha desaparecida. Um muçulmano perde a mulher que lhe inspirava paixão. Enfim, vários tipos, vários países, várias situações e pouco humor. Uma virada (360 graus) que chega a cansar. Olhei o relógio. Não olhei vendo o “comercial” de um psicólogo em “Um Divã Para Dois”, ou “Esperada Primavera”(Hope Spring) onde Meryl Streep pouco chora (é raro) e Tommy Lee Jones não desamarra a cara. Pelo menos os dois divertem como casados em jejum de amor. No vídeo, “Amizades Particulares”prova que Jean Dellanoy sabia fazer cinema acessível a todos – fato que irritava a turma da “nouvelle vague”. E em bluray “Naufrago”é um prazer. Gosto muito do filme de Robert Zemeckis.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Marilyn e Niagara

Em 1951 o termo “torrentes de paixão” era moda. A canção imortalizada por Elizete Cardoso, chamada “Canção de Amor”, dizia assim: “Saudade, TORRENTE DE PAIXÃO emoção diferente que aniquila a vida da gente com uma dor que não sei de onde vem...” Pois se deu a “Niagara”,o filme de Henry Hathawy, o titulo brasileiro “Torrentes de Paixão”. E no caso a catarata famosa seve de matáfora para o drama conjugal vivido por Marilyn Monroe e Joseph Cotten, ela sensual e adultera, ele o tigre adormecido que “acorda” para a vingança de um adultério. O filme tinha roteiro de “cobras” como Charles Brackett , Walter Reisch e Richard Breen. Comparava o par formado por MM e Cotten com o de Jean Peters e Max Showater(ator que não decolou além de episódio da série “Além da Imaginação”). O primeiro era a própria torrente no modo como se deixava destruir pela paixão. O segundo era o modelo da época, mulher bonitinha e boazinha, marido pateticamente lerdo. Essas figuras alojadas no espaço turístico da queda d’agua viviam dramas cruzados pelo contraste entre eles. E Marilyn pela primeira vez utilizava o estereotipo da mulher sensual, andando como quem dança com um vestido colante que exibia o relevo de suas curvas. Alias foi o primeiro filme que MM apareceu em evidencia.Até então era coadjuvante bonitinha. “Torrentes...”não é o melhor de Hathaway, chamado “mestre do semidocumentário” por um critico brasileiro que aplaudiu o seu “Sublime Devoção”(1948), drama de um advogado que toma a si, sem visar pagamento, o caso do filho de uma faxineira. Também de “Horas Intermináveis”(1951) onde Marilyn era uma das espectadoras de um quase suicida, o homem que ameaçava se atirar do alto de um prédio. Mesmo não ampliando suas conquistas formais o diretor conseguiu dar vivacidade a um melodrama corriqueiro. E entrou na história com a moldagem de uma “vamp” moderna. Daí em diante, La Monroe passou a ser símbolo sexual de uma geração. Rever o filme é interessante. Reabre o cineclube que leva o meu nome. Tudo por conta dos 50 anos de morte da atriz.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Eldorado 61

Na data de hoje (9 de agosto) filmei pela primeira vez. Explico: ganhei de presente de aniversário do meu pai uma pequena câmera marca Bell &Howell 16mm para 50 pés de filme. O presente foi como aquele candelabro que uma família pedia para a pombinha mágica em “Milagre em Milão” quando não tinha teto na sua barraca para dependurar o objeto. Eu não sabia fotografar, era nulidade em tudo que se relacionava à prisão de imagens. O dono da foto onde meu pai fez a compra disse-me que seria preciso eu ganhar também um fotômetro. Que diabos era isso? Mas não esmoreci. Soube que se filmasse com o diafragma da maquina quase fechado (f11 ou f16) teria foco. Bastava usar a luz do dia. E assim filmei um clipe com a turma de casa. Não satisfeito bolei uma ficção a que chamei de “Um Caso Dificil”. Surpresa: a fotografia saiu boa. Nascía a Eldorado Filmes. Com o tempo e o conhecimento de Fernando Melo, fotografo dos filmes de Libero Luxardo e dono de uma oficina onde eu levava meu projetor Revere para consertar (e os pregos eram frequentes), passei a filmar com assiduidade. Fazia de tudo, mas o que hoje me impressiona é como montava na filmagem. Tudo para não cortar a película positiva.Uma ginástica que me fazia correr de um lado a outro para dar continuidade à sequencia. Cinema era minha praia. Contratar, exibir, produzir. Do muito filmado sobrou pouco. Mas tem uma película de 1952 que eu não gostava na época: “O Desastre”. Foi telecinada no MAM. Guardo até quando possa fazê-lo. Hoje gravo em digital competindo com minhas filhas. Há muitas ideias jogadas em cena. Só peco na edição, que ainda não domino. Mas vou levando uma Eldorado sessentona.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A lista que caiu com o corpo

Saiu outra lista de melhores filmes de todos os tempos. Agora é da revista inglesa “Sight & Sound” que de vez em quando comete esse tipo de coisa. A lista de agora, de 50 títulos, é uma piada. Só tem um filme de Chaplin(Luzes da Cidade) assim mesmo no 50º posto. E tira “Cidadão Kane”, que era o preferido de outros carnavais para votar “Um Corpo que Cai”,ou melhor, “Vertigo”(o nome brasileiro é um replay do ridículo que fizeram com outro filme de Hitchcock: Sabotage, que virou “O Marido é o Culpado”(1936). Eu acho graça dessas listas. Melhor foi a turma que editou o livro “1000 Filmes Para Ver Antes de Morrer”. O titulo do livro parece coisa da Hammer Films, empresa inglesa especializada em terror. Mas até que cabia o cinema que eu prezo. Essa listinha do pessoal da “Sight & Sound”é uma coisa que esquece Griffith, o pai do cinema, que esquece o expressionismo alemão, que minimiza o neorealismo italiano, que nem sabe do cinema francês de gente como Marcel Carné e Abel Gance (cadê “Les Enfants du Paradis” e “Napoleon”?), que joga fora o próprio Hitchcock de “A Janela Indiscreta”, “Pacto Sinistro”, “Suspeita” e “A Sombra de uma Duvida”, esnobando a comédia sofisticada americana de Capra, Preston Sturges. Hawks e outros mestres. Daqui a pouco vai ter careta fazendo sua listinha dos filmes mais chatos da história do cinema. Aí sim, quem fez a lista atual ganha vez...

segunda-feira, 30 de julho de 2012

General Batman

Vendo este “Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge”, debaixo de um frio polar que os compressores da sala de projeção ofereciam, pensei que o morcegão deve ter alguma patente do governo norte-americano. Se existe um Capitão América, o ufanismo do filme de Chris Nolan indica um General Batman. A promoção vale pela demonstração de patriotismo dada em sequencias como aquela em que um garotinho canta, contrito, o hino nacional, e o campo de rugby onde ele está vira farelo. A destruição e a seguinte demonstração dos planos governamentais do vilão da historia é pura guerra fria. Gothan City seria socialista. Antes de explodir um estádio ele,vilão, explodiria a Bolsa de Valores e grandes industrias (e casas de comércio). Só não explodiria Hollywood, é claro. Contra esse estado de coisas Batman sai do exílio, machucado várias vezes, até saco de pancada do bandidão chamado Bane (podia ser um banen de site da Warner) e volta a ser o superheroi que vai ganhando a peleja até no final quando, apesar de ter levado uma facada, pilota o batplano para jogar no mar uma bombinha atômica. O filme é um mimo de efeitos especiais, de iluminação, de edição. Mas a troco de mesmice datada dos 50. Tudo bem que isso é uma prova de coerência: Batman foi criado em 1939 e alimentado depois de um estágio em 1948 por festejada série de TV e depois o filme de Tim Burton com Jack Nicholson feito “o homem que ri”, menos Victor Hugo & Conrad Veidt (como quis Bob Kane o pai do herói na HQ) e mais um Coringa (Joker)a melar qualquer jogo. Li que se falou deste filme no páreo dos Oscar. Tudo é possível. Até mesmo se Terrence Malick chegar com o seu novo trabalho que abre agora o Festival de Veneza. Sei lá, mas qualquer dia aparece uma refilmagem de “Fui Comunista para o FBI”com o nome “Fui Terrorista para a CIA”. E se a gente pode esperar “Batman e Robin “(de novo) também pode esperar o Super Homem ,ou Superman, ensinando que o seu planeta, o Krypton, foi pras cucuias porque tinha terrorista agindo. E o “homem de aço”vai ter que exorcizar esse mal enrolando os fragmentos de seu mundinho na bandeira americana....

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Heleno

Não sou muito ligado a futebol, mas quando eu era criança ouvia falar de Heleno de Freitas, de sua teimosia, de como ia brigar com o juiz por causa do tempo da partida exibindo o relógio de pulso que levava consigo em todos os jogos do Botafogo. O filme “Heleno” não diz como surgiu o craque. Pega-o já no auge, ídolo de um clube que tinha como maior gloria o hino composto por Lamartine Babo que a gente cantava “...campeão de 1910” e o botafoguense corrigia rápido: “...campeão DESDE 1910”. O que me impressionou no trabalho do cineasta José Henrique Fonseca,premiado por “O Homem do Ano”em 2003, é o esforço monumental do ator(e produtor) Rodrigo Santoro. Parecendo fisicamente com o biografado Santoro dá uma aula de expressão corporal e deixa a imagem do homem doente, do sifilítico, entregue à uma solidão sem saída. Um dos melhores desempenhos de ator no cinema nacional que eu me lembre. Mas o que me impressiona mesmo é como “Heleno” não chegou aos cinemas locais. Rodado em preto e branco deve ter caído na malha do preconceito que paira sobre a ausência de um elemento comercial estável (a cor). Só pode ser. E a pensar que os cinemas são obrigados a exibir filmes nacionais e cumprem a obrigatoriedade com a safra da neo-pornochanchada é triste. Registro meu protesto. E aproveito para registrar também a retirada brusca de “Para Roma Com Amor” só suavizada agora com a “rentrée”no Cine Libero Luxardo. Parece que estamos mesmo num esquema de radicalização de bloquebostas. E se ir a cinema já é (pelo menos para mim) sacrifício (com o DVD dando sopa em casa) a dieta de abacaxi é simplesmente indigesta.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Nas Noites do Passado

Nos anos 50 a Metro gabava-se de ter tantas estrelas quanto as do firmamento. Eu tinha uma foto do almoço comemorativo dos 50 anos da empresa. Lá estavam quase todos os artistas que se conhecia. E o estúdio vendia caro o seu produto. Alguns filmes eram negociados a 60% da renda do cinema lançador. O “normal” era 50% (quando de outras firmas era 40% deixando os 50%para a produção nacional). E tinha quem pagasse. Para vencer o concorrente, a firma local Cardoso & Lopes(cinemas Moderno, Independência e Vitoria) não hesitava. A maior parte dos filmes era musical. Na época a gente não gostava. A critica não gostava. Mas hoje em dia busca esses títulos como valiosas peças históricas. A exceção eram os melodramas com caras conhecidas. E dois títulos ágora em DVD ilustram esse tempo: “Mundos Opostos” e “Na Noite do Passado”. Eu revi com atenção “Na Noite do Passado”. Não conheço o romance original de James Hilton mas o filme de Mervyn LeRoy me pareceu um modelo de seu gênero. Ronald Colman, em grande fase, é o ex-combatente da I Guerra que chega sem memória a um asilo inglês. Desejando sair dali de qualquer maneira, foge na hora em que se comemora o armistício (1918). Só não se perde na rua porque sensibiliza uma atriz de teatro(Greer Garson) que vai lhe dar abrigo e gradativamente se apaixonar por ele. Passa o tempo, ele casa, tem um filho, mas quando vai atender a um convite de um editor em Liverpool, sabendo que tinha vocação para escritor,é atropelado. E volta a antiga memória apagando a atual. Com isso sabe que é um homem rico, herdeiro de uma indústria bem sucedida. Correm os anos e a esposa da breve época de amnésico surge como sua assistente. Ela quer que ele se lembre do que foi e reluta uma paixão que (re)nasce. Bem, o filme não deixa fôlego. Por mais que se saiba que tudo vai terminar “bem”, este fim é esperado como o resultado de um jogo. A narrativa clássica e os atores brilhantes sabem envolver com a trama novelesca. Pensei em como a gente saia do cinema de paz com a vida. O cinema era um escape para um paraíso mental. E não se diga que era fácil fazê-lo. Havia todo um processo de narrativa que empregava os artifícios de estúdio como locações reais. LeRoy era mestre nesse jogo de mentiras, certamente supervisionado por Irving Thalberg ou outro gerente do velho Mayer, o leão da marca. Quem hoje estuda cinema deve conhecer esses filmes do passado que agora se tornam acessíveis graças ao DVD. É a linguagem direta ou o modo mais simples de se contar historia. Ingenuidade, certo, que se perdeu com o tempo mas se ganha (e muito) em achá-la.

domingo, 22 de julho de 2012

O Massacre de Aurora

O massacre em Aurora, no Colorado, tocou não só aos que gostam de cinema. Alguns leitores pediram minha opinião sobre o assunto sabendo que sou ligado à cinematografia de um modo geral. Penso assim: fã é abreviatura de fanático. Há pessoas que não deixam de lado o que se chama “efeito mimético”. Lembram-se dos que se fantasiavam de tripulantes da nave Enterprise nas exibições de “Star Trek”? Diziam-se “trekkies”. Pois no caso do novo Batman, o fã resolveu ”vingar-se” da “humilhação” que o herói sofreu no filme imediatamente anterior a esse “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. E foi adiante: achando-se “O Coringa”, pretendia explodir seu prédio e quem sabe morrer como o personagem que no cinema foi interpretado pelo falecido Heath Ledger. Em suma: incorporou Coringa por tê-lo eleito o seu predileto, o seu “alter ego”. O tipo que se pode enquadrar na paranoia é perigoso para a sociedade na medida em que se manifesta contra esta sociedade. Geralmente é o introvertido, o “caladão”, o que a mídia está divulgando sobre Holmes, o causador da chacina. Não há como evitar esse tipo de tragédia no mundo moderno. Aquele estudante que fez a mesma violência deste norte-americano no cinema paulista quando se exibiu “O Clube da Luta” sofria do mesmo mal. Diferia o modelo a seguir. Mas é sempre a interferência da fantasia na mente que não sabe discernir o que é ou não real, vivendo o que lhe mais sensibiliza.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Sessão de DVD

Vejo a média de dois DVD por dia. A vantagem é poder acessar a passagem rápida de cenas. Tem muito saco disponível. E alguns com méritos, a exemplo de “Isto Não é Um Filme”, produção iraniana de Jafar Penahi aquele diretor que foi preso por desacatar as normas da nação religiosa. Em 70 minutos ele lê um roteiro de sua autoria. Seria o filme vetado pelos aiatolás. Filmagem com minúscula câmera digital que um amigo de Jafar botou num pen-drive e tirou do país. Coragem, capacidade de autor e teste de paciência para quem vê. “Hunger” impressiona. Na Irlanda dos anos 80 uma greve de fome matou diversos combatentes do IRA. O filme traz um plano médio do rebelde contando a um padre os seus planos na cadeia e a câmera permanece estática, focando os dois lado a lado, por mais de 15 minutos. Também há um prodígio estético quando o grevista está morrendo (a objetiva dança do alto sobre seu corpo). O diretor tem o nome de um ator famoso, Steve McQueen. É muito mais talentoso do que o xará de “O Canhoneiro do Yang Tse” morto em 1980. Em “Mundos Opostos”(East Side, West Side) James Mason é casado com Barbara Stanwyck mas pula a cerca com Ava Gardner. A escolha do ator procede quando se sabe que Ava foi mulher de Frank Sinatra (que precisava se espichar para beijá-la). Como regra três no romance está Cyd Charisse antes de mostrar que sabia dançar como pouca gente e tinha umas pernas como poucas mulheres tinham. Essa turma era trunfo no jogo de mercado para a MGM. O velho leão gastava uma fortuna com artistas contratados. O filme de Mervyn LeRoy sai em DVD para contentar os saudosistas e mostrar aos novos como se fazia cinema comercial nos idos de 40/50. Reparem que tudo se passa no estúdio. Ruas, pontes, céu. O artificialismo era engolido no seco. Melhor: saboreado. “O Despertar” é filme de fantasma inglês. Poucos como os ingleses sabiam filmar espíritos desencarnados. Este exemplar focaliza uma jovem mestra especializada em descobrir assombrações contratada para ir à uma escola, em Rookford onde aparecia o espectro de um garotinho. Não falta nada no cenário, até uma governanta que vai se revelar parente do morto. Rebecca Hall cumpre sua tarefa sob a direção de Nick Murphy, Dá saudades dos filmes da Hammer, empresa lodrina que tentava arrepiar com Christopher Lee e Peter Cushing... E “Billpig”, filme nacional que eu tive faro de não ir ver no cinema, é mesmo o fim da picada. Pior só “Agamenon”, da mesma origem. Um comentário que eu li cita saudades de Oscarito. Acrescento as minhas. As velhas chanchadas focavam nossa cultura, nosso modismo, nosso ridículo. Essas novidades, bem editadas, não dizem o que querem nem como conseguiram ser construídas. Nasceram pagas (veja o numero de financiadores) e por aí começam a se explicar.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Valente é o espectador

Eu nem me lembrava de “Irmão Urso” animação Disney que o nome diz tudo. Minha neta Juliana lembrou à saída do cinema aonde vimos “Velente”(Brave) de PIXAR. De fato, a diferença da metamorfose fica na família. Agora é a mãe que vira urso. E a filha, uma princesa, ajuda nisso inadvertidamente para fugir de um casamento arranjado pela matriarca. De novo no filme de Brenda Chapman, dona da ideia, só tem a ojeriza da mocinha, uma princesa, por um príncipe encantado. Hábil no arco e flecha, Merida, a garota, não aceita os possíveis pretendentes e no fim da história sai montada em seu cavalo “por aí afora”. Nem deve ganhar nova aventuras pois o filme não estreou nos EUA em cabeça de box-office. Perdeu feio para os blockbuster e até pelo insosso “Era do Gelo 4”. Senti que o pessoal da PIXAR está contaminado pela Disney. Não se acha a imaginação que voou com a casa do velhinho em “Up”. E é uma pena. Há anos que esta fábrica de desenho animado goleia no Oscar. Mas dessa vez talvez nem entre em campo. Pode ser que a garotada bata palmas. Mas o pior na minha sessão foi a lâmpada do processo digital da sala 6 do Cinépolis Boulevard. Parecia vela. As cenas escuras sobravam. E não houve 3D que iludisse. O filme passou em péssimas condições embora isso não invalide o que percebi. Certo: não é nada de valente. Pouco faltou para covarde. Ficou na preguiça de boas ideias.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Em Roma com Woody Allen

Doido por cinema (como eu), Woody Allen às vezes é inspirado por filmes. E pode ser inadvertidamente. Neste “Para Roma,com Amor” ele pinça um desenho de Tom&Jerry onde um protagonista só canta no chuveiro e por isso ganha espaço, com chuveiro e tudo, num palco de teatro. A história do cantor molhado é uma das quatro que o diretor-roteirista-ator usa nessa homenagem à capital italiana na linha de similares que realizou pela Europa ultimamente (Inglaterra,Espanha e França a conferir). Como todo filme em episódio, ou “de episódios”, “Para Roma...” tem altos e baixos. Os altos são declaradamente cômicos: como o de Allen, voltando a atuar de seu jeito como um aposentado descobridor de talentos vocais na área do canto lírico que acha “um novo Caruso”no futuro genro. O outro estratoférico é de Roberto Benigni. O comediante de “A Vida é Bela”, quase sempre um chato, cai bem no papel de um eleito da mídia (seria “o italiano padrão”) que acha um inferno o cerco dos paparazzi, mas quando deixa de ser estrela fica implorando por eles. Os romances, ou melhor, as cornadas, são frouxas. E alguns atores se perdem como Alec Baldwin, deixando o caminho livre na área para Penelope Cruz de prostituta trajando um vestido vermelho colante. Os dois romances enxertados na trajetória romana lembram de longe alguma coisa de Dino Risi. Mas neste caso nada melhor do que italiano falando (ou filmando) de italiano. E Allen deve ter visto muitas comédias não só de Risi como de Mario Monicelli, Steno ou o Pietro Germi de “Divórcio à Italiana”. “Para Roma com Amor” só vem a provar que um filme menor de Woody Allen é bem melhor do que a média de comédias exibidas nas telonas ultimamente.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A Longa Viagen sen Rumo

“Na Estrada”(On the Road/EUA,2012)é baseado no livro de Jack Kerouac, um retrato da geração “beat” que eu na minha ignorância não sabia que era tão velha (a ação se passa em 1948). Interessante, de entrada, a aparência com “Na Natureza Selvagem”(Into the Wild) escrito em 1990 por Jon Krakauer e filmado por Sean Penn em 2007.A diferença é que o herói de Krakauer não anda em farras homéricas nem é fã de drogas. Tampouco se une a amigos. Quer viver só no Alaska, “far from this madding crowd”. Os rapazes de “On the Road” vivem mergulhados no insensato mundo. Drogam-se, fazem sexo à vontade, não são de visitar regularmente papai e mamãe. O que desejam da vida esgota-se rápido como diz um deles que tenta o suicídio. O mais evidente na história, ou o alter-ego do escritor, vai passando para o papel o que pensa ou sente e o que faz – menos do que “o que quer fazer”. A estrada, portanto, é o caminho para longe do “nada” na direção de “coisa nenhuma”. Uma Shangri-la perdida na memória esgotada pelos prazeres imediatos. Mas o que se pode contar. O filme de Walter Salles tenta ir fundo nos tipos descritos pelo escritor em 1957. Como é uma cultura norte-americana e a geografia é desse país não sei como o brasileiro foi surfar nessa onda peculiar comprada por Francis Coppola nos anos 70 e sem ter quem a levasse às telas desde então. Não é bem sexo, mentira s e videotape a lembrar o titulo do filme de Steven Soderbergh. É uma lenta narrativa sobre o vazio de pessoas ainda com um potencial de vida expressivo. Seria um documento de que o excesso leva ao tédio. Coisa que se sabe de cor e salteado. E filmar o tédio dificilmente se faz sem se contaminar. A mim, “Na Estrada” foi um saco. Consultei o relógio n vezes durante a projeção. Foram mais de duas horas de minha vida perdidas no pântano forçado dessa sociedade de um tempo. Dizer que o filme foi mal feito é mentir. Mas que adianta a estética do vazio? Sei que há quem goste. Antonioni fez carreira sobre isso, mas com uma classe peculiar. Gassman em “Il Sorpasso” de Dino Risi brincava: “-Vi “O Eclipse” de Antonioni: dormi o tempo todo”. Piada de mau gosto. Os vittelonis de “On The Road” chateiam sem reprisar muitas vezes seus planos. Não precisam disso. Apenas se deixam em rotina enfadonha por mais de duas horas de cinema. Eu não durmo em filme numa sala de projeção. Durmo vendo DVD à noite. Mas implorei a Morfeu que me atingisse. Ele também achou que estava perdendo tempo. Sim, já perdi a paciência para com certo tipo de cinema. Abraço o slogan da Imovision (“leve para casa o filme que você gosta”). Eu levo, mas na cabeça, o que me tocou. E esqueço rápido o não. Recurso terapêutico fisiológico.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Cinépolis

A empresa mexicana Cinépolis programou para os jornalistas uma sessão no seu novo e bem montado cinema no shopping Parque, o “macro”(sala 2), com o filme “Para Roma, com Amor” de Woody Allen. Na oportunidade o gerente geral da empresa. Eduardo Acuña,falou sobre os planos da firma, e eu perguntei a ele se vai continuar exibindo filmes com som original e legendas, alegando não só a fidelidade da obra primitiva como o alcance aos deficientes auditivos e espectadores estrangeiros (ou alunos de cursos de idiomas). Acuñua disse o que eu já sabia, que o público local prefere filmes dublados (e que Deus os perdoe) mas afirmou que prosseguirá exibindo cópias versáteis. A Cinépolis começou no Brasil por Belém. Gosta da cidade apesar de ser a única “no mundo” da dar ingresso gratuito a idosos, doadores de sangue e outras qualificações. O certo é que eu estaria deixando de ir a cinema se não existisse mais cópia com o som de origem. Acho um absurdo tão grande dublar filmes como se colorizava cópias primitivamente em preto e branco, - moda que felizmente passou. Por isso, por prosseguir respeitando quem leva cinema a sério, agradeço aos exibidores mexicanos. Lembrei-me de uma frase que Victor e Arthur Cardoso donos dos finados cinemas Moderno e Independência publicavam no rodapé de seus anúncios em jornais: “Dura lex sed lex filme bom é da Pelmex”. Pelmex era a distribuidora de filmes mexicanos. Faturava alto com os melodramas cheios de boleros. Hoje são os comerciantes que lançavam esses filmes que espalham suas casas mundo afora. Libertad Lamarque cantaria uma canção de Augustin Lara em regozijo.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Na Teia da Aranha

Não se surpreendam se em um novo filme da série “Superman” vai se ver, de novo, o pai biológico do super-herói colocando-o no foguetinho que o levará à Terra. E se no filme de Richard Donner (1978) tinha Marlon Brando faturando um milha por seu cidadão de Krypton agora apareça Michael Fassbender como Jor-El, o cara. E quem substituirá Glenn Ford de pai adotivo ? Por ora não se fala nisso. Os heróis da DC Comics estão em baixa comparados com os da Marvel (que virou produtora de blockbuster). Mas a moda é mesmo marcha a ré. “O Espetacular Homem Aranha(The Amazing Spider Man) , gabola até no nome, vai às raízes da história bolada por Stan Lee e apresenta (de novo) Peter Parker garoto, incomodado com o sumiço paterno. Também vai ao laboratório onde o rapaz é infectado pelo DNA (?) de uma aranha. Tudo o que se viu há exatos 10 anos. Falta de assunto ? Certo. Ou será que a Columbia/Sony crê na amnésia dos que vão a cinema ? O novo filme troca Sam Raimi(diretor) por Mark Webb e Tobby Maguire(ator)por Andrew Garfield. Não interessa. Só saudosismo reclama. O que os produtores querem é que a macacada se divirta na montanha russa de CGI onde o herói, que as revistas chamam de “aracnídeo” e eu tenho vontade de rasgá-las ao ler esse nome, pule por cima de prédios, derrube carros, infernize tráfego como se morasse em Belém, e, principalmente, faça com que o público deixe de pensar. Relax. A formula é curtir o herói pulador e seu vilão lagarto em uma luta que a prefeitura de Nova York pediria penico se fosse verdadeira. Quem afina no clube dos exigentes, aqueles que não dormem vendo Godard, vai achar “Homem Aranha” uma afronta à arte cinematográfica. Mas não pode dizer que se dorme durante a projeção. Mesmo porque o barulho é grande. Eu preferi ver o filme em 2D. Perdi o susto que dá o entulho que os personagens atiram para frente da objetiva. Mas esse entulho cabe no lixão da cinematografia. Difícil ver um catador de lixo depois da sessão. Passou, passou. A ilusão das imagens em movimento é substanciosa na medida em que essas imagens mexam com algum resquício de intelecto. Pensar em filmes como “Homem Aranha” é levar a sério a embriologia citada pelos doutores de araque. Sei lá, mas a gente tem saudades é de cientistas malucos como o Dr. Silvana, aquele que infernizava a vida do Capitão Marvel. Pelo menos não se embromava na mentirinha. BORGNINE Meu vizinho Dionorte Drummond Nogueira dizia que “´é triste o crepúsculo dos deuses”. Não se referia ao filme de Billy Wilder, mas ao fim de artistas de cinema. Vi no “Homem Aranha 4” Sally Field fazendo titia querida de Peter Parker. E Martin Sheen titio. Mas se esses atores premiados aceitam subpapéis por necessitarem de grana, pior é saber dos que se vão para sempre. Morreu agora Ernst Borgnine. Lembro do filme que lhe deu o Oscar: “Marty” de Paddy Chayefesky & Delbert Mann, e a produtora Hetch-Hill-Lancaster. Sim, Burt Lancaster era um dos produtores. Ernst, enfim em papel estelar, era o solteirão convicto que mãe italiana queria que arranjasse mulher. Um dia ele resolve procurar. E acha Bety Blair. Vai à uma festa com ela. Dois tímidos soltos num salão. Convincentes a ponto de comover. Um belo filme pequeno felizmente reconhecido pelos grandes da indústria. Borgnine fez mais de 200 filmes. Invariavelmente era de engrossar elenco. Mas competente a ponto de convencer como naufrago do Poseidon. Trabalhou até o fim. Tem filme com ele neste 2012. Somava 95. E podia ir além. Mas o espetáculo sempre termina. E o seu “the end” volta a dizer que cinema, apesar de ilusão, é um modo de se vencer a morte projetando a vida. Os filmes de Ernst estão por aí, com ele mais novo ou mais velho.

domingo, 8 de julho de 2012

Clássicos do Horror

Quando se exibiu o primeiro filme, ou seja, quando se projetou imagens moveis, na Paris de 1895 (Woody Allen se esqueceu dessa data no seu “Meia Noite em Paris”) os espectadores tiveram medo do trem que vinha na direção da objetiva, ou seja, na direção dos olhos deles. Talvez tenha sido o primeiro “filme de terror”. Hoje, aqui, no nosso Olimpia, reserva-se o mês de julho (2012) a esse tipo de filme. E inadvertidamente comemora-se o centenário da Universal Pictures, empresa criada por Carl Leammle e alimentada, ou engordada, pelo filho dele, Carl Leammle Jr, que no inicio das “fitas faladas” produziu uma série hoje de modestos “filmes de horror” hoje cultuados pelos estudiosos dessa arte chamado sétima. Karloff como a Criatura do dr.Frankenstein, Lugosi como o Conde Drácula, Lon Chaney Jr como O Lobisomem, esses monstros da noite ganharam uma fotogenia assustadora através de artistas como James Whale e Tod Browning. Por sinal que James mereceu uma interessante biografia (“Deuses e Monstros”) onde o ator Ian McKellen, confessadamente gay,adiantava que a morte do cineasta,afogado na piscina de sua casa, foi consequência do desprezo que lhe deu o seu jardineiro-amante. Tod Browning surgiu como ator no célebre “Intolerância”(1916), de David Wark Griffith mas deixou fama na sua versão livre do romance de Bram Stoker, usando a fotografia de Karl Freund, artista com passagem pelo movimento expressionista alemão tendo feito as imagens de “O Golem” e “A Última Gargalhada”. O ciclo da Universal na mostra do Olimpia abrange até “O Monstro da Lagoa Negra”, um tipo carnavalesco usado por Jack Arnold como amazônida. É ridículo, mas fez sucesso. A série “de meter medo” vai durar 4 semanas. Agora eu lembro “O Monstro do Ártico”(The Thing From Another World/1951) que eu vi no finado cinema Moderno aguçado pela minha paixão por ficção cientifica(o filme estava sendo vendido como o primeiro a tratar dos discos voadores). Cheguei a ir ver uma versão de “O Rigoletto”, a ópera, só para ver o trailer deste “monstro”. E era um “bicho folharal” no dizer paraoara. Cada pedaço de seu corpo podia medrar um outro bicho. Nada a amedrontar, mas a atiçar a ideia de que seres de outro planeta observavam (mesmo) a Terra e não eram amistosos (bem verdade vi poucos visitantes siderais amigos). O produtor dessa “coisa” foi o festejado Howard Hawks. Mas ele se escondeu na direção, deixando a assinatura como Christian Nyby, estreante então e mais voltado à edição (chegou a ser candidato ao Oscar por montar “Rio Vermelho”, de Hawks). Há mais a ver e a tratar. Mas agora eu paro por aqui. Texto longo em blog não me parece apropriado. Até outro dia.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Cinema em uma Viagem

É possível fazer cinema dentro da boleia de um caminhão com o motorista, uma jovem mãe e uma criança de 6 meses transitando do Paraguai à Argentina. Poucas vezes as personagens saltam do carro que leva madeira para Buenos Aires e também falam pouco. Quem espera um desastre, um drama qualquer pelo caminho, uma recepção cruel à mãe solteira e seu cativante bebê (uma das melhores caras de criancinha que vi no cinema) cai do cavalo. O filme do argentino Pablo Giorgelli é só a viagem(diz-se “road movie”), captando as expressões do caminhoneiro solitário e da mulher que espera melhorar de situação na casa da prima para onde se dirige. Nada acontece de ruim no caminho. Os tipos vão gradativamente se encontrando em suas situações, em uma simpatia mutua. Também não vira um romance de amor. É um fato, uma realidade. “Las Acacias” ganhou prêmio em Cannes. É de tirar o chapéu para o cineasta que o concebeu e a seus atores. Há muito eu não via um filme tão criativo a partir do nada. Uma prova de que cinema se pode fazer de pequenas coisas, chegando mais perto da gente quanto mais a gente se identifica com o cenário. Vi em vídeo extraído da internet. Valeu.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Pornochanchadas

A pornochanchada foi a arma dos cineastas brasileiros contra a censura do governo militar. Eles imprimiam tanta sacanagem prevendo os cortes para deixar um filme de mais de 60 minutos de projeção pensando que muita matéria “censurável” deixaria os censores cansados e por isso deixariam passar coisas que os puristas da hipocrisia teriam de engolir. Hoje há liberdade de expressão. E aí, comeu ? Sim, come-se tudo o que se contava aos amigos do rol de piadas cabeludas. O sexo era o chá das cinco. Mas eu achei superior a menção a sexo que vi/ouvi no filme “O Último Dançarino de Mao” de Bruce Bereston lançado agora em DVD. O chinês que pouco sabia de inglês amassava a garota e ela dizia que era virgem e não queria fazer “a coisa” agora. Como ele insistisse ela falava em sexo. E perguntava a ele se sabia o que era sexo. Ele respondia que sim e numerava: three, four, five, sex.... Nas pornochanchadas modernas aquilo que a turma sussurrava com medo de ser ouvida pelos mais velhos é gritada. E o que servia ao namoro com menina possivelmente virginal passa para a cama como a coisa mais natural do mundo. No passado havia medico que restaurava himem a preço alto. Para enganar marido. Hoje dá para rir. Virgem só DVD. E o cinema se prostituiu. Mas não pela facilidade de exibir o antes proibido. Se prostituiu porque misturou sacanagem com arte. E como dizia o personagem Lorde Cigano no “Bye Bye Brasil”de Cacá Diegues, “sacanagem tem que ser bem administrada”. Tarefa de gente como Max Ophuls e Autant-Lara no cinema clássico que deslocava a câmera para uma lareira como forma de exibir o orgasmo.

Chaplin Sempre

Chaplin lota o velho Olympia, provoca risos lágrimas e aplausos como fez num passado certamente não alcançado pela maioria que o foi ver na mostra ora realizada no nosso cinema centenário. Há quem diga que cinema é uma arte vulnerável por viver de película que o tempo macula(antes nitrato depois acetato). Bem verdade hoje tem o processo digital, mas até aí há de se fazer manutenção para que as imagens não desapareçam. Contra essa trágica sentença está a memória que se guarda e se passa às novas gerações. E técnicas que estão facilitando o acompanhamento em gravação física dessas lembranças ancestrais. Espero que os netos de meus netos vejam Chaplin. E sou capaz de apostar que eles vão rir. Minha paixão pelo cinema parte desse encontro com projeções que ficaram. Um “Branca de Neve e os 7 Anões” fez-me estrear na cinemania, e as comédias visuais alimentavam minhas manhãs de domingo (sim, os cinemas faziam matinais). Em casa chegava a ter um bibelô de louça com as caras de Laurell(Magro) e Hardy(Gordo). Harold Llloyd era conhecido como “Caixa D’Oculos” , Fatty Arbuckle como “Chico Boia”, Joe E. Brown como “Boca Larga”. Todos gente nossa, como nosso era Carlitos. O vagabundo estava em chaveiros, em brinquedos, em filme de 8mm (nem tinha Super 8) e 16mm. A indústria botava esses ídolos na intimidade de quem os ia ver na tela grande. E creio que eles me ajudaram a gostar tanto do que na adolescência vim saber que se tratava de 7ªarte. Chaplin fazia cinema desde 1914 e em breve a gente comemora seu centenário. Cinema,portanto, não é perecível. É como disse Claude Lellouch “o registro da vida”.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Luzia 72

Luzia (Maria Luzia Miranda Álvares) completou 72 anos. Quando eu a conheci tinha apenas 16. Não é por ter sido minha namorada e pouco tempo depois minha esposa, mas ressalto a sua pertinência, a sua enorme força de vontade. Em 1977 assumiu uma coluna de critica de cinema no jornal “O Liberal”. Não sabia datilografar e nada havia escrito antes na especialidade literária. Por sinal que nessa época ingressava na UFPa, curso de Ciências Sociais,. Antes guardava o diploma de professora (Curso Pedagógico do Colégio Santa Rosa).Mesmo assim assumiu o posto. Não demorou e passou da minha máquina dinossaurica para uma elétrica (que eu nunca manejei). Adiante no tempo e eu comprara um computador (gabinete IBM) e ela achava um monstro além de sua imaginação. Mas logo mudou de ideia. Passa o tempo e ela me ensina detalhes de informática. Formada em Ciência Política passa a ensinar e logo fazer mestrado e doutorado (no RJ com banca de fora). Completa 40 anos de jornal e no currículo está o fato de fazer parte da diretoria do Sindicato de Jornalistas, de ser representante regional da Embrafilme (na época do governo militar, quando chegou a ser ameaçada por publicar uma entrevista que criticava a censura de então), e de criar um departamento para estudo da mulher e relação de gênero na universidade. Tem muitos livros publicados em sociedade com outras pesquisadoras e produziu alguns vídeos domésticos. Dá para dizer que Luzia seguiu à risca o preceito árabe de realização em vida: plantou árvore(muitas no Mosqueiro), fez filho (quatro filhas) e escreveu livro. Beleza de vida. Frank Capra diria “a wonderful life”. Cada ano que passa de seu calendário merece, portanto, uma festa. No caso, festa do coração como no titulo de dois filmes (um de Julie Duvivier outro de René Clair). Sinto-me feliz de ter achado Luzia. E foi em casa quando estudava com uma colega. Foi ver e achar que ali estava a minha companheira para toda a vida. Deu certo. Caminhamos para a velhice com nossas cargas de lembranças edificantes. E engraçado é que no namoro dizíamos que não pedíamos nada de galardões em nossos caminhos. A despretensão ajudou, e não me envaideço disso. Parabéns Lu, “nega”(como o pai dela a chamava), e quatro vezes mãe (para surgir dez vezes avó).

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Rever Chaplin

O programa do centenário do cinema Olympia abre espaço para quem tem todo o direito de ser isso: programa de cinema duradouro. Refiro-me a Charles Spencer Chaplin (1889-1977). Este inglês que sabia ser engraçado e ao mesmo tempo profundo atiçador de lágrimas, virou símbolo de sua arte em filmes que realizou em todas as áreas(produção, direção, roteiro, interpretação e “teco” na fotografia e enquadramento, além de fazer as músicas que acompanhariam as imagens mudas e mais tarde seriam inseridas nas cenas faladas). O que Chaplin deixou de mais substancioso, os seus longas e alguns curtas, ganha uma semana de exibições sempre às 18,30 com ingresso livre. E eu penso no vagabundo Carlitos numa cabana em meio às nevascas de uma montanha, faminto a ponto de comer seu sapato, ele mesmo fazendo uma dança com miolos de pão agarrados em garfos (“Em Busca do Ouro”/The Golden Rush), ele deixando na tela o que se acha o equivalente da Giconda de Leonardo no plano final de “Luzes da Cidade”/Citylights, no momento em que confessa a ex-ceguinha que foi ele seu benfeitor (entre sorriso e lágrimas), ele dançando e cantando em língua própria no teimoso “Tempos Modernos”(Modern Times) onde criticava o advento do som nos filmes, e até mesmo como o matador de mulheres em “Monsieur Verdoux”,sua associação com outro gênio.Orson Welles(autor do roteiro original) e o corajoso critico dos governantes tiranos dos anos 30/40, de Mussolini a Hitler em “O Grande Ditador”(The Great Dictator). Claro que há o Chaplin da origem circense no antológico “O Circo”(The Circus), rara vez que entrou no pareo do Oscar, e ainda o terno pai adotivo de “O Garoto”(The Child) ou ainda nos curtas mais festejados como “Vida de Cachoro”(Dog’s Life). Rever Chaplin é sempre ver cinema. O cinema puro, feito de imagens, pronto para ativar nossas emoções.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Ricky

“Ricky” de François Ozon me surpreendeu. Não li o livro de onde veio o argumento e pensei que se tratasse de um filme modesto sobre criança problemática. Valeu descobrir um raro exemplo de realismo-fantástico. Katie (Alexandra Lamy) é a mãe solteira de Lisa(Melusine Mayance) quando conhece o imigrante Paco(Sergi Lopez) e produz Ricky(Arthur Peyret).Quando ela pensa que o menino está machucado, culpando o pai que fica com ele quando ela trabalha , surpreende-se com o nascer de...asas. Não demora e o menino voa. Joseph Losey fez um garoto de cabelos verdes espantar uma escola tradicional. Agora Ricky mostra que uma criança voadora pode ser muita coisa. Pode simplesmente ser diferente. E se ganha mídia logo pode virar rotina, pois desaparece. O filme encanta como a imagem do garotinho que arranjaram para o papel (devia ter cerca de seis meses de idade). Tudo muito natural como aquele marido que some numa praia em “Sob a Areia”(Sous le Sable) melhor filme do prolífico Ozon. E é nesta naturalidade com que se chega ao complexo da vida é que está o fascínio do filme. Vi na minha TV e aplaudi intimamente. Foi o meu DVD da semana. Ah sim: não chegou aos cinemas. Pelo menos os daqui,entretidos com os blocbostas de Hollywood.

terça-feira, 29 de maio de 2012

A Mulher na Música Popular

Remexendo meus arquivos achei um texto curioso de um passado que ja vai dobrando a esquina. Como hoje o blog é um veiculo de informação, achei que deveria publicá-lo. Aí vai: A MULHER NA MÚSICA POPULAR Entre a deusa do asfalto e a boa cozinheira- Pouco antes de morrer o ator-compositor Mário Lago foi homenageado em um programa de televisão. Aos 90 anos, era um dos poucos sobreviventes de uma fase muito rica da música popular brasileira. Basta lembrar, eu digo (ou canto) sempre, “Devolve” e “Nada Além”. Aqueles versos de “Devolve” arrepiam: “...devolve/ toda tranqüilidade que eu te dei e que perdi/....devolve/ e eu te devolvo ainda/ toda a saudade infinda que eu tenho de ti”. Mas o que se entoou na homenagem foi “Ai Que Saudades da Amélia”, o samba que Mário fez de parceria com Ataulfo Alves em 1942. Um sucesso no carnaval desse ano que se repetiu no ano seguinte e ficou na memória de gerações. “...Amélia” , cantada até por mulheres , é uma das muitas composições machistas que passaram por cima de saias. Na época o malandro carioca esticava um sambinha na caixa de fósforo enquanto tirava o sarro de uma sinuca, na Lapa. O Chico Buarque pintou o tipo, que por sinal exauriu o último suspeito na morte do Moranguera (Moreira da Silva), ano passado. Para o malandro, mulher era mesmo a serviçal que além de arrumar a casa, cozinhas, lavar a roupa , tinha de estar sempre disponível para o sexo. Na letra de Mário Lago, o protótipo da mulher “de serviço” era evocada em comparação (com uma outra, sucedânea) e nostalgia. O herói lembrava quem com ele passava fome e ganhava por estimulo a sua conformação de mulher de malandro: “achava bonito não ter o que comer”. Certo que muito menos arrochos chauvinistas do que em outras músicas dedicadas à outras mulheres. O mesmo Mário, com Roberto Roberti, cantava em l94l que a Aurora para usufruir de certo conforto (“um rico apartamento com porteiro e elevador/ um ar refrigerado para os dias de calor”) precisava ser sincera e ter “madame antes do nome”, ou seja, ser bem casada. Mas não forma só as Amélias e as Auroras que apareceram nos anos pré-dourados da MPB para registrar a influência do malandro. Em “Helena, Helena”, Antônio Almeida e Consantino Silva (também em l94l) registravam “Eu ontem cheguei em casa, Helena,/ te procurei e não te encontrei,/ fiquei tristonho a chorar./ Passei o resto da noite a chamar:/ Helena, Helena vem me consolar./..... mesmo cansado teu nome eu chamava baixinho/ Helena dos meus encantos/ vem me fazer um carinho...” Quer dizer: a mulher devia estar em casa esperando o marido quando lhe desse a veneta de chegar. Anos mais tarde (1957) Adelino Moreira foi mais explicito: “...acontece/ que a mulher que surgiu em meu caminho/ com ternura meiguice e carinho/ sendo a vida do meu coração./ Compreendeu,/ me abraçou e dizendo a sorrir/ meu amor você pode partir/ não esqueça o seu violão./ Vá rever/ os seus rios seus montes e cascatas/ vá sonhar em novas serenatas/ e abraçar seus amigos leais./ Vá embora/ pois me resta o consolo e a alegria/ em saber que depois da boemia é de mim que você gosta mais”. E a Emilia? Em 1942 (êta anozinho macho!), Wilson Batista e Haroldo Lobo pintaram o tipo para os homens (e as mulheres, que cantavam sem raciocinar o quê) no carnaval: “Quero uma mulher/que saiba lavar e cozinhar; / que de manhã cedo/ me acorde na hora de trabalhar. / só existe uma e sem ela eu não vivo em paz: / Emilia, Emilia, Emilia eu não posso mais.” E ainda: “Ninguém sabe igual à ela/preparar o meu café,/ não desfazendo das outras/ Emilia é mulher;/ Papai do Céu é quem sabe/ a falta que ela me faz/ Emilia, Emilia , Emilia eu não posso mais”. Em l947, empolgados pela imagem de Rita Hayworth, Mário Lago, “again” e Erasmo Silva faziam a marcha carnavalesca “Gilda” ( “Nunca houve mulher/igual à Gilda”). Só que na galhofa: “ela vai/ se esquece de voltar, / e quando volta não dá confiança de se explicar”. Explicava sim: Gilda de Rita era a “femme fatale” que levava os homens no cabresto. O filme de Charles Vidor mostrava assim, até no fato de exibir um “strip tease” em que a “stripper” só tirava as luvas. E antes que eu me esqueça: ela cantava “Amado Mio”de Alllan Roberts e Doris Fisher, sucesso do ano (1946) onde a mulher rendia-se a um amor nada fiel. Via de regra, as mulheres dos sambas, marchas e canções eram submissas e apaixonadas (não necessariamente nesta ordem). As importadas eram santas (“Santa/ santa mia...”) ou pecadoras (Por que tens teu destino/ pecadora..”), sem distinção nesse jogo entre céu e inferno. Muitas surgiam dos melodramas mexicanos filmados por cineastas medíocres. Algumas abriam espaço para uma garbosa exceção: as de Augustin Lara. Feio, complexado por isso (uma espécie de Jean Cocteau mexicano), ele rendia boleros à sua Maria Felix (foi sua companheira por um tempo), a Maria Bonita que ele cantava como “Maria del alma”, ao mesmo tempo em que a condenava ao generalizar a falsidade, ou infidelidade, nas “palabras de mujer”. Essas muchachas foram definidas dentro do conceito de inferioridade em relação ao homem como a que Paul, Misraki , Ben Molar e S. Pondal Rios exibiram em 1949: “Uma mulher/ tem que ser/ sonhadora ...” Nunca mais eu ouvi cantar “Até Hoje não Voltou”, samba de Geraldo Pereira e J. Portela gravado em 1946. Tratava de um sujeito que havia procurado uma mulher ideal no interior brasileiro, pensando que roceira era sinônimo de ingênua. Quando quebrou a cara, cantou com raiva: “Eu fui buscar/uma mulher na roça,/ que não gostasse de samba/ e nem gostasse de prosa; / com uma semana depois que aqui chegou/ mandou esticar os cabelos e as unhas dos pés pintou./ Foi dançar na gafieira e até hoje não voltou”. Complementando a mágoa de quem deu tudo e não “lucrou nada”: “Ela não tinha um vestido, um sapato, que se apresentasse, eu comprei/ chegou toda errada/ falar nem sabia/ fui eu que ensinei. / Perdi tanto tempo, gastei meu dinheiro, fui tão longe à toa,/ mas já vi que sou muito infeliz,/é melhor eu viver sem patroa”, Pior, nos 40, foi o samba “Se Eu Pudesse”, gravado pelo conjunto 4 Ases e l Coringa”: “ Se eu pudesse acabava com tudo que é mulher,/uma força estranha no meu/ destino é quem quer, / pra não dar o prazer de entregar o meu coração/ à uma classe tão desigual/ e sem consideração.”E concluía:” Mulheres, tantas mulheres/ eu já tive e não posso negar,/ todas elas iguais/difíceis de se controlar./ e como eu sou gato escaldado/ a elas vou revidar/ esse bicho de saias/ só serve pra atrapalhar”. Neste caso, reparem, o autor revela um profunda dor de cotovelo. Eu escrevi cotovelo ? Qual nada: um chute nos testículos. Mas o machismo prosseguiu. Nos 60 Anísio Silva compunha e cantava “Interesseira” (a que não ama ninguém e só faz o mal a quem lhe quer bem), alertando para a perfídia que cerca o sexo feminino desde que Alberto Dominguez lançou o seu bolero (“Perfídia”) em 1939. Pelo Brasil brasileiro, tentava-se “elogiar” a mulher comparando-a com o homem: “Paraíba masculina, mulher - macho sim senhor”( baião “Paraíba” de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950). Antes, Dorival Caymi punia Marina (1947) porque se pintara , Klecius Caldas e Armando Cavalcanti descobriam a funcionária picareta a varar enciclopédias com “Maria Candelária” (1952),tão bem sucedida ao ponto de gerar, três anos depois, “Maria Escandalosa” (a que “desde criança sempre deu alteração”). Com a Bossa Nova e o que veio imediatamente depois a mulher foi resgatada ao sacrário que Pixinguinha a havia colocado no seu “Rosa”(1937). Mas entre a certeza de que seria amada (“Eu sei que vou te amar....”) ficou pelo menos duas evocações de um destino amargo : a de que seria lembrada apenas por andar nua pelo país de homens (na belíssima canção “João e Maria” de Chico Buarque), e, do mesmo autor, como a figura alheia ao mundo, a Carolina que não via , de sua janela metafórica, o tempo passar. É claro que simultaneamente às músicas pouco edificantes sobre a figura feminina, muitas surgiram endeusando-a. Não fosse assim e não existiriam as serenatas sob as janelas das Julietas de subúrbio. Mesmo assim, no auge dessas sessões musicais para as donzelas que Orestes Barbosa tão bem pintou em seu poema “Serenata”, ainda sobrava alguns pisões nos dedos. A “Malandrinha” (1927) de Freire Júnior acenava (com o violão) para quem “não precisa trabalhar”. Melhor do que no samba que pedia uma empregada de alcova: “Eu ando procurando/uma boa cozinheira, /porque meu casamento, ai me Deus, foi uma asneira, / sou eu que faço tudo/ no almoço e no jantar, / porque minha mulher/ não quer trabalhar”. E ainda existe o chamego com a mulata “pois a cor não pega”. Mas esta é outra conversa. Como o espaço é de cinema, vale dizer que algumas das composições citadas estiveram em filmes nacionais. A maioria intrometendo-se nos enredos das comédias ligeiras – aquilo que os críticos chamaram de “chanchada”. As meninas cantavam sem se importar com algum preconceito. Mesmo porque, nos filmes, as músicas estavam engessadas, chamando pouca atenção. Tanto fazia repetir que “a mulata é a tal” ou que só a Amélia “é que era mulher de verdade”. A platéia prestava mais atenção às brigas de Eliana Macedo com as vilãs arrumadas por seu tio Watson (o diretor das primeiras grandes chanchadas da Atlântida). Aliás, a colocação das marchas, sambas e transgressões de clássicos nas fitas “carnavalescas”, é um papo que merece espaço condizente. Por aqui, outro dia. (Pedro Veriano).

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Violento e o Corvo

Mel Gibson estava numa entrevista de repórter brasileiro junto com Danny Glover. Enquanto Danny mostrava interesse pelo nosso país o ator de “Máquina Mortífera” começou a caçoar do nome “feijoada”. Isso me irritou. Quando vi “A Paixão de Cristo” achei que Mel dirigia bem e que seu filme cutucou o que seria a verdade de uma história que todos conhecem. Usou até a fala em aramaico. Mas os americanos acharam que ele atacou os judeus. Queriam, quem sabe, outra “vida de Cristo”na linha Cecil B.De Mille. Depois, Gibson atacou os maias (“Apocalypto”).Fez uma aventura na história da civilização pré-colombiana. Agora, depois de ser detido por dirigir embriagado, mete o pau nos mexicanos. A cadeia que mostra em “Plano de Fuga” é o superlativo das nossas. E o filme protege um gatuno a ponto de dizer que roubar milhões de dólares é melhor do que passar uma temporada na pocilga latina. O filme dirigido pelo amigo de Gibson,Adrian Grumberg, com roteiro do próprio Gibson, é uma ode à violência concentrando-se mais na podridão ambiente do que no plano de fuga estipulado por ladrão norte-americano. No fim, este ladrão sai bem da jogada e ainda faz piada para a objetiva. Melhor é ver Edgar Alan Poe com a cara de John Cusack em “O Corvo”(The Raven), uma brincadeira de serial killer com base nas historias do escritor e poeta norte-americano. Cada crime tem a ver com um texto de Poe. Ele logo compreende e ajuda um detetive boboca a achar o criminoso. E mais: a vitima com base no seu arrepiante “Prematura Burial” seria a sua mulher. Muitas licenças dramáticas para divertir a plateia. E diverte. O roteiro da dupla Ben Livingston e Hanna Shakespeare é curioso. Mostra que os dois leram Poe. E o final coça a imaginação deixada na falta de diagnostico do que levou o escritor à morte. Ajuda com uma espécie de pacto com o demoníaco assassino. Mas não convence. Vale o ritmo da narrativa que faz com que não se sinta o frio da sala e nem deixe que se consulte o relógio. Meus termômetros quando vou a um dos Cinépolis Boulevard.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Critico não paga para ver

Entro em cinema sem pagar desde que mantive uma coluna em jornal no ano de 1956. Agora não me cobram por ser considerado idoso. Mas continuo critico. Escrevo em “ A Voz de Nazaré”(além do meu blog). Nos outros centros critico não paga. Aqui não paga nas salas Moviecom. Os mexicanos da Cinépolis devem se manifestar a favor disso. É duro pagar para ver coisas como “Battleship” só pela obrigação de escrever sobre o filme . Sou a favor da meia entrada para “menores” de 6 e 60. Mas prezo os críticos. Especialmente os que possuem colunas regulares em jornais. Eles podem não ser os faróis que orientam o publico, mas servem de referencia. Por mais que se diga que “não se vê filme que o critico elogia” isso já é um motivo de se considerar o papel desse critico. Que ele não entre no estado explicitamente critico de gastar de seu bolso para alimentar uma industria que emburrece.

domingo, 6 de maio de 2012

A Graça do Besteirol

Jonah Hill é desses comediantes que faz graça com a cara. Modelo de cara de besta.Já com 44 titulos no currículo este californiano é a arma do filme “Anjos da Lei”(21 Jump Street), replay de uma série de TV que catapultou Johnyy Depp. O filme tem 2 diretores, Phil,Lord e Chris Miller,e deve parir uma franquia. Faz sucesso. A plateia ri das sacanagens expostas sem preconceitos. Enfim Hollywood aprendeu a usar o que se chama de palavrão e tratar sexo como objeto de piada. No final desse “anjos...”, a perda de parte do pênis do vilão é irresistível. A plateia em peso gargalhou. Eu ri, mesmo com um frio polar que me batia na cabeça por conta de dois compressores desregulados (há salas no complexo Cinépolis Boulevard que um dia podem nevar). Não vale a pena falar do enredo, tão bobo como os tipos vividos por Hill e seu comparsa Channing Tatum. A coisa está na tela para divertir. E isso não é fácil como parece para alguns chanchadeiros (inclusive nacionais)a julgar por 3 trailers apresentados antes. Assumindo o besteirol o pessoal consegue um mínimo para se lembrar em casa. E afinal eu não sei se isto é bom: há filmes que a gente esquece quando a luz do cinema acende pois a nossa massa cinzenta sabe colocar a coisa no “spam”. Quando se guarda alguma anedota salta uma qualidade. Per cause, esses “anjos” como quer o titulo brasileiros, decolam. Mesmo rasteiros.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Alexandrino

Meu amigo Alexandrino Moreira estaria festejando mais um ano de vida no dia 29 deste mês (abril). Deixou o cenário, mas o seu filho Marco Antonio está colocando na pauta do seu cineclube, no IAP, o último filme que o AGM (o G é de Gonçalves) viu: “Rastros do Ódio”de John Ford, Por sinal um dos preferidos do assíduo cinéfilo. Alexandrino fora projecionista na juventude, locutor de rádio falando de cinema, agente de artistas de rádio e teatro (e chanchadas) tudo na sua terra natal Itaúna (MG). Em Belém tornou-se banqueiro. E exibidor de filmes. Criou os cinemas 1,2, 3 e a locadora Cinema 4. Via de tudo, mantendo uma coluna, nomeando as estreias da semana, em “O Liberal”. Foi peça indispensável do Cineclube APCC e fazia parte da associação de críticos votando todos os anos nos melhores filmes & técnicos. Hoje, vendo as estrelas que antes via nas telas, é alvo das lembranças de tantos que o admiraram. Eu o encontrava quase que diariamente no escritório do Cinema 1, conversando sobre o que desse em cinema. Belém parecia mais afável e eu podia circular no meu fusca em dias de semana. Hoje só saio de carro aos sábados e domingos. A cidade não é mais a que conheci desde o berço e muitos amigos já a abandonaram. AGM vivia cinema. Gostava dos filmes de Raoul Walsh, de John Ford, de muito da velha guarda norte-americana afinal o que era servido a nós, espectadores brasileiros, no tempo em que TV era luxo ou ficção cientifica. Quando a coisa extrapolava para um cenário de Ray Bradbury ele dizia que “não será pro meu tempo”. Com razão. Na era digital a gente vê mais do que o telescópio Hubble. Penso no bando de amigos da velha guarda que ainda recusam o computador (como Maiolino Miranda e Acyr Castro). Eu fui o primeiro a aderir à nova tecnologia. Luzia veio depois e hoje me ensina coisas que surgiram e eu não acertei o passo para alcançá-las. Enfim o rastro da lembrança do AGM está sendo projetado. Vai ver que é ele quem surge quando abre a porta e o aposento escuro deixa entrar a luz com a silhueta de John Wayne.A luz da memória, de um tempo, de um prazer que se sentia renovado à cada projeção. Não era rastro de ódio porra nenhuma: era (e é) rastro de amor.

domingo, 22 de abril de 2012

Olimpia nota 100

Creio que a minha primeira visita ao Olímpia foi para ver “O Mágico de Oz”. Antes tinha ido ao Iracema ver “Branca de Neve e os 7 Anões”(onde preferi espiar da sala de espera levantando a cortina pois tive medo da fantasmagoria Disney na escuridão) e ao Moderno ver um filme de guerra onde aviões de combate pareciam aves desgarradas (seria o célebre “Anjos do Inferno”de Howard Hughes ?).
Por morar na S.Jeronimo (hoje José Malcher), entre Dr. Moraes e Benjamin, ir ao Olímpia era andar menos. O único cinema que atingia a pé. Via de regra comprava bala (ou bombom) de menta (chamado Pipper) e sentava na 4ª.fila, lado direito de quem entra, perto do corredor lateral. Não perdia as matinais de domingo. E nos chamados dias úteis ia à sessão das 15 horas, exceto aos sábados, quando preferia a Vesperal Passatempo de 17 h. Procurava evitar as vesperais de domingo, e era estranho pois a sessão ganhava apoio dos estudantes e era onde se namorava além do permitido pela censura castradora.
Rir do Gordo e o Magro, de Carlitos (especialmente de “Tempos Modernos”), de Harold Lloyd, de algumas “screw Ball” era comum. Chorar talvez fosse mais difícil. Mas chorei, embora não lembre de lágrimas derramadas quando garoto. Parece que desentupi o canal lacrimal com a maturidade, achando triste o fim de Gelsomina em “La Strada”, de Cabiria na mesma onda, da surda-muda Belinda, sei mais de quantas personagens que sofriam na tela(a maioria mulher).
Certo: “A Felicidade Não se Compra” não estreou na casa centenária do Largo da Polvora. Foi no Moderno (Largo de Nazaré). Mas “2001” foi no Olimpia. A ficção cientifica que elegi desde bem pequeno como gênero favorito, atracou ali muitas vezes: “Destino à Lua”, “A Conquista do Espaço”, “O Monstro Magnético”,”O Homem do Planeta X”, “Planeta Vermelho”, até chegar a “Planeta dos Macacos” e coisas coloridas e esticadas(scope).
Hoje, 24 de abril de 2012, o Olímpia(que eu teimo em escrever com “i”, como escrevia ao longo dos anos), comemora o seu centenário. Escrevem “o primeiro centenário”. Benditos profetas. Oxalá eu ainda veja mais anos acima desses cem. E tenha a graça de encontrar mais filmes inéditos, projetados em película. Sim, pois a projeção digital no caso só em data show.
Parabéns Olimpia. Tomo fôlego e sopro suas cem velas.