segunda-feira, 7 de outubro de 2019

O Coringa


Os leitores & espectadores de pelo menos duas gerações cresceram admirando incondicionalmente os super-heróis. Eles se espantam com a biografia de um dos vilões  que um desses heróis combatem: o Coringa. No filme de Todd Phillips (direção e roteiro) que aí está, o “bandido” é o adotado Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), vivendo com a mãe até que possível, tornando-se matador de pessoas que o perseguem e maltratam, representando uma classe dominada que em um momento muito interessante do filme mostra-se na rua, queimando carros, gritando por justiça e enfim elegendo o palhaço que se apelidou de Coringa como o seu herói.
O filme muda a imagem gasta pelo uso de mocinhos, apontando de forma critica e sem detalhes  o que se veste de morcego (Bruce Wayne, adolescente que escapa da morte dos pais por ação do Coringa que no caso combate um milionário opressor dos menos favorecidos, uma espécie de justiceiro politico). A ironia passa por ai, um polo se veste de palhaço outro de animal. Mas o filme não apresenta Batman(Homem Morcego), afinal o herdeiro dos Wayne e por fim um homem rico que constrói uma fortaleza para defender a cidade de Gothan contra elementos rebeldes não só como o Coringa  mas o Pinguim e outros fantasiados( na visão do desenhista Bob Kane (1915-1998).
É interessante notar como o roteiro do diretor Phillips ousa levar sua historia para luta de classes. Em diversos tempos os mais favorecidos atuam contra os menos até como forma de continuarem a ser mais. E a ironia cabe no que não se mostra: o Coringa fugindo do hospício (imagem desfocada por superiluminação) e restando na memoria do espectador o garoto (que nem se diz se chamar Bruce) de pé adiante dos corpos do pai e da mãe caídos na rua. Eles se encontrariam, mas não é só um ato de vingança. O vilão ri copiosamente até como forma de sua enfermidade psicológica e o mocinho fica apenas como a promessa de que o perseguirá como amplitude dos policiais que atacam os que protestam nas ruas. Mais curiosidade é que Batman será chamado por uma projeção da imagem de um morcego nas nuvens. Isto não se vê no filme atual, mas é difícil achar um espectador que não tenha visto ou lido uma aventura do morcego que usa carro de modelo próprio, tem mordomo cavalheiro e ainda ganha um comparsa mirim que os gibis chamaram de “menino prodígio”(Robin).
O filme inova no seu mergulho social e traz Joaquin Phoenix num desempenho antológico, digno de premio que o respeite (o Oscar nem sempre faz isso como provaram Glenn Close e a nossa Fernanda Montenegro).
Quem for ver (e muita gente está indo) deve sentir a emoção de uma abordagem corajosa de trama gasta pelo uso. Hoje até por aqui se sabe que nem sempre os deserdados ganham coringas ( e sim pauladas). Por sinal que os combatentes da desigualdade social são tidos como loucos. Coringa é louco. O trabalho de Phillips é “uma loucura” no melhor sentido. Um dos melhores filmes que eu vi este ano.