segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Florence

Meryl Streep pode ganhar mais um Oscar por sua Florence Foster no filme de Stephen Frears que andou correndo pelas telas de um cine-shopping local. Florence foi uma viúva rica, dama invejada do high society americano dos anos 30/40 quando, já em idade avançada e sofrendo a sífilis adquirida do primeiro marido , resolveu cantar. Nesse tempo já está casada com St Clair Bayfield, exemplo de “bicão”, aturando a ricaça com o “cuidado” de ganhar dinheiro  isentando o sexo(afinal é uma sifilítica na época em que a doença era famosa por ser extremamente contagiosa e fatal). Ele  compra o prestigio da mulher, que chega a cantar no Carnegie Hall poupando  no que pode as vaias da plateia.
O filme se ampara nos atores. Podem-se achar senões de época (como carros que só surgiriam no final da década) e de continuidade (as lagrimas de Florence enxugando no contraponto com o close de St Clair ao seu lado), mas só cabem para sherloques de técnica. Eles somem para um publico absorto na sinceridade exposta como drama real( e nos créditos finais há até mesmo imagens da verdadeira Florence).
Mas eu disse que “Florence”, aqui de subtítulo “Quem É Esta Mulher?”, é filme de atores. Hugh Grant nunca esteve tão bem e pode arriscar seu primeiro troféu acadêmico. Idem Simon Helberg como o pianista Cosmé McMoon . Ele já tem um premio de TV, mas o tipo que faz sob a direção do veterano Frears impressiona. Aliás, a trinca está na minha lista de melhores do ano em suas categorias. Impressionam e conseguem humor e tragédia numa dosagem privilegiada.
Frears havia dirigido Helen Miller em “A Rainha”dando-lhe o Oscar do ano. Comparando, Meryl Streep está num ponto semelhante  e talvez mais difícil. De bater palmas!

Ah sim: houve o filme “Marguerite” de Xavier Giannoli feito um ano antes e exibido no Festival Varilux. Vi e não gostei. Também conta a historia da cantora desafinada que se impôs sob propaganda paga. Catherine Frot estava bem mas não se compara a Meryl supermaquilada (e até careca). Enfim, “Florence” foi mais um tento do diretor de “Minha Adorável Lavanderia”, “Heroi por Acidente” e outros títulos memoráveis.

Quem Morreu Antes...

Primeiro longa metragem do diretor   (como Marcus Hausham Rosenmüller) o filme “Wer Früher Stirbt Ist Länger Tot”, ora no Olympia com o nome “Quem Morre Antes Está Morto Há Muito Tempo” mostra que a comédia alemã está bem de vida -e não  se pode dizer que morreu antes pois depois do nazismo só fez no gênero coisas abomináveis como “”Noites do Papagaio Verde”(Nacht im grunen kakadu) aqui exibido no Cine Ópera antes da fase pornô.
         O roteiro, do diretor e de Christian Lerch, trata de Sebastian(Marcus Krojer)um menino de 11 anos que vive com o pai e um irmão mais velho, remoendo a ideia de que matou sua mãe pois ela morreu por ocasião do parto que lhe trouxe ao mundo. Pensando que por isso e por ter acidentalmente matado coelhos da granja familiar, está fadado a ir, quando morrer, para o purgatório. Um parente afirma que ele só se livrará disso quando procriar e para  tanto precisa transar com uma garota. Ele chega a “convidar”sua professora para tanto. O fato leva a muitas vinhetas cômicas e Sebastian sempre visita o tumulo da mãe para obter um conselho.
         No bojo da comédia e da linha “old fashion” de filmes americanos,”Quem Morreu...” não escorrega no teor melodramático e sempre agrada. Vale conhecer o pequeno interprete, hoje com 22 anos e 7 filmes no currículo. Ele fazia a sua estreia adiante das câmeras. Hoje é mais dedicado à series de TV.

         Um bom programa esquecido dos cinemas comerciais brasileiros.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Julieta

                Com “Julieta”(2016) Pedro Almodóvar se redime de coisas terríveis como o seu filme anterior ‘Os Amantes Passageiros”.  E para esta volta à forma se apega ao melodrama, gênero latino, especificamente de língua hispana, contando a historia da personagem-título, apaixonada e gravida de um pescador recém-viúvo e logo morto em uma tempestade marítima. A filha desta relação logo que pode foge do domínio materno e simplesmente some do enredo. Mas antes de sumir sabe-se dela quando Julieta encontra uma velha amiga numa rua de Madrid e esta lhe fala da jovem a quem não vê por mais de uma dezena de anos, agora é mãe de 3 crianças e não perecendo ter saudades da  infância. Julieta vive oscilando no relacionamento com um escritor e depois de muito tentar corresponder-se com a filha recebe uma carta dela com endereço de remetente. Ao invés de simplesmente responder a carta segue com o novo par ao encontro da garota. Bem, essas pessoas não estão flanando na tela. Todas sofrem. A mãe de julieta morre depois de anos de doença. O pai casa novamente e pouco se manifesta. A sogra de Julieta também morre. A amiga de sua filha vê-se com  incurável doença. O primeiro neto morre afogado. Enfim, não há um tipo na trama vinda de três contos de Alice Munro(“Ocasião”, “Daqui a Pouco” e “Silêncio”, todos no livro “Fugitiva”), que não chore por alguma coisa. Contrasta os dramas com a paisagem belíssima de beira-mar tratado em cores vivas como Almodóvar gosta que se mostre seus cenários.
                Não há um tom melódico acompanhando os dramas. Nem atores chorões. Quando Julieta prefere ficar morando em Madrid sem nem mesmo ir a Lisboa com o namorado, é como se dissesse que na Espanha o melodrama funciona melhor. E dentro desse gênero tão caro a filmografia de tantos cineastas hispano-americanos o novo filme do diretor mais evidente no novo cinema espanhol sai-se bem. Deve-se em especial à atriz Emma Suarez que faz Julieta adulta (ou idosa). Há quem ache ruim ela estar escrevendo à filha, na primeira parte da historia, contando tudo o que se vai ver. Mas melodrama não é cinema que se feche para o espectador matar cabeça analisando comportamentos. É o avesso da introspecção de Antonioni. O que se quer é que a trama chegue fácil e assim comunique com o espectador comum.

                Almodóvar não voltou a excelência de um “Fale com Ela”, mas fez um filme que se vê sempre com agrado. Eu gostei do que vi. É uma Julieta de Romeu perdido sem abdicar da tragédia shakespeariana. Valeu.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Cafe Society

Billy Wilder ainda era um picareta em Hollywood mas chama a atenção do ambicioso produtor Phil Stern (Steve Carrel) no novo filme de Woody Allen “Café Society”. O argumento e roteiro do diretor mostram não só a indústria de cinema como a fantasia vestiu, com atores, produtores e diretores tecendo amáveis intrigas endereçadas ao lucro dos filmes, mas prefere ser um glossário dessa gente e tempo do que um novo “Assim Estava Escrito”. Phil, por exemplo, fala de muita gente, de Barbara Stanwyck a Gary Cooper, de Greta Garbo a Errol Flynn. E ele próprio vive um romance digno de câmeras ao se apaixonar pela secretaria Karen Stern(Shery Lee) guinada por sua própria mão a amante do sobrinho Bobby (Jesse Eisenberg), um bicão que a família manda para tentar a sorte em Los Angeles.Note-se que Phil é casado por mais de 20 anos e Karen lhe devota acima de tudo gratidão (e $$ é claro).
                ““Café Society” tenta ser um quadro da chamada ‘era de ouro do cinema americano”, Passa correndo pelos dramas das personagens e só no final deixa um close participativo de angustia. Não é um Allen dos melhores. Acelerando a narrativa escorrega no material usado e como no caso do gangster da família de Bobby deixa um hiato, tentando enxertar tipo e gênero que o cinema explorou bastante no tempo e espaço marcados.
                Jesse Eisenberg tenta ser o alter-ego de Allen mas escoa a graça. Melhor Steve Carrel, “a cara” de um magnata que só vê cinema embalado em dólar.
                O filme dura na tela pouco mais de hora e meia, mas parece durar mais. Tem enredo para tanto, mas não é por isso. Cansa porque não cativa através dos tipos apresentados. É como se o soçaite bebesse café açúcar. De qualquer forma, um toque de WA no humor vale o ingresso.