segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Cine Bandeirante


No dia 26/2/1950 inaugurou-se o meu Cine Bandeirante. Explico o nome: pioneirismo e minha chegada do Rio em avião da Frota Bandeirante de Panair do Brasil.
Na madrugada de 26 exibi numa parede de minha casa, na av. Jeronimo, hoje Gov José Malcher (um absurdo a mudança de nome) o documentário sobre o carnaval carioca do ano em curso. Dias depois comecei a alugar filme de longa metragem em 16mm da firma F. Aguiar Cia que recebia películas da RKO.
Fazia exibições  na garagem de casa cobrando Cr$2,00 dos vizinhos(normalmente não cobria o aluguel de Cr$200,00). Anos depois exibia também de outras distribuidoras através de outros comerciantes como Caeté Ferreira e Paramazon.
Em uma época fui espaço usado pelo primeiro cineclube da cidade (“Os Espectadores”) exibindo os filmes a serem apresentados nesse espaço para que os apresentadores os vissem e comentassem.
Frequentadores que deixaram nomes na cultura regional iam  ver cinema no Bandeirante. Lembro-me de Waldemar Henrique(assíduo), Benedito e Maria Sylvia Nunes, Max Martins, Francisco Paulo Mendes e Orlando Costa.
O Bandeirante abrigou de tudo. Dos clássicos de cinematecas aos melodramas mexicanos da Pel-Mex. Foi minha escola de cinema. No espaço também ganhei meu próprio romance, vendo filmes com minha namorada. E guardei na memoria momentos hilários como a queda de um banco com muitas senhoras. Hilário porque ninguém se feriu e levou o fato na esportiva.
Passei filmes meus também no cineminha caseiro, dando pré-estreias com a presença dos atores como um grande lançamento hollywoodiano.
As sessões acabaram em 1984 quando deixei a casa onde nasci. Episódio triste numa historia alegre.  


Pequena Vida e Filme


O velho ditado “tamanho não é documento” ganhou um argumento curioso do diretor de “Nebraska” Alexander Payne auxiliado por Jim Taylor. Trata da miniaturização das pessoas como forma de enfrentar problemas modernos como a superpopulação, a poluição ambiente e a escassez de alimentos.  Só que as pessoas de poucos centímetros  passam a ter os mesmos modelos de vida, com a diferença social acentuada.
                “Um Pequena Grande Vida”(Downsilzing) focaliza um terapeuta recém formado que cuida da mãe idosa e enferma e se maravilha com a técnica de diminuição anunciada por cientistas. Um ano depois dos primeiros cobaias ele e a esposa decidem ficar pequeninos. Mas na hora de tirar cabelos e próteses dentarias para enfrentar a energia que diminui o corpo ela decide não fazer a operação. Ele, pequenino, tem de conviver com o novo mundo que acaba sendo o mesmo em que vivia em termos sociais embora tenha de conviver com outras pessoas e permaneça na expectativa de desastres ecológicos.
                A ideia é boa, mostrando que a índole humana não muda com o aspecto físico que as criaturas possam adquirir, Há pobres e ricos no mundo minúsculo e o herói da historia passa a se interessar por uma jovem asiática que encontra como faxineira do prédio onde mora. O que ele vê através dela confirma a noção de que as coisas não mudam, ou seja, o tamanho das pessoas não implica numa mudança moral.
                Infelizmente a ideia morre do meio para o fim da exposição. Com interpretações sofríveis, especialmente de Matt Demon, vê-se um melodrama sem se firmar nessa especialidade temática. Quem se lembra de “O Incrível Homem que Encolheu”(1956) obra prima de Jack Arnold, sente o esvaziamento da trama em que a diminuição física do ser humano não quer dizer que ele mude de caráter. Nesse filme  usa-se o lema de Descartes(“penso, logo existo”). Aqui em “Pequena Grande Vida” é mesmo “tamanho não é documento”.Com  a boa técnica de exposição física. E só.


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Três Anúncios Para Um Crime

                “Três Anúncios Para um Crime”(Three Billboards Outside Ebbing-Missouri) centraliza a ação em Mildred(Frances McDormand), mãe que não se conforma com a impunidade (ou desconhecimento por parte da policia) do assassino da filha. O titulo do filme, escrito e dirigido pelo inglês Martin McDonagh, tem a ver com outdoors que a tal senhora paga para colocarem na estrada próxima dos acontecimentos, anunciando a impunidade do crime.
                Basicamente é um enfoque da violência. Parte do fato policial que aparece impune, seguindo desde o relacionamento de Mildred com  o marido(uma cena), ganhando a sua atuação com policiais, especialmente com o xerife Willoghbuy (Woody Harrelson) e ganhando ainda mais força no ajudante dele Dixon (Sam Rockwell). No meio do caminho há até um dialogo da autora dos outdoors com um padre, a quem chama de acolhedor de estupradores de menores. E a culminância vai quando a sofrida personagem incendeia a delegacia de policia.
                Frances McDormand deve ganhar o Oscar deste ano. Já tem nas mãos o Globo de Ouro, e faz aqui o seu melhor papel desde que foi dirigida pelo marido Joel Coen (um dos irmãos Coen) em “Fargo”.
                “Endereço...;” tem uma narrativa dinâmica, com pouco flashback, e capaz de empolgar o espectador. Seu final de aparência reticente na verdade espelha desabafos ou o meio de se alcançar um objetivo no bojo de ação moldada na crueza da vingança.E o curioso nessa jornada é que não se pinta todo mundo de bonzinho. A própria heroína tem seu lado cruel e a filha por quem luta passa na tela nas poucas imagens retroativas como uma rebelde ao mando materno com ímpeto de raiva. E a formula chega até mesmo ao xerife, no caso uma pessoa capaz de raciocinar seu comportamento e justiçar seus atos atentando contra sua própria vida.
                Um roteiro incomum e uma direção capaz deixa um filme de excelente nível, afastado da estereotipia comum à Hollywood, e sem o ranço de densidade que banha muitas produções europeias acomodada no estudo da psicologia de tipos.

                De parabéns a Cinepolis Boulevard que exibe o filme em copia legendada e ganha uma merecida segunda semana. Valeu.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Zé do Caixão

O paulista José Mojica Marins, conhecido pelo tipo que criou em seus filmes, Zé do Caixão,mostrou mais irreverencia que terror na maioria dos   seus 62 trabalhos(há um novo em produção). Na época do governo militar, com a censura golpeando todas as manifestações artísticas. Zé mostrava um grupo de jovens  usando de uma metralhadora e se ouvia em tom de hino:”...porem se a pátria amada precisar da macacada ta-ra-ta-ta-ra-ta-ra-tata”(a turma metralhava os adversários).  Também mexia com os preceitos religiosos do povo focando o tipo comando um churrasco na 6ª Feira Santa vendo-se por uma janela  a seu lado uma procissão.
Os filmes de Marins eram artesanalmente primários, feitos com poucos recursos, mas chegaram a ganhar admiradores até no exterior onde o chamavam de Coffin Joe.

É provável que se veja por aqui um programa dedicado aos primeiros filmes do Zé(os últimos, infelizmente, foram fracos na medida em que ganharam mais densidade técnica). Temos fãs do cineasta-ator. Eu nunca fui, mas aceito sua importância na cinematografia nacional.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Trama Fantastica

                “Trama Fantasma”(Phantom Thread) tem muito a ver com o estilo do diretor Paul Thomas Andersen com a vantagem de contar com um ator como Daniel Day Lewis, um dos mais categorizados que se conhece. Mas o roteiro do próprio diretor me parece diluído na proposta de edificar o tipo principal com as incursões anímicas que envolvem a sua criação e profissão em licenças sobrenaturais. Ele traria uma ligação materna na sua mente e consequente trabalho de modista, e não à toa é assessorado pela única irmã, encontrando o outro tipo de afeto que encararia a sua sexualidade numa garçonete que não por apenas curiosidade se chama Alma(seria a sua alma no trabalho e afeto). Essa formula de tratar a psicologia da personagem mostra-se apegada a uma latente sobrenatural que acaba por diluir o que seria uma trama introspectiva à maneira de uma realização de Antonioni enveredando pelos mistérios “hitchcoqueanos” de Rebeca e mesmo “Vertígo”(Um Corpo que Cai) .
                “Trama...” está no páreo dos Oscar especialmente por Daniel Day Lewis que afirma ser seu ultimo filme. Excelente ator corresponde à fama num papel difícil, até porque se molda em diversas vertentes. E as interpretações ajudam no resultado como a de Lesley Manville, outra figura inglesa em cena (alias o filme é tipicamente britânico) fazendo a mana-secretaria Cyril.
                O fantasma do titulo chega a tomar aspecto “físico”(é o termo) quando Reynolds (Day Lewis), doente (envenenado pela mulher/Alma) vê a finada mãe vestida de noiva perto da porta de entrada de seu quarto. Não é à toa que vestido de noiva é uma das especialidades do figurinista. Nem o fato de não ter caprichado nisso quando casa com a jovem por quem se apaixona de súbito embora jamais se livre dos laços familiares antigos.
                Paul Thomas Anderson é dos poucos cineastas que trabalham em Hollywood com um currículo lotado de filmes densos. Exemplos se acham desde “Magnolia” ganhando a ousadia de fazer Adam Sandler trabalhar bem em “Embriagados do Amor”.
                Não creio que o novo trabalho de Anderson vá ganhar Oscar este ano. Mas não destoa a sua qualidade de cineasta-autor. Pena será Lewis não sair com sua terceira estatueta (ganhou Oscar por “Meu Pé Esquerdo” e por “Lincoln”). Mas será duro vê-lo vencer Gary Oldman no antológico Churchill.

                “Trama Fantástica” deve chegar à pelo menos uma sala de schopping local dia 22/2. Confira.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

The Rock

O ator-produtor Dwayne Johnson, conhecido também por The Rock, produziu o documentário “Rock and the Hard Place”(2017) dirigido por John Albert e Mathew O’Neill, sobre detentos em uma penitenciaria que são selecionados para um programa de reabilitação com base em regime militar. O próprio The Rock sentiu isso na pele. E o filme exala sinceridade, com momentos que lembram “Nascido Para Matar”(1987) de Stanley Kubrick (a cena do sargentão gritando com um subordinado). O filme, da HBO, anda pelo canal correspondente da Sky,
Dwayne está pela segunda vez em “Jumanji”(agora o numero 2 da franquia) fazendo parte de um jogo (videogame)para onde vão garotos jogadores. Uma “aventura na selva” como se fazia no passado e atraia a juventude. Agora tem os efeitos digitais fazendo a festa e sucesso popular se espelha na 2ª, semana em primeiro lugar no “box office” norte-americano e uma terceira aqui nos nossos cinemas de shopping.
Os críticos pouco vão achar de interessante e até pensar que perderam tempo indo ao cinema(podiam ver em casa, em alguma forma de copia) . Mas é bom olhar pela ação menos nociva para com uma falange de plateia que se banha na violência apresentada pela maioria dos filmes de ação. Isto quer dizer que a coisa tem endereço certo. Eu estou de fora. Mas é até bom passar ao largo das salas estupidamente refrigeradas. E ainda da maioria dublada.

Paz Rock.