segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A Vida como em Cinema


“Amor à Toda Prova”(Crazy, Stupid Love/EUA,2011) não é doido e estúpido como diz o original e tampouco se exibe como um tratado sobre o amor. Se for visto como uma comédia romântica, dessas que hoje faturam poucos pontos abaixo dos blockbuster de mais de 100 milhões de dólares, ganha dianteira. E nem é por culpa do roteiro ou do argumento. Quem carrega a trouxa é o elenco, muito afiado, e a direção da dupla Glenn Ficarra e John Requa (os sobrenomes soam em português como piadas). Eles conseguem que a gente não só acompanhe das peripécias amorosas de pelo menos 6 personagens como se divirta bastante. Isto sem que a narrativa caia de amores pelo humor fácil de trapalhadas de alcova ou pinte algumas figuras de tons melodramáticos (e há por onde fazê-lo).
Tudo começa quando a esposa de mais de 20 anos diz ao marido(ele dirigindo um carro, de noite) que quer se divorciar pois “até já transou com um colega de trabalho”. Daí em diante ele tenta sair da fossa paquerando quem lhe dê bola, auxiliado por um paquerador emérito, e o filho mais novo, um garoto de 13 anos, declara-se apaixonado pela babá que, por sua vez, declara-se, intimamente, apaixonada pelo patrão. Como se não bastasse, a filha mais velha do divorciado passa a namorar o “professor de paquera”. Toda esta confusão ganha terreno numa espécie de apoteose, com direito a um apêndice moralista na formatura do garoto gamado.
Steve Carrel com a cara de pau que lhe dá espaço na comédia pinta bem o tipo que lhe dão. Julianne Moore tem pouca chance, mas cumpre o estereotipo da separada que pede pra voltar. Mas é o moleque Josh Groban quem rouba a cena com a idéia de que a babá três anos mais velha é a sua “alma gêmea”.
Tudo podia dar em um ridículo atroz. Mas saiu um filme bem divertido. Prova de que o cinema é uma arte complexa onde bons assuntos naufragam e maus emergem do mar de expectativas (da platéia). A mim valeu até porque vi o filme em sessão de 11,35 e guardei a fome como não olhei para o relógio.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Lanterna Sim,Não Importa a Cor


Os Guardiões de AO, responsáveis pelo equilíbrio do universo, representam a essência do bem e, como tal, possuem um rival que é a essência do mal e se chama Parallax. Para lutar contra Parallax os heróis usam lanternas verdes que produzem raios devastadores. E buscam apoio de todos os mundos, inclusive o nosso. Para isso um guardião visita a Terra, mas se dá mal, caindo na zona rural dos EUA. Por feliz coincidência ele é encontrado (moribundo) por um audacioso piloto de provas, filho de outro piloto morto em serviço (e afinal a causa do filho seguir a profissão do pai). O resto da trama é ver o piloto botar uma fantasia condigna (que não se sabe quem costurou, apenas que é coisa de outro mundo), arranjar uma namorada e seguir pelas galáxias para vencer o bandido que recebeu o nome de um recurso de máquina fotográfica.
“Lanterna Verde”(Green Lantern/EUA,2011) foi a aposta da DC Comics no jogo milionário do cinema onde a campeã, na linha dos quadrinhos, é a Marvel. Perdeu feio. Com o custo de produção orçado perto dos US$200 milhões, mal tirou 100 nas bilheterias domesticas. E a critica arrasou. Com maldade, pois o filme não é bom mas está longe de ser abominável como “Transformers 3”.
Programa para crianças. E caro para os pais que vão pagar para ver em 3D uma coisa que pode muito bem ser consumida em 2D.
O que o conjunto dirigido por Martin Campbell se esmera é na direção de arte de Grant Major e na fotografia de Dion Beebe. Nem falo dos efeitos visuais, pois nesse tipo de filme isto rende um programa mirabolante dos digitadores. O “plot” é bobinho, com inclusão sentimental na história do garoto que vê o pai—ídolo morrer num desastre de aviação. E convenhamos, o que os autores do super-herói fizeram ao longo dos anos foi copiar o trabalho dos colegas. O que o Lanterna Verde tem que o Superman não tem?. Noutro campo, o mocinho pode passar até pelo Capitão America ou outro capitão de fisico hipertrofiado existente no "exército" dos comics. O fundo dessas histórias sempre teve um toque místico: o herói é um arcanjo, o vilão um demônio. Na eterna luta sempre o Bem sai vencedor, e nesse roteiro clichê melhor mesmo é o que a Dream Works fez com “Megamente” onde o herói pode ser o vilão quando não tenha um concorrente disponível.
“Lanterna Verde” é um dos programas lançados na temporada de verão norte-americana. Foi um dos primeiros e por aqui aparece como um dos últimos. Culpa da má receptividade. O público quase o coloca de posse de uma outra lanterna: a de último colocado na ambiciona porfia pela renda nos guichês das salas exibidoras. Sorte:a Warner não pensa em um “Lanterna Verde 2”.

A Nova Pornochanchada


Não resisti aos elogios de parentes e amigos e fui ver “Cilada.Com”, filme que emplacou a sua 5ª.semana nos dois circuitos exibidores locais e no plano geral já deve ter ultrapassado a meta de 1 milhão de espectadores.
Primeira impressão: o fascínio do “palavreado” é a formula que hoje o cinema internacional está usando para fazer rir. Lembro de um colega que ao ouvir a anedota de outro, não só sem graça como mal contada,pedia licença para acrescentar o termo “filho da puta”. Dizia que só assim atiçava o riso. Certo ou errado hoje quando se solta a língua nas telas dos cinemas a platéia, criadas no rigor de uma educação que chamava certos termos de “nomes feios” (ou chulos, ou palavrão), o riso aflora. É um prêmio pela coragem de quem fala. E se antes as legendas dos filmes estrangeiros, ainda impregnadas da moral vigente na época do Código Hays de Hollywood,omitiam o que os artistas falavam em alto som, agora traduzem corretamente no grosso das gíria nacional.
A “boca suja” dos tipos mostrados pelo roteiro mal costurado de Bruno Mazzeo é imprescindível nas situações expostas.
Segunda impressão: o gênero se sofisticou. Uma direção de arte eficiente, uma edição mais cuidada, faz a diferença do que Helena Ramos atuou nos anos 70 driblando a censura dos generais. Mas o miolo da coisa é o mesmo. Inclusive na exploração do preconceito. Ejaculação precoce é um problema médico. Pode-se chamar de doença. Mas no filme é motivo de gozação. E se o marido ansioso faz sexo de segundos ele com outra mulher parece ser mais lento. Pelo menos é o que se tira da cena em que é flagrado pela cara-metade que,por vingança, lança um vídeo da transa “oficial” num arremedo do Youtube.
Naturalmente que uma situação grotesca é arma de comédia desde o cinema mudo. Mas os verdadeiros comediantes não queriam ser realistas: assumiam o absurdo. Agora personagens e situações saem da realidade como o flagra da mulher traída que se vinga disso até que o parceiro peça penico. E contrabalançando a proposta de ridicularizar o cotidiano há um derrame de caricaturas. Mazzeo explode exageros de expressão corporal. E há tipos grotescos como o interpretado por Sérgio Loroza (o Marconha). Ícone do preconceito.
Sinceramente só achei graça umas duas vezes nos 95 minutos e projeção. Estou longe de ser puritano mas estou perto de um cinema responsável com a criatividade. “Cilada. Com” só tem de novo o uso da internet como arma do ridículo (e é em muitos programas de rede social). Podia aproveitar a deixa e fazer coisa boa. Não fez. José Alvarenga, o diretor, mesmo assim anuncia uma seqüência. Mas deixa uma semi-metáfora quando se joga o vídeo na lata do lixo. Um garoto salva a fita, mas já se fez a critica que a produção merece.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Novas Macaquices














O final do filme “O Planeta dos Macacos”(Planet of the Apes/EUA,1968) foi elogiado entre nós por um dos críticos mais exigentes que eu conheci: Francisco Paulo Mendes. Ele achava o filme de Franklin Schaffner melhor do que o “2001” de Kubrick. E salientava o final, realmente chocante: o astronauta que pensa estar em outro planeta depois de uma longa viagem pelo espaço sideral descobre a Estatua da Liberdade semi enterrada numa praia e, se atira no chão gritando: “-Seus malditos, vocês fizeram isso!!”
O filme com base numa história de Pierre Boulle(1912-1994), o autor de “A Ponte do Rio Kwai”, teve um roteiro primoroso a cargo de Rod Serling(1924-1975), o criador da série de TV “Além da Imaginação” e de Michael Wilson (1914-1978), veterano escritor que contribuiu nos roteiros de “Lawrence da Arábia”, “A Ponte do Rio Kwai”, e trabalhou sem credito no que escreveu Frances Goodrich, Albert Hackett e Frank Capra em “A Felicidade Não se Compra”.
A base nesse tempo de fobia atômica era o fim da civilização se entrasse numa guerra nuclear que nos anos 60 parecia próxima. A civilização não só desapareceria como haveria uma mutação genética radical voltando na escadaria genética do homem ao macaco.
O filme de agora. “Planeta dos Macacos, A Origem” (Rise of thePlanet of the Apes/EUA,2011) tem roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver, ambos autores do “Olho por Olho” de John Schlensinger . A base é a explicação de como os símios evoluíram. Seria um tratamento efetuado no século XXI com objetivo de estimular os neurônios e com isso curarr doenças como o Mal de Alzheimer. Os macacos cobaias ficavam inteligentes e começavam uma revolta contra os humanos que os escravizavam.
Felizmente o roteiro de agora não viaja muito pelo futuro. Mas o final é de um dos macacos tratados em cima de uma arvore olhando, absorto, para a cidade grande. Oxalá tudo termine aí, mas pela bilheteria que o filme está auferindo é quase certo que surja um novo “episódio” e a série só vá acabar quando a macacada sobreviver à uma guerra mundial. Aliás, é possível que os “imaginosos” roteiristas de Hollywood, estimulados pelos produtores cada vez mais comerciantes, omita a guerra atômica e deixe que um desgaste natural pelo desprezo da espécie enterre “Miss Liberty”. Vale dizer que os macacos sepultam o ícone de sua escravidão. Pode ser. O interessante no filme de agora, dirigido por Ruppert Wyat, inglês revelado em “The Escapist”(2008), é que a narrativa é célere e explora o que interessa do tema, diminuindo a “obrigação” de um romance entre o cientista interpretado por James Franco(“172 Horas”) e Freida Pinto a indiana de “Quem quer ser um Milionário” e já com um filme de Woody Allen em seu currículo(“V. Vai conhecer o Homem de seus Sonhos”).
Dessas seqüências oportunistas que andam por aí esta é a melhor. Incrível dizer isso, mas é verdade. E o ator que faz o macaco Ceasar, , Andy Serkis, que já esteve no “King Kong” de Peter Jackson, é fantástico(não só por estar maquilado mas por fazer crer suas macaqueadas).
Vale espiar.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Cineastas Amadores

Eu filmei muito em 16mm, mas na minha época de amador nessa bitola o mais procurado era o filme em Super-8, herdeiro do 8 mm (largura do lendário “Círio, Outubro 1º” de Edwaldo Martins e JJ Paes Loureiro).
O Super-8 era barato e fácil de manobrar, exigindo menos fraquejo de fotógrafos. Aqui em Belém quem comandava a bitola era Alfredo Paes Barreto. Também Roberto Lobato da Costa deixou filmes do tipo: “Búfalos de Marajó”, “Belém Show” e “Pesquisa Urológica Entre Índios”(ele era médico urologista).
O filme “Super 8”(EUA,2011) de JJ Abrams com produção de Steve Spielberg focaliza esse tipo de cineasta amador rodando a sua ficção quando acontece um grande desastre de trem e eles inadvertidamente descobrem que na pequena cidade onde moram há um et gigante escondido, procurado pela milícia federal.
Roteiro (do diretor) típico dos anos em que decorre a ação. Todos os velhos chavões são ressuscitados e um “happy end” mostra que a família é o elo mais forte, elemento que Terrence Malick atendeu com muito carinho no seu “Árvore da Vida”.
Vi no filme o passado que vivi. Talvez nem tenha sido o de Abrams, que só tem 44 anos. Mas foi de Steven Spielberg com 20 na frente do colega. O artesanato é retrô, a ação esbanja fantasia e o et está mais para o de Spielberg, apesar do tamanho, enfrentando o menino-galã cara a cara para desistir de ameaçar a Terra e seguir de volta a seu mundo de origem.
Eu contei a história, mas acho que não fiz mal. O melhor da brincadeira é mesmo a capacidade de reabrir um baú de memórias. De novo apenas a presença da jovem Elle Fanning(hoje com 12 anos) irmã mais nova de Dakota FanningI( de “A Guerra dos Mundos” por Spielberg). Bonitinha sem jamais parecer ordinária. Vai longe.

domingo, 14 de agosto de 2011

Divagações Godardiana

“O sonho do Estado é estar sozinho;o do individuo é tonar-se dois”. Esta pérola e outras surgem soltas em “Filme Socialismo”(Film Socialisme/França,2010) anunciado como o último filme de Jean Luc Godard(80 anos).
Começa com uma viagem de cruzeiro. O transatlântico tipo Titanic passa por Odessa, Napoles, Barcelona, Cairo e mais alguns outros pontos turísticos ocidentais e orientais. Os passageiros são de diversas nacionalidades e posturas ideológicas. Há até mesmo um nostálgico do nazismo. As conversas erudita derramam frases de autores mil que os créditos iniciais catalogam de forma rápida, parece que feitos para não se ler. Depois dos planos do ou no navio, as câmeras voltam-se para um posto de gasolina onde o proprietário filosofa sobre a sua vida “miserável”. A filha contesta e lê Racine. Interessante como os personagens, independentes de classe e cultura, falam como doutos. Num filme de Godard todo mundo sabe de tudo.Mas se fala muito, age pouco. A ação maior se dá na terceira parte do filme que é uma colagem de sequencias de clássicos como “O Encouraçado Potemikm” de Eisenstein(não à toa mostrar a escadaria de Odessa).
No fim os passageiros desembarcam. Há uma frase critica sobre a Justiça. Segue-se a legenda: “Não comente”.
Godard despede-se (e oxalá se despeça mesmo) sem macular o seu estilo(ou falta de). Seus filmes lembram a postura de Hamlet quando a mãe pergunta o que ele está lendo. O Principe da Dinamarca responde: “palavras, palavras, palavras”. Shakespeare sabia onde colocar as frases que definissem posturas. Godard usa palavras em filme de cinema. E cinema é antes de tudo imagem em movimento. No “Fime Socialismo” há imagem mas não muito movimento. E a imagem não diz claramente que as ideologias conflitantes, como o socialismo, estão falidas. Divagar é a ordem do autor. Divaga-se sobre tudo e todos. Quem gosta desse modo de filmar fica em êxtase. Mas dificilmente define o que vê. Godard quer ser confuso para se entendido. Tenha-se entender como apreciar o jogo de menções aleatórias buscando um sentido. E quem encontra sentido não deve ser o espectador. Nem Godard, certamente.Para ele basta jogar os termos na tela sem qualquer ordem. É uma expiação do que lhe chega ao consciente (ou “in”).
Eu não vejo cinema desta forma. Simplesmente porque essa barafunda não me sensibiliza. E sem sentir não acompanho o que possa ser uma narrativa. Para mim, o novo Godard,como tantos outros filmes dele, é simplesmente um saco. Sem fundo.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Comédia de Matar(Quem Fez)

Nos anos 50 o estúdio Ealing de Michael Balcon, na Inglaterra, faziam comédias macabras como brincadeiras com crimes e criminosos a exemplo de “As 8 Vitimas”, onde o herói ia matando seus familiares até chegar ao posto e primeiro herdeiro. Alec Guiness foi um dos “crias” do Ealing. Dizia-se que aquilo era o “humor inglês”, tão difícil de ser percebido que dava margem à anedotas de poucas palavras como “ela fechou as pernas e quebrou os óculos dele”.
“Quero Matar Meu Chefe”(Horrible Boss/ EUA,2011) quer seguir a linha Ealing como antes tentou Dany De Vito em “Jogue a Mamãe do Trem”(Throw Mama from the Train/EUA,1987). Aborda 3 funcionários que se cansam de patrões despóticos. O pior deles é David Harken (Kevin Spacey). Os 3 são amigos de bar e concluem que a melhor forma de suportar a vida é mandar os caras para as profundas do inferno. Começam os planos dos assassinatos mas o fazem de forma errada quando contatam um “profissional”negro(Jamie Foxx um dos melhores do elenco) que lhes cobra 5 mil e no fim das contas revela que só otário paga adiantado a quem não conhece por trabalho que não pode reclamar. O mais bizarro da trama é uma dentista ninfômana (Jennifer Aston) que se delicia atacando os clientes anestesiados.
A linha do roteiro aposta na grosseria, na pornochanchada. Mas fraqueja no ritmo. E esvazia a graça do arranjo em que o vilão maior serve de criminoso em um dos casos.
O filme dirigido por Seth Gordon (de “Surpresas do Amor”) só não é abandonado pelo meio porque a opção de ver filme em sala vizinha é pior. Eu só olhei para o relógio uma vez no meio da sessão. Talvez porque a sala do cinema não estivesse tão fria. Um dia desses eu vi um filme bom numa temperatura glacial e quando se dizia que um personagem ia morrer adulto e ainda era visto criança eu pensava para dentro: quando ele morrer eu já morri...congelado.
Certo: é difícil o empregado que num momento da vida não quisesse mandar seu chefe para o diabo que o carregasse. Mas se a idéia para uma comédia caísse nas mãos de um Alexander Mackendrick , diretor de alguns títulos fantásticos do time inglês, a chance de fazer rir era um remédio para relaxar. Aqui, com Mr. Gordon, é puro mau gosto. Especialmente o quadro da dentista e seu funcionário (pateta). Constrangedor.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Raizes da Vida

Penso que Terrence Malick botou as suas memórias em “A Árvore da Vida”, sem dúvida o seu filme mais sincero. Focalizando uma família da classe média no Texas dos anos 1950 ele começou dimensionando esta família (ou todas as famílias). Foi buscar imagens sugestivas do começo do universo, seguindo a evolução das espécies como aquela concepção artística de Bruno Bozzeto em “Musica e Fantasia”(Allegro, non Troppo), adentrando pela vitória dos mais fortes como ensinou Darwin (a cena do animal que pisa na cabeça do outro), e chegando ao núcleo humano, colocado abaixo das arvores muito altas, querendo dizer que ali está a espécie mais completa, não necessariamente a maior em tamanho.
Dos mergulhos astronômicos, antropológicos e filosóficos ele centraliza pai, mãe e 3 filhos, dizendo logo, por imagem e som, que um deles morre. Não interessa qual. Como a dor aparece antes da explanação sobre como vivem, ou viviam, as cinco figuras. Ali se tem o pai autoritário, a mãe “dona de casa”, o filho mais velho que primeiro se insurge contra certas regras da educação, o problema do homem que não explorou devidamente o seu talento e amarga o desemprego, a perda da casa onde o trio de rapazes passou a infância, e mais em flashes do filho mais velho adulto, entre arrojos arquitetônicos, mencionando a desumanização de seus semelhantes.
Vê-se mais de uma vez pai e filhos plantando. O teor metafórico não é imposto. Vale o lado místico. Na hora de amargar a perda do emprego o pai reclama que “nunca deixou de pagar o dizimo”(como quem diz que sempre foi um homem de fé e agora Deus lhe prova). E ainda nesse patamar todos se acham numa apoteose em que os elementos se encontram numa praia (sempre o símbolo da “vida à margem” ou do porto dos primeiros seres a chegar das águas), abraçando-se e fitando o céu.
Raro o filme dedicado aos sentimentos de quem vê sem se preocupar com a racionalização do enredo. “The Tree of Life” é um poema dedicado aos sentimentos dos espectadores. Pena é que o cinema acostumou tantos a exigir uma posição de “contador de história” com a métrica que estimula um velho método de raciocínio. Essa cultura cinemágica pode levar ao enfado, à resistência ao que Malick expõe. Por isso mesmo as pessoas que se dispõe a aceitar um cinema realmente novo devem ir ver logo o filme. Não garanto o seu sucesso comercial.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Salada Russa

Eu era um adolescente quando li “Os Irmãos Karamazov” de Dostoievski. Mais tarde vi o filme de Richard Brooks. Na época fiquei entusiasmado com a fotografia de John Alton. Ele experimentava matizes diferentes do tecnicolor em determinadas seqüências. Há por exemplo, o vermelho vivo sobre o quarto do velho Karamazov, típico vilão como está no filme. Hoje percebo que foi só. Ou o que ficou no tempo. Maria Schell nunca esteve tão ruim como Gushenka. Ri tanto que ao tentar ficar séria gera um ato cômico. Ela está tão ruim que Yull Brynner passa como Dmitri. Mas o pior é o roteiro que fez do livro matéria das Seleções do Reader’s Digest. E com o invariável “happy end” a gosto de Hollywood.
O teor dramático da obra do autor de “Crime e Castigo” ficou melhor em outras versões. Mas a de Brooks para a Metro foi a mais festejada. E só merece isso pela composição de Lee j. Cobb como patriarca da problemática família. Ate o vilão maior,o Smerdjakov de Albert Salmi, parece caricato. Ele e o ótimo Richard Basehart que fez “Il Matto” no “La Strada” de Fellini, aqui no insosso Ivan.
Richard Brooks, que foi marido da atriz Jean Simmons, repetiu a cor funcional no melhor sucedido “Elmer Granty”(Entre Deus e o Pecado). Como “Os Irmãos Karamazov”este filme também se encontra nas locadoras, em DVD