sexta-feira, 29 de abril de 2016

La Quinceañera

Richard Glatzer e Wash Westmoreland, eram gays casados, autores do sensível “Para Sempre Alice”,filme que deu um merecido Oscar a Julianne Moore. Eles fizeram em 2006 “Meus 15 Anos”(Quinceañera) ora na TV brasileira de assinatura(canal Max). Glatzer morreu ano passado. Este seu filme surpreende na forma como passa uma comunidade latina para a tela grande. Pensei que a produção fosse mexicana Até porque se banha no preceito cultural comum em filmes do México em tempos passados. Uma garota engravida sem ter feito sexo com o namorado. Masturbando-o ela deixou-se invadir pelo sêmen do colega de escola. Fato que a levou ao banimento pelo pai,um pastor atuante na igreja do lugar onde moram. O drama cabe nas vésperas do 15°aniversario dessa jovem e logo depois da festa  para a mesma idade de uma colega filha de classe mais alta. A nova “quinceañera” só queria que chegasse ao lugar das festividades em uma limusine. E depois de revelada a gravidez o pai recusa, até mesmo que ela permaneça em casa(vai morar com um tio-avô). Para completar o quadro dramático, um primo marginal, homossexual por ambição de ganhar dinheiro de homens ricos, também mora com o velho dono da casa e esta casa é ameaçada por não cobrir as despesas de aluguel.
                O filme é muito bem narrado e nesse ponto lembra os “cine boleros” da PelMex. Mas exibe excelentes desempenhos e com isso cativa o publico. É sempre sensível e por ai conseguiu ganhar prêmio em Sundance.
                Lembrei dos melodramas que faziam sucesso de publico nos anos 50. E fiquei pensando em quanto eles poderiam ser melhores se contassem com cineastas como os dois que fizeram esta produção “gringa”.
               



terça-feira, 26 de abril de 2016

Mowgly

                A melhor versão para o cinema do livro de Rudyard Kipling(1865-1936) “The Jungle Book” (Mowgly,o Menino Lobo) foi a de 1947 dirigida por Zoltan Korda com Sabu(Selar Shaik Sabu/1924-1963)o garoto indiano que o documentarista Robert Flaherty(de “Nanook,o Esquimó”) descobriu no interior indiano(o pai de Sabu era um condutor de elefantes). Ele começou carreira com “O Menino e o Elefante”(The  Elephant Boy) de 1937 dirigido por Flaherty e já com a participação de Zoltan Korda.
         Sabu teve boa carreira no cinema inglês. Em 1947 ele esteve aqui em Belém fazendo “O Fim do Rio”(The End of the River)para a empresa de Korda com direção de Derek Twist. Era Manoel, um índio brasileiro que vivia uma aventura na capital paraense. Sua companheira de elenco era a jovem Bibi Ferreira, então com 22 anos.  Bem, o ator que morreu cedo vitima de enfarte, deixa saudades quando a gente vê o “Mowgly” da Disney ora em cartaz nos cinemas mundiais. Não que o garoto Neel Sethi faça vergonha, mas o filme exala falsidade a partir do calção do personagem, uma peça de loja fazendo a vez de um artefato selvagem(?).
         Os bichos falam como no desenho que a própria Disney realizou e que foi o ultimo a ter a supervisão do próprio Walt. Mas a ingenuidade do trabalho de Korda e mesmo o pitoresco da animação de 1966 passa ao largo. Fica, naturalmente, a fantasia do autor da historia que pertencia ao time colonialista que Mahatma Gandhi perseguiu. Um filme sem brilho, por aqui aviltado pela dublagem que sempre impõe o que é falso.

         Curioso é que este novo “Mowgli” faz boa carreira comercial em seu país de origem. Aliás, a Disney nada em ouro e basta citar o recente “Star Wars”para se ter noção de quanto ela fatura. Como as novas plateias desconhecem o que veio antes, vivem a fantasia de Kipling como é servida em novo roteiro. De minha parte acho que é filme para ver em casa. E com a prudência de porco espinho...

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Que Morra o Mau Cinema!

                Sergei Eisenstein(1898-1948) foi o cineasta que melhor propagou as ideias dos revolucionários de 1917 na Rússia(ou a criação do Estado Soviético). Seu “O Encouraçado Potenkim” mostrou o poder da montagem, fazendo com que um filme mudo parecesse ter som. No inicio dos aos 1940, quando já não contentava o mandatário e tiranico Stalin, tentou Hollywood a convite da Paramount mas o estúdio não aceitou seus planos inovadores e ele foi para o México tentar fazer um longa-metragem que partisse da revolução de lá. O filme mexicano não deu certo e hoje o inglês Peter Greenway brinca com isso no seu “Que Viva Eisenstein1 Dez Dias que Abalaram o México”(Eisenstein in Guanajuato/UK, 2015) ora programado aqui para uma sala especial.
                Eisenstein é interpretado por Elmer Bäck, ator finlandês que antes só fizera curta-metragem. Parecido fisicamente com o diretor russo, assume uma posição gaiata, assessorado pelo mexicano Palomino (Luis Alberti). No filme Eisenstein teria descoberto a sua homossexualidade com este colega e deixa uma sequencia inteira do coito anal com um comentário detalhado sobre o fato.
                 A mim o filme pareceu um desrespeito à memória de Eisenstein. E a linguagem de Greenaway nunca foi simpática a meu gosto. Ele disse uma vez que “continuidade é chatice”(em termos de narrativa cinematográfica). Mas neste “Que Viva Eisenstein”(pois o nome do filme do russo seria “Que Viva México”) ele trata o assunto linearmente. O diretor que entrou para a historia de sua arte como um inovador passa por um palhaço perdido que se satisfaz com um o que se passa no hotel onde fica hospedado, e Peter Greenway vê no fato uma critica, ampliando o desrespeito ao homossexualismo em tese, usando isso como adendo ao fracasso da filmagem, ao caráter instável do autor de tantas obras-primas mesmo guinadas à propaganda (a exceção foi “Ivan o Terrível” que afinal desagradou Stalin e com isso tirou Eisenstein do quadro de “verdadeiros comunistas”(sic).

                O filme é nauseante e me espanto que chegue aqui enquanto tantas obras de qualidade permaneçam no limbo. Gostaria de saber a reação da plateia, mas ando me poupando de cinema ruim.  

domingo, 24 de abril de 2016

Olympia 104

                Não esqueci a data de aniversario do cinema Olympia por ser a mesma de minha mãe. Ela tinha 12 anos quando a elite de Belém, resquício de “gomme époque”(a nossa belle époque) comemorou a chegada do cinematografo ao seu domínio(antes era um espetáculo popular restrito aos barracões de subúrbio).
                Eu frequentava muito o  Olímpia(já com i”)pois morava perto dele. Quando comecei a ir a cinema sozinho, não perdia matinais dos domingos e as vesperais de 15 h em dias da semana quando as estreias convidavam minha curiosidade. Nessa época a sala já havia perdido o seu titulo de nobreza. Chegou a um tom miserável com poltronas da madeira sem estofo, ventiladores laterais (e dois frontais) e atrações anunciadas num espelho da sala de espera.
                Mamãe não ia ao Olímpia porque achava quem tinha de se preparar com mais luxo do que ir ao Theatro da Paz. Preferia cinema de bairro,onde os filmes chegavam depois de algum tempo no espaço rico do Largo da Pólvora. Mesmo depois da queda, sabendo que cinema em Belém deixava de ser requinte da turma que vestia longos e fraques, preferia os modestos Independência, Guarani, Popular, cinemas sem garbo(exceto quando exibiam filmes com a Greta, que em si era Garbo) mas com boa assistência técnica.
                Mas se a aniversariante do dia se foi há 35anos, o Olympia,de volta ao “y” aí está, apadrinhado pela Prefeitura da cidade com o nome de “Espaço Cultural”. Deve isso ao próprio envelhecimento. Cinemas de sua estreia já se foram. Orgulha a nos, belenenses, uma tradição numa área que luta contra uma constante perseguição pelo modernismo técnico.

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                Hoje eu revejo o que vi na 4ª,fila do cinema onde o espectador entra no salão por debaixo da tela,os filmes que me deleitaram. Adolescente admirava as acrobacias de Errol Flynn, as ficções cientificas de George Pal ,as piadas de Oscarito, e suportava até mesmo as operetas com  Jeanette McDonald e Nelson Eddy. Via de tudo, até os dramalhões mexicanos que popularizavam boleros. Nesse coquetel achei doces como “La Strada” de Fellini. E como Gelsomina penso no valor de uma pequena pedra no mundo. Um tiquinho de lembrança indica o tempo de uma sala que, benza Deus, ainda vive. 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Rua Coverfield 10

                Michelle(Mary Elizabeth Winstead) está dirigindo e discute no telefone com o namorado(voz de Bradley Cooper). Há um desastre. Ela desmaia e quando acorda está num bunker construído e administrado por Howard(John Goodman) um tipo rude, obeso e barbado, que afirma tê-la salvo de uma catástrofe ocasionada por um ataque nuclear de origem misteriosa, seja de seres extraterrenos seja de potencias inimigas com rotulo de terrorismo. No bunker também está Emmet (John Gallagher Jr) que se diz ajudante de Howard desde a construção do prédio no terreno de sua casa.
                “Rua Cloverfield 10”(10 Cloverfield Line) assume a ficção de um filme feito em 2008(“Cloverfield,o Monstro”)escrito por Drew Godard e dirigido por Matt Reeves. Agora a historia é de Matthew Stueken e no roteiro trabalham o autor e mais Damien Chazelle,Josh Campbell e Matthew Stuecken. Quem dirige é Dan Trachtenberg, estreante em longa metragem.  Toda a trama se concentra entre as paredes do bunker e o mistério que passa ao espectador começa com a interrogação sobre o que diz Howard, o dono do espaço ou simplesmente um carcereiro. Michelle custa a crer que esteja só no mundo, que os seus parentes e amigos tenha morrido, que deve esperar naquele exíguo cenário o tempo em que deve passar a radiação consequente do desastre na superfície, alimentando-se com o estoque armazenado por Howard e ouvindo o que lhe diz Emmet . Em uma vez ela chega a ver, por uma das janelas que são fechadas por vidros resistentes, uma pessoa (mulher) desfigurada e desesperada pedindo socorro (pedindo para entrar no bunker). Cabe ao espectador as perguntas: será verdade o que diz Howard? Se houve um ataque este foi produzido por bombas nucleares de potencias terrestres ou de outro planeta? Ou o host é um maluco que teria eliminado sua própria família( mostra a foto de uma menina que diz ser sua filha quando Emmet sabe que é de outra garotinha).
                O suspense dura pouco mais de 90 minutos. E apesar da unidade de espaço é garantido e não só pelas falas. Os desempenhos de Mary Elizabeth e John Goodman garantem o clima. E o final pode surpreender.

                Boa estreia de um diretor. Feito com poucos recursos, é um filme de exceção no cardápio de blockbuster derivados dos quadrinhos. Vale a pena(pois ir a cinema hoje é penoso) olhar.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Alvorada do Amor

                Na mostra que marca o 104 ° aniversário do cinema Olympia está o clássico "Alvorada do Amor"primeiro filme sonoro a ser exibido em Belém. Havia escrito antes o texto seguinte:

    Quando o cinema começou a falar imediatamente começou a cantar. A Warner maravilhava-se com Al Jolson cantando em “The Jazz Singer” e a Paramount buscou em Paris Maurice Chevalier(1888-1972) para cantar em “Alvorada do Amor”(The Love Parade/1929)  versão do musical ’O Príncipe Consorte”(The Prince Consort”) de Jules Chancel, Leon Xanrof e dos romancistas Guy Bolton e Ernest Vajda. Para a direção foi chamado o alemão Ernst Lubitsch(1892-1947) já conhecido de 52 filmes entre curtos e longos sendo 11 americanos(os primeiros foram rodados na Alemanha).
                Aqui em Belém “Alvorada...” inaugurou o cinema com som, deixando a honra da estreia para o Olympia precisamente no dia 30 de novembro de 1930. Interessante notar que a técnica chegaria primeiro ao cinema Moderno, no Largo de Nazaré, mas o programa foi marcado para o dia em que começou a Revolução de 30 e contam que a sala foi invadida por militares e alguns espectadores masculinos guinados ao quartel. Por sinal que o Moderno procurava fazer jus ao nome. No lugar viveu o Chalet, teatro onde Altino Britto Pontes exibiu um aparelho de projeção. Ficou portanto com o Olympia a honra de lançar a novidade técnica que empolgou seus frequentadores.
                O filme é uma ode ao machismo. O conde interpretado por Chevalier vive nababescamente em Paris quando é chamado para a sua terra natal (um país fictício) onde a rainha solitária sente dificuldades administrativas. Lá chegando ele, um conquistador inveterado, seduz a monarca e no fim ameaça deixar o reino ( e a amada) se ela não der a ele franco poder, limitando-se a ser uma “dona de casa”.
                Jeanette McDonald(1903-1961) estreava. Soprano que exibia a voz desde a infância foi a estrela das operetas seguintes a este “Alvorada..” Fez dupla com o barítono Nelson Eddy(1901-1967) em filmes do gênero como “Primavera”(o preferido de Jeanette),”Rose Marie” e “Canção de Amor”. Impressionante como em Belém os fãs eram muitos e lotavam os cinemas que exibiam esse tipo de filme e com essa atriz.
                Mas o conteúdo da peça que gerou “Alvorada..” hoje deve irar as feministas. Felizmente o chamado “Lubitsch touch”,ou o estilo do diretor, conseguiu fazer uma comédia divertida e ainda hoje capaz de provocar risadas em certas sequencias. Chavalier fez muitos filmes em Hollywood e na França, embora em seu país tivesse sido malvisto por ter cantado para os nazistas (e ele dizia que foi obrigado a isso para salvar algumas pessoas). Pena que um de seus bons filmes da ultima fase francesa hoje esteja esquecido: “O Rei”(Le Roi/1949)de Marc Gilbert Sauvajon.

domingo, 10 de abril de 2016

James White




 "James White”é o primeiro longa metragem de Josh Monde. O filme ganha o nome do personagem por se limitar a ele. Na técnica fotográfica(de Mátyás Erdély)que lembra o recente”O Filho de Saul”,a câmera foca o ator Christopher Abbot em primeiro plano (não chega a ser close-up) e segue com ele ruas afora, adentrando em boates, seguindo em salas diversas e ganhando força nos espaços por onde vai parar sua mãe doente de câncer.
O roteiro do próprio diretor evidencia a morte. Primeiro a do pai com  quem James não mantinha intimidade e estava separado da mãe(Cynthia Nixon, excelente), ele casado em segunda nupcia com uma oriental. Quando este homem morre ele acompanha a mãe que mora só em um pequeno apartamento. Sem emprego, James mantem amizade com o negro Nick(Scott Mescudi) e uma jovem com quem tenta manter um romance mas a doença da mãe o afasta.
O lento processo de deterioração da saúde materna leva James a um esforço que lhe revela um filho devotado ao extremo. O amor materno seria a sua razão de vida. E o enfoque de primeira pessoa define e acompanha isto. Nos planos de inicio e de fim resta as suas expressões, um trabalho difícil para o ator e certamente um caminho para o filme se desviar do melodrama, valendo como uma invasão de privacidade, a cara de quem é afinal o objetivo de se filmar.
O quase-close não chega a ser o único modo de se ver o filme. Há desvios da objetiva para acontecimentos em torno, mas sempre com a razão do personagem. Não é à toa que o autor chamou seu trabalho pelo nome de seu herói. Um exemplo de cinema intimista (ou introspectivo) de forma explicita, sem a correlação que um Antonioni, por exemplo, fazia do tipo com a vida que ele levava.
Claro que “James White” não vai chegar às nossas salas comerciais. Mas o pessoal que programa o alternativo deve anotar. É o cinema americano independente e forte. De aplaudir.


sábado, 9 de abril de 2016

Caligari



 Quando o nazismo abriu as suas asas na Alemanha os artistas inventaram o expressionismo como forma de ver o fantasma politico nascente. O gênero “terror” era o preferido. E no cinema surgiu “O Gabinete do dr Caligari”,uma historia do húngaro Hans Janowitz(1890-1954) roteirizada pelo conterrâneo dele Carl Mayer(1894-1944) o mesmo que iria inspirar Murnau na obra-prima “Aurora”(Sunrise/1929). Para dirigir o filme chamou-se Robert Wiene (1873-1938), alemão que fugiu dos nazistas indo para a França, onde morreu.
                O expressionismo, tanto na pintura como no cinema, exigia o contraste do claro e escuro como a forma de dimensionar o que deveria trazer a expressão do medo. E Caligari brincava com isso. Um louco contava a outro louco uma historia que envolvia um assassino singular (esguio, sempre pintado, o que um historiador chamou de “monstro elegante”). As casas eram pintadas de forma tortuosa, como as ruas. Nada se parecia com a realidade ambiente. Essa imagem trabalhada na cenografia usava as sombras de pontuação. O nazismo seria, portanto, esse personagem fantasmagórico que surgia da mente desvairada de internos em hospício.
                O filme criou uma escola. E ela sobreviveu ao horror de Hitler. Sem o alicerce expressionista não teria existido o “filme noir” que surgiu na Hollywood dos anos 1940.

                Impossível estudar historia do cinema sem conhecer “Caligari”. Hoje ele faz a Sessão com Musica do Olympia(o original , de 1920, é mudo). Classico legitimo.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

O FILHO DE SAUL

Saul Aslander sendo interpretado por  Géza Rohrig 

Quando eu comecei a filmar em película de 16mm, procurava usar o diafragma da filmadora com a abertura ff-11 seguindo a luz do sol que dava o foco em profundidade. Era difícil focar em interior, sem usar spot estratégico, conseguir o que se chama profundidade de campo alternada com planos próximos. Isto é o primeiro triunfo do filme “O Filho de Saul”, estreia do diretor húngaro Lászlo Nemes. Triunfo de seu diretor de fotografia Mátyás Erdély. Por este processo de individualização do foco o filme abre com a imagem sem definição de uma floresta e ganhando nitidez quando o personagem desejado chega para perto da objetiva. Desse modo se diz de onde se trata e de quem se vai tratar.
O roteiro segue o judeu Saul Aslander que está num campo de concentração nazista em 1942 e é encarregado, com poucos mais presos, de limpar o lugar onde as pessoas são mortas. Nessa tarefa ele acha o cadáver de um menino que assume como um filho e procura um rabino para enterrá-lo com a prece que sua religião exige.
Toda a narrativa segue o ator Géza Rohrig em plano próximo, close ou médios enfoques. Sai com ele pelos caminhos estreitos do presidio e pelos arredores. No fundo estão os despidos para ir morrer na câmara de gás ou fuzilamento, ouvem-se gritos, há falas indecifráveis que exprimem terror. Isso vai até que Saul tente escapar e o que vê é um símbolo de sua busca por uma liberdade utópica.

O filme chega carregado de prêmios. A maioria dada ao fotografo e ao diretor. Ganhou também o Oscar de filme estrangeiro. A meu ver tudo merecido. Não é deleite nem deve satisfazer quem quer um cinema mais ameno – ou mais denso num sentido de conteúdo. Mas emociona a ponto de se querer aplaudir. Ainda bem que chegou a uma sala de Belém (Libero Luxardo). Olhem. 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Cartazes

“Visões do Passado”(Backtrak) foi lançado em mais de 20 cinemas no circuito Cinepolis do Brasil. Belém não entrou nesse rol. E o filme é muito comercial. Adrian Brody faz um psiquiatra que passa a ver espíritos desde a morte de sua filha. Muito (mais uma vez) de “O Sexto Sentido” e um pouco de “Janela Secreta”(Secret Window) de 2003 dirigido por David Koepp com Johnny Depp na pele de um escritor acusado de plagio por um estranho(John Turturro) que no fim das contas é fruto de sua cabeça.
Os nossos cinemas comerciais dão espaço privilegiado aos rentáveis segundo o box-office(EUA). Mesmo assim não se justifica a estréia de “Casamento Grego 2” que apesar de ter se pago no país de origem é produção modesta nas costas de um relativo sucesso antigo(2002) da atriz(que depois saiu do ar) Nia Vardalos. Ela chegou a fazer série de TV com o tema. E não é nada de grega(é canadense, os pais é que são gregos).

Nas salas dos shopping “moram” o blockbuster “Superman Vs Batman” e “Zootipia” não à toa os dois filmes que encabeçam por mais de duas semanas a lista dos mais vistos nos EUA. O desenho da Disney merece uma visita, apesar da dublagem. O da DC Comics&Warner pede saco para se passar quase 3 horas em sala gelada. Enfim, cinema hoje, na capital paraense,é sacrifício. Não fosse minha TV & DVD& Blura& Download e estaria no mato sem cachorro. Ou deixaria ir pelo ralo da saudade a paixão pela “arte das imagens em movimento”. Ah sim, as salas especiais. O Libero exibe o Oscar de filme estrangeiro,”O Filho de Saul”. Horario apertado mas é o jeito.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Zootopia


Judy e a luta por sua identidade.

 Judy é uma coelhinha que é diplomada na academia de policia de sua terra. Guinada a trabalhar na cidade grande ela despede-se dos pais ao embarcar no trem e na grande corporação é guinada a...guarda de transito(todos riem de seu tamanho em maio a gigantes que vão de elefantes e touros). Nesse emprego ela encontra Nick, um macho de raposa que vive de trambiques. Através dele a pequena Judy vai se dedicar a descobrir o paradeiro de animais desaparecidos.
O argumento, cheio de clichês de historias policiais, guarda uma série de referencias aos desníveis da sociedade humana. Vai desde o conceito de “ser pequeno” ao de espertezas lucrativas como se acha bem uma raposa a lembrar o papel desse bicho em fabulas.
O recheio temático amplia o acesso do filme. Não é só uma animação para crianças, mas um deleite para os adultos que cismam em pensar num cinema.
Dirigido pela dupla Byrin Howard e Richa Moore o filme é rico em citações e de longe surra a média dos produtos Disney. Por sinal que a presença de John Lasseter de volta à empresa do Mickey Mouse, é de perceber. O desenho lembra seus irmãos da PIXAR que Lasseter produziu por anos(ele só caduca quando se mete a endeusar seus carros e aviões).
Pena que em Belém só exista copias dubladas. Pode-se argumentar que sempre foi assim com animações, mas agora as vozes tentam fantasiar a pronuncia e muito se perde nos péssimos reprodutores de som dos cinemas. Afinal já se passou o tempo em que isso era missão de Aloysio de Oliveira e Braguinha(João de Barros)...

O titulo “Zootopia” brinca com Utopia.Um mundo ideal povoado pelos animais que os humanos chamam de irracionais. Lembrei daquele ministro que disse “cachorro também é um ser humano”. Coelhinho não é só de Pascoa....

domingo, 3 de abril de 2016

A Laranja Mecânica

   “A Laranja Mecanica”(A Clockwork Orange) , cartaz agora de uma Sessão Cult do Cine Libero Luxardo foi o filme que Stanley Kubrick fez depois de sua obra-prima “2001 Uma Odisseia no Espaço”. Outra vez viu o futuro, e se baseou no texto de Anthony Burgess, autor da serie de TV “Jesus de Nazaré’ dirigida por Franco Zeffirelli. No futuro, um jovem da classe média se divertia na explosão de violência atacando casas e violentando mulheres. Capturado, passa por um tratamento que consistia em “intoxica-lo” com a amostragem de cenas de violência expostas em filmes que teria de ver sem parar. O resultado era um homem frágil, incapaz de agir a agressores.
                O filme quase não chegava ao Brasil do governo militar. A Warner conseguiu que fosse exibido mas a censura vetou as cenas em que aparecem órgãos sexuais, usando bolas pretas por sobre as imagens. Gerou gargalhadas. Mas foi o jeito de Kubrick deixar que se visse seu trabalho. Por sinal que ele foi por anos proibido na Inglaterra.
                Um filme corajoso e bem “kubriquiano” em termos de narrativa. A vez de Malcom McDowell, o ator que depois faria um Calígula semi-pornô.

                 

sábado, 2 de abril de 2016

Conspiração e Poder

"Conspiração e Poder”(Truth)baseia-se no livro “Truth and Duty: The Press, the President, and the Privilege of Power"de Mary Mapes,personagem de um escândalo que abalou o meio jornalístico em 2004 quando a rede CBS de televisão abordou a possível mutreta que isentou o presidente George W. Bush,agora em processo de reeleição, do serviço militar, fazendo com que ele não fosse para a guerra no Vietnam.
         O filme que tratou friamente o livro é o primeiro do roteirista James Vanderbilt como diretor, ele muito conhecido pelos roteiros de “Zodíaco” e “O Homem Aranha”. Seria bem melhor para a atriz Cate Blanchett que faz o papel da produtora do programa televisivo(”60 Minutos”), ela que se candidatou ao Oscar por “Carol”e perdeu.  Robert Redford é Dan Rather, o ancora veterano na profissão que decide se aposentar quando a empresa despede a sua colega.
         Um filme muito bem narrado e muito oportuno a tratar de jornalismo na época em que “Spotlight” surge ganhando as atenções.
         Vi “Truth” e em seguida revi “Todos os Homens do Presidente”(All the President’s Man) de Alan Pakula, oportunidade de comparar os fatos. Ali, dois repórteres do “The Washington Post” descobrem a espionagem ligada ao recém-reeleito presidente Nixon partindo da invasão em uma sala do Partido Democrata, seu opositor. Dá para se perceber que Mary Mape foi traída por uma entrevista com o velho militar que chegou a ser superior de Bush na época em que o depois presidente era um aviador a prestar serviço numa base americana. Os que ajudaram na renuncia de Nixon foram mais felizes até porque mais exigentes nas investigações.

         O jornalismo vem tendo sorte em cinema. Valeria uma retrospectiva sobre o tema numa das salas especiais. E elas é que possivelmente vão exibir “Conspiração e Poder” já que a estreia comercial brasileira limitou-se ao sudeste. Se isto acontecer em tempo hábil será um dos meus melhores filmes deste ano.