segunda-feira, 30 de maio de 2016

Cinema Europeu

A mostra de filmes europeus é uma dadiva ao espectador local que deseja fugir do esquema de filme-diversão das salas dos shoppings onde se qualifica o cinema como espetáculo de feira com mercadoria destinada a menores mentais.
                “Ocidente”(Westen), representante da Alemanha, é um raro exemplo de se mostrar como a Berlim Ocidental, do tempo em que a capital alemã estava dividida, não era o paraíso apregoado  em  tantos filmes de Hollywood. Em 1978 a cientista com doutorado em Química, Nelly Seniff(a ótima Jördis Tribel), deixa a Berlim Oriental acompanhada do filho quando o companheiro é dado como morto em outra cidade. Ela pensa que seu titulo escolar e sua neutralidade politica podem gerar um bom emprego na praça capitalista. Mas é um engano e o drama que sofre realça um quadro que a mídia, especialmente a americana propagou de forma diversa. Direção de Christian Schwochow detentor de 12 prêmios internacionais com base em um livro de Julia Franck, autora de um documentário biográfico.
                “Alabama Monroe” foi candidato a Oscar de filme estrangeiro(é belga). A origem é teatral mas a direção de Feliz Van Groeninger dá uma dinâmica cinematográfica no drama de um casal, ele musico especializado em canções “county”,que luta pela filha doente.
                “O Idealista”(Idealisten) é dinamarquês. Longe da linguagem de um Lars Von Trier trata em tom documental a investigação de um repórter sobre a queda de um avião americano na fronteira com a Groenlândia portando uma bomba de hidrogênio. Informações escassas tentam esconder um desastre ecológico ainda palpável. Dinâmica direção de Christina Rosendahl.
                “O Limpador”(Cistic),  da Eslováquia, focaliza um jovem faxineiro que se diverte como “voyeur” e nisso encontra o amor em uma jovem maltratada pelo amante. O romance foge da linha melodramática e tem um final atípico. Direção de Peter Bebick.
                “Feliz Para Morrer”(Srecen za Umret) é da Eslovênia e me pareceu o mais sensível dos filmes da mostra. Colocado pelo filho num asilo, um homem de 76 anos, depois de perder a mulher e a casa, compra uma sepultura e só pensa em se preparar para o fim. Mas ao frequentar aulas de informática encontra uma viúva que lhe dá um alento apesar de seu gênio difícil. O final pode parecer enigmático mas o filme sempre procura ser original dentro de um tema gasto pelo uso. Direção de Matevz Luzar.
                “As Ovelhas Não Perdem  Trem”(Las Ovejas no pierden el tren) é da Espanha  e tem um toque “buñueliano”nas pitadas surrealistas de um grupo de quarentões que tenta se acomodar na moda atual. Direção de Alvaro Fernandez Almero.
                “Hope”, filme francês do argelino Boris Lojkin trata de um argelino que foge de sua terra levando consigo uma nigeriana em péssima situação(inclusive alvo de estrupo). O objetivo é chega a Paris mas as dificuldades de seguirem juntos é bem caracterizada nos planos amplos do deserto por onde caminha. Impressionante.
                “Aglaja” da Hungria acompanha uma menina filha de gente de circo: um palhaço e uma equilibrista. A juventude da personagem se faz num ambiente dramático onde os pais se separam e a mãe ganha um emprego simbólico para seu estado de vida: seguir pendurada pelos cabelos à grande altura. Direção de Kriszalina Deck. Tudo funciona gerando emoções.
                “Boas Vibrações”(Good Vibrations), da Irlanda, é a luta do dono de uma loja que vende discos na Belfast dos anos 70 quando estava acirrada a luta entre católicos e protestantes e ainda o sentimento de revolta pela dependência inglesa. Ele atende a uma banda de jovens apostando no rap em uma plateia que pague seus custos. O ideal sempre é maior. Direção de Lisa Barros D’as e Glenn Leyburn.
                “Só o Melhor para os Nossos Filhos”(Haf Beste Voor Kees), da Holanda, centra-se num menino autista, depois um homem preocupado com os pais idosos que sempre o tratam. Um docudrama muito bem realizado por Monique Nolte.
                “Aristides de Sousa Mendes, o Cônsul de Bordéus” representa Portugal e trata do que foi uma espécie de Schindler luso: um embaixador que recusa a ordem de ditador Salazar em recusar a entrada de judeus na Lisboa do tempo da 2ª Guerra Mundial, quando muitos fugiam do nazismo. Mendes arriscou posição e vida ajudando muitos refugiados.Direção de Francisco Manso e João Correa.
                “Uma Separação”(A Separation) é um documentário sueco sobre como um casal desfeito planeja o seu futuro, desde a arrumação da casa. Direção de Karin Ekberg.
                Um ´programa a ser visto por quem realmente gosta de cinema,
               




O Jogo do Dinheiro

                Hollywood ainda não perdeu o gosto do thriller. “O Jogo do Dinheiro”(Money Monster) é da linha que consagrou cineastas como Henry Hathaway em títulos a semelhança de “Horas Intermináveis”(Fourteen Hours/1951). A formula é uma situação critica e o que ela gerou ou pode gerar para uma ou muitas pessoas. No caso deste trabalho dirigido por Jodie Foster e que apesar de ter aberto  o recente Festival de Cannes aqui foi isolado em uma sala do complexo UCI fazendo alternância de copias legendadas e dubladas, pode-se dizer que ninguém se mexe na poltrona durante a projeção.
                A trama gira em torno de um homem que se acha extremamente prejudicado com a perda de suas economias numa aplicação financeira propagada pelo programa de TV apresentado pelo ancora Lee Gates(George Clooney, também produtor do filme). Desesperado este homem, (Jack O’Connel)invade o estúdio onde se processa o programa e ameaça Gates e todos da tecnica não só com um revolver mas com um colete portando uma bomba. Como a transação má sucedida se fez em uma tarde, a diretora do programa,Patty Fend(Julian Roberts) entra em ação para descobrir o que aconteceu na fonte que informou a perda rápida de tantos dólares, chegando a conclusão de que houve interferência na divulgação do que aconteceu na conta estimada.
                Toda a ação se passa no estúdio da TV e uma sequencia nas ruas de Nova York. O objetivo do roteiro de Jamie Lindey,Alan Di Fiore e Jim Koufe é gerar 90 minutos de tensão na plateia do cinema, trabalho que funciona graças a presteza de Jodie Foster, atriz desde criança(“Quando as Metralhadoras Cospem”/Bugsy Malone 1976) e já com experiência na direção(“Mentes que Brilham” por exemplo).
                O suspense é conseguido pela edição ágil e ótimos desempenhos. E apesar do publico estar ciente de que se trata de uma ficção chega a sobrar assunto para uma critica aos investidores nas bolsas a seguir um gênero ora em moda como “A Grande Aposta”.
                O problema é que a ficção extrapola. Como uma pessoa comum pode invadir um estúdio de TV em atividade numa metrópole como NY?. E como a situação espera um resultado no tempo em que se investiga e pune agentes do mercado econômico?.
                Mas o filme não quer se ligar a documento como em alguns exemplares recentes. O objetivo é formular uma ação dinâmica quase em unidade de espaço . Isso é o que se chamava de thriller(aqui suspense). Gol de Foster e de Clonney só que diante da critica. O filme não estreou bem nas bilheterias americanas. Tomara que isso não pese na carreira de tanta gente capaz.




terça-feira, 17 de maio de 2016

Truman

                Muitas vezes já se viu filmes com cachorros amigos do dono e este dono doente terminal. Mas o roteiro de Tomás Aragay e Cesc Gay para “Truman”(Espanha, Argentina, 2015) de Cesc Gay, desafia a mesmice. Começa pela dupla central, Ricardo Darin, o melhor ator argentino da atualidade, e Javier Camara o enfermeiro de “Fale com Ela” um dos filmes mais felizes de Pedro Almodóvar.
                Darin é Julian, pessoa a quem o amigo Tomás procura em Madrid, vindo do Canadá, sabendo que este não vai durar muito. O encontro evidencia a luta de Julian pela vida e a resolução que toma quando sabe que esta vida se esvai e prefere que vá sem sofrimento.
                O filme consegue ser dramático sem mergulhar no sentimental que poderia afundá-lo no esquema de tantos congêneres. E que atores, gente! Vale madrugar na nova sessão Moviecom Arte vendo-os em tela grande. Sim, tem o cachorro que dá titulo ao filme. Um close do animal exibindo um olhar sofrido é um dos triunfos do diretor.

                Cotação : Muito Bom.

sábado, 14 de maio de 2016

Harold Lloyd

A comédia “For Heaven’s Sake”(1926) que nos cinemas brasileiros se chamou “O Milionário Gaiato”, volta com o nome de “Pelo Amor de Deus” para a Sessão com Musica do Olympia.
                É das melhores criações de Harold Lloyd(1893-1971), o “Caixa D’Oculos”como era conhecido por aqui,um comediante muito aplaudido na fase do cinema mudo e inicio do falado. Com direção de Sam Taylor(1895-1958),cineasta preferido dele e responsável pelo maior seu maior sucesso:”O Homem Mosca”(Safety Last/1923),o filme trata de um homem rico que por acaso se mete no ambiente mais pobre possível, achando um romance e ajudando sem querer uma casa de ajuda aos mais necessitados.
                Este filme e o posterior “O Testa de Ferro”(The Cat’s Paw/1934) lembra o que fez Frank Capra na área da comédia politica. Claro que as soluções são fantasiosas e se deseja louvar o New Deal de Franklin Roosevelt. No caso de “Pelo Amor de Deus” cabe o tom de comédia ligeira com a demonstração dos pendores acrobáticos de Lloyd.

                               Eu revi a pouco e dei boas gargalhadas. Certamente a comunicação com a nova plateia vai ser boa. Llloyd fez muitos filmes até”As Trapalhadas do Haroldo”(Harold Diddlebock)de 1947. Apesar disso e de boa acolhida no seu tempo o comediante hoje é pouco conhecido. Vale lembra-lo.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

A Comedia Histórica Nacional

                A historia brasileira tem um senhor anedotário a dar inveja ao Barão de Itararé. Exemplo: Fernando Collor, impedido de governar não por pedaladas, mas por patadas administrativas, recebendo repulsa de jovens que iam às ruas com “caras pintadas”,surge apoiando o impeachment de Dilma sendo ele, agora, senador. A coisa vem desde D.Pedro II que foi acusado de mandar escravos para a Guerra do Paraguai e cortar a mão de obra dos grandes latifúndios com a lei promulgada por sua filha Isabel que libertava teoricamente os escravos.Assumia o amigo Deodoro, o primeiro presidente republicano. Bem, o governo Médici, de rifle em punho, nada disse do rombo no orçamento da ponte Rio-Niteroi e outras mutretas de bajuladores. Hoje Dilma e o PT de um modo geral, ganham a carapuça de senhores “íntegros” que fogem das missões policiais consentidas pelo próprio governo, missões que mais prenderam gente desde o golpe de 1964.

                Realmente a nossa história é uma piada. Ri quem pode, O problema é que depois do riso vem choro. No caso Collor, o “pós” foi uma hiperinflação a lembrar a Alemanha entre duas  guerras mundiais. A benesse por aqui foi Itamar relançar o fusca. E agora ? Vamos debelar crise econômica, vamos baratear o dólar e o euro, vamos incentivar a indústria e o comercio, vamos gerar mais empregos e pagar melhor os trabalhadores, vamos fazer uma forma agrária (já que reforma é ficção), enfim, vamos viver um clima paradisíaco ? Penso que o Gênio, nessas alturas,diz para Aladin: “-Amigo, deixa eu ficar dentro da lâmpada antes que falte azeite...” 

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Cinema Mexicano

Nos idos de 1940/50 o cinema mexicano produzia em massa o que a gente chamava de “cine bolero”. Cada filme trazia um bolero assinado por Augustin Lara & seguidores. Aqui em Belém “Pecadora”(1947) de José Diaz Morales emplacou 2 semanas no Olímpia quando o normal da casa era de duas estreias em uma semana. E eu lembro de dezenas desses filmes, muitos vetados à minha idade na época pois o normal era focar o meretrício e mulheres que arranjavam amantes violentos e...tuberculose.
                Os melodramas mexicanos tinham 3 distribuidoras no Brasil: a exclusiva Pel-Mex , a norte-americana Columbia, e a nacional Art Filmes.Sobrava um pouco para a RKO de Howard Hughes. O selo Pel-Mex chegou a ganhar um slogan do exibidor local que controlava os cinemas Moderno, Independência e Vitoria (Victor e Arthur Cardoso, ambos médicos e meus colegas por um período):”Dura lex sed lex filme bom é da Pel-Mex”).Piada.
                Hoje a indústria cinematográfica mexicana mudou muito. Mas é bom lembrar que mesmo no tempo dos boleros havia o que dirigia “El índio” Emilio Fernandez com fotografia de um mestre internacional: Gabriel Figueroa. “A Perola” é um exemplo.
                Agora está em Belém um programa vasto de filmes mexicanos enviados pelo consulado do país. Um “Bajo la Metralla”  de Felipe Cazals expões muito bem a variedade e qualidade dos produtos.
                No filme citado um grupo de guerrilheiros urbanos, certamente inspirados pela Cuba de Fidel, atacam políticos com metralhadoras. O fim é previsível, mas há uma discussão interessante sobre valores revolucionários, ou politicas populistas. Não chega a ser um tratamento profundo, mas abre espaço para debates após a projeção.  Isto mostrado em imagens bem trabalhadas, com bons interprete embora sem sair de todo de estereótipos de Bonnie & Clyde.

                Volto ao assunto outra vez.

Novos Filmes Italianos

                Nanni Moretti é um dos poucos cineastas italianos sobreviventes da era Berlusconi,  quando Cinecittá parecia se exaurir na falta de estrelas como Fellini, Antonioni,De Sica, Rosselini, etc. Seu “O Quarto do Filho”(La Stanze del Figlio/2001) emocionou milhões. Hoje ele chega com “Minha Mãe”(Mi Madre/2015) focalizando um diretor de cinema inconformado com a morte de sua genitora. Outra concepção pessoal. Mas o resultado não chega ao nível do trabalho de 14 anos atrás embora seja melhor do que “Habemos Papa”, uma sátira sem graça que ele realizou em 2011.
                Moretti é um memorialista com a câmera. Atua nos papéis biográficos e esta sinceridade tenta passar a quem o vê. Por ser assim comunica com boa parte da plateia. Mas nem sempre a formula alcança uma amplitude. Esta saudade materna é um exemplo. Apesar disso, é um filme italiano e bom nível que foge de uma linha assustadora deixada pela ausência dos grandes criadores de imagem.
                Já “ Juventude”(Youth/2015) de Paolo Sorrentino puxa um caminho internacional, focalizando um musico que tenta gozar de uma saudável aposentadoria nos Alpes e encontra um amigo que lhe afasta da solidão. O reconhecimento de um melhor modo de viver o faz recusar, pelo menos em principio, um convite da rainha inglesa(Elizabeth II) para um concerto em Londres.
                O diretor se deu bem no páreo do Oscar com o seu “A Grande Beleza”(La Grande Belezza/2013) um arremedo do “La Dolce Vita” de Fellini. A mim ele pareceu mais sincero, ou original, neste novo trabalho, dando ênfase ao talento do veterano Michael Caine , ator com pouca chance na Hollywood de hoje. O tipo vivido por Caine consegue comunicar-se com a plateia e apesar do final previsível (e bem cinema americano)  o filme,em geral, é sempre interessante. Não gostei nada de “...Beleza” mas consegui acompanhar com interesse o velho artista decidindo a sua vida no crepúsculo.

                Os dois filmes italianos estão no Cine Libero Luxardo.   

sexta-feira, 6 de maio de 2016

O melhor de Almodóvar

                Duas mulheres em estado de coma. Uma delas é uma toreadora atacada pelo touro no inicio de seu espetáculo na arena. A outra recebe tratamento desvelado de um enfermeiro que exibe certa timidez, pensando na sua opção sexual (seria gay?), e afinal o responsável pela gravidez dessa doente.
                “Fale com Ela”(Habla con Ella)é um dos melhores filmes do diretor espanhol Pedro Almodóvar. Narrado linearmente, apoiando-se em excelentes interpretações, sempre emociona no tratar das duas mulheres sem necessitar de recursos como flashback intruso.
                Javier Camara, que fez Benigno o enfermeiro, coleciona 22 prêmios em sua carreira e a ele se deve muito do êxito do filme.
                Almodóvar não anda com sorte ultimamente. Sua comédia ambientada num avião,”Os Amantes Passageiros” não passa do nível de uma chanchada. Esperemos “Julieta” onde volta a tratar do relacionamento mãe e filha.
                “Fale com Ela”faz Sessão Cult (ACCPA) do Cine Libero Luxardo. É o programa de exceção quando a altenativa é  veterano Garry Marshall tratando do “dia das mães”(O Maior do Mundo), pura mesmice, ou coisas como um novo Capitão América o super-herói xenófobo que sempre repeli .