sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Não se Brinca com o Amor

Sexo é sexo, amor é amor. Ou como escreveu Alfred de Musset: “on ne badine pas avec l’amour”. Várias vezes se dissertou, nos cinema, sobre o tema, mas em “Amizade Colorida”(Friends with Benefits) a coisa ganha o ar de deboche. É assim que se vê a recrutadora de eventos (Mila Kunis) paquerar o cliente de S.Francisco que chega a NY atrás de melhor emprego, levando-o para a cama, sofá, onde der, pensando que as investidas sexuais são apenas atos de amizade. Se o casal acaba descobrindo que o melhor é ficar junto a consciência disso passa por investidas de ciúme.
O filme dirigido por Will Gkuck de um roteiro que ele ajudou a escrever, é uma gozação irresponsável sobre o tema definido por Musset. Não há qualquer cuidado em se desenvolver o liame que passa do coito ao amor sublime, ou como as personagens vão se dedicando uma à outra sem precisar mostrar talento físico. O tom é de comédia, ou de pornochanchada mesmo, e a conclusão é tão boba quanto o desenvolvimento de uma idéia basicamente densa.
Pode-se dizer que o filme, entre cenas de sexo, tem algum enredo. E as cenas passam por explicitas quando na verdade há um pudor muito camuflado, especialmente por parte da atriz. Mesmo assim a coisa seria impensada na Hollywood do Código Hayes ou mesmo imediatamente depois dessa censura interna dos produtores. Lembro de que nos 40/50 um seio de mocinha visto com mamilo evidente era coisa “extremamente proibida”. Eu cheguei a furar um bloqueio para menores de 18 anos (tinha 13 ou 14) para ver Françoise Arnoul(estreante) em um plano médio só de calcinha no abacaxi “Tormento do Desejo”(L’Épave/1949) de Willy Rozier. Hoje Mila Kunis passeia pelos aposentos de topless e Justin Timberlake mostra o bum bum “n” vezes, certamente usando só um “tapa sexo” posto que a câmera o focaliza de lado ou de costas . Mas as posições de coito são exibidas como se o espectador estivesse recebendo lições filmadas do Kama Sutra.
Zé Wilker no “Bye Bye Brasil” de Cacá Diegues diz, em uma seqüência, que “sacanagem tem que ser bem administrada”. Não é em “Amizade Colorida”. E ao voar por terreno mais sério torna-se uma dessas chatas comédia românticas que hoje disputam com os blockbuster a paciência da platéia internacional.
O pior, minha gente, é que essas porcarias estimulam pagantes. E por isso proliferam.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Sem Graça

Amnésicos como Ronald Colman em “A Noite do Passado”(Random Harvest/1942) ou quem se diz reencarnado como a menina de “As Duas Vidas de Audrey Rose”(Audrey Rose/1977) deixaram espectadores curiosos para saber se as pessoas se encontrariam ao longo do tempo, digo, da metragem do filme. Mais ou menos isso é o que acontece com Taylor Lautner, o lobisomem da série “Crepusculo”(Twilight) neste “Sem Saída”(Abduction) que está levando muita gente ao cinema. Ele vê no seu computador uma foto que tirou quando criança. O nome é outro, os pais seriam outros (os que reconhece como pai e mãe não são nada disso) e o motivo de ter sido abandonado e adotado ganha caminhos de um “thriller” de espionagem sujeito a todos os clichês do gênero.
O diretor John Singleton é um talento negro surgido com o modesto e forte “Donos da Rua”(Boyz in the Hood/ 1991). Bem adaptado ao ritmo dos grandes estúdios aceita a tarefa de dirigir um roteiro de sua autoria com a maquilagem imposta pela produtora Lions Gate e trampolim para Lautner, o ator (?), chamar as meninas que adoram crepúsculo de cinema posto que jamais adorariam auroras substanciais como a filmada por F. W. Murnau.
O filme tem ritmo, não se olha para relógio durante a projeção nem dá para se mexer a bunda na poltrona. Mas ninguém sai da sala sem sentir que foi ludibriado. Os furos são imensos, desde os eternos molhados que logo enxugam à porfias de forças contrárias, ambas ligadas à espionagem, que bem poderiam resolver seus problemas numa cena sem mesmo ser necessário chamar o herói , acomodado na rotina burguesa embora aprendendo a brigar posto que o pai postiço era um agente zero zero qualquer coisa.
Bem, já se disse que cinema é a mentira 24 vezes por segundo., Todo filme começa a mentir quando se sabe que o dono da verdade é olho que está colado na câmera . Por isso, um “thriller” como “Sem Saída” é feito para, exclusivamente, divertir. E se há defeito sério é o pouco humor. O galã é tão medíocre que consegue fazer rir com uma postura de herói da Marvel. Se levasse na brincadeira a sua briguinha contra policia e vilão até que a coisa seria algo mais do que uma volta na roda gigante. Fica com o espectador tentar achar graça dele e da namorada correrem milhas sem suar e não sairem de cena sem uma beijoca. Aliás, o lobisomem beijando é o que as garotas da platéia pagam pra ver. Elas ganham mais no programa. Os chamados cinéfilos saem com cara de besta. Aí é que chega a comédia.

Espionagem no Tempo

O diretor Duncan Jones já está no meu caderninho de preferidos. Seu “Lunar” foi uma espécie de “2001” em miniatura. Feito com poucos recursos, focalizou dois astronautas isolados numa base edificada no satélite natural , tentando pedir recursos para o planeta-mãe sem obter resposta. O tipo do isolamento aterrorizante, ou como ficar no mundo da lua textualmente, sem ganhar concessões. Belo trabalho. Agora ele surge com este “Contra o Tempo”(Source Code) que torna a arranhar a ficção - cientifica. O capitão Stevens (Jake Gyllenhaal) vê-se num trem conversando com uma garota conscientizando-se de que não é ele quem está ali e na hora. Quando o trem explode (por sabotagem), ele acorda num laboratório militar, mutilado desde sua última missão numa guerra, e ouve da médica & agente federal que foi transportado para o tempo e o espaço de onde veio com o objetivo de saber quem sabotou o trem. Este seria a primeira viagem ao lugar e hora. Voltaria tantas vezes que fosse preciso para identificar o terrorista responsável pelo desastre.
Como se trata de um filme comercial, as viagens levam Steven a se apaixonar pela estranha com quem conversa: Michelle (Christina Warren). É reticente o final, embora se saiba que o sabotador é descoberto antes que faça mais um atentado. O que não se sabe ao certo é se ele e Michelle vão ficar juntos numa realidade que se coloca praticamente inacessível (ele é mutilado e parte de uma experiência cientifica).
Boa idéia, bom roteiro de Ben Ripley (primeiro filme deste rapaz para cinema-antes só fez TV). O tema lembra muito a série “Além da Imaginação”. Roteirista e diretor devem ter visto e admirado o que produziu Rod Serling nos anos 50. E procuraram o gênero para divagar em cima. “Contra o Tempo” é tão imaginoso quanto alguns episódios que empolgaram os vovôs de hoje. Eu no meio. Per cause gostei muito do filme do filho de David Bowe. Tomara que ele continue nesse tipo de cinema. Seria um novo George Pal, com mais densidade na exploração de idéias.

domingo, 25 de setembro de 2011

Piadas Infames

Há uma piada que bem define o mau gosto do filme “Missão Madrinha de Casamento”(Bridemaids/EUA,2011): as mulheres focalizadas vão a um restaurante brasileiro nos arredores de Los Angeles. Comem um churrasco e elogiam o gosto. Mais tarde começam a vomitar. E uma delas faz uma gracinha no entender dos autores do filme: defeca no meio da rua. Isso mesmo: uma explicita posição entre carros que prudentemente desviam da cagona. E mais: ela está vestindo um traje e noiva que provara numa casa de modas.
Escrito e interpretado por Kristen Wiig, uma das comediantes do programa Saturday Night Live(TV), o filme quer ser o roteiro de uma trintona frustrada (na vida profissional e na vida sentimental) que entre muitas trapalhadas estraga a ornamentação do casamento da melhor amiga, esbanjando o que um porre é capaz de fazê-lo.
Eu ri muito pouco das duas horas com essas maduronas expansivas (fazem sexo com a naturalidade de quem bebe um copo d’água). Apesar do apelo moderninho dado pelo diretor Paul Feig, a mando do produtor Judd Apatow, e pelo que escrever Wiig e a amiga Annie Mamolo, tudo é clichê e o final se arranja para manter a capa de felicidade a todo custo.
Pior pode se considerar “Premonição 5”(Final Destination 5/EUA<2011). Só ganha certo humor no fim, quando emenda com o primeiro filme da franquia. Feito para ser visto em 3D começa jogando cacos de vidros dispostos nos créditos em direção à platéia. E as mortes de quem driblam a morte (neste caso escapa de uma queda de ponte em ruínas) são arranjadas de forma mais bizarra possível para melhor efeito tridimensional. Uma delas: uma paciente de oftalmologista está com uma pinça nas pálpebras quando há uma pane elétrica, ela toma choque, dispara em direção à janela do consultório e se joga no cimento da rua com um olho pulando fora do corpo. Mais gracinhas acontecem em noventa minutos de sadismo. Vantagem em relação à comédia das balzaquianas que dura duas horas na tela. Haja saco!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Lembrando o Carequinha

O palhaço Carequinha foi contratado para fazer a propaganda no plebiscito em que se pedia o regime parlamentarista como o ideal para o país (a direita temia que João Goulart como presidente levasse o país ao comunismo). Cantava assim:
“-Eu vou fazer um x
Um xizinho ao lado da palavra não.
Parlamentarismo não, chega de confusão
Eu vou fazer um x, um x ao lado da palavra não .
Hoje não tem mais Carequinha (George Savala Gomes). O ator circense morreu em 2006. Mas tem plebiscito. E o Pará é a vitima. Querem dividi-lo com a criação dos estados de Tapajós e Carajás. Primeira pergunta: quem quer sair é porque se acha suficientemente forte (em termos de meios de produção) para proclamar independência. E assim está porque fez parte do Pará, foi o Pará quem lhe deu esta projeção. Segunda: De que vale se separar além de criar novos cargos políticos, contentando carreiristas dessa área? Terceira: quando o país se gaba de fugir da crise econômica mundial, e já agora está engolindo a vaidade com as quedas sucessivas da bolsa e o dólar ganhando alturas, que rombo patrocinará novos estados?Pensem no que se vai gastar com novos governadores,deputados, senadores, serviçais desse pessoal, e os gastos recorrentes dessas novas fontes de despesa ? Enfim, pensem no quanto se vai pagar por uma vaidade. Quando se mendiga verbas para a Saúde, o que vai acontecer com o separatismo é a encruzilhada para novos impostos (ou aumento de alíquotas dos que já existem).
Carequinha cantaria outra vez o NÃO. Mas sem fazer graça. A pretensão política é por demais dramática. Ficaria melhor o Zé do Caixão cantando o sim.

domingo, 18 de setembro de 2011

Realmente Barbaro

Não estou freqüentando assiduamente as sessões extras por dois motivos:primeiro porque quase todos os filmes lançados eu já vi em DVD (e dificilmente faço revisão em tela maior imaginando o desconforto de sair de casa nesse tempo de transito caótico e violência em cada esquina). Depois estou selecionando muito o que vejo por conta de uma cada vez maior certeza do que me satisfaz. Não sou mais o critico intransigente do passado. Hoje admiro o slogan da Imovision quando distribui seus filmes em discos digitais: “Leve para casa o filme que você gosta”. Virei escravo do meu gosto. Se ele alguma vezes expõe uma fragilidade cultural que eu mesmo atacava quando dirigia cineclube, sem medo assumo uma posição que me define, ou seja, conforta meus sentimentos. Com isso estou conhecendo os novos blockbuster em pescarias na internet. “Conan”é um desses pescados. E bendigo a tecnologia que me poupou de ir ao cinema, sujeito a horário, filas e frio glacial de algumas salas, ver o que de pior se pode fazer nessa arte.
“Conan 2011”é realmente bárbaro. Não só no roteiro que expõe a idéia da selvageria de uma gente em um tempo como na péssima realização cinematográfica, seja na condução do elenco, seja no roteiro em si, seja na direção de arte, seja na maquilagem, na música, na edição que metralha seqüências para tapar buracos de representação (se um personagem vai bater em outro corta-se rápido, usa-se o ruído correspondente, e passa-se para um close do batido).
A origem do herói, um livreto que desconheço, e seu passado nas telas a revelar a canastrice de Arnold Schwarzenegger,ganhou a direção do problemático John Millius, um ex-roteirista (até de "Apoclipse Now") que só fez um filme importante:"O Vento e o Leão". Não foi um desastre total. Apesar do ator (que nunca foi isso), tinha o que ver na fabula que vislumbrava a chegada da Idade Média. Agora, a mania de refilmagem expõe ao ridículo o jovem havaiano Jason Mamoa, o diretor Marcus Nispel e se especializa na construção de cenas de massacres, com os recursos do CGI para rolar cabeças ao uso da espada miraculosa do mocinho.
Um exemplo de mau cinema. A se juntar a tantos exibidos este ano. A sorte é que no período muito de bom surgiu.É o ano de “A Arvore da Vida”,”Um Mundo Melhor”, “O Discurso do Rei” e outros títulos que vão ficar. Por isso um ano em que, apesar de meu comodismo justificado acima, fui muito a cinema.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Tem ET no Faroeste

Há quem diga que a Terra é observada pelos seres do espaço desde o tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça. Mas o filme “Cowboys & Aliens” não saiu dessa história. Na verdade Steven Spielberg, Ron Howard e até Jon Faveau, foram consumidores de gibis que mostravam em separado aventuras de Hopalong Cassidy e de Flarh Gordon ou Brick Bradford.
O filme dirigido por Faveau e produzido pelos amigos nostálgicos procura misturar as coisas como se o Durango Kid, ao invés de ajudar a diligencia afugentando os bandidos depara com monstros do espaço à maneira daquele que veio do Planeta X e guardou quase uma cidade inteira no porão mais próximo.
A salada pop tem de tudo. O herói sem memória que traz uma enigmática pulseira no braço pode se chamar “O Estranho sem Nome”. A garota enigmática que surge num saloon é como a filha do cientista que descobriu um pequeno planeta próximo da Terra e acaba dando de cara com o et feioso seqüestrador de humanos (tal como o do filme “Casei-me com um Monstro”). Os cowboys unem-se aos índios no combate ao inimigo espacial. Sinal dos tempos (esqueceram os peles-vermelhas que roubaram Natalie Wood em “Rastros do Ódio”). E a nave espacial fincada no solo árido esteve agorinha mesmo no “Super 8” que o próprio Spileberg botou para JJ Abrams dirigir.
Os espectadores mais velhos poderiam gostar. Mas a condução não é simplista como o cinema de vesperal passatempo. A cor lembra o que Gore Verbinski fez na animação “Rango”(com mais procedência).Eu não gostei. Até Harrison Ford mostra-se fora de forma, longe de Indiana Jones. Ah sim, o xerife une-se ao possível vilão na caça aos ETs. Um prato no fim das contas indigesto. Melhor rever as matrizes em casa.São ingênuas o bastante para soltar o riso. No filme de agora, produzido com muitos recursos, é uma viagem na máquina do tempo em que se atola num paradoxo a lembrar o do Claudio Torres neste “Homem do Futuro” também em cartaz. E essas lembranças de criança grande chegam emprenhadas de “adultismo” chato. Quando eu era moleque de ver seriado consumia as bobagens sem criticar o fato do chapéu do herói não cair na hora da porrada. E os ETs falarem inglês com sotaque de Oxford. Valia todo e quanto mais mentirinha melhor. Assim ficou na memória um tempo. E nem tinha tecnicolor. Era tudo feito nos quintais da Columbia ou Republic...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Prêmio Pinocchio

Cinema é mesmo a mentira 24 vezes por segundo. Vejam “Apollo 18”. A NASA jura que o vôo foi interrompido no chão. Mas os produtores do filme que leva o nome da que seria a exploração da cratera Copérnico na lua, mostram que ele existiu e que os astronautas morreram (não só os dois que pousaram no satélite, mas o que ficou em orbita aguardando por eles). Teria, um dos rapazes que andaram no solo lunar, sido infectado por uma pedra, ou um vírus ou uma bactéria que estivesse incrustada nessa pedra. Por sinal que os moços acham o corpo de um russo na borda da cratera objetivada. E daí em diante um deles sente formigamento no corpo, volta à sua nave e o amigo descobre uma pequena pedra incrustada numa ferida (que não sabe como ela surgiu já que a roupa de astronauta é vedada sob pena de chegar a explodir se furada na zona sem atmosfera e com baixa pressão).
A ordem de voltar correndo para casa, dada a quem está em orbita, sacrifica os que estão no solo ou tentam voltar para acoplagem. A coisa é tão bizarra que a sonda de volta choca-se com a nave mãe. Todo mundo vai para o céu de corpo presente.
Igual às lorotas de “A Bruxa de Blair”, “Atividades Paranormais” e/ou “Rec”, há detalhes “técnicos” da ação ditos a guisa de depoimentos tomados por tele-reporteres. Não sei como a NASA viu o filme. Se os defuntos da Apollo 18 não existiram, ou se existiram foram vitimas de outros acidentes (sem que se lhes resgatasse os corpos) faltou explicação oficial. E o filme vai além, dizendo que as pedras trazidas da lua por outras missões podem conter esse microorganismo malévolo seriam, no caso, “presentes de grego”a tantos governos que receberam a relíquia(inclusive o nosso- eu vi uma dessas pedras em exposição no Teatro da Paz).
Uma coisa é certa. O diretor espanhol Gozalo Lopez Gallego, soube mentir. Sua narrativa em ritmo de documentário é capaz de entusiasmar platéias. Uma edição marota e uma fotografia grosseira fazem da conta uma realidade. E se alguém pergunta quem filmou os 2 astronautas na lua se só estavam os dois, outro absurdo cabe no fato de todos os filmes terem se evaporado no choque das naves. Mas é a tal coisa: quem filmou os fantasmas de “A Casa”? Como não saiu velado o filme dos amadores que registraram a bruxa (de Blair)? Como eu disse, cinema é mentira. O público gosta de ouvir/ver mentiras bem contadas. Na minha sessão de “Apollo 18”, ninguém abandonou a sala pelo meio da projeção. E deve ter saído praguejando contra os “assassinos” que não se importaram com os jovens viajantes do espaço.