terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Saudades Satisfeitas


                Catherine Hardwick pagou o perdao que lhe era exigido por ter feito “Crepusculo” com este “Já Sinto Saudades”(Miss you already)  ora em cartaz. Narrando bem, com muita câmera manual evidenciando closes para enfatizar a amizade entre as personagens de Jess(Drew Barrymore)e Mily (Toni Collette) ela conta a dedicação mutua entre as garotas que se mantem na idade adulta e vai até  a morte de uma delas com câncer.

                O enredo, vindo do roteiro original da atriz de TV, a inglesa Morwenna Banks,lembra alguns melodramas que partiram de doenças como o recente “A Culpa é das Estrelas”(The Fault in our Stars).Por sinal que o texto lembra Johnn Green, autor também de “Cidade de Papel”(Papers Town). A diferença é a favor de Hardwick cuja segurança artesanal e o desempenho fantástico de Toni Collette,incrivelmente não premiado em Hollywood ou adjacências consegue diluir um melodrama com um realismo salpicado de bom humor.

                Poucas vezes se vê no cinema um hino à amizade tão bem entoado. Boas atrizes capricham ajudando uma edição que se vale dos enquadramentos precisos e de uma direção de arte que usa com eficácia locações como a que inspirou Bronté em “O Morro dos Ventos Uivantes”. Ah sim o filme é inglês. Deu para deixar saudades do que fazia David Lean antes de se mudar para Hollywood.

                Milagre: copias só originais no Brasil. Sem as falas manjadas dos dubladores brasileiros.

 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Os Melhores do cinema


Meus melhores filmes em 2015:

1-DIVERTIDAMENTE

2-BIRDMAN

3-QUE HORAS ELA VOLTA?

4-LEVIATÃ

5-RELATOS SELVAGENS

6-MAD MAX, A ESTRADA DA FÚRIA

7-PARA SEMPRE ALICE

8-SAL DA TERRA

9-HOMEM IRRACIONAL

10-CAMINHO  DE TRILHOS

Diretor- Alejandro Iñarritu (Birdman)

Ator- Michael Keaton(Birdman)

Atriz- Regina Casé(Que Horas Ela Volta?)

Ator Coadjuvante- Ricardo Darin(Relatos Selvagens)

Atriz Coadjuvante-Charlize Theron(Mad Max)

Roteiro original- Pete Docter (Divertidamente)

Roteiro adaptado- Anthony MacCarten (Teoria do Tudo)

Fotografia-John Seale(Mad Max)

Edição- Margaret Sixel(Mad Max)


Cenografia-Best Art Direction
Adam Stockhausen
Rena DeAngelo(Ponte dos Espiões)

Animaçao: Divertidamente(Pete Docter)

 

Documentario-CINCO CAMERAS QUBRADAS de
Emad Burnat
, Guy Davidi

Ganhou uma animação. E prezo o fato de ser um filme criativo em meio às mesmices projetadas. Uma invasão no cérebro de uma criança consultando os castelos do ideário infantil, a chegada da adolescência com a sua carga hormonal, a luta da alegria com a tristeza entre o medo e a raiva.

Um desenho que dignifica o estúdio que fez “Up”, “Wall See” e “Toy Story”(especialmente a parte 3).

Para os colegas da critica “Birdman” marcou a maior cotação da historia, com 92 pontos. Justo. Que no ano novo cheguem filmes engenhosos que falem ao intimo de quem vê. Não aposto nas obras cerebrais que buscam inovações e esquecem a correspondência afetiva. OK, posso ser um sentimental, um “retrõ”. Mas assim é que vejo e amo cinema. Outra coisa: espero que a dublagem, cada vez mais participativa, não me deixe fugir das salas de exibições. Sou um pouco deficiente auditivo mas não é por isso que abomino a dublagem: acho um desrespeito ao original como foi a colorização de filmes rodados em preto e branco. E não se venha com o argumento de que se lê livros traduzidos. É uma outra forma de expressão, no caso apoiada em texto original. A dublagem tem pela frente a tonalidade da voz, a gama de ruídos, a inflexão correta, a característica do dono da voz,

Feliz Natal e Ano Novo aos que leem o blog.

 

domingo, 20 de dezembro de 2015

O Homem Irracional


            O chamado “déja vu” nunca afasta publico de cinema. Há até mesmo quem se sinta bem revendo sem a intenção de rever. E isto cabe agora ao ‘O Homem Irracional” de Woody Allen onde o cineasta volta a beber na fonte de crimes bem arquitetados e criminosos vestidos de galãs.

            “Irracional Man”trata de um professor de filosofia em crise existencial, o tipo que “toma café sem açúcar”, que planeja o crime perfeito como um processo caritativo, no caso a morte de um juiz que deve condenar uma sofrida mãe de família sem meios de refutar as acusações que pairam sobre seu comportamento. O professor namora uma aluna, faz sexo(quando pode, pois o estresse leva-o a impotência) com outra, e quando realiza o crime é descoberto pela esperta pupila que lhe pede rendição.

A história verdadeira de Leopold e Loeb, estudantes universitários que inspirados em Nietzsche,  assassinaram um adolescente, foi alvo de um filme de Richard Fleischer chamado “Estranha Compulsão”(Compulsion/1959), vindo de um roteiro de Richard Murphy com base em um livro de Meyer Levin. A historia cabe como uma luva na trama do “Homem Irracional”. E também evoca outros trabalhos de Allen como os ótimos “Match Point”( 2005  ) e “Crimes e Pecados”(Crime and Misdemeanors/1989). No caso de “Compulsão” chega até à citação do filosofo alemão não só  pelo professor vivido por Joaquin Phoenix como o recomendado à esperta aluna (outra vez Emma Stone, a atriz do anterior “Magia ao Luar”).

Um detalhe incomodo: o filme usa muito narrações em off como se o autor tivesse medo que se deixasse de compreender a trama. Esta narração se faz não só em  uma mas em duas vozes. A do professor fica anacrônica quando ele morre. E mesmo que se desse uma licença poética o ato de contar o que se vê mostra receio de se mostrar sem que se entenda.

            Bem, apesar dessas mancadas, gostei do que vi no Cine Libero Luxardo, cineminha agora beirando os seus 30 anos. E palmas à projeção e ao fato de ter contratado um filme que a gente pedia para ver e os nossos circuitos comerciais achavam que não valia (em $$ é claro) a pena.

 

 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

George Lucas


                Muitas crianças do meio do século passado amavam a ficção cientifica a partir dos quadrinhos de muitos anos antes. O Flash Gordon de Alex Raymond era um deles. Eu gostava que me enroscava (como cantava Sinhô na voz de Mario Reis)do Brick Bradford de William Gerry e Clarence Gray(no Gibi semanal chamavam de Dick James). Foram heróis comuns, gente sem superpoder como os que se fantasiavam de Superhomem ou de Homem Morcego. Mas instigavam a imaginação. Flash, que chegou ao cinema em 1936 num seriado da Universal,mostrava televisão de mais de 50 polegadas, naves a jato, raio laser, enfim o que a tecnologia ofertou muitos anos mais tarde. Brick viajava à lua e no tempo, chegando com a sua nave ao interior de uma moeda, a um átomo de cobre onde se via o núcleo como um sol e os elétrons como planetas, tudo bem no figurino do modelo atômico de Rutherford(HQ de 1935!!).

                Esses heróis impulsionaram a criatividade do garoto que queria ser automobilista e mudou de idéia depois de um desastre. Era George Walton Lucas Jr, o criador de “Star Wars” talvez a série de filmes mais lucrativa da historia do cinema . E ele também esteve nos filmes de Indiana Jones, adentrando por outra ciência, no caso a antropologia.

                Há pouco Lucas vendeu a sua firma para a Disney, Hoje trabalhou mais descansado financeiramente neste “Guerra nas Estrelas’ que ora chega aos cinemas mundiais.

                Meu gosto pelo gênero não era tão fantasioso nem bélico. Por isso gostava mais de Bradford. Mas a engenhosidade de Lucas deu ao cinema nova tecnologia, Pena que em Belém não se veja um seu filme em THX ou tela gigante com som correspondente. Tudo por um circo onde o espectador é convidado a viajar no Globo da Morte.

                Vou ver o novo Star Wars e talvez conhecer novos cinemas da cidade.Por sinal que Belém vai estar na alvorada de 2016 com quase 30 salas de projeção comerciais. Mas a maioria exibindo os mesmos filmes.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O Filme do Natal


                “A Felicidade Não SeCompra”(It’a Wonderful Life/1946) não foi feito para ser o que se transformou: filme de Natal. Frank Capra voltara da guerra onde filmou a série “Why we Fight”, e, criando a empresa Liberty com os colegas George Stevens e William Wyler, tendo ainda John Huston no pé, ganhou o sorteio para ser o primeiro a filmar na sua nova casa. Como nessa época o seu roteirista predileto Robert Riskin estava ocupado, contratou a dupla Frances Goodrich e Albert Hacker, usando a idéia de Philippe Van Doren Stern que aludia a um Natal onde a pessoa descobria o quanto faria falta aos amigos se não tivesse nascido. O roteiro final ganhou assinatura também de Capra(o único em sua carreira). Curiosamente o filme não fez sucesso e ele chegou a fazer campanha publicitária em pequenas cidades norte-americanas voando com o piloto James Stewart (aqui em seu melhor papel frente à câmeras).

                Eu descobri este autentico classico quando tinha 10 anos de idade. Escrevi a Capra dizendo de minha admiração. Ele respondeu. E mantivemos uma correspondência por algum tempo. Nessa época o filme já estava em reprise por Belém e eu, com perto de 30 anos, ficava admirado com a gentileza do cineasta que, inclusive, me convidara para assistir a entrega dos Oscar de 1966.Não fui e o amigo Edwaldo Martins, que na época sonhava em ver a festa da Academia de Hollywood, não perdoou minha falta (por sinal que cheguei a escrever para Harry Stone, que representava Hollywood no Brasil, e ele respondeu alegando que era difícil hospedagem em Los Angeles nessa época – fato que depois Capra afirmou que ao me convidar tinha a hospedagem implicita).

                Capra morreu com 94 anos em 1991. Consegui copias do filme em película de 35mm(que Alexandino Moreira exibiu no Cinema I) e  16mm. Fita VHS, dvd e bluray. Vejo-o sempre nos finais de ano. E a cada visão me emociono com uma narrativa exemplar de uma trama rica em valores humanos.

                “A Felicidade Não se Compra” que Capra gostaria de usar como titulo no lugar de “É Uma Vida Maravilhosa”, foi redescoberto pela TV  e virou o filme de Natal em toda parte. Hoje é um tido como legitima obra-prima. Através dele mantenho minha paixão pelo cinema. Este ano vai de novo ao cine Olympia de Belém. E aqui estreou em 1947 nos cinemas Moderno e Independência distribuído pela RKO Rádio.

               

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Victoria


Em “Festim Diabólico”(The Rope) Hitchcock brincou de plano-sequencia ou isenção de cortes. Jurava que filmou de uma só pancada todos os 100 minutos que seriam projetados. Na verdade colava a câmera numa pessoa, ou objeto, e nesse momento mudava rolo de filme. Eu filmei assim meus curtas em 16mm nos anos 50/60. Não tinha como editar o material filmado e nem usava negativo. Apesar disso, apelava para elipses que ajudavam a continuidade. Em “Brinquedo Perdido”(1962), por exemplo, focava uma tabua e o plano seguinte era uma rua.

                Agora o diretor alemão Sebastian Schipper tenta gravar em “Victoria”(2015) 138  minutos sem corte. Ponham um quase no caminho. Esforço enorme para o elenco para a iluminação, para toda a equipe. E há mérito no fato de se corporificar o drama de uma jovem espanhola que trabalha em Berlim e numa noite é alvo de ladrões que surpreendem por não a estuprarem, mas a levam de reboque a um assalto com mortes.

                Impressiona o comportamento do elenco quando se sabe que foi ensaiado como no  teatro, procurando uma naturalidade como se vivessem o acontecimento(nunca se pensa em representação).

                Creio que o filme só vai chegar por aqui em dvd. Mas quem pode, faz download.Ai de nos, cinemeiros, sem a tecnologia que nos supre...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A Baleia de Howard


Moby Dick, a  baleia gigante de Herman Meville volta ao cinema neste “No Coração do Mar” dirigido por Ron Howard.
O livro eu li quando adolescente e vibrei com o filme de John  Huston em 1956. Não esqueci o Cap. Ahab(Gregory Peck) tentando matar a baleia gigante enfiando o arpão montado em cima dela. Síntese de uma velha luta do homem com a natureza, esta se vingando deste. Houve, depois, versões espúrias do livro de Melville. E este de Ron Howard, aquele garoto de “Loucuras de Verão” que passou a dirigir bem como mostrou em “Apolo 13”, vence a maioria.
O roteiro não sai do clássico literário e sim do que escreveu Nathaniel Philbrick em 2000 sobre este clássico. A base do roteiro é a entrevista de Melville com o sobrevivente do  naufrágio do baleeiro Essex,chamado Tom Nickerson . Um papo forçado pela mulher do veterano maritimo(no tempo dos fatos é um adolescente) que precisa de dinheiro. Duas frases a considerar: o escritor afirmando que não escreverá um documento, mas uma ficção com base nesse documento, e a emoção de Tom ao saber que já se tira óleo da terra sem precisar sacrificar baleias, afinal a fonte do recurso na época (século XIX) para se ter, por exemplo, iluminação de casas e ruas.
Uma produção não muito cara para o novo padrão de blockbuster  usou recursos como CGI a recortes de fundo (a cidade vista em grandes planos e com iluminação modesta é cenário teatral). Mas Howard é bom diretor(“Apolo 13” e “Rush” servem de exemplo) e consegue que atores rendam bem apesar de seus papeis serem esquematizados, e confia numa montagem nervosa que impulsiona a trama mormente nas sequencias de tempestade em alto  mar e no ataque da baleia gigante.
Vendo o filme eu penso que os roteiristas da Disney ganharam pontos substituindo o tubarão do original Pinocchio por uma baleia. Viram substancia em Melville. Afinal a baleia é o maior animal sobre o planeta. E o enredo de todos os filmes derivados e clássicos da literatura pousa no confronto do homem com um rival marítimo (não só em termos de força mas de inteligência, pois a baleia tem faculdades acima de muitos animais). Também não se pensa que o filme minta como um programa de exceção no que oferece as nossas salas de shopping. Não chega a ser um “Naufrago” de Zemeckis,mas não deixa que se olhe para o relógio no meio da sessão.
 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O Pequeno Principe


O livro das misses ganhou um filme em stop-motion do diretor de “Kung Fu Panda”, o norte-americano de New Jersey Mark Osborn. Eu li o que ecreveu Antoine de Saint-Exupéry e admirei ainda mais quando li também, do mesmo autor, “Correio sul” e “Vento Noturno”(Vol de Nuit). Piloto do correio francês, soube jogar poesia nas suas viagens solitárias por céus pouco navegados. Era um piloto-poeta, ligando bem a passagem aérea pela maravilha de estar acima do insensato mundo. E morreu numa dessas viagens, com o seu avião caído no mar, deixando-o com aquela imagem igualmente poética de que simplesmente sumiu.

                O novo filme é pretensioso ao colocar a historia do pequeno herói de um asteroide descoberto por uma menina moderna que oprimida em casa sente-se viajando pelas estrelas através das narrativas de um vizinho idoso(seria o próprio Exupéry se escapado do desastre que o levou desta vida).Ela conheceria e ajudaria o Pequeno Príncipe assumindo a ideia do velho poeta que achou no deserto terrestre o símbolo de uma infância perene.

                Não creio que o novo Príncipe chegue à garotada moderna vidrada em videogame e apressada como manda a vida atual. Mas é um trabalho interessante conjugando os elementos poéticos do texto francês com imagens bem iluminadas e expostas na técnica de desenhar por sobre modelos humanos. Talvez um resultado um pouco longo e mal fechado, mas acima da média do gênero. Muito melhor do que os filmes anteriores do seu diretor.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Woody Allen


                Neste 1° de dezembro Woody Allen faz 80 anos. Poucos diretores de cinema podem, como ele, ser chamados de autores. Mesmo nos filmes que não dirigiu, como “Sonhos de um Sedutor”(Play it again, Sam) e “Testa de Ferro por Acaso”(The Front), deixou sua marca no tipo que interpretou.
                De Allen, em corpo presente ,gosto muito de “Hannah e Suas Irmãs”, “Crimes e Pecados” e mesmo “O Escorpião de Jade”. Só dirigindo estão obras primas como “Match Point”, “Blue Jasmine” e “A Era do Radio”. Claro que tem mais de 52 títulos que dirigiu .
                Um criador nesta arte que o comercio avilta a cada passo. Parabéns  a ele.