segunda-feira, 30 de julho de 2012

General Batman

Vendo este “Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge”, debaixo de um frio polar que os compressores da sala de projeção ofereciam, pensei que o morcegão deve ter alguma patente do governo norte-americano. Se existe um Capitão América, o ufanismo do filme de Chris Nolan indica um General Batman. A promoção vale pela demonstração de patriotismo dada em sequencias como aquela em que um garotinho canta, contrito, o hino nacional, e o campo de rugby onde ele está vira farelo. A destruição e a seguinte demonstração dos planos governamentais do vilão da historia é pura guerra fria. Gothan City seria socialista. Antes de explodir um estádio ele,vilão, explodiria a Bolsa de Valores e grandes industrias (e casas de comércio). Só não explodiria Hollywood, é claro. Contra esse estado de coisas Batman sai do exílio, machucado várias vezes, até saco de pancada do bandidão chamado Bane (podia ser um banen de site da Warner) e volta a ser o superheroi que vai ganhando a peleja até no final quando, apesar de ter levado uma facada, pilota o batplano para jogar no mar uma bombinha atômica. O filme é um mimo de efeitos especiais, de iluminação, de edição. Mas a troco de mesmice datada dos 50. Tudo bem que isso é uma prova de coerência: Batman foi criado em 1939 e alimentado depois de um estágio em 1948 por festejada série de TV e depois o filme de Tim Burton com Jack Nicholson feito “o homem que ri”, menos Victor Hugo & Conrad Veidt (como quis Bob Kane o pai do herói na HQ) e mais um Coringa (Joker)a melar qualquer jogo. Li que se falou deste filme no páreo dos Oscar. Tudo é possível. Até mesmo se Terrence Malick chegar com o seu novo trabalho que abre agora o Festival de Veneza. Sei lá, mas qualquer dia aparece uma refilmagem de “Fui Comunista para o FBI”com o nome “Fui Terrorista para a CIA”. E se a gente pode esperar “Batman e Robin “(de novo) também pode esperar o Super Homem ,ou Superman, ensinando que o seu planeta, o Krypton, foi pras cucuias porque tinha terrorista agindo. E o “homem de aço”vai ter que exorcizar esse mal enrolando os fragmentos de seu mundinho na bandeira americana....

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Heleno

Não sou muito ligado a futebol, mas quando eu era criança ouvia falar de Heleno de Freitas, de sua teimosia, de como ia brigar com o juiz por causa do tempo da partida exibindo o relógio de pulso que levava consigo em todos os jogos do Botafogo. O filme “Heleno” não diz como surgiu o craque. Pega-o já no auge, ídolo de um clube que tinha como maior gloria o hino composto por Lamartine Babo que a gente cantava “...campeão de 1910” e o botafoguense corrigia rápido: “...campeão DESDE 1910”. O que me impressionou no trabalho do cineasta José Henrique Fonseca,premiado por “O Homem do Ano”em 2003, é o esforço monumental do ator(e produtor) Rodrigo Santoro. Parecendo fisicamente com o biografado Santoro dá uma aula de expressão corporal e deixa a imagem do homem doente, do sifilítico, entregue à uma solidão sem saída. Um dos melhores desempenhos de ator no cinema nacional que eu me lembre. Mas o que me impressiona mesmo é como “Heleno” não chegou aos cinemas locais. Rodado em preto e branco deve ter caído na malha do preconceito que paira sobre a ausência de um elemento comercial estável (a cor). Só pode ser. E a pensar que os cinemas são obrigados a exibir filmes nacionais e cumprem a obrigatoriedade com a safra da neo-pornochanchada é triste. Registro meu protesto. E aproveito para registrar também a retirada brusca de “Para Roma Com Amor” só suavizada agora com a “rentrée”no Cine Libero Luxardo. Parece que estamos mesmo num esquema de radicalização de bloquebostas. E se ir a cinema já é (pelo menos para mim) sacrifício (com o DVD dando sopa em casa) a dieta de abacaxi é simplesmente indigesta.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Nas Noites do Passado

Nos anos 50 a Metro gabava-se de ter tantas estrelas quanto as do firmamento. Eu tinha uma foto do almoço comemorativo dos 50 anos da empresa. Lá estavam quase todos os artistas que se conhecia. E o estúdio vendia caro o seu produto. Alguns filmes eram negociados a 60% da renda do cinema lançador. O “normal” era 50% (quando de outras firmas era 40% deixando os 50%para a produção nacional). E tinha quem pagasse. Para vencer o concorrente, a firma local Cardoso & Lopes(cinemas Moderno, Independência e Vitoria) não hesitava. A maior parte dos filmes era musical. Na época a gente não gostava. A critica não gostava. Mas hoje em dia busca esses títulos como valiosas peças históricas. A exceção eram os melodramas com caras conhecidas. E dois títulos ágora em DVD ilustram esse tempo: “Mundos Opostos” e “Na Noite do Passado”. Eu revi com atenção “Na Noite do Passado”. Não conheço o romance original de James Hilton mas o filme de Mervyn LeRoy me pareceu um modelo de seu gênero. Ronald Colman, em grande fase, é o ex-combatente da I Guerra que chega sem memória a um asilo inglês. Desejando sair dali de qualquer maneira, foge na hora em que se comemora o armistício (1918). Só não se perde na rua porque sensibiliza uma atriz de teatro(Greer Garson) que vai lhe dar abrigo e gradativamente se apaixonar por ele. Passa o tempo, ele casa, tem um filho, mas quando vai atender a um convite de um editor em Liverpool, sabendo que tinha vocação para escritor,é atropelado. E volta a antiga memória apagando a atual. Com isso sabe que é um homem rico, herdeiro de uma indústria bem sucedida. Correm os anos e a esposa da breve época de amnésico surge como sua assistente. Ela quer que ele se lembre do que foi e reluta uma paixão que (re)nasce. Bem, o filme não deixa fôlego. Por mais que se saiba que tudo vai terminar “bem”, este fim é esperado como o resultado de um jogo. A narrativa clássica e os atores brilhantes sabem envolver com a trama novelesca. Pensei em como a gente saia do cinema de paz com a vida. O cinema era um escape para um paraíso mental. E não se diga que era fácil fazê-lo. Havia todo um processo de narrativa que empregava os artifícios de estúdio como locações reais. LeRoy era mestre nesse jogo de mentiras, certamente supervisionado por Irving Thalberg ou outro gerente do velho Mayer, o leão da marca. Quem hoje estuda cinema deve conhecer esses filmes do passado que agora se tornam acessíveis graças ao DVD. É a linguagem direta ou o modo mais simples de se contar historia. Ingenuidade, certo, que se perdeu com o tempo mas se ganha (e muito) em achá-la.

domingo, 22 de julho de 2012

O Massacre de Aurora

O massacre em Aurora, no Colorado, tocou não só aos que gostam de cinema. Alguns leitores pediram minha opinião sobre o assunto sabendo que sou ligado à cinematografia de um modo geral. Penso assim: fã é abreviatura de fanático. Há pessoas que não deixam de lado o que se chama “efeito mimético”. Lembram-se dos que se fantasiavam de tripulantes da nave Enterprise nas exibições de “Star Trek”? Diziam-se “trekkies”. Pois no caso do novo Batman, o fã resolveu ”vingar-se” da “humilhação” que o herói sofreu no filme imediatamente anterior a esse “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. E foi adiante: achando-se “O Coringa”, pretendia explodir seu prédio e quem sabe morrer como o personagem que no cinema foi interpretado pelo falecido Heath Ledger. Em suma: incorporou Coringa por tê-lo eleito o seu predileto, o seu “alter ego”. O tipo que se pode enquadrar na paranoia é perigoso para a sociedade na medida em que se manifesta contra esta sociedade. Geralmente é o introvertido, o “caladão”, o que a mídia está divulgando sobre Holmes, o causador da chacina. Não há como evitar esse tipo de tragédia no mundo moderno. Aquele estudante que fez a mesma violência deste norte-americano no cinema paulista quando se exibiu “O Clube da Luta” sofria do mesmo mal. Diferia o modelo a seguir. Mas é sempre a interferência da fantasia na mente que não sabe discernir o que é ou não real, vivendo o que lhe mais sensibiliza.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Sessão de DVD

Vejo a média de dois DVD por dia. A vantagem é poder acessar a passagem rápida de cenas. Tem muito saco disponível. E alguns com méritos, a exemplo de “Isto Não é Um Filme”, produção iraniana de Jafar Penahi aquele diretor que foi preso por desacatar as normas da nação religiosa. Em 70 minutos ele lê um roteiro de sua autoria. Seria o filme vetado pelos aiatolás. Filmagem com minúscula câmera digital que um amigo de Jafar botou num pen-drive e tirou do país. Coragem, capacidade de autor e teste de paciência para quem vê. “Hunger” impressiona. Na Irlanda dos anos 80 uma greve de fome matou diversos combatentes do IRA. O filme traz um plano médio do rebelde contando a um padre os seus planos na cadeia e a câmera permanece estática, focando os dois lado a lado, por mais de 15 minutos. Também há um prodígio estético quando o grevista está morrendo (a objetiva dança do alto sobre seu corpo). O diretor tem o nome de um ator famoso, Steve McQueen. É muito mais talentoso do que o xará de “O Canhoneiro do Yang Tse” morto em 1980. Em “Mundos Opostos”(East Side, West Side) James Mason é casado com Barbara Stanwyck mas pula a cerca com Ava Gardner. A escolha do ator procede quando se sabe que Ava foi mulher de Frank Sinatra (que precisava se espichar para beijá-la). Como regra três no romance está Cyd Charisse antes de mostrar que sabia dançar como pouca gente e tinha umas pernas como poucas mulheres tinham. Essa turma era trunfo no jogo de mercado para a MGM. O velho leão gastava uma fortuna com artistas contratados. O filme de Mervyn LeRoy sai em DVD para contentar os saudosistas e mostrar aos novos como se fazia cinema comercial nos idos de 40/50. Reparem que tudo se passa no estúdio. Ruas, pontes, céu. O artificialismo era engolido no seco. Melhor: saboreado. “O Despertar” é filme de fantasma inglês. Poucos como os ingleses sabiam filmar espíritos desencarnados. Este exemplar focaliza uma jovem mestra especializada em descobrir assombrações contratada para ir à uma escola, em Rookford onde aparecia o espectro de um garotinho. Não falta nada no cenário, até uma governanta que vai se revelar parente do morto. Rebecca Hall cumpre sua tarefa sob a direção de Nick Murphy, Dá saudades dos filmes da Hammer, empresa lodrina que tentava arrepiar com Christopher Lee e Peter Cushing... E “Billpig”, filme nacional que eu tive faro de não ir ver no cinema, é mesmo o fim da picada. Pior só “Agamenon”, da mesma origem. Um comentário que eu li cita saudades de Oscarito. Acrescento as minhas. As velhas chanchadas focavam nossa cultura, nosso modismo, nosso ridículo. Essas novidades, bem editadas, não dizem o que querem nem como conseguiram ser construídas. Nasceram pagas (veja o numero de financiadores) e por aí começam a se explicar.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Valente é o espectador

Eu nem me lembrava de “Irmão Urso” animação Disney que o nome diz tudo. Minha neta Juliana lembrou à saída do cinema aonde vimos “Velente”(Brave) de PIXAR. De fato, a diferença da metamorfose fica na família. Agora é a mãe que vira urso. E a filha, uma princesa, ajuda nisso inadvertidamente para fugir de um casamento arranjado pela matriarca. De novo no filme de Brenda Chapman, dona da ideia, só tem a ojeriza da mocinha, uma princesa, por um príncipe encantado. Hábil no arco e flecha, Merida, a garota, não aceita os possíveis pretendentes e no fim da história sai montada em seu cavalo “por aí afora”. Nem deve ganhar nova aventuras pois o filme não estreou nos EUA em cabeça de box-office. Perdeu feio para os blockbuster e até pelo insosso “Era do Gelo 4”. Senti que o pessoal da PIXAR está contaminado pela Disney. Não se acha a imaginação que voou com a casa do velhinho em “Up”. E é uma pena. Há anos que esta fábrica de desenho animado goleia no Oscar. Mas dessa vez talvez nem entre em campo. Pode ser que a garotada bata palmas. Mas o pior na minha sessão foi a lâmpada do processo digital da sala 6 do Cinépolis Boulevard. Parecia vela. As cenas escuras sobravam. E não houve 3D que iludisse. O filme passou em péssimas condições embora isso não invalide o que percebi. Certo: não é nada de valente. Pouco faltou para covarde. Ficou na preguiça de boas ideias.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Em Roma com Woody Allen

Doido por cinema (como eu), Woody Allen às vezes é inspirado por filmes. E pode ser inadvertidamente. Neste “Para Roma,com Amor” ele pinça um desenho de Tom&Jerry onde um protagonista só canta no chuveiro e por isso ganha espaço, com chuveiro e tudo, num palco de teatro. A história do cantor molhado é uma das quatro que o diretor-roteirista-ator usa nessa homenagem à capital italiana na linha de similares que realizou pela Europa ultimamente (Inglaterra,Espanha e França a conferir). Como todo filme em episódio, ou “de episódios”, “Para Roma...” tem altos e baixos. Os altos são declaradamente cômicos: como o de Allen, voltando a atuar de seu jeito como um aposentado descobridor de talentos vocais na área do canto lírico que acha “um novo Caruso”no futuro genro. O outro estratoférico é de Roberto Benigni. O comediante de “A Vida é Bela”, quase sempre um chato, cai bem no papel de um eleito da mídia (seria “o italiano padrão”) que acha um inferno o cerco dos paparazzi, mas quando deixa de ser estrela fica implorando por eles. Os romances, ou melhor, as cornadas, são frouxas. E alguns atores se perdem como Alec Baldwin, deixando o caminho livre na área para Penelope Cruz de prostituta trajando um vestido vermelho colante. Os dois romances enxertados na trajetória romana lembram de longe alguma coisa de Dino Risi. Mas neste caso nada melhor do que italiano falando (ou filmando) de italiano. E Allen deve ter visto muitas comédias não só de Risi como de Mario Monicelli, Steno ou o Pietro Germi de “Divórcio à Italiana”. “Para Roma com Amor” só vem a provar que um filme menor de Woody Allen é bem melhor do que a média de comédias exibidas nas telonas ultimamente.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A Longa Viagen sen Rumo

“Na Estrada”(On the Road/EUA,2012)é baseado no livro de Jack Kerouac, um retrato da geração “beat” que eu na minha ignorância não sabia que era tão velha (a ação se passa em 1948). Interessante, de entrada, a aparência com “Na Natureza Selvagem”(Into the Wild) escrito em 1990 por Jon Krakauer e filmado por Sean Penn em 2007.A diferença é que o herói de Krakauer não anda em farras homéricas nem é fã de drogas. Tampouco se une a amigos. Quer viver só no Alaska, “far from this madding crowd”. Os rapazes de “On the Road” vivem mergulhados no insensato mundo. Drogam-se, fazem sexo à vontade, não são de visitar regularmente papai e mamãe. O que desejam da vida esgota-se rápido como diz um deles que tenta o suicídio. O mais evidente na história, ou o alter-ego do escritor, vai passando para o papel o que pensa ou sente e o que faz – menos do que “o que quer fazer”. A estrada, portanto, é o caminho para longe do “nada” na direção de “coisa nenhuma”. Uma Shangri-la perdida na memória esgotada pelos prazeres imediatos. Mas o que se pode contar. O filme de Walter Salles tenta ir fundo nos tipos descritos pelo escritor em 1957. Como é uma cultura norte-americana e a geografia é desse país não sei como o brasileiro foi surfar nessa onda peculiar comprada por Francis Coppola nos anos 70 e sem ter quem a levasse às telas desde então. Não é bem sexo, mentira s e videotape a lembrar o titulo do filme de Steven Soderbergh. É uma lenta narrativa sobre o vazio de pessoas ainda com um potencial de vida expressivo. Seria um documento de que o excesso leva ao tédio. Coisa que se sabe de cor e salteado. E filmar o tédio dificilmente se faz sem se contaminar. A mim, “Na Estrada” foi um saco. Consultei o relógio n vezes durante a projeção. Foram mais de duas horas de minha vida perdidas no pântano forçado dessa sociedade de um tempo. Dizer que o filme foi mal feito é mentir. Mas que adianta a estética do vazio? Sei que há quem goste. Antonioni fez carreira sobre isso, mas com uma classe peculiar. Gassman em “Il Sorpasso” de Dino Risi brincava: “-Vi “O Eclipse” de Antonioni: dormi o tempo todo”. Piada de mau gosto. Os vittelonis de “On The Road” chateiam sem reprisar muitas vezes seus planos. Não precisam disso. Apenas se deixam em rotina enfadonha por mais de duas horas de cinema. Eu não durmo em filme numa sala de projeção. Durmo vendo DVD à noite. Mas implorei a Morfeu que me atingisse. Ele também achou que estava perdendo tempo. Sim, já perdi a paciência para com certo tipo de cinema. Abraço o slogan da Imovision (“leve para casa o filme que você gosta”). Eu levo, mas na cabeça, o que me tocou. E esqueço rápido o não. Recurso terapêutico fisiológico.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Cinépolis

A empresa mexicana Cinépolis programou para os jornalistas uma sessão no seu novo e bem montado cinema no shopping Parque, o “macro”(sala 2), com o filme “Para Roma, com Amor” de Woody Allen. Na oportunidade o gerente geral da empresa. Eduardo Acuña,falou sobre os planos da firma, e eu perguntei a ele se vai continuar exibindo filmes com som original e legendas, alegando não só a fidelidade da obra primitiva como o alcance aos deficientes auditivos e espectadores estrangeiros (ou alunos de cursos de idiomas). Acuñua disse o que eu já sabia, que o público local prefere filmes dublados (e que Deus os perdoe) mas afirmou que prosseguirá exibindo cópias versáteis. A Cinépolis começou no Brasil por Belém. Gosta da cidade apesar de ser a única “no mundo” da dar ingresso gratuito a idosos, doadores de sangue e outras qualificações. O certo é que eu estaria deixando de ir a cinema se não existisse mais cópia com o som de origem. Acho um absurdo tão grande dublar filmes como se colorizava cópias primitivamente em preto e branco, - moda que felizmente passou. Por isso, por prosseguir respeitando quem leva cinema a sério, agradeço aos exibidores mexicanos. Lembrei-me de uma frase que Victor e Arthur Cardoso donos dos finados cinemas Moderno e Independência publicavam no rodapé de seus anúncios em jornais: “Dura lex sed lex filme bom é da Pelmex”. Pelmex era a distribuidora de filmes mexicanos. Faturava alto com os melodramas cheios de boleros. Hoje são os comerciantes que lançavam esses filmes que espalham suas casas mundo afora. Libertad Lamarque cantaria uma canção de Augustin Lara em regozijo.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Na Teia da Aranha

Não se surpreendam se em um novo filme da série “Superman” vai se ver, de novo, o pai biológico do super-herói colocando-o no foguetinho que o levará à Terra. E se no filme de Richard Donner (1978) tinha Marlon Brando faturando um milha por seu cidadão de Krypton agora apareça Michael Fassbender como Jor-El, o cara. E quem substituirá Glenn Ford de pai adotivo ? Por ora não se fala nisso. Os heróis da DC Comics estão em baixa comparados com os da Marvel (que virou produtora de blockbuster). Mas a moda é mesmo marcha a ré. “O Espetacular Homem Aranha(The Amazing Spider Man) , gabola até no nome, vai às raízes da história bolada por Stan Lee e apresenta (de novo) Peter Parker garoto, incomodado com o sumiço paterno. Também vai ao laboratório onde o rapaz é infectado pelo DNA (?) de uma aranha. Tudo o que se viu há exatos 10 anos. Falta de assunto ? Certo. Ou será que a Columbia/Sony crê na amnésia dos que vão a cinema ? O novo filme troca Sam Raimi(diretor) por Mark Webb e Tobby Maguire(ator)por Andrew Garfield. Não interessa. Só saudosismo reclama. O que os produtores querem é que a macacada se divirta na montanha russa de CGI onde o herói, que as revistas chamam de “aracnídeo” e eu tenho vontade de rasgá-las ao ler esse nome, pule por cima de prédios, derrube carros, infernize tráfego como se morasse em Belém, e, principalmente, faça com que o público deixe de pensar. Relax. A formula é curtir o herói pulador e seu vilão lagarto em uma luta que a prefeitura de Nova York pediria penico se fosse verdadeira. Quem afina no clube dos exigentes, aqueles que não dormem vendo Godard, vai achar “Homem Aranha” uma afronta à arte cinematográfica. Mas não pode dizer que se dorme durante a projeção. Mesmo porque o barulho é grande. Eu preferi ver o filme em 2D. Perdi o susto que dá o entulho que os personagens atiram para frente da objetiva. Mas esse entulho cabe no lixão da cinematografia. Difícil ver um catador de lixo depois da sessão. Passou, passou. A ilusão das imagens em movimento é substanciosa na medida em que essas imagens mexam com algum resquício de intelecto. Pensar em filmes como “Homem Aranha” é levar a sério a embriologia citada pelos doutores de araque. Sei lá, mas a gente tem saudades é de cientistas malucos como o Dr. Silvana, aquele que infernizava a vida do Capitão Marvel. Pelo menos não se embromava na mentirinha. BORGNINE Meu vizinho Dionorte Drummond Nogueira dizia que “´é triste o crepúsculo dos deuses”. Não se referia ao filme de Billy Wilder, mas ao fim de artistas de cinema. Vi no “Homem Aranha 4” Sally Field fazendo titia querida de Peter Parker. E Martin Sheen titio. Mas se esses atores premiados aceitam subpapéis por necessitarem de grana, pior é saber dos que se vão para sempre. Morreu agora Ernst Borgnine. Lembro do filme que lhe deu o Oscar: “Marty” de Paddy Chayefesky & Delbert Mann, e a produtora Hetch-Hill-Lancaster. Sim, Burt Lancaster era um dos produtores. Ernst, enfim em papel estelar, era o solteirão convicto que mãe italiana queria que arranjasse mulher. Um dia ele resolve procurar. E acha Bety Blair. Vai à uma festa com ela. Dois tímidos soltos num salão. Convincentes a ponto de comover. Um belo filme pequeno felizmente reconhecido pelos grandes da indústria. Borgnine fez mais de 200 filmes. Invariavelmente era de engrossar elenco. Mas competente a ponto de convencer como naufrago do Poseidon. Trabalhou até o fim. Tem filme com ele neste 2012. Somava 95. E podia ir além. Mas o espetáculo sempre termina. E o seu “the end” volta a dizer que cinema, apesar de ilusão, é um modo de se vencer a morte projetando a vida. Os filmes de Ernst estão por aí, com ele mais novo ou mais velho.

domingo, 8 de julho de 2012

Clássicos do Horror

Quando se exibiu o primeiro filme, ou seja, quando se projetou imagens moveis, na Paris de 1895 (Woody Allen se esqueceu dessa data no seu “Meia Noite em Paris”) os espectadores tiveram medo do trem que vinha na direção da objetiva, ou seja, na direção dos olhos deles. Talvez tenha sido o primeiro “filme de terror”. Hoje, aqui, no nosso Olimpia, reserva-se o mês de julho (2012) a esse tipo de filme. E inadvertidamente comemora-se o centenário da Universal Pictures, empresa criada por Carl Leammle e alimentada, ou engordada, pelo filho dele, Carl Leammle Jr, que no inicio das “fitas faladas” produziu uma série hoje de modestos “filmes de horror” hoje cultuados pelos estudiosos dessa arte chamado sétima. Karloff como a Criatura do dr.Frankenstein, Lugosi como o Conde Drácula, Lon Chaney Jr como O Lobisomem, esses monstros da noite ganharam uma fotogenia assustadora através de artistas como James Whale e Tod Browning. Por sinal que James mereceu uma interessante biografia (“Deuses e Monstros”) onde o ator Ian McKellen, confessadamente gay,adiantava que a morte do cineasta,afogado na piscina de sua casa, foi consequência do desprezo que lhe deu o seu jardineiro-amante. Tod Browning surgiu como ator no célebre “Intolerância”(1916), de David Wark Griffith mas deixou fama na sua versão livre do romance de Bram Stoker, usando a fotografia de Karl Freund, artista com passagem pelo movimento expressionista alemão tendo feito as imagens de “O Golem” e “A Última Gargalhada”. O ciclo da Universal na mostra do Olimpia abrange até “O Monstro da Lagoa Negra”, um tipo carnavalesco usado por Jack Arnold como amazônida. É ridículo, mas fez sucesso. A série “de meter medo” vai durar 4 semanas. Agora eu lembro “O Monstro do Ártico”(The Thing From Another World/1951) que eu vi no finado cinema Moderno aguçado pela minha paixão por ficção cientifica(o filme estava sendo vendido como o primeiro a tratar dos discos voadores). Cheguei a ir ver uma versão de “O Rigoletto”, a ópera, só para ver o trailer deste “monstro”. E era um “bicho folharal” no dizer paraoara. Cada pedaço de seu corpo podia medrar um outro bicho. Nada a amedrontar, mas a atiçar a ideia de que seres de outro planeta observavam (mesmo) a Terra e não eram amistosos (bem verdade vi poucos visitantes siderais amigos). O produtor dessa “coisa” foi o festejado Howard Hawks. Mas ele se escondeu na direção, deixando a assinatura como Christian Nyby, estreante então e mais voltado à edição (chegou a ser candidato ao Oscar por montar “Rio Vermelho”, de Hawks). Há mais a ver e a tratar. Mas agora eu paro por aqui. Texto longo em blog não me parece apropriado. Até outro dia.