segunda-feira, 29 de maio de 2017

Sucessos de publico

Sempre gostei de pesquisar o gosto das plateias. Depois de ver “A Cabana” dei marcha a ré no tempo e vi “Minha Mãe é uma Peça 2”. Ambos se mantiveram em cartaz nas salas de shopping por muito tempo. E se o primeiro achei aquele “sermão” de pastor, com soluções fantasiosas que não via desde Joselito cantar para os acólitos de Franco, na Espanha dos anos 60 (e por aqui), o segundo me pareceu um desvio grotesco das velhas chanchadas.
                “Minha Mãe é uma Peça”no segundo tempo escrito e interpretado por Paulo Gustavo, mostra flashes de uma família de classe média carioca com alusões criticas que esbarram em preconceitos(especialmente com homossexuais). Gustavo como a sra. Herminia volta ao melhor travesti que se possa imaginar (em imagem). Muitas falas, alguns “palavrões”, enfim a busca da comicidade no grotesco, e isto em linguagem fragmentada com pouco a ficar de uma trama coesa.
                O filme é uma coisa difícil de aturar. Pelo menos para mim. Mas fez sucesso. As razões pascalinas, ou seja, as que a Razão desconhece, pululam. Ainda bem que vi essas coisas em casa, no meu dvd&bluray. Fosse na sala grande e por certo sairia no meio da sessão.

                Haja sacco(e até vanzetti).

sexta-feira, 26 de maio de 2017

A Última Gargalhada

Na época do cinema mudo dois títulos chegaram por aqui mostrando apenas imagens, sem intertítulos. Dois desses filmes prendem-se ao movimento chamado “kammerspiel” que na Alemanha entre guerras pronunciava um estado de paz utópico. O primeiro chamava-se “A Noite de S. Silvestre”(1924) de Lupu Pick. Era praticamente uma crônica do dia de ano novo sem o enfoque característico do em moda expressionismo, saindo a caminho do que seria o neorrealismo na exposição de fatos em luz clara captada pela câmera. O outro filme, dentro do movimento, basicamente uma resposta ao terror da linguagem que deu obras-primas na amostragem do horror que cabia na Alemanha da hiperinflação dos anos 1920, foi “A Última Gargalhada”(Der Letze Man/também de 1924) do já consagrado F. W. Murnau. Este ultimo vai ser reapresentado agora na Sessão com Musica do Olympia(ao piano Paulo José Campos de Melo).          
                Era raro fazer cinema puro, sem falas ou letras. As imagens diziam tudo. E elas registravam o drama do velho porteiro de um hotel que ao deixar o cargo para trabalhar na lavanderia do prédio era visto pela população como um derrotado. Não sei é onde nossos tradutores foram chamar “O ultimo homem” de “Ultima gargalhada”. Até porque o grande ator Emil Jannings não ria. Vestido como um oficial expõe seu drama sem precisar dizer o que sente. Um plano próximo deixa que se veja seu sofrimento físico. E o uso do preto e branco escapa do contraste caro ao expressionismo preferindo um enfoque real.
                Este “cinema de câmera” durou pouco. Viria o cinema falado e nos anos 1950 a Itália optou pelo que se chamou neorrealismo, com “historias de rua” a exemplo de “Ladrões de Bicicletas”.

                Conhecer historia do cinema parte por esses títulos básicos. Em boa hora são revistos atendendo aos jovens que se dedicam â essa arte.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

A Cabana

                O sucesso popular do filme “A Cabana”(The Shack) moldado no livro de William P.Young e Wayne Jacobsen é invulgar quando se observa que numa praça como Belém, onde a carreira de filmes ambiciosos comercialmente não foge a 3 semanas em cartaz, ganha mais de um mês nas salas de shopping ficando, por exemplo, em todos os horários do maior espaço de uma delas por cerca de 5 semanas.
                Eu andava curioso em saber por que tanta gente gostou tanto do trabalho do diretor Stuart Hazeldine, sabendo, naturalmente, que a predileção cabe ao que se conta no livro, um desses best-sellers a lembrar  “Crepúsculo”, “...Tons de Cinza “e outras historias românticas com  toque de fantasia.
                Vendo o filme pensei até que a produtora fosse a Graça, especializada em obras religiosas. Um marido e pai tirano(Mack / Sam Worthington), no inicio da narrativa é apresentado como violento contra a mulher e o filho adolescente (o casal tem mais duas meninas). Logo a historia passa para a menina menor que num piquenique fica impressionada com uma historia de princesa que se atira numa cachoeira contada pelo pai. E esta menina desaparece. Ao mesmo tempo em que o filho quase morre afogado. Resumindo: a  garotinha é assassinada por um psicopata, o pai recebe uma carta dizendo que pode encontrar vestígios dela numa cabana na floresta.Nesta cabana ele  vai achar Deus. Só que Deus é Pa, uma mulher negra(papel de Octavia Spencer que a pouco havia feito uma das funcionarias da NASA em “Estrelas Além do Tempo”). Há o filho dela, um Jesus com cara de hippie (Avrahan Aviv Alush) e ainda  uma lembrança do Espirito Santo(Samire Matsubara).  O encontro com a divindade leva às confissões e redenção do personagem antes “durão”.
                É uma senhora dose de religiosidade não necessariamente dogmática. Não li o livro mas quem leu fala de momentos dramáticos que sensibilizam o leitor desde que ele seja um crente. O filme não me parece dessa forma. É de uma pieguice notória e não se desenvolve de forma criativa, enfatizando planos como um quadro de flores ou um céu estrelado como visões do Bem, uma alegação tão ingênua como os diálogos que diluem a problemática mais densa que cerca a vida do herói da trama.

                O tipo do filme para as choradeiras de plantão. Podia ser produção da Graça que não fazia feio com os espectadores dessa firma religiosa que vende bem em dvd.

domingo, 14 de maio de 2017

Autopsia

                O filme “Autopsia”, no original “Autopsy of Jane Doe”, começa errando em trocar necropsia por autopsia.  No meu tempo de faculdade de medicina um professor discorreu sobre esta gafe afirmando que não se pode fazer exame cadavérico de si mesmo (auto). O “necro” é o certo. Mas o roteiro do filme dirigido por Andre Ovredal escrito pela dupla Ian Goldberg e Richard Naing fica por aí mesmo porque nada tem de aula de anatomia patológica. O enredo trata de um cadáver de mulher que chega à uma funerária do interior de um estado norte-americano para que os anatomistas, pai e filho, saibam de que a jovem morreu (e se possível quem ela é). Os homens se espantam quando,depois de retirado o coração e os pulmões,observam, no cérebro, uma vascularização absolutamente improvável. Depois é que descobrem, lendo um papel encontrado miraculosamente no estomago da mulher, que se trata de uma feiticeira de Salem, casta lendária por sua magia de fazer inveja a qualquer herói da Marvel.
                Não adiante subterfugio: o filme termina por falta de personagens. Todos acompanham a bela defunta que, no fim das contas, nada tem de defunta (mesmo sem órgãos vitais).
                O objetivo é o terror. Não faltam os acordes em certos momentos e caras feias que vão de corpos mutilados a caretas dos vivos. Eu pensei que a trama ficasse no ato de abrir um corpo, na explicitude do exame cadavérico. Não é. É terror de almanaque, com ligeiras inovações que cabem mais da ausência de efeitos de CGI.

                Felizmente é um filme B, de menos de 90 minutos, que escapa da fauna de monstros que atualmente “moram”em outros planetas(olhem aí o novo Alien). Não cansa,não macula o bom senso nem é mal feito. Não vale é, como eu fiz, buscar uma copia legendada longe de onde eu moro .O melhor mesmo é esperar a edição em dvd.Ou baixar a coisa. Não dá em maldição de bruxa...

Brecha en el Silencio

A jovem Ana é surda-muda e sofre nas mãos de um padrasto que abusa sexualmente de mulheres próximas sem falar no maltrato à esposa. Ana passa o dia em frente à máquina de costura, garantindo o dinheiro para sustentar os irmãos menores temendo que o menor, que é sonambulo, acabe surdo como ela. Em desespero a jovem resolve fugir de casa levando consigo seus irmãos.
            “Brecha en el Silencio”, filme dos irmãos venezuelanos Luis Alejandro e Andrés Eduardo Rodriguez segue uma linguagem linear seguindo a formula neorrealista que tanto sucesso fez na Itália do após-guerra. Mas a utilização dos enquadramentos, com closes de personagens que refletem as excelentes interpretações, além da correta escolha cenográfica, retratando o ambiente miserável onde vivem as pessoas em foco, conseguem dimensionar muito bem o drama da deficiente que tenta impor um comportamento de revolta.
            No Brasil, e muito menos em Belém, pouco ou nada se viu do cinema que se faz na Venezuela. Este exemplar, dentro de um programa veiculado pela embaixada do país, revela um espaço adulto que merecia ser conhecido. Andou em alguns festivais com sucesso. Vale a pena vê-lo aqui, no Olympia.


quinta-feira, 11 de maio de 2017

Vida

                Criaturas extraterrenas são vilãs de filmes desde a época dos seriados. A vez de Alien, um monstro gosmento que se insere numa espaçonave e vai dizimando astronautas deu em série que ainda não acabou. Ridley Scott fez fortuna com este bicho e James Cameron dirigiu o melhor da franquia, antes de se consagrar como o timoneiro de Titanic. Agora com “Vida”(Life) o sueco Daniel Espinosa dá nome à pátria de seu alien, um marciano, e o apresenta como o resultado de um tecido encontrado no planeta vermelho e ampliado na estação espacial que estuda sua composição físico-química transformando-se no vilão que vai atacando os terrestres que lhe dão chance de multiplicar suas células.
                Basicamente nada de novo. Mas o filme escrito por Rhett Reese e Paul Wernick tem não só ritmo como pelo menos uma surpresa. É tão bem conduzido que por mais banal que possa parecer o enredo não há quem não se espante na plateia do cinema e no fim da sessão deixe aplausos.
                O que me fez não colocar este “Vida” no rol dos clássicos de um gênero é sucumbir ao modismo de exibir ruídos no espaço sideral. Tudo bem que muito se deve à trilha sonora, exacerbada na pretensão de fazer suspense. Mas ainda assim há momentos em que sons de choques no vácuo derrotem a noção cientifica de que isso não se produz além da atmosfera. Lembro mesmo que só Stanley Kubrick com o seu antológico “2001” mostrou um espaço mudo, ganhando todo o teor emocional que outros propuseram como se vê na cena em que o astronauta tenta entrar na sua nave-mãe e é obstado pelo computador-vilão. Tenho certeza de que a ausência de som em momentos de “Vida” seriam mais estimulantes do que acordes usados em filmes de terror rotineiros.

                Afora esse pecado sonoro o filme de Espinosa me surpreendeu. E seu fecho me pareceu um dos mais criativos da historia do gênero. Um momento que ficou isolado mas que pode fazer parte de uma obra-prima.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Corra!

 “Corra”(Get Out) é um filme de terror um pouco diferente da média. Coloca o racismo na pauta e focaliza em tom de ficção cientifica a odisseia de um modesto fotografo negro chamado Chris (Daniel Kaluuya) que namora uma garota branca de nome Rose (Alison Williams). O namoro alcança o ponto em que ela quer apresenta-lo aos pais. Ele teme por conta do preconceito em um estado sulista. Mas ao se dizer que o pai da moça gaba-se eleitor de Obama estimula o rapaz. A visita, no entanto, ganha um ar de mistério quando surgem empregados negros ajudando numa refeição. E quando pedem a Chris que se submeta à uma sessão de hipnose para curar seu vicio de fumante, surge o motivo básico da pretensa hegemonia. Dai em diante não se deve contar a trama. Poreja um quadro de horror digno dos filmes da Hammer inglesa (com ou sem Peter Cushing).
            Bons desempenhos, mascaras convincentes, boa edição de enquadramentos sóbrios e iluminação digna de filmes de horror no crescente da narrativa, dão pontos ao diretor Jordan Peele.

            Engraçado é que um amigo critico de cinema quando quer expressar sua admiração por um filme, convidando o leitor, diz “corra”(ao cinema). Aqui o “corra’ é para dentro da cena. No bojo do que se vê na tela. É terror de muito bom nível. Desta vez é pra correr mesmo.