sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Os 33


              
Cena de "Os 33" contando a  saga dos mineiros chilenos soterrados. 

              O caso dos 33 mineiros que ficaram soterrados por dois meses quando trabalhavam na mina Copiapó no deserto de Atacama (Chile) foi noticia por meses na mídia internacional. Conta-se que até uma sonda da Petrobrás ajudou na retirada dos homens, época em que  já se tinham esgotados os mantimentos de emergência e as baterias das lanternas dos capacetes começavam a falhar condenando-os à uma escuridão que certamente selaria a sentença de morte. O caso gerou um livro de Hector Tobar e para o cinema uma corrida pelos direitos desse livro foi ganha pela Fox que exigiu falas em inglês e enxertou, no roteiro, cenas que seriam divertidas, “aliviando” o suspense que o fato gerou, mesmo que os espectadores já tenham conhecimento de como a historia acabou.

               A luta pela filmagem, repassada em parte para a Warner, gerou um roteiro bem hiollywoodiano a cargo de Mikko Alane, Craig Borten, José Rivera e Michael Thomas. Como ficou o filme lembra um pouco(e isso é elogio) “A Montanha dos 7 Abutres”(The Big Carnival) de Billy Wilder, aquele em que Kirk Douglas, como um repórter ambicioso faz para render sua matéria sobre um rapaz enterrado numa montanha quando pesquisava um cemitério indígena, a opção pelo uso de perfuradoras a patir do topo para a base onde está o personagem, ao invés de forrar as paredes de um túnel e chegar a ele (medida bem mais fácil de contornar do que o que aconteceu aos mineiros chilenos). Neste caso a medida não deu certo. Mas no drama dos 33 não havia outra solução exceto furar blocos de pedra de cima para baixo. E muitas perfuradoras quebraram e outras erraram o alvo.

               Para não ficar os 120 minutos de projeção restritos ao grupo que lutava pela vida o filme focaliza o relacionamento familiar de alguns deles, exibindo situações que provocam riso da plateia como mulher e amante de um sobrevivente se irmanando a torcida pelo mesmo homem, e, na caverna, o grupo contando situações que conseguem trazer gargalhadas. Custa-se a crer que esses homens tenham mantido humor na beira da morte.

               Mas há clima. A direção de arte partiu da locação em Nemocón, na Colombia e com uma iluminação a contento e câmera manual o tempo todo conseguiu dimensionar o espaço exíguo onde tanta gente viveu por tanto tempo.  O quadro é tão forte que eclipsa papéis avulsos como o do líder do grupo, protagonizado por Antonio Banderas, ou de um colega que dizia ter brigado com a irmã (papel minúsculo de Juliette Binoche) .Dá para se ver o filme, dirigido pela mexicana Patricia Riggen, sem cochilar. E realmente não é fácil tratar de unidade de lugar por muito tempo com um final previsível.

               “33” tem o brasileiro Rodrigo Santoro como o ministro chileno que não esmorece e no fim das contas é quem salva a turma enterrada(quando se pensava em óbito). E tem Gabriel Bryne, veterano que cuida das perfuratrizes e quase desiste da empreitada. Eles convencem.

              

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Fora do Alcance

               Quem viu “O Preço de um Homem”(The Naked Spur/1953)de Anthony Mann vai achar pontos de contato com este “Fora do Alcance”(Beyond the Reach) de Jean-Baptiste Leonetti, filme do ano passado e esquecido dos cinemas de Belém. A diferença é a pontuação da crueldade: Michael Douglas faz um milionário que se lança à uma caçada no deserto de Monjave, contratando um jovem experiente no assunto. No cenário ele mata um idoso habitante da região. Seria fruto de um tiro acidental. Mas logo o homem s revela um caçador de gente, um louco que passa a colocar como presa de caçada o próprio ajudante. Obrigando o rapaz a andar pelo deserto sem roupas (especialmente exigindo que ele esteja descalço), a saga patológica do sujeito chega a limites que desafiam a capacidade do rapaz em driblar armadilhas para sobreviver.
               Claro que o argumento não se detenha num espaço critico. O fim pode ser percebido. Mas a longa e cruel caçada impressiona. Filmado em locação expõe Douglas a um papel anômalo em sua carreira, pior do que o Robert Ryan no filme de Mann.

               Bom trabalho do novato Jeremy Irvane (premiado em Cannes por “Male Revelation”). E  de direção. O que estraga é mesmo o argumento plausível. Mas se o objetivo foi prender a atenção da plateia tudo OK. Vi tarde da noite em DVD e não dormi.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Planeta Vermelho


               Nas locadoras o filme “O Planeta Vermelho”(Last Days on Mars/2013) de Ruairi Robinson. Corajosamente o roteiro de Clive Dawson com base num conto de Sidney J.Bounds ataca o que já se viu muitas vezes. Marte em cinema já foi visitado e eu lembro essas visitas desde a década de 50 quando Llloyd Bridges(pai de Jeff e Beau) acabou indo bater por la quando sua nave, Rocktship XM, desviou-se da lua( no Brasil o filme se chamou “Da Terra a Lua” e eu pensei que tinha a ver com H.G.Wells ou Jules Verne). Daí em diante aconteceu de tudo no solo marciano. O pior foi quando ouviram de lá de longe o Sermão da Montanha. Em “O Planeta Vermelho” de original realmente “Red Planet Mars”,Peter Graves como Chris Cronyn ouvia a mensagem cristã e o filme do diretor Henrich Horner(1910-1994) então estreante, ganhava as bênçãos do senador McCarthy, o regente da “caça aos comunistas”. Engraçado é que a mensagem provocava uma nova revolução em Moscou...

               Marte foi visitado por muitos cineastas responsáveis, mas Tim Burton deu uma dimensão gaiata aos marcianos que caberia muito bem no bando de besteiras feitas em nome do planeta vizinho(relativamente). Em “Marte Ataca!” os ets malvados só perdiam a parada quando ouviam uma daquelas operetas que nas telas serviam à voz de Jeanette MacDonald.

               Agorinha mesmo Ridley Scott foi ao “vermelhinho” com “Perdido em Marte”(The Martian). Ganhou o fato de ser um dos poucos filmes do gênero a estremecer as bilheterias. Dizia-se na indústria do cinema que Marte dava azar. Scott quebrou esse tabu. Seu filme é bem interessante e corta essa de vilão marciano. Coisa que “O Planeta Vermelho” repisa, mas na forma de micro-organismo. Uma bactéria achada no solo contamina os pesquisadores terrestres e de um grupo numeroso só um escapa com vida  mesmo assim, falando em sua nave próxima à estação orbital que o levaria de volta à casa , que poderia estar contaminado e que, sem combustível e bateria estava condenado a ficar orbitando ate que lhe pegassem de algum modo.

               O filme que por aqui em cinema não chegou é interessante apesar de alguns chavões. Pelo menos respeita a topografia do planeta como se sabe pela ciência e alerta para um fato que não está isento de ser real. Interessante até por se eximir de um tipo de roteiro que via no solo marciano resquícios de uma civilização a dizer que nós, terrestres, viemos de lá quando os habitantes destruíram o ambiente com as mesmas ermas que estamos a destruir o nosso(tema de um dos filmes do tipo).

               Quem acompanha as “marcianatas” que veja o trabalho ora em DVD. Reparem que eu escrevo “marcianatas”. Marcianita era um rock primitivo que por aqui fez sucesso na voz de Sergio Murilo. Otimista pacas ele dizia que “nos anos 70 seriamos felizes os dois”(ele e a garota de Marte). Afinal em 68 estávamos no solo lunar e do jeito que estava a guerra fria era viável ganhar pontos mais adiante no espaço.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Sicario

               Vendo “Sicário, Terra de Ninguém”(no Mexico o nome quer dizer matador) com a protagonista fumando um cigarro atrás do outro penso em como se combate as drogas e se deixa livre uma das mais perigosas: o tabaco (o cigarro). Também se dá sinal verde à bebida alcoólica. E no caso das drogas pesadas, como cocaína, o contrabando leva a dimensões fáceis de compreender: os policiais que devem combater o trafico na verdade lutam contra concorrentes de quem os paga, sabendo-se que não devem ganhar um terço do que podem receber dos traficantes.
               O roteiro de  Taylor Sheridan ambienta a ação na fronteira do México com os EUA. Uma policial, Kate (Emily Blunt) é designada para acompanhar uma força tarefa que visa encontrar o chefe da quadrilha que vende drogas a partir do México ( e por sua vez da Colômbia) isto depois dela encontrar com seu grupo armado muito corpos em estado de putrefação, cobertos de capas plásticas, em uma casa na região desértica.
            O tipo que mais impressiona, e logo de entrada, é Alejandro(Benicio del Toro). Na reunião em que se apresenta Kate e um colega, ele é o único elemento “mal vestido”. E usa barba mal feita, além de aparentemente não possuir humor(jamais ri).
            Há outras figuras em cena mas o que importa é a mocinha audaz e correta em seus deveres e o homem que se apresenta como policial e se desconfia de suas atitudes nem sempre bem posicionadas.
            Com uma fotografia que joga a luz em momentos certos, trabalho de Roger Deakins, que esteve com o diretor em “Suspeitos”, além de uma produção que exibe o ambiente de modo a deixar a impressão de um documentário sobre o tema (magnifica direção de arte a cargo de Bjarne Sletteland e Paul Kelly, com edição caprichada de Joe Walker ,de “12 Anos de Escravidão”) o filme emociona. Vê-se de um folego. E nota máxima para Emile e Benicio. Há um momento, quase no final,que exige da atriz tem de lançar mão de mais de uma expressão (medo e raiva). Não é fácil e ela dá conta.

            Um dos melhores exemplares em torno de um tema que parece gasto pelo uso. Ponto para o diretor canadense Denis Villeneuve. E para a gente aqui, da Belém que via de regra fica ausente dos lançamentos em circuito comercial.

domingo, 25 de outubro de 2015

A Ponte de Espiiões

               “Ponte de Espiões”(Bidge of Spies) tinha que prestar. Os roteiristas são os hábeis irmãos Coen mais Matt Charman que andou se fazendo de ghost no “2012”de Roland Emmerich. E a direção de Steven Spielberg implicou num recurso de produção de quem pode ter isso e o manejo de um elenco de tirar o chapéu. Tiro o meu especialmente para o inglês Mark Rylance que faz o “Coronel”Abel. Merece o Oscar de coadjuvante.
               O filme narra a historia do advogado James Donovan(Tom Hanks) que teria sido designado para defender um espião russo flagrado durante a “guerra fria’ logo depois  dos Rosemberg terem morrido por isso. A tarefa é potencialmente inglória mas Donovan consegue livrar o homem da pena de morte. Nesse tempo um aviador americano sobrevoa a Alemanha Oriental com material de espionagem no aparelho. É abatido e cai no território ligado a URSS. Surge então a chance de trocar espiões: Abel pelo jovem piloto. E para a tarefa é escalado Donovan, que aproveita a chance de libertar também um jovem universitário preso por demonstrar-se contra o regime dominante nesse pedaço de Berlim.
               O filme se divide em dois momentos: nos EUA, com o processo de defesa do espião soviético, e na Alemanha do Este quando se faz  a troca de espiões. Nesse ultimo espaço a direção de arte recria a Berlim semidestruída que então construía um muro para separa-la da  parte ocidental. A fotografia de Janusz Kaminski dimensiona bem o território. Impressionante como se montou no set uma cidade de um tempo.  Nos dois momentos funciona uma linguagem direta, sem atropelos de flashbacks, seguindo uma linha documental posto que o fato realmente aconteceu.
               Não há nada que sobressaia de um conjunto harmônico. Mas até por isso o filme é bom. Spielberg não faz cinema para minorias intelectuais. E para não dizer que em filme sobre advogados fez excesso de falas há um introito quase sem palavras quando a câmera segue Abel pelas ruas até seu modesto apartamento onde ele começa a abrir as mensagens disponíveis para seu serviço e o FBI chega para prendê-lo.
               São 141 minutos de projeção.Não deixa cansaço. E mostra Tom Hanks sem a mascara de quando foi o “naufrago” de Robert Zemeckis ou ainda mais atrás no tempo do sujeito que “queria ser grande”. O tempo é inclemente e até por isso o ator está bem.

               Valeu.

sábado, 24 de outubro de 2015

Suspense sul-coreano


               Há pouco tempo eu vi um filme em que um policial, saído de uma comemoração quando bebeu além  da conta, atropela e mata uma criança e finge que encontrou o menino morto sem saber quem foi o atropelador. Agora  vejo este “Dia Difícil”( "Kkeut-kka-ji-gan-da­) produção sul-coreana de Kim Seong-hun com o mesmo gancho de argumento e daí partindo para soluções originais como o fato do atropelador, também policia, colocar o corpo do atropelado dentro do caixão de sua mãe e passar a lutar com quem diz que viu o acidente e ainda com colegas corruptos.

            O filme é um dínamo, com uma edição que não perde o folego. Vejo como síntese desse artesanato a sequencia em que o personagem, chamado Go (Lee Sun-kyun) , abre o caixão da mãe para inserir o corpo de sua vitima. O caixão já estava fechado e ele luta para desaparafusar a tampa sabendo que o tempo pedido para cultuar a morta é exíguo. Por sinal que ele tampa a câmera de segurança do aposento com balões que diz haver comprado para a filha. Mais: o morto era bandido e com ele está uma chave que abre um tesouro de traficantes.

            Penso que o roteiro só peca no final quando acelera as informações com novos detalhes. Mesmo assim o filme é um “thirller”competente, Gol do cinema da Coréia do Sul, naturalmente esquecido dos cinemas comerciais de Belém.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Mudança de Panorama


               Em 1972 o Cine Clube APCC corria forte pelos espaços do Cine Guajará(Base Naval), Grêmio Português, auditório da Faculdade de Odontologia e sede social da AABB. Eu anunciava os programas na minha coluna em “A Província do Pará”. Mas faltava “O Liberal” que assumia “A Folha do Norte”. Fui com Luzia e Edwaldo Martins falar com Romulo Maiorana, que havia comprado “A Folha...” e assumira também “O Liberal”. Fomos atendidos. Luzia, que na época só arranhava datilografia mas já era “cinemaniaca”(e não podia deixar de ser como minha “cara metade”), assumiu o posto. O próprio Romulo chamou a coluna que ela dominaria como “Panorama”, abrindo espaço não só para cinema mas outras manifestações artísticas.

               Em 42 anos Luzia escreveu muito. Fez não só criticas de filmes mas reportagens até de fora da área de cinema. Atualmente fazia também artigos sobre politica (pois é doutora na especialidade) no mesmo jornal. Pois apesar desse tempo e currículo foi despedida do emprego (apesar  de  exibir carteira assinada pelo próprio Romulo).

               Como estamos no mundo da comunicação  virtual, onde até o então clássico “Jornal do Brasil”deixou o papel, é certo que Panorama volte agora pela internet. Mas o lado humano da coisa fica na dor de uma espécie de ingratidão. Eu sofri isso quando “A Provincia...”acabou. Fiquei até sem os últimos salários. Nem “até logo”.

               Nos blogs e sites podemos escrever o que desejamos sem medo de ferir susceptibilidades. Por aí será o panorama de Luzia daqui para frente.

 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Colina Escarlate


               A Bela casa com uma Fera com pinta de galã (embora exale oportunismo no relacionamento, apostando no golpe do baú) e vai morar numa casa assombrada. Além de ver o espirito de sua mãe logo depois que ela morre a mocinha passa a ver 3 mulheres que o marido e a cunhada mataram para que ele embolsasse uma grana capaz de dar realidade a um projeto industrial.

               “A Colina Escarlate” tem fantasmas feios (como se as almas trouxessem o estado de seus corpos putrefeitos), acordes para assustar quem está cochilando na plateia, mocinha indefesa que se transforma em super-heroína, mocinho de ocasião que é ferido mas ainda assim só falta disputar corrida de obstáculo, e alguma menção do chamado “terror gótico” com uma sequencia em que o pai da garota é assassinado com empurrões de sua cabeça na pia do banheiro literalmente explodindo o crâneo do senhor.

               Guillermo del Toro notabilizou-se por dois filmes de terror: “A Espinha do Diabo” e “O Labirinto do Fauno”. Nos dois deixou uma plasticidade impressionante a partir do design do ambiente e chegando ao jogo de luz e cor. Aqui,em “A Colina...”ela existe, assim como os enquadramentos que evidenciam tipos em situações. Mas o argumento é tão banal que a coisa vira comédia. O final é hilário. Todo mundo sabe que o “ Fera” e sua mana, que também é amante, vão levar a pior.Mas do jeito que levam, com a ação da heroína que se veste de branco(os vilões de vermelho ou preto) e lança olhares cândidos, é mesmo para rir. Eu só não ri mais porque a sala em que vi o filme, no complexo Cinepolis Boulevard, estava tão gelada que mal sentia a ponta do nariz.

               Del Toro procurou fazer um Halloween (o filme de John Carpenter) erudito. Perdeu feio para Roger Corman no seu ciclo baseado em Poe e cometeu o sacrilégio de comparar seu trabalho, em entrevista, ao “Desafio ao Além” de Bob Wise.

               Não é ser toureiro adiante desse touro mas dessa vez ele ficaria melhor podando as arestas de sua trama e se inspirando mais no Jean Marais, o Fera de Cocteau.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Leviatã


               Em “Leviatã” se vê uma Russia humana, ou melhor,sacana como quase todos os países do mundo. Seria o monstro citado por Jó adentrando um pobre diabo que se chama Kolya e que vê de uma vez a tomada de sua casa, de sua indústria de pesca, de sua família (a mulher o corneia com um amigo que se faz de advogado dele) e  de sua liberdade ganhando fama de matador da adultera que na verdade se mata.

               O rolo trágico cabe numa terra onde antes se gabava o igualitário em um regime comunista, não que o homem fosse o lobo do homem como dizia Thomas Hobbes mas que o Estado pegasse os lobos.E Kolya seria vitima de lobos como o prefeito de sua cidade e o amigo que lhe cobrava os favores na cama com a sua companheira.

               O filme de Andrei Zvyagintsev impressiona a partir das longas panorâmicas da região à beira mar onde estão carcaças de grandes animais. Há um contraste entre este cenário amplo e a pequenez que envolve os tipos, realçando o corrupto prefeito que quer tomar a casa de Kolya e o amigo dele que lhe trai a tempo em que o defende em tribunal contra quem lhe quer tomar a propriedade. Além deles há o garoto, filho de Kolya com outra mulher, que ele cria com aparente beneplácito de Lilya, a esposa. Este representa um futuro fadado ao rancor na luta pela vida contra enormes injustiças.

               Candidato perdedor ao Oscar de filme estrangeiro é, sem duvida, um dos melhores deste ano por aqui, espaço lotado de mediocridades em especial nas salas dos shopping onde cinema, agora, faz parte de um verdadeiro parque de diversões.

sábado, 10 de outubro de 2015

Na Corda Bamba

               Apesar de tratado em primeira pessoa, com o personagem Philippe Petit narrando a sua odisseia de equilibrista do alto da Estatua da Liberdade, o filme “A Travessia”(The Walk) de Robert Zemeckis com roteiro dele e de Christopher Browne (com base no livro de Petit “To Reach the Clouds”) não diz quem é este francês que sonhou e realizou uma perigosa travessia das finadas Torres Gêmeas de Nova York usando um arame.
               O filme mostra o relacionamento dele com uma artista de rua, Annie. Ela teria seguido com ele para Nova York quando quis montar a estrutura da travessia no World Trade Center. Depois volta para a França. Se houve um relacionamento intimo o filme não define muito bem. Nem vai longe na amizade de Petit com o fotografo Jean-Louis que também o acompanha nos EUA. Será que essas figuras existiram mesmo da forma como são mostradas?Sabe-se pelas biografias nanicas do personagem que hoje ele vive próximo a Woodstock com uma pessoa chamada Kathy O’Donell (não confundir com a finada Cathy O’Donell atriz de “Ben Hur”). Se o objetivo, seguindo o texto original, era definir apenas o equilibrista, não parece novo o enfoque que já esteve no cinema no documentário premiado com o Oscar justamente chamado “O Equilibrista”(Man on Wire/2008).
               Começando em preto em branco com Philippe criança em Paris, é muito rápida a viagem da câmera pela infância que só se focaliza pois já estampava o amor pelo perigo, a porfia pela corda bamba(sem ironia). O filme atual é como uma seta que encaminha tudo para a sequencia da travessia das torres em NY. Em 3D ela realmente ganha do trabalho anterior de James Marsh (o citado “O Equilibrista). Impressiona até pela edição que joga os planos de forma a incitar o suspense mesmo se sabendo que tudo correu bem para o personagem. Mas é só. Zemeckis bota  o espectador por duas horas na sala escura vendo hora e meia de papo furado. Sinceramente achei que que voltar a um assunto bem tratado antes foi desnecessário. Será que o diretor queria mostrar como a peripécia do francês ganha emoção nas imagens tridimensionais ?Pode ser. E Annie ? Será que ela existiu mesmo ou foi um recurso comercial para melhor vender o filme ?  O que salta para a excelência é o trabalho de Joseph Gordon Levitt (34 anos) antes apresentado em “Lincoln” e “A Origem”. Ele se equilibra bem como o francês (caprichando no sotaque para o inglês) que virou noticia mundial.

               E eu pergunto: de que vive hoje Petit ? Deve estar ganhando copyright de cinema. A celebre travessia não foi patrocinada por ninguém. Prova de que um ideal não tem preço. Uma atitude cada vez mais rara no mundo que economicamente vive na corda bamba.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Cinema do Passado


               A exibição da versão muda de “O Ladrão de Bagdad” me lembra do tio Vavá(Oswaldo Nunes Direito). Ele era tão aficionado de Douglas Fairbanks que ao registrar o nascimento do meu irmão botou o nome “Douglas” entre José Maria Direito Álvares. Só quando o xará do artista foi fazer exame para serviço militar é que se espantou com o Douglas. E acabou botando esse nome num de seus filhos.

               Vavá também gostava de Ramon Novarro o astro do primeiro “Ben Hur”. Machista, nunca imagina que Ramon fosse homossexual. De uma feita escreveu no verso de uma sua fotografia: “Não é o Ramon Novarro, é o Direito”. Eu imagino como ele se sentiria sabendo que a paixão de Ramon por um jardineiro deu em morte e em um filme muito bom chamado “Deuses e Monstros”.   

               Eu conheci “O Ladrão de Bagdad” na versão sonora e colorida dos Korda (Alexander produtor e Zoltan diretor). Lembro que o vi com 9 anos e era improprio até 10. Minha madrinha que me acompanhava passou a sessão ouvindo um fiscal de menores na poltrona atrás pedindo minha saída da sala.Ela não saiu. Penso hoje que o tal fiscal queria era paquerar a moça.

               O filme dos Korda revelava Sabu. Ator indiano de baixa estatura, esteve em Belém filmando “O Fim do Rio”(The End of the River) para a Archers, empresa de Michael Powell(Inglaterra). A “Folha do Norte”publicou uma foto do artista no Ver o Peso. A atriz, no caso, era a jovem Bibi Ferreira. Ela cantava “Bumba meu boi” do nosso maestro Waldemar Henrique. Mas o nome do Waldemar não saiu nos créditos.

               Vi o filme de Fairbanks em vídeo. Imagino como impressionou meus antepassados com os efeitos especiais barrocos, muito antes dos computadores.E penso na grana que se gastou com tantos extras. Cabia nesse tipo de filme a piada do figurante que chegava para o diretor e dizia: “-Eu morri, agora o que é que eu faço?” A resposta era rápida: “- Va para lá e morra de novo”.

               Cinema de ontem vendo hoje dignifica a arte das imagens em movimento. É o desafio à morte, pois ainda mostra gente ativa quando é pó da terra...

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Dublagem e Bobagem


               Se não me engano foi do então senador Jarbas Passarinho a lei que obriga legendas em filmes, mesmo os nacionais. Protegia os deficientes auditivos. E certamente, no caso do filme estrangeiro, faz justiça à obra de um autor (ou de uma equipe produtora).

               Preso à dublagem perde-se falas que são básicas em narrativas cinematográficas. Dou um exemplo. Quem sabe inglês percebe que diabos significa “fuckn’you”. Na legenda resta “Vá se ferrar”.

               A proposito: saiu em DVD uma copia de “O Vale das Bonecas”(Valley of Dolls).Foi um dos primeiros filmes americanos a usar o chamado “palavrão”. Mas o filme, como o romance de onde ele veio, foi uma merda.Mark Robson fez o que mandou Darryl Zanuck, manda-chuva da Fox. Curioso no DVD atual é o bônus que mostra os bastidores da produção. Conta como os atores se digladiaram. Dá para lembrar as fofocas que a revista Cinelândia imprimia nos idos de 60.  Sabe-se que a infortunada Sharon Tate, afinal a mulher de Roman Polanki assassinada perto de parir, era a mais comportada do elenco.

               Quem gosta de cinema curte curiosidades em torno da indústria. Claro que tudo é arte. Besteira quando, no filme ora reapresentado, se fala em “filme artístico”. Mas assim é que se dividiam os programas: sessão para se pensar, sessão para se esquecer(e se dizia esquecer s problemas do cotidiano). Um tempo.

domingo, 4 de outubro de 2015

Perdido em Marte


               Em “Robinson Crusoe em Marte” o roteirista Ib Melchior fez uma adaptação da historia de Daniel Defoe arranjando até um Sexta Feira para acompanhar o astronauta perdido no planeta vermelho. Hoje é o livro de Andy Weir, “The Martian”, quem dá o gancho para a odisseia do terrestre deixado em Marte pelos colegas de expedição terrestre que pensam na sua morte devido a um acidente. Ridley Scott dirige o filme aqui chamado “Perdido em Marte” usando um deserto da Jordânia e estúdios húngaros (claro que com CGI de Hollywood). Não há companhia para o novo Crusoé. Mas ele não chega a conversar com  objetos como a bola de vôlei que o personagem de Tom Hanks usou em “Naufrago”(Cast Away),o filme de Robert Zemeckis. Evidentemente seria um saco se ele permanecesse mudo por duas horas e meia de projeção. Mas não só ele fala o que faz como há comunicação com a Terra. E a rapidez dessa comunicação é uma das muitas licenças ficcionais no trabalho que pretende ser “o mais cientifico possível”(a outra mancada é som no espaço. Só Kubrick em “2001” mostrou um espaço real onde o som não se propaga).

Mas o esforço do ator Matt Damon vale um programa divertido. Engraçado é que a barba dele só cresce nos últimos dias marcianos (e ele diz que se barbeou poucas vezes). Bem, há uma curiosa horta com adubo de fezes do próprio astronauta e cabe aí uma piada critica:”plantou batatas na merda”. Correto.

Outra curiosidade:os chineses ajudam no combustível da nave que irá resgatar o “marciano”. A rapidez com que isso ocorre é como se Marte fosse ali na esquina ou que as naves ganhassem quase a velocidade da luz.

Ridley Scott se dá bem na ficção-cientifica. Seus “Blade Runner” e “Alien” marcaram época e geraram sequencias. Este “Perdido em Marte” com certeza vai ganhar uma. Há uma conversa do “perdido e achado” com candidatos a astronautas como quem diz: “-Voltem lá que eu e o Scott ajudamos”. Dólares os esperam e a prova é que na sua primeira semana nos cinemas norte-americanos o filme chegou a US$50 milhões. No computo mundial deve ter pago os 120 do custo. Não falo de Belém, pois o lançamento aqui foi ridículo: maioria das sessões só à noite e dubladas.

Quem gosta de sci-fi, como eu, não perde. Arrisquei uma terrível versão com falas em português. Mas não me arrependi. Pelo menos não há ets vilões sediados em Marte para invadir a Terra...