sexta-feira, 26 de julho de 2019

O Grande Hacker


O documentário “The Great Hack” (Netflix) lembrou-me George Orwell em “1984”. Não há um Grande Irmão mas vários ditadores que desejam acabar com regimes democráticos, extinguir a sociedade como hoje a conhecemos e instalar um poder associado a poderes que possam financiar seus propósitos.
                O filme aborda o efeito colateral das redes sociais, especialmente o facebook. Por ai se insere a carência cada vez maior da privacidade e como as pessoas vão ficando vulneráveis a modelos orientados pelo capital. E não é um panfleto comunista como os donos do projeto advertem. Não se trata como diz uma defensora da liberdade, de direita ou esquerda. É simplesmente a condução do povo para um objetivo cruel que se mascara na luta contra a corrupção e saneamento das finanças publica.
                Há imagens dos EUA na eleição de Trump, da Inglaterra do Brexit e até  mesmo do Brasil, com uma breve cena de Temmer passando a faixa presidencial a Bolsonaro.
                Dá o que pensar. O mundo segue guiado por rumos que cerceiam a liberdade de expressão. É só ver a ideia de acabar com o cinema nacional, aqui pontilhado pela Ancine, sobrevivente da Embrafilme (que por sinal sobreviveu ao governo militar de 64-85). Mas o pior ainda é o que se está fazendo com a saúde publica, vetando remédios para o povo como o caso da insulina para diabéticos.
                Um filme importante. Nem tanto como cinema, pois a linguagem perde muitas vezes a sua objetividade. Mas deixa pensar. Ou ter medo. Orwell previu espionagem até nas alcovas. As redes sociais de hoje chegam lá. E só querer.
                Terror mesmo é por aí, sem vampiros, zumbis ou casas assombradas.

terça-feira, 9 de julho de 2019

O Fim do Mundo


.              Abrindo um programa de filmes do gênero ficção-cientifica estará em cartaz no cine Olímpia “O Fim do Mundo”(When Worlds Collide) de Rudolph Maté & George Pal. Não se trata apenas de um bom titulo do gênero. Há uma historia por trás dele referente à estreia no mesmo cinema em 1953. Resumo: naquele ano a sala de projeção estava muito deteriorada. O publico pedia reforma. E a empresa exibidora, a S.Luis de Severiano Ribeiro, não fazia. Restavam poltronas sem estofo, ventiladores (nada de ar condicionado)  e piso de lajotas. Os estudantes, encabeçando um movimento, pediam o que o jornalista Edwaldo Martins registrava, anotando “piso acarpetado” que parecia uma característica de um estilo.
                Começou uma greve. Colegiais iam para diante da bilheteria do cinema barrando quem ia comprar ingresso. E os poucos que desobedeciam presenciavam na sala de projeção a continuidade do protesto em cheiro de substancias como gás sulfídrico (que o porteiro de então tentava minorar atirando nos corredores café moído).
                Nesse período estava marcada a estréia do filme “O Fim do Mundo”. Diziam que era uma metáfora aludindo ao próprio cinema. Eu que esperava o filme torcia para que chegasse ao menos para o dia da estreia. E chegou. Foi um hiato no período de protestos. Não deu margem à reforma esperada mas salientou que vivíamos, nos paraenses, num fim de mundo. E a empresa exibidora, para calar protestante (entre eles os lendários Farahzinhos), comprou um terreno na av, Nazaré e colocou uma placa: “Breve, aqui, o cinema S. Luís, o maior do norte do Brasil”. Os acompanhantes do Círio passaram por ali em cerca de 3 anos. Nada de cinema nem a placa saia do lugar. Foi preciso, em 1959, que surgisse o Cine Palácio e aí sim, Ribeiro colocou no já velho Olímpia os sonhados ar condicionado e poltrona estofada.
                “O Fim do Mundo” marcou um tempo. E ainda hoje é um dos bons filmes de Pal, o húngaro que chegou aos EUA com os bonecos Puppetoons e se dedicou a produzir ficção-cientifica, gênero na época que era restrito à serie b com os seriados de 12 a 15 episódios feitos com parcos recursos.