quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Ninfomanica & Von Trier


Lars Von Trier não faz meu gosto por cinema.Autor do tipo de narrativa direta que chamou de Dogma, deu marcha a ré na linguagem cinematográfica à guisa de novidade. Sinceramente só gosto muito de seu “Europa”(1961). Os experimentos me enrolam o estômago. E mesmo depois de ter deixado de lado o tal de “Dogma” incursionou numa “Melancolia” que a mim pareceu fazer jus ao nome. A ideia de pesquisar um microcosmo social através de um fim de mundo lembrou uma ideia de Antonioni(“O Eclipse”)e já ganhou irmãos de gênero em muitos países.

               “Ninfomaniaca 1” surpreende pela linguagem linear, coisa que não se vê em Trier desde suas primeiras realizações. Mas a escolha de uma patologia para daí dissertar sobre o ser humano de um modo geral não deixa de ter um halo sensacionalista. O filme está fazendo boa carreira comercial (até aqui) por conta das cenas de sexo. Ele ganha pontos quando faz analogia dessas cenas com uma pescaria e uma partitura de Bach. O esporte e a musica registram, enfim, a vida. E o sexo pode estar no comportamento da heroína não só como uma patologia mas como uma saída para uma educação castradora.

               Trier conseguiu fazer seu melhor trabalho em anos. Exagera algumas vezes, mas pelo menos não pinta casas no chão como em “Dogville”. A mim valeu a ponto de ver sem olhar para o relógio. Apenas reclamei o frio da sala de cinema. Mas isso é outra coisa.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Werner Herzog


               Agora que se vai ver por aqui parte dos (muitos) documentários feitos por Werner Herzog (hoje com 72 anos), penso no tempo em que o conheci pessoalmente.Primeiro foi em minha casa, levado pelo diretor da Casa de Estudos Germanicos da UFPa, Thomas Mitchen. Na ocasião Herzog brincou quando se fazia uma foto. Abriu a camisa e disse que a câmera era uma arma e ele se sujeitava a um tiro no peito.

               Depois almocei com ele, Luzia, Alexandrino Moreira e familiares. Nessa noite surgiu a pergunta se algum cineasta clássico o influenciou. Herzog disse que não. Eu mencionei Griffith, afinal o diretor que condicionou a linguagem usando movimentos de câmera e planos próximos. Aí ele aceitou.

               Mas o que me aproximou de Herzog foi quando fui com ele procurar quem doasse roupas de época para o filme “Fitzcarraldo”. Era uma tarefa inglória de natureza pois ninguém ia dar, sem receber alguma coisa em troca, suas vestes antigas. Fomos à uma estação de rádio e eu lembro que o locutor, famoso em Belém na época, dizia que era “o rei do rádio”. Herzog ingenuamente e surpreso me perguntou se era verdade (“he’s the king of the radio?”). Expliquei que era um recurso de alimentar popularidade.

               Nossa jornada pelas ruas era medida pelos passos. Herzog dava um e eu dava três. Alto e ligeiro, o cineasta gradativamente ia se enfezando com a negativa de sua missão. Foi-se para Manaus. Soubemos depois do sucesso na capital amazonense. E da loucura que foi o transporte terrestre de um navio, puxado por índios (que a imprensa afirmou terem sido escravizados).

               Herzog faz cinema autoral. Dificilmente aceita tarefas assinadas por outros. Só agora, morando em Los Angeles, muda de rumo.Chegou a ser até vilão no filme “Jack Reacher,o Ùltimo Tiro”(2012)com Tom Cruise,  e uma ponta em “Amor Além da Vida”(1998) com Robin Williams. Mas não perde a linha autoral, tem 5 episódios da série “On Death Row” para a TV e o  documentário “From One Second to the Next” sobre o trafico de drogas e sua consequência.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Uma Aventura Congelada


 O que mudou nas animações ? O mundo pisa no freio da fantasia e hoje a gente pode botar na cabeça do príncipe “encantado” o capacete de vilão. Também se enaltecem o amor fraterno e a capacidade de se modular os feitiços sem precisar matar as bruxas (ou até suprimi-las da historia). É assim que se vê “Frozen”, um parente distante do original escrito por Hans Christian Andersen e ainda mais distante da Cinderella ou da Branca de Neve.

               O novo Disney é muito PIXAR, aquele estúdio que a empresa do pai de Mickey comprou (ele não, que de há muito deixou este mundo, mas seus herdeiros comerciais). Isto é bom. Como bom é John Lesseter, um “pixarman” esquecendo seus carros e aviões e adentrando no universo das fadas.

               A historia é de duas irmãs, a mais velha rainha depois da morte dos pais, que amargam o poder ganho por uma delas (justamente a eleita majestade) de congelar as coisas com um toque. Surge um príncipe que pode quebrar o encanto, nem que seja através da mana amiga. Mas vai se saber que o mancebo querido é um camponês. E como nos bons contos & desenhos, não humanos cantam e pintam, incluindo um boneco de neve que luta pelo verão mesmo sabendo que pode derreter.

               O filme tem muitas canções e usa bem a tecnologia digital embora possa prescindir da 3D. Pena que por aqui apareça em má dublagem (saudades de Aloísio de Oliveira & Braguinha)e em projeção infame.  Para mim, saudades de Cinderela o Disney que mais me tocou. Mas até por isso é desenho de exceção. Deve segurar o Oscar do ano. Direção da dupla Chris Buck e Jennifer Lee. Roteiro de Jennifer.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A Vida de Adéle


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Abdellatif Kechiche dirigiu “A Culpa de Voltaire” e “O Segredo do Grão” filmes que eu vi graças a Cinemateca Francesa. Esse tunisiano é quem esteve por trás das câmeras registrando a porfia sexual das meninas Adele Exarchopoulos e Lea Seydoux em “Azul é a Cor Mais Quente”(La Vie D’Adele). Foi Palma de Ouro em Cannes para surpresa de quem apostava na moral de Steven Spielberg presidente do júri. Tudo porque Kechine ficou muitos minutos filmando as moças se esfregarem. Minutos demais. E acabou sendo o defeito de seu filme. Não havia necessidade de tanto. Batava uma sequencia (há umas quatro).

          O filme não é só amor de lesbicas. Vai fundo na solidão, no quanto alguém precisa de alguém. E salta aos olhos saber que a bela Adele, nome de personagem e interprete, é quem mais precisa. Ela encontra na amiga de cabelos azuis a pessoa que lhe dá guarida e carinho. Ninguém na escola ou em casa lhe dá tanto- embora possa pedir.

          Interpretações magistrais elevam o filme e fazem se ver por 3 horas um romance gay (eu não só homófobo mas não me encanta esse tipo de enlace). Posso crer que o diretor tenha desejado mesmo focar o vazio de uma mulher em contraponto ao que outra quer solidificar. O mundo que as cerca é realmente coadjuvante. Besteira é o titulo brasileiro. Mas isso é lugar comum.