segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Gonzagas, O Filme

Nos meus verdes anos eu era colecionador de discos (aqueles de cera). E a maioria era da nossa musica popular. Foi o tempo em que se lançou “Baião” de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira com interpretação de Luiz. O depois deputado Raimundo Noleto, que morava em minha casa, achava, vaidoso, que a letra mencionava a sua cidade natal, Xerente (Go). Não deu para contestar, mas o disco fez sucesso. E o que Luiz gravou a seguir também. Lembro-me de “Qui Nem Jiló” com saudade de um tempo em que sanfona, digo acordeom, era moda. No Mosqueiro, onde minha família se refugiava nos períodos de férias, as moças amigas de meus pais tocavam isso. Eram as “gonzaguinhas”, quando, na verdade, já seguiam Mário Mascarenhas, aquele que apareceu tocando sobre uma carroça no último filme de Humberto Mauro “O Canto da Saudade”(a música era “O Canto do Pagé” de Villa-Lobos). O mundo musical de Lua (Luiz Gonzaga) surge no filme “Gonzaga: De Pai Pra Filho” escrito e dirigido por Breno Silveira. Vi contendo a emoção. Mas rendi meu senso critico no final quando surgiu, acompanhando os créditos, “O Que é O Que é” de Gonzaguinha. Ali está a síntese do drama que rolou entre pai e filho. Mas o filme cobre a infância do pai, dá conta do agreste, consegue a cor nordestina, e mesmo fazendo locações turísticas no Rio(o Pão de Açúcar em segundo plano para efeito de exportação), deixa a ideia de como foi sacrificada a vida do compositor& instrumentista & cantor. O drama real passa na rapidez da linguagem direta como um (bom) melô. A vida é assim mesmo e o filho do sanfoneiro diz bem que ela “podia ser melhor e será, mas é bonita, é bonita e é bonita”. Daí um quase fecho apoteótico com o show dos dois músicos se reconciliando no tom e no abraço. Antes, o primeiro abraço deixa o sol no fundo. Recursos velhos de linguagem que ainda fazem efeito. Ninguém deixa de fazer cinema do tempo da “cena muda” por vergonha de ser “demodée”. Gosto desta opção do Bruno Silveira. Nos filmes dele “não há vergonha de ser feliz”(ainda a canção do Gonzaguinha). E até por isso o filme não chega às mortes dos personagens, tão próximas uma da outra. Gostei do que vi. Cheguei a conter as lágrimas incitadas pelo encadeamento dos fatos. E os atores foram tão parecidos com os tipos vividos (especialmente Julio Andrade no Gonzaguinha adulto) que espantou. Espero que o publico prestigie o filme. Já chega de lotar cinema só com neopornochanchadas.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Hollyood Contra Hitler

A Versatil Home Video lançou um pacote de DVDs com o nome ‘Hollywood Contra Hitler”. São 6 filmes rodados pouco antes e durante a 2ª.Guerra Mundial. São eles: “Confissões de um Espião Nazista”(1939) de Antaloe Litvak, “Uma Aventura em Paris”(1942) de Jules Dassin, “Tempestade D Alma”(1940) de Frank Bozarge, “Horas de Tormenta”(1943) de Herman Shumin, “A Sétima Cruz”(1944) de Fred Zinnemann e “Os Filhos de Hitler”(1943) de Edward Dmityrk. Do grupo eu só não gostei do que eu não conhecia: “Os Filhos de Hitler”. Mas todos merecem aplausos. E emocionam hoje como ontem. “Tempestade D’Alma” e “A Sétima Cruz” são cruciais na demonstração do terror de uma ditadura. O primeiro focaliza a família de um pacato professor (Frank Morgan) que não vê, a principio, ameaça na eleição de Hitler para Primeiro Ministro. O quadro político vai se firmando no fanatismo gerado por uma xenofobia só explicada na ânsia dos alemães em superar a crise econômica pós-Primeira Guerra e na lenda de Sigfried onde se prega a supremacia racial (como se os jovens alemães pensasse, que eram como dizia Hitler, um povo superior por determinação eugênica). O professor é preso e morre. A filha é seguida pela história na sua fuga do país. Mas o filme não pousa no romantismo de Hollywood. É cruel. Como cruel é o drama do fugitivo de um campo de concentração que sempre espera favor dos amigos e encontra uma aventura amarga – mesmo antes do furor nazista. Filmes bem realizados, com ótimos atores e o cuidado de produção que cercava a velha Hollywood onde ao invés de locações se lavava o mundo para dentro dos sets. De parabéns a distribuidora pelo lançamento.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Melodramas

Volta ao Olympia “Sublime Tentação” (Versão de Douglas Sirk com Rock Hudson e Jane Wyman). Eu me lembro de quando fui exibir um filme em cópias de 16mm no Colégio Santa Rosa por volta de 1958. Fui para ver a minha namorada, Luzia, aluna do internato. Levei comigo Orlando Costa, então dirigente do Cine Clube “Os Espectadores” e o filme “Amanhã Será Tarde Demais”de Luciano Emmer, premiado em festivais. Dezenas de jovens aplaudiram Pier Angeli fugir com o namorado. Mas o interessante foi um debate após a projeção. Perguntei qual o filme que elas preferiam dentre os recentes estreados nos cinemas comerciais. Foi um coro: ”Sublime Obsessão”. O ator que elas admiravam: Rock Hudson(não sabiam que o ator, por sinal um notório canastrão, era homossexual). Um escândalo para os cinéfilos projecionistas. Na época o filme do diretor Douglas Sirk era considerado de tremendo mediocre. Hoje é elogiado desde que um francês adepto da “nouvelle vague” escreveu amável citica na revista “Cahiers du Cinéma”. Mas a explicação para a preferência foi puro extrato de romantismo. Ou de uma sexualidade fechada forte nos preceitos religiosos que faziam o roteiro de casa e colégio. Rever os melodramas antigos é muito interessante se a gente pensar na plateia que movia esse lado da indústria cinematográfica. As meninas da classe média aplaudiam o que saía de Hollywood. As menos favorecidas ficavam com os mexicanos que seguiram o clássico “Pecadora”(1948). Mas qualquer garota gostava de bolero. E os boleros traduziam o potencial romântico de cada uma. No festival de agora há um titulo que marcou a historia do próprio Olympia:”Amar foi minha Ruína”. Quando este filme estreou as cópias que chegavam à Belém eram quase sempre deterioradas e as interrupções de projeções eram constantes. Os vereadores que estreavam uma câmara ausente no tempo da ditadura Estado Novo queriam fechar o cinema se continuassem os intervalos. Eles não entendiam que a culpa era das cópias. Nesse tempo o “seu Chico”, revisor da empresa proprietária do casa exibidora, fez trabalho de relojoeiro na cópia que chegou do nordeste caindo aos pedaços. Conseguiu que passasse sem acenderem as luzes no meio da sessão. Vitória. O filme é um dos raros melodramas sem “happy end”. Gene Tierney faz uma vilã pouco imitada e ficou celebre a sequencia em que se joga de uma escada, grávida, para perder o filho do odiado marido (Cornel Wilde). O melodrama fazia as espectadoras chorarem. Esta resposta emotiva deu até samba.Nossa resposta aos boleros de Augustin Lara e seguidores. Um programa coerente na festa do centenário do nosso Olympia.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Programas

NA FRENTE DAS TELAS “A Entidade”(Fearless) ouve cantar o galo. Tudo o que se passa com o escritor que em busca de ambiente para um livro de sucesso defronta-se com uma lenda macabra é ligado a cinema. Ele vê em filmes Super 8 os mortos e desaparecidos. Uma caixa com esses filmes é o convite para o personagem adentrar no mundo de horror. E ele acaba virtualmente dentro de um desses filmes. Infelizmente o diretor Scott Derrickson rende-se a formula do susto fácil. É o tipo do programa pra ver com a namorada. Cada objeto despencando é um ruído que assusta. E as meninas procuram os braços dos acompanhantes. Medo & amasso fazem a festa. Chance de cinema inventivo desaparece nas sombras das muitas noites da história. E poucos filmes exibem tantas noites... “Os Infratores”(Lawless) lembra os filmes de gangster onde James Cagney reinou. A família de fabricantes de uísque na época da Lei Seca(anos 30) existiu mesmo e o roteiro vem de um livro do neto de um dos traficantes. O público é convidado a torcer pelos bandidos. Aliás, a trama se divide no confronto entre mais e menos bandidos. Fosse aqui teríamos o “uiscão”(posto que temos o mensalão). Mas os 3 irmãos que saciam os bêbados americanos do governo Roosevelt não são parentes de Bonny e Clayde e por isso não morrem no fim do filme. Ao contrário: terminam bem com mulheres e filhos em cenários aprazíveis. Um trabalho de reconstituição de época acima da média, uma boa direção (John Hiklcoat) e atores competentes tiram o resultado da vala comum. “Fausto” de Sokurov é criativo, puxa pela arquitetura dos fotogramas mas é chato. A lenda que serviu ao melhor de Goethe passa na linguagem de cágado do diretor de “A Arca Russa”. Perdoem-me os críticos “profissionais” (eu nunca me considerei assim - nem amador) mas cinema,para mim, é movimento, é filho da Cinemática. Sokurov assim como Tarkovsky,seu ícone, fazem (faziam no caso do último)filmes extremamente contemplativos, lentos, recheados de detalhes que desviam o interesse do espectador. Engraçado é que o canadense David Cronemberg embarcou nessa canoa. Seu “Cosmopolis”(não creio que chegue a estrear por aqui) divaga através de um milionário dentro de sua limusine. Ele quer ir ao barbeiro mas até chegar esbanja filosofadas que lembram aqueles preceitos soviéticos de evidenciar desigualdades sociais. Curioso é ver Robert Pattinson, o vampiro da série “Crepúsculo” no papel “sério” ou de “filme de arte”. Há momentos em que a gente pede que ele volte a cheirar o pescoço da coleguinha Kristen Stewart. Detesto filme chato. Antes eu ainda aturava, pois achava que cinema também era passível de dissertações intelectuais capazes de torrar neurônios. Felizmente me vacinei disso. Meus melhores filmes deste ano começam com “O Artista”, “A Invenção de Hugo Cabret” e “Os Intocáveis”. Os dois primeiros tratam do próprio cinema. Cinema como eu conheci e me fez espectador assiduo.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Busca Rentável

No primeiro “Busca Implacável” a filha do agente americano era sequestrada por árabes terroristas (?) e o pai dela matava todos os sequestrados para libertar a garota. O filme deu dinheiro e Luc Besson, cineasta francês que começou fazendo “filme de arte”, achou que uma sequencia também daria . Fez este “Busca Implacável 2” onde pai e filha lutam para libertar a mulher/mãe sequestrada pelo pai dos primeiros sequestradores, agora desejoso de vingar a morte dos filhos na primeira aventura. É isso: o filme de hoje, com direção de Olivier Megaton no lugar de Pierre Morel (da primeira busca),é apenas uma troca de lugares, ou “a volta dos que não foram”. Resultado pratico: no fim de semana passada deu US$49.5 milhões nas bilheterias dos cinemas norte-americanos (custou apenas 80 mil). Liam Neeson é pau pra toda obra e assim como fez aquela lista (de Schindler)e esteve entre os sobreviventes de um desastre aéreo em “A Perseguição”, dá conta do recado. Imune às balas dos antagonistas, bom de soco no confronto com um atleta árabe, pula telhados ao lado da filha, ostenta apenas uma cicatriz na cara, e sorri no fim quando a moça reapresenta seu namorado, antes indesejado por ele. Ah sim: Neeson volta às boas com a mulher de quem estava separado. Moral da coisa: remédio para divorcio é sequestro de um dos conjugues. O pior de tudo é que a coisa diverte. Prudentemente curta(pouco mais de 90 minutos)não me fez consultar o relógio. A montagem acelerada caça a chatice. Por sinal que o diretor montou nas costas do editor. Bem dizia Kubrick: a edição é a arma especifica do cinema (só ele tem este recurso criador). E penso na minha ignorância nesse quesito da produção. Em meus vídeos de hoje peço penico para netas editoras. E espero sentado que elas falam uniam de pedacinhos de imagens roubadas daqui e dali...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Tarzan

Não esqueço uma vez em que fui ao escritório da Aerovias Brasil buscar um filme 16mm com o programador da empresa Paramazon, o já idoso Gurjão (parente distante do general).Ele reclamou o desvio da encomenda argumentando: “-É uma fita de Tarzan, uma fita caríssima....” Eu ri porque sabia que os filmes desse herói criado por Edgar Rice Burroughs eram baratos, feitos em selva de estúdio com bichos emprestados de documentários e a macaquinha que em alguns exemplares era macaquinho. Mas tudo bem: “fita” de Tarzan era lucro certo para o distribuidor & exibidor. Eu curti as “fitas caríssimas” no velho cinema Moderno, ou no Iracema (ambos no Largo de Nazaré). Johnny Weissmuller falava fino e tudo bem, pois pouco falava. Maureen O’Sullivan, que seria mãe de Mia Farrow, era Jane, a companheira que a censura da época permitia não ser casada. Depois passou o útero para Brenda Joyce. E tinha o filho adotivo do casal, o “Boy”(Johnny Sheffield), que depois fez filme sozinho como Bomba (e era mesmo uma bomba). A gente, e eu digo a tropa da minha idade, comprava gibi na porta do cinema e ia torcer pelo “homem macaco” macaqueando nas poltronas sem estofo. O Moderno tinha duas classes (cada uma com um preço de ingresso) divididas por uma tabua sendo a segunda com bancos no lugar das poltronas que representavam o “luxo”da primeira. Foi quando eu vi/ouvi, antes de saber de Marx(o Karl não o Grouxo) uma “luta de classes”. Jogava-se papel amassado e até pedrinhas de uma para outra. Na tela, Tarzan gritava para Tantor (o elefante) salvar quem torcia no seu time ecológico das garras de caçadores malvados. O final feliz era festejado no plano de Cheeta fazendo gracinha com a sua dentadura impecável. Uma festa. Hoje se comemora o centenário do herói de tantas gerações. Burroughs nunca foi à África, começou escrevendo ficção cientifica, e descobriu a mina num espasmo criador pensando em Rômulo & Remo e naquele moleque que Truffaut filmou em “L’Enfant Sauvage”. Ficou rico. Pudera, até na selva amazônica se jurava o mato de Tarzan.Lá pras bandas do Quênia devia ser a mesma coisa. Sem ir ao cenário descrito, o jornalista norte-americano caçou a fera. E marcou gerações. Os moleques tufavam o peito e se diziam tarzans. Eu nunca fui isso (sempre exibi meus ossos), mas gostava dos filmes e livros desse herói. E uma das piadas que mais acho graça é aquela de Tarzan jogando pingue-pongue e pedindo a macaca sua amiga para buscar a bola caída no chão próximo. Quando Cheeta voltava estava um trapo. Toda quebrada. Tarzan, com a fala econômica, aconselhava firme: “- Cheeta, Tarzan disse bola de pingue-pongue não de King Kong”. No também centenário Olympia vai acontecer um programa dedicado a Tarzan. São 6 filmes a serem exibidos na base de um por dia. Todos da fase da Metro (anos 30/40)com Johnny Weissmuller(depois tudo passou para a RKO). Acompanhem (os).