sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O Expresso do Amanhã


               “O Expresso do Amanhã” mostra um trem como uma espécie de “Arca de Noé” onde seres humanos viajam em vagões destinados, separadamente, a ricos e pobres. Eles sobrevivem em um mundo caótico gerado depois de uma experiência cientifica que deu margem a uma nova Era do Gelo. Os ricos tomam conta dos espaços mais próximos da locomotiva. Os pobres ficam nos últimos. E o caminho gelado entre abismos demonstra o perigo iminente que a velocidade do trem tenta ocultar, seguindo a metáfora de que um ambiente onde há luta de classes está sujeito ao caos.

               O filme do sul-coreano Joon-ho Bong se molda na violência estampada entre os que não se conformam em ocupar um espaço asqueroso comendo pastilhas de carne e os que vivem nababescamente em outro polo do expresso.

               Muita violência ocupa a maior parte da projeção. E o diretor gosta de mostrar uma violência estilizada, tentando com isso cativar a impressão de que a heterogeneidade de classe é o estopim do inconformismo –ou o mal maior.

               O conjunto arquitetônico da realização impressiona. Mas a dicotomia esconde os pretensos rastros de originalidade. No todo o filme é um replay de sci-fi futurista & apocalíptica, longe de espasmos criativos como o que Pierre Boule viu em “O Planeta dos Macacos”.

               Ver na tela grande em copia dublada é espalhar o ódio pela mesmice em foco. Melhor fazer download ou aguardar o DVD & Bluray.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Cinema Espanhol


               A mostra de filmes espanhóis programada para Belém neste setembro de 2015 tem pelo menos um titulo que me pareceu excelente: “Viver é fácil com os olhos fechados “de David Trueba.

               É uma road-movie, com um professor de inglês dirigindo seu carro de Madrid a Alméria para ver o beatle John Lennon que está filmando ali “Como Ganhei a Guerra”(How I Win the War/1967) de Richard Lester. No caminho encontra uma jovem gravida de 3 meses qe anda sem rumo e um rapaz que fugiu de casa (o pai é um policial) porque seu genitor queria que ele cortasse o cabelo (e na época cabelo grande era marca registrada de uma juventude).

               Os 3 tipos carregam seus problemas mas o professor, interpretado por Javier Camara (de “Fale com Ela”um dos melhores filmes de Almodóvar) , expande alegria, e com extrema bondade compreende seus jovens caronas.

               Hoje são poucos os filmes que realçam ideais e perseguem bons momentos. O fato de colocar Lennon como a chave de um ideal, simbolizando o amor à vida, é salutar e o ator deixa a necessária impressão de que as coisas, por mais dramáticas que pareçam, podem melhorar.

               David Trueba é o irmão mais novo de Fernando Trueba, veterano que fez, entre os títulos que chegaram aqui,”Toque de Mestre” e “A Dançarina e o Ladrão”.

               Para mim é o melhor titulo da mostra hispana, sem tirar valor de “Stokolm” e o experimental “Pessoas e Lugares”.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Além da Imaginação


               A nova coleção de DVDs da série “Além da Imaginação”(Twilight Zone/1961) remete a que se leia sobre o autor deste programa: Rod Serling. Multicondecorado por sua atuação na 2ª.Guerra Mundial, escreveu  para a TV e cinema. É dele uma frase lapidar: “If you need drugs to be a good writer, you're not a good writer”(Se você precisa de drogas para ser um bom escritor,você não é um bom escritor).

               Eu acompanhei a série de Serling na pioneira TV Marajoara. Doido por ficção-cientifica achava nos episódios mais do que historias imaginosas. Muitas, é de  se notar, resvalavam na “moral” que o autor colocava como os fabulistas do tempo de Esopo. Mas ele dava um jeito de proceder as falas. No pacote que agora pode ser adquirido (a 3ª temporada), há perolas como  a do velhinho no asilo que descobre a juventude na concepção cerebral e passa, ao brincar de chutar latas vazias, a se transformar em garotinho assim como seus colegas de internato. E desmitificações como o ator que fazia mocinho de faroeste e se vê num plano real onde se evidenciava a sua prepotência de interprete medíocre.

               Serling morreu aos 50 anos quando enfartou cortando a grama de seu jardim. Há precisamente 40 anos. Ganhou muitas homenagens post-mortem. No cinema escreveu roteiros excelentes como o de “Réquiem por um Lutador” e “Historia de um Egoísta”.

               Quem não conhece “Além da Imaginação” vai conhecer vendo o que se está reapresentando em copias remasterizadas, também o autor, que apresenta os episódios. Mais: quando Steven Spielberg, John Landis, George Miller e Joe Dante levaram o tema para a tela grande (filme “No Limite da Realidade”19830) o nome da professora primária de Rod, Helen Foley,foi usado como homenagem.

               A coleção ora nas lojas tem 5 discos com 8 episódios em cada disco. Senhor presente.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Estrelas da Tela


               Meu tio Vavá(Osvaldo Direito) era fã de artistas de cinema. Sua afeição por Douglas Fairbanks levou-o a registrar meu irmão, ao nascer, como José Maria Douglas Direito Alvares. E não disse nada a ninguém. No tempo de alistamento militar esse Douglas deu trabalho para ser apagado. Também gostava do Ramon Novarro. E evidentemente, como machista, não sabia que Ramon era homossexual. Numa foto escreveu atrás: “-Não é o Ramon Novarro, é o Doreito”.

               Lembrei-me dele quando vi, agora, “O Ladrão de Bagdad” de Raoul Walsh(1920) com Douglas. Inferior à versão inglesa de 1941 por Alexander e Zoltan Korda mesmo assim espanta ao se ver efeitos especiais que se pensa mais novos. O filme vai voltar ao cinema Olympia, onde estreou na sua época, fazendo agora a Sessão com Musica do Paulo Melo. Será no dia 8 de setembro.

               No tempo da chamada “cena muda” começou o star-system, ou um modo de comercializar cinema através dos atores. Valentino, Pola Negri,muitos de Hollywood levavam pessoas desta Amazônia às salas exibidoras de “fitas”. Rever isso aí é estudar história.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Quadrinhos


               Fui quadrinhista assiduo quando o melhor vinha da King Features Syndicate e se publicava nas revistas Suplemento Juvenil, Gibi, Globo Juvenil e Lobinho. Aprendi a ler devorando historias do Mandrake. Mas o que eu gostava mesmo era do Brick Bradford, do Brucutu e do Ferdinando(L’il Abner). Havia imaginação nas tramas, e eu lembro de uma historia do Brick (que no Gibi era Dick James)em que ele e amigos viajavam para o interior de uma moeda de cobre e cada eletro de um átomo era um planeta a girar em torno do núcleo. William Jerry e Clarence Gray, autores dos “comics” mostravam isso quando se achava o máximo o modelo atômico de Rutherford. E Al Capp brincava com o feminismo mostrando o  Dia de Maria Cebola quando as mulheres de Brejo Seco caçavam os homens. Por sinal que Capp tinha uma obra-prima que era um dia em que o sol não apareceu non horizonte, e outra em que o governo americano descobriu que Brejo Seco não era do país. Isto porque uma carta de George Washington aceitando essa terra não foi entregue pelo preguiçoso carteiro local.

               Hoje os quadrinhos repousam nos super-herois. Mas nos 40 já se lia Super Homem (Superman) e Homem Morcego(Batman). Nessa época Stan Lee começava. E agora a sua Marvel domina. Pior é que o cinema que antes buscava nas HQ seus seriados artesanais hoje gasta milhões em filmes que apenas exibem efeitos de CGI. A imaginação parece que saiu dos grandes estúdios de Hollywood. Pouca gente bola argumentos criativos.