segunda-feira, 26 de maio de 2014

Programa Alternativo


      Capitão America, Homem Aranha, Godzilla e Tom Cruise viajando no tempo é a prata das telas. Tudo sendo exibido aqui e alhures ou seja, aqui e no país de onde vieram essas preciosidades.
            Cinema substancioso só em DVD e nas sessões especiais das salas da mesma linha. Agora mesmo o Marco Antonio me avisa de um festival com os Irmãos Marx. Sempre gostei desses palhaços.Mesmo desculpando quando o menos engraçado eles, o Chico, fica enchendo lingüiça em papos demorados com Harpo, o melhor do grupo e que se fazia de mudo. Tenho “Uma Noite na Ópera”entre as melhores comédias que já vi.
            Não vejo os filmes que passam pelas telas grandes alta hora da noite. Durmo cedo. Meu programa depois do por do sol é na TV de 42’’ que entupo com DVD ou Bluray. E descubro coisas como “Lore”, um filme australiano sobre uma família alemã, da índole nazista, que vive o diabo no fim da guerra. A mãe é presa, a filha mais velha comenda os irmãos (uma irmã adolescente e dois meninos gêmeos) pela floresta negra até à casa da avó. O inferno dessa gente ganha o realismo satisfatório apesar da maquilagem perene da atriz Saskia Rosendahl(a garota é muito bonita e a produção se exime de enfeia-la mesmo quando uma pessoa diz que ela está cheirando mal).A diretora Cate Shortland é australiana mas Saskia é alemã. O filme é bem narrado, com a exploração funcional das tomadas, evidenciando detalhes da aventura que vive a família migrante. Se não fosse o DVD estaria sobrando desse e de outros tantos títulos malqueridos dos nossos cinemas de shopping, ou seja, do abrigo de blockbuster que transforma cinema em espetáculo de feira.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Duas Comédias e uma Tragédia


      Se “Amante a Domicilio”(Fading Gigolo) fosse feito por Woody Allen certamente seria diferente. Mas não muito, O roteiro de John Turturro não dá chance para que se saia da anedota. Ele,com a sua cara de mamão macho, é o garanhão agendado pelo gigolô de Allen para que satisfaça sexualmente mulheres como....Sharon Stone. Salva-se um  cuidado formal que tenta dimensionar os tipos(frágeis) em enquadramentos bizarros, aquilo que Murnau botou como delírio no seu “Aurora”.

            Mais divertido e menos substancioso foi “Mulheres ao Ataque”(The other Woman) , aqui mostrando que Nick Cassavettes, filho de John e Gena Rawlands, deixa-se seduzir pelo charme comercial da chanchada e fica bem mais distante de seu “Notebook”, o melhor que dirigiu até hoje. O que chama a atenção no filme é as quedas de Cameron Diaz (dublês ?) , a babaquice de Leslie Mann e a sequencia em que Nikolaj Coster-Wadal é vitima de uma diarreia provocada pelas suas mulheres e suja as calças. Seria uma metáfora do próprio filme se eu fosse do time em que joga o antologista inglês Mark Cousins, o autor de uma “Historia do Cinema” em  DVD que esquece Chaplin,Frank Capra, Murnau, René Clair, o surrealismo de Buñuel, toda a comédia visual(ele diz que odeia comédia), enfim, muito do que fez a arte que ele diz que entende.  Este senhor devia ver “A Turba”(The Crowd) de King Vidor e se mirar na sequencia final. Ali está a síntese de um cinema realista que ele tanto gaba. Enfim, o cara é do clube dos que tomam café sem açúcar e votam num cinema cruel, embebido em violência .Devia ser vitima das meninas de “Mulheres ao Ataque”.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Carlitos


Em minha casa, eu lembro, havia bibelôs de Carlitos e Gordo e Magro. Minhas idas ao cinema privilegiavam os últimos. Não era fã de Carlitos. E os mais velhos se admiravam e queriam por força que eu risse das quedas do personagem nos filmes mudos. A rigor só fui gostar do “vagabundo” quando vi “Luzes da Cidade”. Ainda acho uma das  mais cristalinas obras-primas do cinema. A graça vinha das menores coisas e a ternura chegava ao plano que rivaliza com a, Gioconda de Da Vinci: Carlitos rindo e chorando ao mesmo tempo quando descoberto pela violeteira. Depois teve aquele extraordinário “Tempos Modernos”onde o século do progresso ganhava a ironia de Noel Rosa (o revolver teve ingresso pra acabar com a valentia”). Engraçado é que só depois desses filmes que marcaram o fim do personagem de Chaplin é que ei revi “Em Busca do Ouro”,para ele o seu melhor momento, “O Garoto”e “O Circo”.Todos esses filmes engrandeceram o cinema. Carlitos fazendo a dança do pão na espera da amada que não vem (“Em Busca...”) ou o apaixonado pela filha do dono do circo que acaba sentado no que resta do picadeiro, tudo é para não deixar corações e mentes. E Jackie Coogan, o garoto que o vagabundo adota e quebra vidraças para que ele conserte ? Bem, parece que eu não gostava era dos curtas. Mas ainda não tinha visto “Vida de Cachorro” nem “O Imigrante”.

            Carlitos fez 100 anos.Sua imagem ficou. E hoje é revista pelos velhos e novos espectadores, os primeiros adoçando a memória os segundos descobrindo a pólvora.

            Charles Spencer Chaplin era tão poético que morreu num Natal. Eu estava na porta do Gremio Português, em sessão do cineclube que dirigia, quando soube de sua partida.Uma semana depois estava exibindo ali o documentário “O Genial Vagabundo”. No final a platéia se levantou e,em lágrimas, apladiu. Foi o momento mais tocante de minha cinemania.

            Hoje ajudo na reapresentação dos filmes de Carlitos para marcar o centenário.Nada mais justo.