terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O Pior é o Nome

“Millenium” trilogia de Stieg Larsson, ganhou por aqui o subtítulo “Os Homens que não amavam as mulheres”. OK, pai e filho especializaram-se em matar garotas com nomes bíblicos. Explicação: o velho era nazista convicto e o filho herdou a tara. Mas daí achar que os caretas só não amavam as mulheres é o mesmo que dizer, como se disse a propósito de uma comédia de Lubitsch ,“O Diabo Disse Não”(deu até marchinha de carnaval). Pronunciando o nome do filme contava-se o final.
“Millenium” ganhou uma versão sueca muito divertida. Agora chega pelo americano David Fincher . Vai além do que o filme sueco mostrou. Deixa perto de 15 minutos finais para contar uma tramóia que envolve indústria e banco norte-americano. No caso não é mais família pirada ou remanescentes ideológicos do “fueher”:é sacanagem de gente que tem dinheiro e quer ter mais.
Há bons e maus momentos. Os bons contam com a atriz Rooney Mara, candidata ao Oscar. Consegue repetir o que a colega fez no filme anterior. A seqüência em que ela se vinga de seu estuprador é violenta na medida certa para mexer com a adrenalina da platéia. Os ruins vão de coisas dignas dos velhos seriados americanos: o herói está literalmente com a corda no pescoço e a sua ajudante chega na hora para afrouxar a tal corda (e largar porrada no vilão). Aliás, a trama é bem clichê. O que é novo é o tratamento cru, a violência estilizada, a coragem em meter o dedo nas chagas dos bandidos. Claro que isso é um mínimo para o cinema que hoje goza de relativa liberdade de expressão. Mas é bem melhor do que ver um Transformer baixar o pau, ou o aço, em inimigos armados.
Programa bom para quem não tem o que fazer.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O Hoover de Eastwood

Edgar Hoover passou para a aferição de quem está de longe como um sacana que forjava o que fosse preciso para mostrar serviço. O que eu lia sobre cinema nos 50/60 encontrava adjetivos de latrina sobre o manda-chuva do FBI. Mas tinha um problema: nessa época, criticas e até mesmo livros/artigos sobre história do cinema eram manipulados por simpáticos a Moscou. Não vamos longe: “Histoire Du Cinéma” de Georges Sadoul era a bíblia dos que engatinhavam no estudo da falada Sétima Arte. E Sadoul era tão sectário que escrevia o diabo de qualquer filme produzido por gente de direita como Walt Disney . Essa linha ideológica de Edgar Hoover passou para o roteiro que Dustin Lance Black escreveu para o filme de Clint Eastwood. Mas com o cuidado de não cair em sectarismo narrativo, ou seja, puxar o barco para o seu porto. O escritor de “Milk” provou saber dançar o ritmo das biografias e fez o possível para mostrar os lados bons e maus do personagem. Afinal, quem não é bom e mau no correr da vida?
“J.Edgar” lembra em tese o “Cidadão Kane” de Welles. Não é preciso mostrar uma placa dizendo que a entrada é proibida para entrar em detalhes da vida de uma personalidade como o herói não diz palavra-chave ao sucumbir a um enfarte. Hoover foi um Kane muito menor. Em grana e caráter. Ambicioso a partir do incentivo materno quando criança, criou praticamente o Bureau de Investigações que na sua direção passou a ser Federal (ou FBI). Nessa qualidade, deu força à publicidade “natural” de seus esforços, sendo preciso maquilar trabalho para dizer que fez e aconteceu..
O filme tenta seguir a linha de cima do muro. Para tanto despreza a narrativa linear. Joga com o tempo para melhor exprimir atos e fatos. E nem sempre o faz de forma paralela. Seria até didático se mostrasse um Hoover velho contando bazófia e,logo depois do corte, ele fazendo cena para aparecer. Mas não: as mudanças seguem um ritmo. A base é o próprio biografado ditando a história de sua vida para um livro. Recurso que salva algum deslize temático.
Leonardo diCaprio deve ter incentivado a produção. Não é, decididamente, o tipo ideal para retratar o feio Hoover. Mas a maquilagem e a tecnologia hoje fazem um Boris Karloff virar um DiCaprio. É um desafio que o rapaz desejou (deve ter pedido a Eastwood)e que não se pode falar mal de todo. Quilos de cosméticos envelheceram o galã de “Titanic”, projeto que foi ainda mais corajoso do que o que fizeram com Brad Pitt em “Benjamin Botton”. E DiCaprio não se intimidou em beijar na boca Armie Hammer que faz o amante do personagem, Clyde Tolson(por sinal que a maquilagem de Hammer, ao “envelhecer, está mais para os filmes de terror da Hammer).Como gol da produção conta-se ainda, o aspecto plástico conseguido como uma fotografia desgastada, dando ênfase ao passado em foco, e a musica oportuna sem ser preciso buscar o ritmo dos anos dourados de Hoover como as canções de Gershwin ou Cole Porter.
Vi o filme sem consultar meu relógio (prova de que gostei do que vi). Aliás o octogenário Eastwood quase não erra o alvo. Embora ache melhor o anterior “Além da Vida” este “J.Edgar”procede como título de uma filmografia de bom nível e um desafio maior do que o “duo” sobre a guerra na Asia que inclusive deu margem a uma versão japonesa(“Cartas de Iwo Jima”)- com fala e tudo.
Ah sim: o filme não está no Oscar nem ganhou Globo de Ouro. Feriu susceptibili

domingo, 22 de janeiro de 2012

Politicos % Piadas

POLTICOS & PIADAS


A propósito do filme “2 Coelhos” (que mete banditismo e política pelo meio) lembrei das piadas que saiam dos nossos governantes e candidatos a isso nos velhos tempos. Comecei a lembrança com uma resposta ao “Bota o Retrato do Velho”que os artistas dos teatros de variedades cantavam nas apoteoses (isso durante a Festa de Nazaré nos espaços comandados por Felix Roque : Coliseu, Variedades e também Poeira e Moderno).No som da marcha carnavalesca “Pirata da Perna de Pau” cantavam: “Eu sou o Getúlio já fui ditador,/já fui trapaceiro,/já fui roubador./Meti minhas papas no trabalhador,/com o voto dos trouxas sou senador./ Minha galera/meus 15 anos de navegação(*)/trouxe a miséria/o cambio negro/ e a inflação./Se hoje eu sou mãe dos pobres/pai dos ricos em compensação,/ao Borghi (**) eu dei muita roupa/roupa de algodão”.
Quando Eurico Gaspar Dutra era presidente (1945-1950) a anedota corria por conta de sua economia de palavras. Falava pouco. E surgiu daí um fato hilariante: o presidente Truman, dos EUA, mandou um telegrama a ele perguntando se o Brasil entrava na Guerra da Coréia posto que fora aliado dos norte-americanos na guerra européia (a 2ª.Mundial). Dutra respondeu também em telegrama: “Culhão”. Ninguém decifrou a mensagem. Os mais famosos especialistas em Brasil nada entenderam. E surgiu a idéia de levar o telegrama para Carmen Miranda. A nossa “pequena notável” recebeu a resposta de Dutra em sua piscina, na mansão de Beverly Hills e, ao ler, deu gostosa gargalhada explicando o teor: “-Ele quer dizer que ajuda mas não entra”.
Depois do suicídio de Getulio uma professora muito carinhosa insistiu com o aluno sobre o produto mais exportado pelo Brasil. Como o menino não acertava ela ensinou: ”É café, filho”. E o menino respondeu: “-Café Filho não é o presidente?”
Diziam que Janio Quadros, depois de 25/8/1961, botou a vassoura que foi a marca de sua campanha política entre as pernas e decolou. E olhem que naquele tempo Harry Potter não tinha nascido. Mas os eleitores nacionais se sentiram trouxas.
JK ,por viver viajando, era conhecido como Jota Lá.
E para terminar tem aquela historia do presidente Geisel que numa viagem por uma favela carioca viu seu motorista atropelar um cachorro. Imediatamente mandou o funcionário sair do carro e ir a um barraco pedir desculpas pelo fato. O homem chegou à modesta casa e disse assim: “-Eu sou o motorista do presidente; matei o cachorro”.
Foi uma festa. Todo mundo aplaudia e sambava.
Bem, os presidentes seguintes não ficaram imunes à graça popular. Eu coleciono essas tiradas do humor lembrando Oscarito: “o brasileiro não ri da desgraça alheia: ri da própria desgraça.”
(*) Período das ditadura Vargas, o “Estado Novo”.

(**) Hugo Borghi, governador do Rio Grande do Sul ,terra de Getúlio.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Globo de Ouro

O Globo de Ouro é considerado o trailler do Oscar. De sua 69ªedição eu só vi “Meia Noite em Paris” e “Separação” entre os premiados. Votaria, sim, em “Separação”.O filme iraniano analisa o comportamento de uma família presa a preceitos (ou preconceitos)religiosos e quando a bomba explode não se sabe quem acendeu o pavio. De aplaudir de pé.
Não considero o roteiro de “Meia Noite em Paris” um prodígio. É preciso diferenciar roteiro de argumento. O argumento ( a idéia) é muito boa. Mas o roteiro esvazia um pouco o potencial da viagem no tempo de um escritor americano no território francês. É uma narrativa simples de um esboço critico. Nem chega a dizer por que o viajante se depara muito mais com os conterrâneos. E isso já era um gancho de ironia. Mas deixem pra la: no panorama do gênero, atualmente, o jejum de imaginação é crônico. Qualquer espasmo criativo vale aplauso.
Penso que “The Artist” só vai chegar aos nossos cinemas caseiros. Um filme em preto e branco, mudo e com um cachorro de principal interprete é um desafio. E nossos exibidores não estão para desafiar perda de ingressos vendidos. Amarram o burro onde os burros dos donos mandam. E em Belém o curral é mais expressivo. Exemplo é o recente “As Aventuras de Tintim”. Em muitas capitais chegaram cópias em som original com legendas. Aqui só dubladas. No entender dos donos dos cinemas exibidores somos analfabetos.Ele consultam estatísticas que dizem a preferências pelos filmes mutilados no som.
Vi “Tudo Pelo Poder”, um concorrente. Política americana em foco. Muito nacional. Mas bem feito. George Clooney está com pé na bola em globos e certamente Oscar. E espero que aqui chegue “Os Descendentes”, com ele. Já tem cartaz na porta dos Cinépolis. O que não quer dizer muito pois muito se anuncia em vão.
E o absurdo da noite do Globo: “Tintim” ganhar “Rango” em animação. Nãom diferenciaram os processos de filmagem. Tampouco as idéias. “Rango” brincou com o próprio cinema. Um belo desenho que poucos entenderam corretamente.
Agora vamos ao Oscar.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Sherlock Marvel

Sherlock Holmes do século XXI via Guy Ritchie, é uma espécie de James Bond. Quem sabe James Band-Aid. Bom de porrada, não perde tempo usando lupa, analisando como o vilão está agindo. Ou agiu. É um atleta, e só tem do tipo criado por Arthur Conan Doyle aquela tendência homossexual que muitos leitores viram e o escritor nunca se deu ao luxo de confirmar (afinal, Holmes e Watson eram “só” amigos?).
O filme “Sherlock Holmes : O Jogo das Sombras” joga com a idéia de que muito antes do assassinato do arquiduque Francisco Fernando e sua esposa Sofia pelo sérvio Gavrilo Princip querelas entre alemães e ingleses, principalmente, anunciaram que a boa vizinhança se diluía entre as nações bem armadas (o domínio marítimo, por exemplo). No filme o velho inimigo de Holmes, o professor Moriarty, queria guerra. Ia ganhar com isso. E Holmes defendeu os ingleses de graça. Uma licença histórica tão malandra quanto aquela do filme de Billy Wilder (“A Vida Intima de Sherlock Holmes”/The Private Life of Shelock Holmes-1970) em que um submarino do tempo da rainha Vitória era confundido com o Monstro do Lago Ness.
Ritchie e seus roteiristas Karen e Michele Mulroney apostaram na platéia jovem (que paga ingresso) de hoje. Botaram cenas de ação dignas de um blockbosta (haja CGI!...) e para fazer gracinha chegaram a travestir Sherlock, que assim como se preocupava com Moriarty queria separar Watson de sua mulher (recém casados) .Robert Downey Jr é bom ator e faz o que pode do que lhe mandam fazer. Jude Law nada tem do Watson que a gente imagina lendo Doyle. Coerente com um companheiro que nada possui do que o escritor inglês criou, deixa vaga a imagem do melhor SH retratado em tela grande pelo tipo de Basil Rathbone nas “fitas”dos anos 40.
O novo filme é um carnaval, ou um samba de crioulo doido. Metralhadora de imagens, com cortes em planos acima de 10 segundos na tela, briga com Morfeu na rinha do espectador. Eu não dormi. Nem consultei meu relógio. Isto é elogio. Mas a razão desconhece qualidade no que foi escrito. Escapa a métrica do ex-marido de Madonna. Sem apelar para muita CGI ou motion-captured, ele conta uma historia maluca de forma alucinada. Esta coerência faz a gente suportar o programa com certo agrado. Afinal o que a indústria joga no mercado dos (com perdão de JK Rawlins) trouxas.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Coquetel de filmes

No Cinépolis eu pensei que estivesse algum membro da Academia de Letras (daqui ou da nacional). Mas OS IMORTAIS eram outros, justificados numa frase de abertura do filme: “A alma do homem é imortal mas a do justo é glorificada”(mais ou menos assim). Com isso justifica-se a morte de Teseu, o herói que na infância a gente aprende como o herói que lutou no labirinto contra um touro e foi salvo pelo que se passou a conhecer em diversas circunstancias atemporais como “o fio de Ariadne”. Mas quem espera encontrar este personagem da mitologia grega, registrada na memória infanto-juvenil, vai quebrar a cara.O filme é mais um blockbuster, ou bloquebosta que pinça inspiração no Olimpo. Seria justo se Zeus mandasse Thor lançar um raio na cabeça dos realizadores. O tal “raio que os parta”.
Fora das telonas impressionei-me com “Drive”, filme do ano passado que revela (pelo menos para mim)o diretor Nicolas Winding Refn e confirma o talento do ator Ryan Goslin que também vi fazendo o bonito em “Luta Pelo Poder”(de George Clooney). O tema podia ficar numa dessas intrigas policiais digna, hoje, de tele séries como “Law & Order”. Mas foge do comum com uma narrativa coesa e com parêntesis imaginosos que driblam o raciocínio dos espectadores acostumados com assaltos cinematográficos e castigo a la Dostoievsky. É um relato frio de um anti-herói que mata por caridade, ou melhor, por amor de uma viúva mãe de um garotinho (por quem ele se afeiçoa). Se passar por telonas locais não percam.
Também aplaudi em casa “Um Conto Chinês”, o citado “Tudo Pelo Poder”, e ainda “Separação” e “O Garoto da Bicicleta”. Tudo filme nota dez.
E vi um George Pal do mesmo ano de “Destino à Lua” e com o mesmo diretor, Irving Pichel: “Um Conto de Natal”(The Great Rupert/1950). Uma família assume “para pagar depois” um apêndice da casa de um usurário. O dinheiro que ele esconde num rodapé é expulso pelo esquilo que dá nome ao filme. Quem recebe a grana é a turma de penetras. Pensa que as notas caem do céu. Ingenuidade completada com o romance da filha dessa família sem grana (vinda do teatro de variedades) com o filho do pão-duro. Claro que tudo termina bem, mas a simpatia está em toda parte, da narrativa a Jimmy Durante como o patriarca dos beneficiados com o dinheiro “celestial”.
Quando eu era criança admirava o trabalho do húngaro George Pal , especialmente a ficção - cientifica. Ele chegou a ganhar um prêmio no I FestRio chamado “Monólito Negro”(alusão, claro, ao “2001” de Kubrick). Não conhecia este exemplar dos primeiros anos do produtor. Valeu a descoberta. Já não se faz esse tipo de cinema.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Mudança de ano

Sempre quano nasce um ano a gente espera por um cinema melhor. Mesmo arriscando a sentença de Peter Bogdanovich de que “os melhores filmes já foram feitos”. Este ano aqui em Belém tem a festa do centésimo aniversário do Olympia, a casa que me ajudou a ver cinema. Procura-se um filme para comemorar e se pensa em duas mostras ilustrativas: a de títulos que marcaram a história deste cinema e a dos espectadores, ou seja, de quem não esqueceu o que viu na tela que a gente passa por baixo ao entrar na sala.
Nos comerciais apontam muita demonstração de CGI. Espero “J Edgar”de Clint Eastwood como o primeiro candidato a melhor. E espero que chegue coisas que já vi em DVD como “O Menino da Bicicleta” e “Separação”. Mas não me iludo: esses filmes jamais atingirão nossos cinépolis ou movicons. Pode ser que pairem sobre o programa Movicomarte que vai voltar e já anuncia uma semana logo em janeiro.
Da grande fabrica de filmes o anuncio mais interessante é o de “Cavalo de Guerra”de Steven Spielberg, enfim um filme eqüino que não é de turfe. Do mesmo diretor, tido como o Midas da indústria cinematográfica, deve chegar “As Aventuras de Tim Tim” que ele fez antes de saber que o desenhista Hergé era simpático do nazismo.
E na parte extra devem continuar as sessões de todos os espaços(Libero, Estação, IAP, Sesc e Olympia). Não sei da Casa da Linguagem. Também prosseguirão as especiais, como a Cult.É confortante que se tenha ilhas de bom cinema no mar da mesmice.
E é só. Bom ano para todos.