sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Roda Gigante

Em 1940 Carlos Galhardo gravou a valsa de Joe Zimbres e Alberto Paz “Roda Gigante’. Falava das constantes voltas da vida, aonde “vai um amor, vem outro amor, a roda não pode parar...”
Woody Allen não deve ter ouvido a musica brasileira, mas o seu filme “Roda Gigante” cabe bem como uma ilustração da letra da antiga musica, tratando de um casal em Coney Island, o marido operando um carrossel, a mulher em segunda núpcia tentando esquecer um passado ruim, a filha que chega perseguida pelo marido mafioso, e um guarda-vidas na praia que serve de corifeu contando quem é quem e o que acontece.
Salientam-se em principio dois elementos: o trabalho dos atores, todos exemplares, e a fotografia do mestre Vittorio Storaro, realçando até mesmo closes com a mudança de cor enfatizando o que se passa com cada um.
Mas é uma narrativa dinâmica que leva o espectador a se emocionar com o relato dramático das personagens, todas sofridas, detalhando a mulher de 40 anos que passa a se relacionar com o guarda muito mais novo e que fica ciumenta quando a enteada vem a gostar do rapaz (e ser correspondida). O papel da a Kate Winslet o seu melhor momento no cinema. O final com um plano bem próximo de seu rosto denotando sofrimento, sabendo que tem de aturar o marido rude (excelente papel para Jim Belushi)e jamais sair do abominado emprego em uma lanchonete e as caricias que alguém que não ama (perdendo o novo amor) é antológico.
O filme é mais um triunfo de Allen, cada vez mais longe do comediante dos primeiros tempos, agora seguindo historias de pessoas sofridas na linha de “Blue Jasmine” e do seu clássico “Match Point”(2005). Impossível ver o filme e ao menos consultar o relógio de pulso. Tudo é muito ágil e nada é gratuito nos preciosos enquadramentos e exemplares movimentos de câmera. Para se ter uma ideia do quanto Storaro consegue basta ver no close de Kate como as cores passam para um vermelho rápido e os detalhes salientam rugas da personagem. Há também dois ganchos metafóricos: o garoto, filho de Ginny(Kate) tem mania de incendiário , exibindo isso em qualquer lugar e terminando na praia. Outro gancho é o próprio carrossel,e,a roda do titulo que se vê ao longe. Como cantou Galhardo “vai-se uma dor, começa outra dor, a roda não pode parar. Ama-se alguém despreza-se alguém, contrastes que fazem lembrar que a nossa vida é uma roda gigante que está sempre a rodar...”

Desde agora um de meus melhores filmes do ano.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Phoenix



                “Phoenix”(a estrear no cinema Olympia) pega a mitologia grega para tratar de uma sobrevivente de um campo de extermínio na época do nazismo alemão, analisando como ela ressurge das cinzas num cenário quase linear,evidenciando o poder da força de vontade.
                Começa o filme vendo-se Nelly (Nin Hoss) numa cama de hospital em Berlim de 1946 com rosto encoberto por bandagens denunciando um corpo queimado sabendo-se apenas que veio de um espaço de torturas do período da 2ª.guerra. A pessoa que cuida dela depois de varias cirurgias subvencionadas por uma entidade judia protetora dos que escaparam dos nazistas, tenta mudar seu estado de espirito, dando-lhe força para superar a imagem que ficou da tragédia. E quando Nelly se recupera ela sai em busca do marido que não vê desde antes de ir para o campo de concentração. Quando acha o personagem ele não a reconhece. O quadro é dramático e é preciso muitos amigos para levantar a moral da mulher.
                O filme dirigido por Christian Petzolt não é daqueles que sucumbe ao formalismo dos festivais. Tratado de forma tradicional consegue emocionar a plateia apesar de não se aprofundar muito no drama dos principais figurantes (especialmente do relacionamento do casal antes do quadro que se vê como atual). Evidencia-se sobremodo o trabalho da veterana Nina Hoss, tentando ir além do esquematismo que o roteiro legou à sua personagem.Nina tem 31 filmes e 17 prêmios no currículo dentre eles “Barbara” e “As Donas da Noite”. Petzolt tem 15 filmes e 30 prêmios (dele “Barbara”). Uma senhora dupla que hoje figura entre os artistas mais expressivos do cinema alemão.
                Procurem ver o filme.




sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Melhores do cinema 2017-Minha Lista

1-Manchester a Beira Mar (Manchester by the Sea) de Kenneth Lonergan
2-  Afterimage- de Andrzej Wajda
3- Dunkirk – de Christopher Nolan
4-Vida (Life)– de Daniel Espinosa
5-Elle – de Paul Vehoeven
6-Mãe (Mother) de Darren Aranoviky
7-Corra (Get Out) de Jordan Peele
8-Bingo – de
9- Frantz- de Ozon
10- Moonlight- de Barry Jenkins

Diretor- Christopher Nolan (Dunkirk)
Ator- Casey Affleck (Manchester…)
Atriz- Jennifer Lawrence (Mãe)
Roteiro original- Kenneth Lonergan (Manchester)
Roteiro adaptado- François Ozon do filme de Ernst Lubitch (Franz)


Efeitos Especiais- Blade Runner 2049
Fotografia- Hoyte Van Hoytema(Dunkirk)
Montagem-Lee Smith (Dunkirk)
Coadjuvante masculino- Lucas Hedge (Manchester)
Coadjuvante feminino- Octavia Spencer ( Estrelas além do tempo)








Melhores de 2017 ACCPA


1) "Paterson" (66 pontos)
2) "Dunkirk" (53 pontos)
3) "Corra!" (40 pontos)
4) "Eu, Daniel Blake" e "Blade Runner 2049" (34 pontos)
6) "Afterimage" (32 pontos)
7) "Frantz" (31 pontos)
8) "De Canção em Canção" (27 pontos)
9) "Manchester à Beira Mar" e "Elle" (25 pontos)


Melhor diretor: Jim Jarmush (Paterson) e Terrence Malick (De Canção em Canção)
Melhor ator: Casey Afleck (Manchester à Beira Mar)
Melhor atriz: Isabelle Huppert (Elle)
Melhor ator coadjuvante: Lucas Hedje (Manchester à Beira Mar)
Melhor atriz coadjuvante: Melhor atriz coadjuvante: Octavia Spencer (Estrelas além do Tempo), Michelle Pfeiffer (Mãe) e Berenice Bejo (Belos Sonhos).
Melhor direção de arte: "A Criada".
Melhor montagem: "Dunkirk".
Melhor fotografia: "Blade Runner 2049".
Melhor Roteiro Original: "Paterson", "Fragmentado" e "Manchester à Beira Mar".
Melhor Roteiro Adaptado: "Frantz".
Melhor Trilha Sonora: "La La Land"
Melhor Canção Original: "City of Stars" e "Mia and Sebastian" (La La Land).
Melhor figurino: "A Criada".
Melhor animação: "A Tartaruga Vermelha".
Melhor documentário: "Eu não sou seu Negro".
Melhor Efeitos Especiais: "Blade Runner 2049".
Menções especiais: I Mostra de Filmes Etnográficos, programação do Cine Líbero Luxardo e homenagem póstuma para Francis Vale e Antonio Munhoz;

sábado, 16 de dezembro de 2017

Carlitos

 Nunca vou esquecer a sessão do Cine Clube APCC na noite de 25/12/77 quando se soube da morte de Chaplin e se exibiu “Carlitos O Genial Vagabundo”. No final, com o mestre do cinema caminhando com a esposa Oona em seu jardim a plateia em lagrimas aplaudiu de pé. Hoje há chance de se rever este belo documentário de Richard Patterson. É uma comovente e perene homenagem ao grande artista que foi o criador de Carlitos. Há trechos de seus melhores filmes e a voz dele narrando sua odisseia diante das câmeras. Um verdadeiro clássico.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Duas Familias

                Um menino nasce com uma deformação facial resistente às cirurgias reparadoras. Na idade escolar é alvo de bullyng. É preciso tempo e apoio de pais e professores para que o pequeno que prefere usar mascara de astronauta ganhe autoestima.
                O filme “Extraordinário”(Wonder) é bem realizado e salienta-se no desempenho de Stephen Chibosky o interprete quase vencedor de Oscar por “O Quarto de Jack”.
                Pena que o roteiro de diretor Stephen Chbosky com base no best-seller de R. J. Palacio, prefira ficar na superfície da trama e encerrar a narrativa com “açúcar e afeto”.
                No mesmo dia em que vi “Extraordinário” vi pela Netflix o drama bósnio “Uma Familia Feliz”(Happy Family/ Chemi Bednieri Ojaki). Ali o quadro é o inverso. Mulher com mais de 30 anos, há muito casada, resolve alugar um pequeno apartamento e com isso fugir de sua vida familiar sufocada pela mãe autoritária e o marido inerte (e que depois ela sabe ser infiel).O quadro é dramático e sem um reverso de valores. Tudo é tratado numa linha realista e com uma edição que impulsiona a métrica de uma rotina.

                               Duas famílias em dois filmes muito diferentes entre si. E não se diga que é devido ao desenho cultural de cada país onde se passam as historias. O tratamento dos tipos e situações é que diferem entre a fantasia romântica e a realidade dura. Por isso, a plateia ocidental deve preferir “Extraordinario”. No cinema senti a aprovação popular com espectadores respondendo com risos certas situações. Se fosse o filme bósnio talvez nem chorassem, apenas repudiariam a exposição de um drama cruel.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Agatha Christie no Cinema

 Agatha Christie em sua autobiografia trata do fato de ter ficado presa no Expresso Oriente quando o trem se deteve numa tempestade de neve. Ela tinha ido visitar o marido que estava numa escavação arqueológica em Nínive(o expresso fazia o longo percurso de Istambul a Paris). Aproveitando o tempo, escreveu a historia que deu origem ao romance “Assassinato no Expresso Oriente” inspirada não só num assassinato acontecido num dos vagões como no sequestro e morte do filho criança de Charles Lindbergh, o pioneiro da aviação, fato que comoveu o mundo ainda mais quando a empregada tida como a autora do crime havia se matado e também um outro suspeito já que a primeira pessoa havia sido considerada inocente depois de morta.
            O livro de Agatha deu dois filmes caros de Hollywood, um dirigido por Sidney Lumet em 1974 outro agora, em 2017 por Kenneth Branagh.  Revi o primeiro e vi o segundo. As deduções do detetive Hercule Poirot (no primeiro filme interpretado por Albert Finney e no segundo por Branagh) são apressadas para não dizer absurdas. E os filmes trocam a ação pela metralhadora de falas quando Poirot vai deduzindo quem é quem na trama. Tudo bem pois o original literário é moldado no pequeno espaço da ação. Mas a começar pelos interpretes a coisa não funciona. O melhor Poirot do cinema foi Peter Ustinov em “Morte sobre o Nilo”(1978) de John Guillermin(Ustinov chegou a ser candidato ao premio inglês de ator). Os dois de “Expresso...”são demasiadamente caricatos. Branagh usa um bigode pândego e Finney parece um boneco de corda.

            Não gosto dos filmes derivados do livro. Menos ainda do segundo. O melhor de Agatha Christie no cinema é “Testemunha de Acusação”(Witness for the Prosecution) de Billy Wilder em 1957. Não vi o bando de filmes com base em historias dela feitos para a TV. Mas não resta duvida de que a “Dama do Crime” é mina a explorar pelo cinema. Resta usar o entrecho em linguagem cinematográfica. E traduzir bem os tipos. Por sinal que não entenndi o Oscar dado a Ingrid Bergman no filme de Lumet. Penso que foi a forma da indústria cinematográfica norte-americana pedir perdão pela ofensa à atriz por ter vivido um romance considerado “proibido” com o cineasta Roberto Rosselini (afinal o que gerou Isabella, a filha atriz).