terça-feira, 23 de junho de 2015

S. João de Ontem


               Hoje é véspera de S.João. Nem parece. Antes a gente percorria o subúrbio para ver as festas de arraial. E brincava no quintal de casa ornamentado de bandeirinhas, “passando fogueira”(“S.João disse/ S.Pedro confirmou/que V. vai ser minha comadre/afilhada/madrinha/e o mais  quê/que Jesus Cristo mandou”).

               Também se soltava balão. Engraçado: na época as casas, que disputavam espaço nas ruas, tinham telhados de telha ou sapê. Não se dizia que balão era chamariz de bombeiro. Meu irmão fazia balões de 3 ou mais gomos. Eu mesmo fazia alguns. Ele caprichava nas buchas de estopa. Na hora de soltar era aquela gritaria: “Leva S. João..”

               E haja foguete. Tinha de pistola a “estrepa moleque”. E as sortes. Botava-se pedaços de papel numa vasilha de agua com os ditos.Depois era tirar. E também podia ser uma pescaria perto da fogueira. Mais superstição em coisas como cravar uma faca numa arvore e ver no dia seguinte se dava a letra do nome de alguém. Pior era tentar ver a imagem num vasilhame com agua passada na fogueira. Se não se visse podia crer que não tirava o ano.

               Namoros surgiam em quadrilhas dançadas no terreiro. Roupas apropriadas fantasiavam gente da cidade em gente do interior. Um suspiro cultural advindo de índios, escravos e europeus.

               Hoje só se sabe do que a data representa vendo a folhinha. Melhor, acessando um celular ou sei lá que nova engenhoca. Sumiram os matutos entre os prédios cada vez mais altos. A cidade dos bumbás, dos pássaros, de tanta festa, sumiu .

               E sempre lembro do Mosqueiro nessa época. Ia ver os bois ou pássaros no Hotel do Farol. Ficou célebre o Quati. O “caçador”bêbado, respondia a quem perguntava por quem matou o quati. Ele só conseguia dizer:”-Eu matei o quati porque quis e quem se incomodar que vá para a puta que pariu”. Um escândalo para as dondocas presentes.O sorriso das meninas que sentiam um bafo de independência.

               Boas lembranças.

Chaplin Póstumo


               Chaplin era tão rebelde que depois de morto não “descansou”, como se diz. Seu corpo foi desenterrado e o fato gerou noticia mundial. Ano passado fizeram o filme “O Preço da Fama”(La Rançon de la Gloire)sobre isso. Os ladrões seriam pessoas simpáticas, um deles o autentico Dimas, bom gatuno, saído da cadeia, que vai morar às custas de um amigo e se torna mecenas de uma garotinha filha desse amigo. Mas é ele, amigo, quem está na merda. A mulher hospitalizada precisa de um tratamento que vai além  de suas posses. E ele não tem nem documento de família(o mínimo para previdência social), pois só é casado no católico. Eles roubam o cadáver de Carlitos, trabalham como amadores, são presos, mas a defesa apela citando o magnânimo morto que jamais desejaria o mal de vagabundos como o seu tipo predileto.

               O filme cativa. Nada de obra prima, mas é dessas coisas que objetivam uma simplicidade digna do herói estático da obra, ou seja, do comediante que virou símbolo do cinema. Quem é ?Charles Spencer Chaplin ora essa.

               Direção inspirada de Xavier Beauvois.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Por Dentro do Cerebro


               O que se passa na cabeça de alguém ? Pete Doctor, autor de “Divertida Mente”(nome idiota dado a Inside Out) foi além de Rod Serling, o produtor da série “Além da Imaginação”, imaginando um mundo no interior do cérebro onde a anatomia & fisiologia fantasia-se de figuras humanas tipo fadas que personificam alegria,tristeza, raiva, nojo e medo.

               O filme começa com Alegria, que seria a chegada de um bebê, no caso mais afeita aos pais da criança deixando com a Tristeza o primeiro choro. Seguindo a evolução física os tipos que assumem as emoções vão mostrando a que vieram e, quando a menina muda de casa e cidade, passando a morar em metrópole, dizem a que existem reclamando a nova fase da vida.

               Doctor bolou um cérebro alegórico com as circunvoluções feito corredores, os neurônios bolas coloridas, as lembranças edificadas em prédios que tendem a se destruir e até “garis”  tirando “lixo”que seja o esquecível.

               Um ursinho de pelúcia faz a vez do relicário infantil. Sente-se rejeitado e diz isso à Alegria. Ela também tende a se perder nas mudanças psicológicas da garotinha(que se rebela contra a nova rotina, inclusive na escola). Há um momento em que o brinquedo confessa à Alegria que ele, como ela, estão esquecidos. Mas a Alegria luta por persistir.

               Há muitos detalhes imaginosos. Um grande palhaço está dormindo e é acordado por Alegria mas não age (estaria mais a fim do Medo). O castelo da família tende a desabar quando a mocinha foge de casa. E Raiva é incitado a cuspir fogo para abrir a janela do comando da mente quando Alegria e Tristeza voltam de um limbo.

               Poucas vezes  o cinema exibe tanta criatividade. Apesar da dublagem estar muitas vezes longe de minha audição, gostei muito, muito mesmo, do filme. Já comecei a esperar pelo DVD ou Bluray. E já coloquei esta “mente” na minha ainda reduzida faixa de melhores filmes exibidos em Belém nesse 2015.

               Não se trata de divertida mas de engenhosa mente.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Cinema em casa


               Sempre fui contra a deturpação de filmes, seja a colorização seja a dublagem. Hoje a dublagem virou moda. Na Europa isto é comum. Mas lá existe espaços para cópias originais. Aqui é um saco de gatos. E os filmes que eu quero ver (felizmente são poucos) chegam com falas estranhas e espero que cheguem para download ou dvd & bluray.

               Nos idos de 50, por exemplo, eu ia a cinema mais vezes que os dias do ano. Não havia TV e o recurso do cinemaniaco (é o nome, não apenas cinéfilo) era buscar seu vicio nas telas grandes. Via de tudo. Quando comecei a ler sobre cinema encontrei apenas a técnica. Historia já tinha provado. E como passava filmes (película 16mm)em casa, conhecia o que se filmou antes de meu tempo de vida.

               Este ano, 2015, ainda não fui 50 vezes a cinema. Queria ver, por exemplo, “A Espiã que Sabia de Menos”. Mas a dublagem dominou as sessões da tarde. E não vou às da noite por vários motivos. Bem, do que vi só gostei de “Mad Max” o novo filme da franquia. Gostei pela edição vertiginosa. Planos ligeiros  e próximos desfilaram com velocidade.

               No meu cinema caseiro tenho contato com as mostras europeias das salas especiais. O futebol esteve em “Diamantes Negros” e “O Sol Em Mim”. O primeiro não biografa o brasileiro Leônidas da Silva(apelidado de “Diamante Negro”). Trata de dois africanos que tentam futebol profissional na Espanha e ganham a dor da experiência. Um regressa à terra natal, outro chega a ser preso antes de voltar a um campo. Bom tratamento de um diretor espanhol. O outro filme focaliza dois garotos, um africano e um italiano que também querem jogar futebol com adultos. Ambos percebem que é muito cedo para isso. Voltam a pé para casa. Paralelamente mostra-se a agonia de dois africanos que se metem no bagageiro de um avião e encontram a morte. Caso real.O filme não consegue convencer mas prega um toque humano extremamente valido. Hoje isso é raro.

               “O Amante da Rainha “é o cinema dinamarquês sem Lars Von Triers”. Prefiro o cinema longe desse diretor que acho um rebelde sem causa. Boa narração conta um episódio histórico digno dos livros de Max Du Veuzit ou Michel Zevaco. Boa direção de arte e pelo menos um excelente desempenho(de Mikell Boe Folsgaard) vela e melhor expectativa.

               Vi ainda “Samba” com o ator e o diretor de “Intocáveis” Omar Sy e Olivier Nakache, que não sambou como aquele filme. Mas consegue que se o acompanhe com interesse dado o emprenho do elenco na historia de um imigrante ilegal na França.  A exibição foi na mostra Varilux.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Sci Fi Hilariante


               Foi lançado em Bluray o filme “Vampiros de Almas”(Invasion of Body Snatchers)de Don Siegel, um dos marcos da ficção-cientifica dos anos 50/60. Em caixa atrativa o lançamento contou com o bônus de um dvd com dois filmes pouco conhecidos: “O Invasor Galactico”e “Eles Vieram do Espaço Sideral”. O segundo, da Amicus, empresa inglesa rival da Hammer em filmes de terror, tinha Freddie Francis na fotografia e direção – o que exprimia certa qualidade. Mas o primeiro, de um senhor chamado Don Dohler, me fez rir como poucas comédias.

               Imaginem um campo-e-contra-campo com uma só câmera pesada. Imaginem atores amadores exigindo posturas trágicas. Imaginem efeitos especiais de apenas luzes e alguma animação. Mas tudo isso é  pinto para a permitividade da narrativa, uma das muitas historias de ets chegados em campos com más intenções e posturas de animais. Um desse ets ganharia em escola de samba.

               O filme é hilário da primeira a ultima sequencia.Pensei em nos, amadores da época em que ele foi feito. Filmávamos em 16mm ou Super 8mm com filme positivo e edição na marra. E dava certo. Faziamos o que nos era possível fazer. Hoje, comparando com essa coisa, fiquei orgulhoso de meu passado de câmera na mão. Pelo menos quando podia fazer rir não era para gargalhadas continuas. A comédia era outra.