quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Doutor Estranho

“Dr Estranho”(Doctor Stranger) , filme dirigido e com roteiro de Scott Derrigson, baseia-se nos quadrinhos de Steve Ditko lançados ainda na década de 1980. A MARVEL achou que deveria explorar o herói que no fim das contas não é tão “super” como os demais da empresa. Em cinema de produção avantajada, “Dr Estranho” é mais um blockbuster da produtora que hoje é ligada a Disney. Não faltam pancadarias, desastres homéricos, invulnerabilidade do mocinho e efeitos oticos.Seria o bastante para dar lucro(e está dando) mas o enredo podia enveredar por outros caminhos.
O dr.Stephen Strange é um cirurgião muito hábil, a ponto de cantar quando opera, e que um dia sofre um acidente de carro e fica com as mãos paralisadas depois de passar por varias cirurgias de colegas.  Pesaroso com o fato de perder a profissão,ele ingressa no misticismo através de um amigo ocasional. E viajando para o Nepal entra numa corrente de magia em que se vislumbra um vilão capaz de acabar com o mundo(e os vilões modernos são assim, superambiciosos). Stephen acaba lutando com as armas magicas que aprende, e derrota, logico, um dos bandidos, Kaecilius, interpretado pelo bom interprete de “A Caça”,o dinamarquês Mads Mikkelsen.
Para o grande publico consumidor dos Marvelfilmes, é uma diversão plena. Para quem tem a mania de pensar em cinema é um horror. O drama do medico que se torna curandeiros daria um desses filmes-cabeça que os Cahiers du Cinéma aplaudiriam. Virou um espetáculo de CGI com direito a um embate com o demônio num plano interplanetário.  Coisa que a garotada aplaude, mas que por aqui taxaram de impropria até 14 anos e tive um neto de 13 barrado na porta de um cinema.
Vi o filme em 3D e realmente a técnica engrossa o fascínio do show de feira, Cinema de verdade passa numa sala ao lado da que exibe “Dr Fantástico”, ou seja o filme de Oliver Stone “Snowden”(que por sinal já deu no pé em circuitos como o Cinepolis). Enfim, cinema de shopping, neste século, é mesmo apêndice do conjunto de espaços para consumo. Querer mais é procurar um dvd & bluray (e eu vi um dia desses um filme modesto de sci-fi que me cativou:”O Predestinado”, talvez um dos melhores a abordar viagens no tempo).

Certo;o doutor nada tem de estranho no ninho marvelesco.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Snowden

                Oliver Stone(69 anos) é um cineasta que se pode colocar como “de esquerda”. Seu novo filme em cartaz por aqui, “Snowden”(cognominado “Herói ou Traidor ?”) aborda o grampo de mensagens que se ampliou mundialmente e deu margem a protestos de diversos países(inclusive o Brasil). O sistema inventado ou aperfeiçoado por Edward Snowden (no filme Joseph Gordon-Levitt) lembrou-me desde que ouvi falar dele o “1984”,livro de George Orwell que tratava de um ditador capaz de saber de pormenores da vida das pessoas, comandando todos os atos. Baseado em uma historia real com roteiro do próprio Stone e Kieran Fitzgerald,começa com uma entrevista que o personagem deu em 2015 e em seguida dá inicio a uma série de flashbacks que contam como o adolescente epilético (e como quase todos epiléticos muito inteligente) conseguiu por mérito próprio galgar postos chaves na CIA e depois em organismos ligados a espionagem norte-americana.
                Há no enredo um romance entre o biografado e a jovem universitária Lindsey Mills(Shailene Woodley). O que pode parecer uma licença comercial a sequencia de sexo entre os dois tipos principais da historia.Mas logo a câmera se desloca para um olho eletrônico e se entende que até essa intimidade pode ser transmitida à distancia. Por sinal que um corte que passa de uma objetiva para um olho humano é outro prodígio de síntese do filme. Eu achei um cuidado formal  superior aos filmes anteriores de Stone (mesmo o seu trabalho de estréia, o elogiado “Platoon”).

                Com um elenco “afiado”, inclusive os coadjuvantes famosos como Nicolas Cage e Tom Wilkson, o filme de Stone é de excelente nível. Sua densidade exigindo copia em som original deixa a gente surpreso do bom lançamento ,ou melhor no lançamento local, sempre minado com blockbuster de Hollywood. 

sábado, 5 de novembro de 2016

Branca de Neve em 1916

“Branca de Neve”(Snowhite/1916), filme dirigido por J. Searl Dowley, foi considerado uma ousadia em seu tempo. Adaptando o conto dos irmãos Grimm, escrito no sêxtulo XIX,difere do clássico de animação que promoveu Walt Disney em 1937 pelo detalhe na construção do caçador, chegando a mostrar que a rainha perversa (e madrasta de Branca) trancou os filhos deste personagem em uma masmorra quando soube que ele não havia trazido o coração da jovem Branca como ela pedira.
O trabalho de Dowley acabou meio esquecido na historia do cinema como outras adaptações do que os irmãos alemães escreveram. Mas é bom rever este hiato. Quando eu vi pensei que ele ia fraquejar na amostragem dos anões.  Conseguiu focaliza-los embora sem individualizar os tipos como fez o desenho posterior, afinal um clássico legitimo.

O filme de 1916 estará fazendo a Sessão com Musica do Olympia na 3ª, dia 8. Paulo José acompanha em exposição musical que ele planejou.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Agnus Dei

  Em 1945, logo que terminou a guerra, um convento polonês foi invadido por soldados russos e as freiras foram violentadas com muitas engravidando. Chegando o tempo dos partos, nem todos puderam ser observados no processo natural pelas irmãs mais velhas. Chamou-se ajuda medica e justamente a medica que atendeu as freiras é quem reportou o caso dando margem ao artigo de Madeleine Pauliac que foi adaptado por Pascal Bonitzer e pela cineasta Anne Fontaine para o filme “Agnus Dei”(Les Innocentes/ França,Polonia 2016) chegando aqui para sessões no cine Libero Luxardo.
                O drama das jovens religiosas ganhou um tom muito trágico quando se soube que a superiora do convento levava algumas crianças recém-nascidas para deixa-las na estrada coberta pela neve. Ela afirmava que tinha levado os bebês para um orfanato próximo. A mentira escandalizou a atendente e ganhou a mídia. Mas não se sabe, ou o filme não mostra, se aconteceu alguma penalidade às madres assassinas.
                Com uma linguagem direta, sem flash-backs ou incursões em assuntos correlatos, o que se vê é chocante. Torna-se mais uma denuncia a ocultação de crime em nome da religião, fazendo coro com os recentes “O Clube” e “Spotlight”.

                Premiado em festivais menos conhecidos, “Agnus Dei” figura entre os (poucos) bons programas cinematográficos deste ano. 

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A Garota do Trem

                Não conheço o livro de Paul Hawkins mas penso que o filme de  Tate Taylor (de “Historias Cruzadas”),ela funcionando como co-roteirista, deve seguir de perto o original literario. Não importa, O que impressiona é a disposição de um quebra-cabeça que segue 3 personagens femininas: Rachel (Emily Blunt), Megan (Haley Bennett) e Ana (Rebecca Fergunson).
                De inicio segue-se Rachel em suas viagens de trem,ela falando em tom narrativo,mostrando-se interessada numa casa de onde divisa Megan e, numa das viagens, ela com um homem se beijando (o que leva Rachel a deduzir que a mulher está traindo o marido, pois sabe que ela é casada). Uma série de flashes (back ou não) colocam sequencias das problemáticas de Megan e Ana, uma outra vizinhas, com a “garota do trem” que se sabe depois ser alcoólatra e deprimida.
                O que une as mulheres da historia? O que Rachel deduz é a verdade dos fatos ou o que ela idealiza em devaneios que passam por psiquiatra e por sessões de Alcoólatras Anônimos ?
                No correr das narrativas, que se tornam difíceis de assimilar pelo modo como são observadas, há um assassinato. Morre Megan. E quem a matou ? Há suspeitos bastante a na reviravolta de exposições, com sequencias que se vão ajustando no tempo e no espaço, chega-se à uma conclusão que não é espantosa mas deixa margem a um capitulo de suspense.
                Agatha Christie tem historia de mulher que vê um crime numa passagem pelo cenário do fato. Há também a senhora do filme de Hitchcock envolta num caso de espionagem. Mas nada retira um tom original da trama de Paula Hawkins e muito se deve às interpretações, especialmente da inglesa Emily Blunt que já tem 40 títulos no currículo e não fez vergonha ao que já se viu por aqui.
                A ginastica de edição na verdade eclipsa o “déja vu” e corporifica um enredo ingênuo, onde temperamentos doentios chegam devidamente estereotipados. Quer dizer: o filme vale por ser um exercício de estilo, um emaranhado de situações que instiga o espectador e o faz esquecer os furos existentes.

                Não olhei para meu relógio durante a projeção. Bom sinal.