terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Os Melhores do Cinema em 2016

Melhores do cinema em 2016

1-      A CHEGADA (Arrival) de Denis Villeneuve
2-      SNOWDEN, HEROI OU TRAIDOR (Snowden) de Oliver Stone
3-      O FILHO DE SAUL (Saul Fla) de Laszlo Nemes
4-      AGNUS DEI de Anne Fontaine
5-      O REGRESSO (The Revenant) de Gonzalez Iñaurritu
6-      TRUMBO, A LISTA NEGRA (Trumbo) de Jay Roach
7-      AQUARIUS de Kleber Mendonça Filho
8-      SPOTLIGHT ,SEGREDOS REVELADOS de Tom McCarthy
9-      OS 8 ODIADOS (The Hateful Eight) de Quentin Tarantino
10-   45 ANOS (45 Years) de Andrew Haigh
Diretor
                Oliver Stone (Snowden)
Ator
                Leonardo di Caprio (O Regresso)
Atriz
                Sonia Braga (Aquarius)
Ator coadjuvante
                Hugh Grant (Florence)
1.       Atriz Coadjuvante
                Jennifer Jason Leigh (os 8 Odiados)
2.       Roteiro Original
                Quentin Tarantino (Os 8 Odiados)
3.       Roteiro adaptado
                Alejandro G. Iñarritu e Mark Smih (O Regresso)- de parte do texto de Michael Punk.
4.       Fotografia
                Vittorio Storaro(Café Society)
5.       Musica
                Stewart Lerman (Café Society)
Animação
                Zootopia- de Byron Howard, Rich Moore e Jared Bush
6.       Documentariao
                Francofonia- de A. Sokurov
7.       Edição
                Mark Day- Animais Fantasticos e Onde Habitam (Fantastics Beasts and Where to Find Them(,
8.       Direção de arte
                Michael Goldman e Dough Huszti(Café Society)
9.       Efeitos Visuais
                Equipe de Animais Fantasticos….
10.   Figurino
                Suzy Bensinger- Café Society
11.   Reprise               
                A Doce Vida
12.   Homenagem
                Acyr Castro (1934-2016)– fundador da APCC     
Esta foi a minha relação apresentada aos colegas da ACCPA no dia 26/12. 





e

sábado, 24 de dezembro de 2016

Cinema Novo

O documentário “Cinema Novo” é um programa nostálgico e romântico, lembrando filmes de uma certa juventude dos anos 60 com uma inteligente rima entre sequencias (como as corridas que abrem a narrativa). Mas está endossando algumas posições criticáveis do movimento em foco como a ausência de “O Pagador de Promessas” de Anselmo Duarte, até agora o único filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro do Festival de Cannes (e Glauber Rocha assistiu as filmagens na Bahia).  Aliás, Duarte foi execrado pelo cinema novistas.
                O filme tem um plano da paraense Edna de Cassia, a atriz de “Iracema” de Jorge Bodanzky sem que se diga quem é quem e a que filme se refere. Se não se fala em Anselmo se fala de Walter Hugo Khoury, do cinema paulista numa linha introspectiva , de Luís Sergio Person, da mesma índole, e pouco se diz de Roberto Santos.
                Claro que ninguém cita “O Cangaceiro” de Lima Barreto, coisa da Vera Cruz que traduzia cinema tradicional. Mas não  esquece, felizmente, de Humberto Mauro, o pioneiro, como de Mario Peixoto que fez cinema quando os neo-novos ainda não haviam nascido.

                “Cinema Novo” está longe de uma linha didática que sirva aos novos estudantes de cinema. Quem nunca viu ou ouviu falar dos filmes mencionados continua no zero. É um documentário para quem sabe do que se trata. E para esta gente pode ser uma curtição. Eryk Rocha, filho de Glauber, acabou homenageando o pai dele. Tudo bem, mas faltou dizer a linha sócio-politica-ideológica seguida pelos cineastas abordados. Era um cinema de protesto. Contra a opressão do governo militar vigente e também contra o cinema anestesiante vindo de Hollywood. Valia a pena um “frame” dizendo isso.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Sully, O Heroi do Rio Hudson

 Chesley Sullenberger, ou simplesmente Sully, ganhou fama quando, como piloto veterano, pousou o avião bimotor Airbus no rio Hudson com 155 passageiros a bordo. Segundo ele, não havia alternativa quando pássaros invadiram as duas turbinas danificando-as . A alternativa do vôo era o aeroporto vizinho, mas o aparelho perdera força e não havia como tentar voar por mais quilômetros. Amerrissar era perigoso mas o pior era o que ele, Sully viu em sonho, o aparelho caindo no centro da cidade, derrubando edifícios.
         O vôo entrou para a historia mas o comandante chegou a responder processo diante de uma comissão que atendia a fabrica do aparelho alegando que um dos motores tinha capacidade de funcionar por mais tempo.
         O filme “Sully, O Heroi do Rio Hudson”, ganha pontos em muitos fatores. Primeiro pela atuação de Tom Hanks, plenamente crível como o comandante que desafiou probabilidades e acabou salvando a si e os que viajavam com ele. Depois a direção do veterano(86 anos) Clint Eastwood, de uma habilidade inconteste a fazer o filme se parecer com um documentário do acontecimento ocorrido em 2009. E uma fotografia impecável com uma direção de arte que chegou a colocar uma carcaça de avião no rio, desprezando o cgi. O que se criticou foi o modo como é mostrado o principal protagonista, sem ir fundo na sua pessoa, no pai de família  que deixa ver quando telefona diversas vezes para a esposa. Mas este não é o proposito do roteiro baseado no livro autobiográfico de Sully.  Interessa um fato e Eastwood consegue dar a este fato uma reprodução por 90 minutos, mais do que se poderia esperar com base num acontecimento que desafiou o relógio.

         Bom trabalho de parcerias, ganhando campo entre os bons filmes de aviação.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Intolerancia

O sucesso de “Nascimento de uma Nação”(Birth of a Nation), especialmente no sul dos EUA, acabou magoando David Wark Griffith o cineasta que muitos consideram “o pai do cinema”por sua  participação na gramatica de um filme. Racista ao extremo, “Nascimento...” elogiava a Ku Klux Kan. E Griffith pegou desaforos. Tantos que resolveu pagara superprodução “Intolerância”(Intolerance),um painel sobre a intolerância no mundo, com episódios que vão da Vida de Cristo a um caso criminal moderno(anos 1920).
                O filme que pode ser (re)visto hoje no cinema Olympia, foi um fracasso financeiro para o autor mas considerado logo um clássico. Os episódios são intercalados com plano de uma senhora embalando seu filho. Seria a “Mãe Humanidade”. Nas vinhetas se expõe os erros do ser humano ao longo da historia, pregando a necessidade do amor.

                Esta obra marcante é indispensável a quem estuda cinema. Vai hoje ser apresentada com musica ao vivo dentro do programa Cinema com Musica de atuação mensal. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Animais Fantásticos Onde Habitam

“Animais Fantasticos...” é uma espécie de prequels de Harry Potter. Como a historia se passa em New York os bruxos afirmam que a escola inglesa Hogwartz é inferior à norte-americana. Bilionária graças aos EUA J.K. Rowling puxa a sardinha para a terra do Tio Sam e no seu livro-roteiro de cinema “Fantastics Beasts and Where to Find Them”ela trata de simpáticos bruxinhos que deixam a Big Apple em ruinas mas não demora a refazerem o estrago na linha daquele método de filmar em que se joga de um trampolim numa piscina e se volta a ele graças à inversão da câmera.
                O  argumento tem por base a troca de maletas de um “avô” de Harry Potter, chegado à América dos anos 1920 com uma pronuncia que diz “gail” ao falar “girl”, com um gordinho bonachão que tenta emprego numa agencia comercial. A troca gera a liberdade dos “fantásticos animais” e a consequente atenção de bruxos maiores que não são tão simpáticos e arremedam que no novo mundo há parentes dos vilões de Hogwartz.
                Claro que surge no bojo da historia a mocinha que no final flerta com o inglês quando este embarca de volta à sua terra natal. Só que o súdito de S.Majestade é interpretado por Eddie Redmayne e o ator dono do Oscar por “A Teoria do Tudo”é de uma expressão tão indigente como pede o papel que agora bem lhe coube.  Dá para pensar que a bruxaria americana não é nada romântica. Nem se voa em vassoura.
                O filme usa e abusa de CGI. Há efeitos visuais que vão de ruas rasgadas como papel de embrulho a monstros careteiros de assustar menino(a) chorão. Nesse quadro o trabalho do diretor David Yates, acostumado com Potter & Cia, dá-se bem. Mas o excesso é flagrante. O filme é um show pirotécnico com ligeira licença cômica em Dan Fogler que faz Jacob Kowalski. O grosso é figuras moldadas em computadores que se misturam em uma edição tipo metralhadora (a celebe “machine gun cut”).
                Achei que Rowling teve uma crise de excesso de imaginação, ou abriu demais a sua mala de bruxinhos. Nós, os “trouxas” que vemos as aventuras de bruxos desde a série HP podemos até aplaudir desde que atraídos pela nostalgia da época em que a série de historias de magias começou a sair em livros e filmes. O replay tentado agora parece superlotado de imagens. Nisso o conteúdo naufraga. Se há moral de historia como nas fabulas esta é de que o ato de se brincar com a magia desencanta.
               

                  

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A Chegada

“A Chegada”(Arrival) vem de um conto de Ted Chiang ("Story of Your Life" ) que eu não conheço.A historia da vida de Louise Banks (no filme Amy Adams) ampara seu trabalho de tradutora e em especial de possível mensagem advinda de seres de outro planeta que chegam à Terra em muitas naves de forma oval.Como a professora poliglota vai achar um meio e entender a possível fala de ets e como grunhidos podem significar formas de fala. Na superfície o novo trabalho do diretor Denis Villeneuve é isso. Mas assim como é difícil a comunicação com outro mundo também é difícil entender o que se passa no intimo de uma pessoa, no caso da mulher que perdeu a filha cedo, que vive só, que sempre evoca a imagem da menina que amava e que traduz esse amor na evocação de abraçar o bebê nos closes que abrem o filme.

Louise na lembrança de sua menina, de um passado que adentra a narrativa  sem usar da métrica de flash-back tradicional, é um exemplo de ser humano que soube (ou sabe)amar. Como tal ela não aceita um anuncio chinês de bombardear as naves extraterrestres. Não aceita a ideia de que o que não se conhece se elimina. E à medida em que luta para decifrar as imagens dadas pelos ets ela tenta evitar uma guerra interplanetária, ou mais um exemplo da porfia belicista do ser humano.

O diretor lembra o colega Terrence Malick com poucas explicações e muitos closes e muito contra-luz, significando justamente o desafio de tentar entender um outro plano de vida. Um colega de Louise no trabalho do governo americano pela comunicação com os estranhos “invasores” chama os estranhos de Abott e Costello lembrando os comediantes dos anos 40/50. O “apelido” ganha o tom do simplório mascarando um contato que se mal interpretado pode ser perigoso. Mas é um et quem diz (ou se pensa que diz) que no passado ajudou a humanidade. Ora, os deuses não eram astronautas?(Eric Von Daniken)

“A Chegada” arrisca o tom no final, quando a professora ianque fala com um líder chinês. O diretor vai além com prudente reticencia. O dialogo não é apenas um trabalho cientifico. Fala-se com o intimo, com as pessoas queridas, e muitas vezes nem precisa de palavras para “dizer”. Esta é a base do argumento- e talvez do conto original. Lembra outras abordagens semelhantes na historia do cinema é cutucar com vara curta as obras máximas da ficção-cientifica.Em “Solaris”, por exemplo, o amor renasce como uma ameaça. Tanta riqueza de conteúdo banha o filme do diretor canadense que fez “Sicario” e “Incêndio”. Podia ter se afogado na pretensão do argumento, mas nada muito bem a ponto de transformar seu trabalho numa prova olímpica de cinema sensível.

Obrigatório.

 


 

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Doutor Estranho

“Dr Estranho”(Doctor Stranger) , filme dirigido e com roteiro de Scott Derrigson, baseia-se nos quadrinhos de Steve Ditko lançados ainda na década de 1980. A MARVEL achou que deveria explorar o herói que no fim das contas não é tão “super” como os demais da empresa. Em cinema de produção avantajada, “Dr Estranho” é mais um blockbuster da produtora que hoje é ligada a Disney. Não faltam pancadarias, desastres homéricos, invulnerabilidade do mocinho e efeitos oticos.Seria o bastante para dar lucro(e está dando) mas o enredo podia enveredar por outros caminhos.
O dr.Stephen Strange é um cirurgião muito hábil, a ponto de cantar quando opera, e que um dia sofre um acidente de carro e fica com as mãos paralisadas depois de passar por varias cirurgias de colegas.  Pesaroso com o fato de perder a profissão,ele ingressa no misticismo através de um amigo ocasional. E viajando para o Nepal entra numa corrente de magia em que se vislumbra um vilão capaz de acabar com o mundo(e os vilões modernos são assim, superambiciosos). Stephen acaba lutando com as armas magicas que aprende, e derrota, logico, um dos bandidos, Kaecilius, interpretado pelo bom interprete de “A Caça”,o dinamarquês Mads Mikkelsen.
Para o grande publico consumidor dos Marvelfilmes, é uma diversão plena. Para quem tem a mania de pensar em cinema é um horror. O drama do medico que se torna curandeiros daria um desses filmes-cabeça que os Cahiers du Cinéma aplaudiriam. Virou um espetáculo de CGI com direito a um embate com o demônio num plano interplanetário.  Coisa que a garotada aplaude, mas que por aqui taxaram de impropria até 14 anos e tive um neto de 13 barrado na porta de um cinema.
Vi o filme em 3D e realmente a técnica engrossa o fascínio do show de feira, Cinema de verdade passa numa sala ao lado da que exibe “Dr Fantástico”, ou seja o filme de Oliver Stone “Snowden”(que por sinal já deu no pé em circuitos como o Cinepolis). Enfim, cinema de shopping, neste século, é mesmo apêndice do conjunto de espaços para consumo. Querer mais é procurar um dvd & bluray (e eu vi um dia desses um filme modesto de sci-fi que me cativou:”O Predestinado”, talvez um dos melhores a abordar viagens no tempo).

Certo;o doutor nada tem de estranho no ninho marvelesco.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Snowden

                Oliver Stone(69 anos) é um cineasta que se pode colocar como “de esquerda”. Seu novo filme em cartaz por aqui, “Snowden”(cognominado “Herói ou Traidor ?”) aborda o grampo de mensagens que se ampliou mundialmente e deu margem a protestos de diversos países(inclusive o Brasil). O sistema inventado ou aperfeiçoado por Edward Snowden (no filme Joseph Gordon-Levitt) lembrou-me desde que ouvi falar dele o “1984”,livro de George Orwell que tratava de um ditador capaz de saber de pormenores da vida das pessoas, comandando todos os atos. Baseado em uma historia real com roteiro do próprio Stone e Kieran Fitzgerald,começa com uma entrevista que o personagem deu em 2015 e em seguida dá inicio a uma série de flashbacks que contam como o adolescente epilético (e como quase todos epiléticos muito inteligente) conseguiu por mérito próprio galgar postos chaves na CIA e depois em organismos ligados a espionagem norte-americana.
                Há no enredo um romance entre o biografado e a jovem universitária Lindsey Mills(Shailene Woodley). O que pode parecer uma licença comercial a sequencia de sexo entre os dois tipos principais da historia.Mas logo a câmera se desloca para um olho eletrônico e se entende que até essa intimidade pode ser transmitida à distancia. Por sinal que um corte que passa de uma objetiva para um olho humano é outro prodígio de síntese do filme. Eu achei um cuidado formal  superior aos filmes anteriores de Stone (mesmo o seu trabalho de estréia, o elogiado “Platoon”).

                Com um elenco “afiado”, inclusive os coadjuvantes famosos como Nicolas Cage e Tom Wilkson, o filme de Stone é de excelente nível. Sua densidade exigindo copia em som original deixa a gente surpreso do bom lançamento ,ou melhor no lançamento local, sempre minado com blockbuster de Hollywood. 

sábado, 5 de novembro de 2016

Branca de Neve em 1916

“Branca de Neve”(Snowhite/1916), filme dirigido por J. Searl Dowley, foi considerado uma ousadia em seu tempo. Adaptando o conto dos irmãos Grimm, escrito no sêxtulo XIX,difere do clássico de animação que promoveu Walt Disney em 1937 pelo detalhe na construção do caçador, chegando a mostrar que a rainha perversa (e madrasta de Branca) trancou os filhos deste personagem em uma masmorra quando soube que ele não havia trazido o coração da jovem Branca como ela pedira.
O trabalho de Dowley acabou meio esquecido na historia do cinema como outras adaptações do que os irmãos alemães escreveram. Mas é bom rever este hiato. Quando eu vi pensei que ele ia fraquejar na amostragem dos anões.  Conseguiu focaliza-los embora sem individualizar os tipos como fez o desenho posterior, afinal um clássico legitimo.

O filme de 1916 estará fazendo a Sessão com Musica do Olympia na 3ª, dia 8. Paulo José acompanha em exposição musical que ele planejou.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Agnus Dei

  Em 1945, logo que terminou a guerra, um convento polonês foi invadido por soldados russos e as freiras foram violentadas com muitas engravidando. Chegando o tempo dos partos, nem todos puderam ser observados no processo natural pelas irmãs mais velhas. Chamou-se ajuda medica e justamente a medica que atendeu as freiras é quem reportou o caso dando margem ao artigo de Madeleine Pauliac que foi adaptado por Pascal Bonitzer e pela cineasta Anne Fontaine para o filme “Agnus Dei”(Les Innocentes/ França,Polonia 2016) chegando aqui para sessões no cine Libero Luxardo.
                O drama das jovens religiosas ganhou um tom muito trágico quando se soube que a superiora do convento levava algumas crianças recém-nascidas para deixa-las na estrada coberta pela neve. Ela afirmava que tinha levado os bebês para um orfanato próximo. A mentira escandalizou a atendente e ganhou a mídia. Mas não se sabe, ou o filme não mostra, se aconteceu alguma penalidade às madres assassinas.
                Com uma linguagem direta, sem flash-backs ou incursões em assuntos correlatos, o que se vê é chocante. Torna-se mais uma denuncia a ocultação de crime em nome da religião, fazendo coro com os recentes “O Clube” e “Spotlight”.

                Premiado em festivais menos conhecidos, “Agnus Dei” figura entre os (poucos) bons programas cinematográficos deste ano. 

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A Garota do Trem

                Não conheço o livro de Paul Hawkins mas penso que o filme de  Tate Taylor (de “Historias Cruzadas”),ela funcionando como co-roteirista, deve seguir de perto o original literario. Não importa, O que impressiona é a disposição de um quebra-cabeça que segue 3 personagens femininas: Rachel (Emily Blunt), Megan (Haley Bennett) e Ana (Rebecca Fergunson).
                De inicio segue-se Rachel em suas viagens de trem,ela falando em tom narrativo,mostrando-se interessada numa casa de onde divisa Megan e, numa das viagens, ela com um homem se beijando (o que leva Rachel a deduzir que a mulher está traindo o marido, pois sabe que ela é casada). Uma série de flashes (back ou não) colocam sequencias das problemáticas de Megan e Ana, uma outra vizinhas, com a “garota do trem” que se sabe depois ser alcoólatra e deprimida.
                O que une as mulheres da historia? O que Rachel deduz é a verdade dos fatos ou o que ela idealiza em devaneios que passam por psiquiatra e por sessões de Alcoólatras Anônimos ?
                No correr das narrativas, que se tornam difíceis de assimilar pelo modo como são observadas, há um assassinato. Morre Megan. E quem a matou ? Há suspeitos bastante a na reviravolta de exposições, com sequencias que se vão ajustando no tempo e no espaço, chega-se à uma conclusão que não é espantosa mas deixa margem a um capitulo de suspense.
                Agatha Christie tem historia de mulher que vê um crime numa passagem pelo cenário do fato. Há também a senhora do filme de Hitchcock envolta num caso de espionagem. Mas nada retira um tom original da trama de Paula Hawkins e muito se deve às interpretações, especialmente da inglesa Emily Blunt que já tem 40 títulos no currículo e não fez vergonha ao que já se viu por aqui.
                A ginastica de edição na verdade eclipsa o “déja vu” e corporifica um enredo ingênuo, onde temperamentos doentios chegam devidamente estereotipados. Quer dizer: o filme vale por ser um exercício de estilo, um emaranhado de situações que instiga o espectador e o faz esquecer os furos existentes.

                Não olhei para meu relógio durante a projeção. Bom sinal.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O Homem nas Trevas

“O Homem nas Trevas”(Don’t Breath/2016) é o que o americano chama da “thriller”, um projeto feito para assustar plateias com um tema fixo e “décor” único. Trata da invasão da casa de um cego por 3 ladrões (dois homens e uma mulher).O dono da casa, que vivia só, teria recebido muito dinheiro da família de uma pessoa que atropelou e matou sua filha. Mas o cego, que é um ex-combatente da guerra no Iraque, não é uma figura dócil como a que Audrey Hepburn encarnou no filme semelhante “Um Clarão nas Trevas”(Wait Until Dark/1967) de Terence Young, Aqui, sob a direção do uruguaio Fede Alvarez, é violência em série. O cego consegue transformar-se de vitima em vilão, atacando e matando os ladrões.
                Quem viu “Enterrado Vivo”(Buried)do espanhol Rodrigo Cortés, ganha uma reprise emocional. Difícil não tomar parte no suspense oferecido pelo uruguaio Fede Alvarez  nessa historia de cego versus gatunos (que acabam sendo as vitimas). São pouco mais de hora e meia de planos próximos bem cortados, bem montados, com atores impondo mascaras aceitáveis (especialmente Stephan Lang que faz o cego e Jane Levy a mocinha da trama, ou a ladra por quem se derrama simpatia). Também há um cachorro feroz que auxilia o suspense. Tudo oferecido em uma combinação exemplar de cortes, iluminação e efeitos sonoros.
                O filme de Fede Alvarez consegue irmanar com o do colega que tratou do motorista de caminhão enterrado vivo no Iraque. Não é fácil fazer esse tipo de cinema. É barato mas exige o arsenal técnico competente.

                Valeu.

Crianças Peculiares

O filme de Tim Burton “O Lar das Crianças Peculiares”(Miss Peregrine’s Home for Peculiars Children)deriva do livro de Ransom Riggs com roteiro de Jane Goldman.Para o trabalho o diretor usou uma cenografia modelar e atores como os veteranos Terence Stamp, Judi Dench,Samuel L.Jackson e Rupert Everett, ao lado de novatos como Asa Butterfield o garoto de “...Hugo Cabret” o filme 3D de Martins Scorsese.
            Não conheço o original, mas pelo filme penso que o roteiro tomou liberdades que o fizessem mais vendável. De base fica a ideia de que o mundo da infância, gravado na memória, luta contra a realidade que domina a idade adulta. São respectivamente os peculiares de miss Peregrine(Eva Green) e os monstros guiados por  Barron (Samuel L.Jackson) . Nesse quadro o jovem Jake(Asa) se impressiona com as historias do avõ(Stamp) e quando este morre de forma misteriosa ele virtualmente se transporta para a ilha que o velho lembrava, ganhando uma fenda nesse terreno e indo encontrar um prédio em ruinas que logo se recompões saindo do que aconteceu em 1943 quando bombardeios alemães o destruíram, mantendo-se incólume num hiato temporal que significa a perenidade da inocência infantil, enfim a base para ser uma criança peculiar.
            O final é que dispara contra a base poética dos mundos antagônicos que se digladiam com os anos.Passa a um caráter “realista” e transforma a viagem no tempo perdido em uma aventura com bandidos e mocinhos a ganhar até mesmo um beijo final.
            Não sei se Ramson Riggs pensou assim. O que fica é a imposição comercial que deixou a Tim Burton apenas a fantasmagoria que lhe é cara, retratando os feiosos vilões e as crianças vestidas de branco com uma orientadora com jeito de fada que se transforma em pássaro. Nem sei se o autor pensou no romance de uma adolescente fantástica com o rapaz que surge de visita à sua morada e acaba lhe acompanhando por um metafórico circo londrino que serve de escape aos “peculiares” indo acabar no tombadilho de um navio como aquela dupla do “Titanic”. Enfim, o filme foi feito para divertir e usar o recurso da 3D para dar ênfase ao fantástico mui caro ao diretor. Uma pena, pois quem tem mania de pensar vendo cinema queira mais...

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Cinema Espanhol

Do programa de filmes novos espanhois que chega agora ao nosso centenário Olympia destaco “Flores”(Loreak) de José Mari Goenaga (exibição dias 22 e 23). Trata de uma senhora que recebe regularmente ramalhetes de flores sem qualquer indicio de remetente. O marido dela quer explicações mas não importa: as flores continuam a chegar e a remessa acaba se relacionando com outro casal, revelando possivelmente a origem com a morte de uma personagem.
O filme não é só um enigma poético nem desvia para um argumento policial. É um estranho quadro de tipos e sentimentos visto de forma retilínea, sem flashbacks, sem alusões analíticas de personagens.
O já visto aqui “Pecados Antigos”(La Isla MInima) mostra como o espanhóis fazem bem o “noir” que o americano ( e o francês) jogou na historia do cinema. Os demais filmes mostram um artesanato moderno por assuntos nem sempre bem explorado. Menos “Ártico” que me pareceu tão distante do espectador como o nome no cenário rural (e/ou suburbano) evocado.
Interessante ver como o cinema da Espanha evoluiu da ditadura Franco, quando se limitava aos artistas mirins como Joselito e Marisol e só desviava para o melodrama com Sarita Montiel e provocava a censura com Buñuel logo em transito para o México(o clássico “Viridiana” que irritou o “generalíssimo” quando ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes).

Vale a pena conhecer esta nova fase de uma cinematografia que sabe explorar o seu quadro geográfico ( uma beleza os grandes planos regionais). 

terça-feira, 18 de outubro de 2016

No Caminho de Marte

Quem curte  ficção cientifica não deve perder este modesto “Aproximando-se do Desconhecido”(Approaching the Unknown”/EUA,2015) feito pouco antes do “Perdido em Marte”(The Martian)de Ridley Scott.
Aqui é só o astronauta em viagem a Marte. Pouco flashback e muito da agonia do homem só, ainda mais quando queima seu aparelho de produzir água, contentando-se com pouco e mesmo assim não desistindo da viagem apesar dos apelos de Huston para cancelarar a missão como aconteceu paralelamente  com uma colega dele, no mesmo percurso, mas saída do rumo.
O roteiro é do diretor Mark Elijah Rosenberg e Mark Strong é praticamente o único interprete fazendo William Stanaforth o viajante do espaço. Careca, só nos últimos planos, marcando o tempo gasto na viagem (mais de 270 dias) aparece cabeludo e barbado , conseguindo chegar ao planeta vermelho e deixando com o espectador sua impressão filosófica à saída, ciente de que foi em uma viagem sem volta.

Nada de efeitos digitais e seres espaciais. O realismo é a meta e a modéstia da produção evoca a coragem dos produtores. Por isso não creio que chegue  a nossos cinemas. Vi em dvd. Busque e acrescente um bom titulo à sua filmoteca de viagens espaciais.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Inferno

Não li o livro de Dan Brown e não posso tocar nas omissões que o filme possui. Mas não me parece que essas omissões cubram os furos da narrativa. Chega a ser hilário o que se passa com Robert Langdon (Tom Hanks) na Italia,Turquia e pouco mais que se espelha como um tapete magico turístico.
                Desta vez Langdon não mexe muito com dogmas católicos como fez nas versões dos primeiros livros de Brown, especialmente “O Código Da Vinci”. Ele começa o filme desmemoriado, num hospital, socorrido por uma doutora que pelo empenho por sua saúde deixa a ideia de uma paixão platônica anciã(ela teria visto o Langdom quando tinha apenas 12 anos, em uma palestra que ele proferiu). Ela se chama Sienna Brooks (Felicity Jones) e na verdade é fanática na tese de que, para melhorar o mundo, deve-se diminuir a densidade demográfica, cultivando e espalhando um vírus que mataria mais da metade da população global.
                Sienna e seu “paciente”  fogem de assassinos visitantes e na fuga passam por diversos pontos de atração turística da Itália. A trama invade “A Divina Comédia”  alegando que Dante Alighieri previu quando escreveu sobre o inferno a morte de meio(ou mais de meio)mundo. Há uma busca da mascara mortuária de Dante que eu não compreendi como Langdon sabia que ela tinha a ver com o vírus mortal (a praga que matou milhares na Idade Media ,chamada de Peste Negra, pode ser a chave de Dan Brown). Mas como fica no filme chega a ser confuso. Interessa apenas um jogo de imagens, com muitos cortes e personagens sobrando as andanças da doutora e seu doente, uma caça do tipo gato atrás do rato que muito aparece e pouco se deixa elucidar. No fim, há uma série de falas que “explicam” as coisas, Parafraseando, seria como explicar mas não justificar. Em tese “Inferno” é um thriller banal em substancia, conseguindo chamar a atenção pela tarimba do diretor que joga com planos diversos em cortes rápidos tentando sempre chamar a atenção de uma plateia que nunca ouviu falar em Dante.

                A esquecer rapidamente exceto na concepção estatística(relação à obra do escritor).

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Mesmices

A falta de imaginação dos empresários ligados ao cinema norte-americano, hoje distantes dos “tycoons” que presidiam estúdios, é patente. Agora mesmo exibe-se “A Bruxa de Blair” e “7 Homens e Um Destino”. O primeiro filme volta ao quase amadorístico de anos atrás que inaugurou a promoção nas redes sociais.É como se técnicos tentassem ver o que aquela gente viu e gravou desaparecendo sem alertar para detalhes do que viu. O outro filme é mais um replay do clássico “Os 7 Samurais” de Kurosawa que já havia dado o western de John Sturges do mesmo nome e que gerou coisas como “A Volta dos 7 Homens” e “A Fúria dos 7 Homens”. O mesmo enredo, com bandidos perseguidos por aldeões capitaneados por um valente. Tudo bem que Kurosawa foi no miolo do western, mas voltar a sete vilões para que o gênero volte à gloria é falta de assunto. Mesmo que a narrativa seja boa.

Tenho ido pouco a cinema pois ando cheio das mesmices e do desconforto que hoje permeia as casas exibidoras com cadeiras numeradas e ar condicionado polar. Prefiro o cinema em casa além dos especiais. E pode piorar com o Cine Estação minguando sem o programador, restando o Libero Luxardo e o Olympia preso às embaixadas, por sinal um bom meio a ver, por exemplo, a mostra espanhola a chegar com pelo menos 3 títulos recomendáveis.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Seriados antigos

Nos 1940 os seriados de aventuras eram fontes de lucro para os donos de cinema. Quase sempre traziam heróis dos quadrinhos. Agora mesmo eu comprei em dvd as séries de Batman, na época aqui chamado Homem Morcego, e Super Homem, ou Homem de Aço, hoje conhecido no original Superman. A Columbia os produziu, o primeiro em 1943, depois em 1948 e o segundo em 1948 e depois 1950. Os cinemas Moderno e Independência, do grupo local Cardoso & Lopes,exibiam esses filmes, primeiramente em séries (cada uma com dois episódios) depois, numa 2ª. ou 3ª.feiras, tudo de uma vez (uma ginastica com o distribuidor que pedia as copias depois de cada exibição de episódio).  Quem mais fazia seriado era a Republic, campeã do gênero, e muito menos a Universal (o caso de Flash Gordon).
                Revi pacientemente os filmes. Santa ingenuidade! Batman lutava em 1943 contra um japonês (interpretado por J. Carrol Naish/1896-1973). Na época os EUA estavam em guerra com o Japão e o inimigo cabia bem num tipo nipônico. Superman era mais sofisticado e seus inimigos variavam de cientistas birutas e um tal de Homem Atômico, vale dizer um sujeito capaz de manejar uranio e ameaçar o mundo com armas nucleares. O ruim dessa série era o fato do herói, ao voar, ser em desenho animado. Não tinha efeito especial para se ver um voo humano, economia da Columbia pois o Capitão Marvel da Republic(1941) “voava”.
                Em todos os episódios há sequencias de brigas. Mocinhos e bandidos distribuem socos e o engraçado é que ninguém perde o chapéu (claro que os heróis usavam suas fantasias). E não se veja logica. Clark Kent(Superman) ou Bruce Wayne(Batman) mudavam de roupa em qualquer lugar e não se sabe onde deixavam essas vestimentas. E cada episódio tinha de terminar em um momento de perigo para  o herói ou comparsas. Mas a garotada gostava disso. Nada de efeitos especiais. CGI era ficção cientifica. Curioso era ver, por exemplo, o vilão do filme de 1943 vendo TV privada. Isso não existia na época.

                Espero que outras séries cheguem em dvd. Não é nada e se recorda um tempo ido onde se exigia pouco para  se divertir.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Francofonia

Em”Francofonia”o cineasta russo Aleksandr Sokurov mostra-se mais explicito, ou na linha tradicional de documentário, apresentando o Museu Louvre(Paris)durante a ocupação nazista, como as obras de arte que lá ficaram, impedidas de serem retiradas por funcionários que previam saque por parte dos alemães e persistiram em seus lugares atraindo visitantes.
O filme tem muitas sequencias de época, mostrando Hitler e seus mandados, e, em planos de reconstituição os oficiais do Reich negociando a riqueza artística e demonstrando conhecimento do objeto.
É um trabalho artesanal correto, mas houve quem esperasse de Sokurov a alegoria que dispensou à sua “Arca Russa’, obra de vulto que por aqui, no entender dos críticos, ganhou o posto de melhor do ano em que  foi exibida.
Valorizando o museu francês, o diretor russo deixa claro que a cultura não tem pátria. É o atestado de inteligência do ser humano.

Vale uma visita ao cinema, no caso o Libero Luxardo por onde se encontra em sessões normais. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Florence

Meryl Streep pode ganhar mais um Oscar por sua Florence Foster no filme de Stephen Frears que andou correndo pelas telas de um cine-shopping local. Florence foi uma viúva rica, dama invejada do high society americano dos anos 30/40 quando, já em idade avançada e sofrendo a sífilis adquirida do primeiro marido , resolveu cantar. Nesse tempo já está casada com St Clair Bayfield, exemplo de “bicão”, aturando a ricaça com o “cuidado” de ganhar dinheiro  isentando o sexo(afinal é uma sifilítica na época em que a doença era famosa por ser extremamente contagiosa e fatal). Ele  compra o prestigio da mulher, que chega a cantar no Carnegie Hall poupando  no que pode as vaias da plateia.
O filme se ampara nos atores. Podem-se achar senões de época (como carros que só surgiriam no final da década) e de continuidade (as lagrimas de Florence enxugando no contraponto com o close de St Clair ao seu lado), mas só cabem para sherloques de técnica. Eles somem para um publico absorto na sinceridade exposta como drama real( e nos créditos finais há até mesmo imagens da verdadeira Florence).
Mas eu disse que “Florence”, aqui de subtítulo “Quem É Esta Mulher?”, é filme de atores. Hugh Grant nunca esteve tão bem e pode arriscar seu primeiro troféu acadêmico. Idem Simon Helberg como o pianista Cosmé McMoon . Ele já tem um premio de TV, mas o tipo que faz sob a direção do veterano Frears impressiona. Aliás, a trinca está na minha lista de melhores do ano em suas categorias. Impressionam e conseguem humor e tragédia numa dosagem privilegiada.
Frears havia dirigido Helen Miller em “A Rainha”dando-lhe o Oscar do ano. Comparando, Meryl Streep está num ponto semelhante  e talvez mais difícil. De bater palmas!

Ah sim: houve o filme “Marguerite” de Xavier Giannoli feito um ano antes e exibido no Festival Varilux. Vi e não gostei. Também conta a historia da cantora desafinada que se impôs sob propaganda paga. Catherine Frot estava bem mas não se compara a Meryl supermaquilada (e até careca). Enfim, “Florence” foi mais um tento do diretor de “Minha Adorável Lavanderia”, “Heroi por Acidente” e outros títulos memoráveis.

Quem Morreu Antes...

Primeiro longa metragem do diretor   (como Marcus Hausham Rosenmüller) o filme “Wer Früher Stirbt Ist Länger Tot”, ora no Olympia com o nome “Quem Morre Antes Está Morto Há Muito Tempo” mostra que a comédia alemã está bem de vida -e não  se pode dizer que morreu antes pois depois do nazismo só fez no gênero coisas abomináveis como “”Noites do Papagaio Verde”(Nacht im grunen kakadu) aqui exibido no Cine Ópera antes da fase pornô.
         O roteiro, do diretor e de Christian Lerch, trata de Sebastian(Marcus Krojer)um menino de 11 anos que vive com o pai e um irmão mais velho, remoendo a ideia de que matou sua mãe pois ela morreu por ocasião do parto que lhe trouxe ao mundo. Pensando que por isso e por ter acidentalmente matado coelhos da granja familiar, está fadado a ir, quando morrer, para o purgatório. Um parente afirma que ele só se livrará disso quando procriar e para  tanto precisa transar com uma garota. Ele chega a “convidar”sua professora para tanto. O fato leva a muitas vinhetas cômicas e Sebastian sempre visita o tumulo da mãe para obter um conselho.
         No bojo da comédia e da linha “old fashion” de filmes americanos,”Quem Morreu...” não escorrega no teor melodramático e sempre agrada. Vale conhecer o pequeno interprete, hoje com 22 anos e 7 filmes no currículo. Ele fazia a sua estreia adiante das câmeras. Hoje é mais dedicado à series de TV.

         Um bom programa esquecido dos cinemas comerciais brasileiros.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Julieta

                Com “Julieta”(2016) Pedro Almodóvar se redime de coisas terríveis como o seu filme anterior ‘Os Amantes Passageiros”.  E para esta volta à forma se apega ao melodrama, gênero latino, especificamente de língua hispana, contando a historia da personagem-título, apaixonada e gravida de um pescador recém-viúvo e logo morto em uma tempestade marítima. A filha desta relação logo que pode foge do domínio materno e simplesmente some do enredo. Mas antes de sumir sabe-se dela quando Julieta encontra uma velha amiga numa rua de Madrid e esta lhe fala da jovem a quem não vê por mais de uma dezena de anos, agora é mãe de 3 crianças e não perecendo ter saudades da  infância. Julieta vive oscilando no relacionamento com um escritor e depois de muito tentar corresponder-se com a filha recebe uma carta dela com endereço de remetente. Ao invés de simplesmente responder a carta segue com o novo par ao encontro da garota. Bem, essas pessoas não estão flanando na tela. Todas sofrem. A mãe de julieta morre depois de anos de doença. O pai casa novamente e pouco se manifesta. A sogra de Julieta também morre. A amiga de sua filha vê-se com  incurável doença. O primeiro neto morre afogado. Enfim, não há um tipo na trama vinda de três contos de Alice Munro(“Ocasião”, “Daqui a Pouco” e “Silêncio”, todos no livro “Fugitiva”), que não chore por alguma coisa. Contrasta os dramas com a paisagem belíssima de beira-mar tratado em cores vivas como Almodóvar gosta que se mostre seus cenários.
                Não há um tom melódico acompanhando os dramas. Nem atores chorões. Quando Julieta prefere ficar morando em Madrid sem nem mesmo ir a Lisboa com o namorado, é como se dissesse que na Espanha o melodrama funciona melhor. E dentro desse gênero tão caro a filmografia de tantos cineastas hispano-americanos o novo filme do diretor mais evidente no novo cinema espanhol sai-se bem. Deve-se em especial à atriz Emma Suarez que faz Julieta adulta (ou idosa). Há quem ache ruim ela estar escrevendo à filha, na primeira parte da historia, contando tudo o que se vai ver. Mas melodrama não é cinema que se feche para o espectador matar cabeça analisando comportamentos. É o avesso da introspecção de Antonioni. O que se quer é que a trama chegue fácil e assim comunique com o espectador comum.

                Almodóvar não voltou a excelência de um “Fale com Ela”, mas fez um filme que se vê sempre com agrado. Eu gostei do que vi. É uma Julieta de Romeu perdido sem abdicar da tragédia shakespeariana. Valeu.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Cafe Society

Billy Wilder ainda era um picareta em Hollywood mas chama a atenção do ambicioso produtor Phil Stern (Steve Carrel) no novo filme de Woody Allen “Café Society”. O argumento e roteiro do diretor mostram não só a indústria de cinema como a fantasia vestiu, com atores, produtores e diretores tecendo amáveis intrigas endereçadas ao lucro dos filmes, mas prefere ser um glossário dessa gente e tempo do que um novo “Assim Estava Escrito”. Phil, por exemplo, fala de muita gente, de Barbara Stanwyck a Gary Cooper, de Greta Garbo a Errol Flynn. E ele próprio vive um romance digno de câmeras ao se apaixonar pela secretaria Karen Stern(Shery Lee) guinada por sua própria mão a amante do sobrinho Bobby (Jesse Eisenberg), um bicão que a família manda para tentar a sorte em Los Angeles.Note-se que Phil é casado por mais de 20 anos e Karen lhe devota acima de tudo gratidão (e $$ é claro).
                ““Café Society” tenta ser um quadro da chamada ‘era de ouro do cinema americano”, Passa correndo pelos dramas das personagens e só no final deixa um close participativo de angustia. Não é um Allen dos melhores. Acelerando a narrativa escorrega no material usado e como no caso do gangster da família de Bobby deixa um hiato, tentando enxertar tipo e gênero que o cinema explorou bastante no tempo e espaço marcados.
                Jesse Eisenberg tenta ser o alter-ego de Allen mas escoa a graça. Melhor Steve Carrel, “a cara” de um magnata que só vê cinema embalado em dólar.
                O filme dura na tela pouco mais de hora e meia, mas parece durar mais. Tem enredo para tanto, mas não é por isso. Cansa porque não cativa através dos tipos apresentados. É como se o soçaite bebesse café açúcar. De qualquer forma, um toque de WA no humor vale o ingresso.


quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A Comunidade

Á Comunidade”(Kollektivet/Dinamarca,2015)é o novo filme de Thomas Vinterberg, egresso do movimento Dogma 95. Liberto do vicio desse estilo que pregava uma filmagem em plano-sequencia sem artificio técnico(uma espécie de reportagem fílmica) o diretor aborda uma peça teatral de sua autoria e trata de forma direta um drama especialmente humana.
A famosa apresentadora de telejornal Anna (Trine Dyrholm) convence o seu marido, professor universitário Erik (Ulrich Thomsen) que a casa herdada de seu falecido pai deve se tornar uma tipo de comunidade. Apoiado pela filha Freja (Martha Hansen), o casal convida amigos para participar do experimento.Chega até mesmo a abrigar um estranho e o grupo passa a se reunir em uma espécie de assembleia onde discute as diversas formas de regir o empreendimento.
A comunidade, como o falecido Dogma 95, vai andando até que Erik dê trela à uma aluna com idade de ser sua filha. Logo se forma um casal e o adultério do praticamente diretor do grupo de moradores passa a espelhar a falibilidade da primitiva idéia e comecem as debandadas.
O miolo da historia condena uma forma de comunismo. Prega a heterogeneidade da pessoa humana e com isso a incapacidade dela viver bem em comum acordo com parceiros. Dentre as desavenças cabe um primeiro lugar ao sexo. No patamar freudiano rola a instabilidade do casal Erik & Ana e não satisfeito segue Freja num relacionamento que se pode questionar.

Excelentes desempenhos aproveitados em uma edição que joga bem com os planos próximos e médios além de uma prudente movimentação de câmera, fazem esquecer a origem teatral e registrar o melhor cinema. Ainda bem que foi este o cinema que Vinterberg achou depois de sair da ideia do colega Von Triers e fazer um filme denso como “A Caça”(Jagten) e agora este “Comunidade” que está anunciado em sala comercial de Belém mas eu duvido que chegue a estrear em nossas salas de shopping sempre ocupadas com bockbusters.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Cinema Mexicano do Passado

                Mais um programa de filmes mexicanos no tradicional Olympia. Curioso é que desta vez há espaço para os velhos artistas daquele país. O caso de Maria Antonieta Pons(1922-2004) que está em “Viva Mi Desgracia” de 1944 dirigido por Roberto Rodriguez(1909-1995).Maria era conhecida como rumbeira, ao lado de Ninon Sevilla(1929-2005), como ela uma cubana que andou pelo Brasil.
                Aqui Maria esteve com Oscarito em 1952 na chanchada “Carnaval Atlantida’de Jose Carlos Burle e Carlos Manga.Ninon foi mais longe: chegou à nossa Belém e dançou com um amigo meu, o Dorival que a gente chamava de Cantinflas por imitar o cômico mexicano.
                Maria Antonieta é uma das poucas figuras do velho cinema asteca que está no novo programa enviado pela embaixada mexicana. Pedro Infante (1917-1957) também surfou na onda dos melodramas, mas não foi estrela como Ramon Armengod. Lembro dessa fase que levava muita gente brasileira aos cinemas e aqui lotava salas como o velho Olympia e ainda as concorrentes Moderno e Independência.
                O tempo era do cine-bolero, inaugurado com “Pecadora”(1947)de Jose Diaz Morales. Cada filme inseria na pista de som um bolero. E geralmente a musica virava sucesso em radio e disco. Nos filmes a tônica era prostituta infeliz que acabava tuberculosa. E o publico chorava por isso. Filmes que a critica odiava (e eu no meio). Mas hoje sei que espelhavam uma cultura com certo apego. Interessante é que muitos exemplares pensavam no Brasil e em “Pecadora” tinha até o conjunto brasileiro “Anjos do Inferno” cantando a embolada “Sete e Setecentos”.
                Gostaria que num desses programas veiculados pela embaixada do México entrasse o ciclo de dramalhões populares nos anos 40 e 50. Libertad Lamarque, Emilia Guiu podiam ser encontradas cantando em lagrimas. Engraçado que  a censura brasileira proibia as produções até 18 anos. E a molecada fazia força para furar o bloqueio e ver as coisas (até para saber o que tinha de proibido).

                Na atual retrospectiva que deve estar no final de agosto no Olympia há de tudo, até o clássico”Amores Brutos” de Iñarritu. Um hiato na programação das salas de shopping que abrem largos espaços para drogas como o novo “Ben Hur”.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Ben Hur Rides Again

Refilmar “Ben Hur”é uma ousadia dispensável. O filme de William Wyler com Charlton Heston ganhou 11 Oscar e foi sucesso de publico e de critica. Aqui, no saudoso Cine Palácio,fez filas apesar da sala ter mais de 2 mil lugares. O livro tinha em casa, meu pai havia lido mais de uma vez e eu folheei. Achei o filme um modelo de superprodução. Claro que não havia qualquer tentativa de aprofundar o drama do homem sentenciado injustamente e o poderio romano no tempo de Cristo. Como o livro, o filme prendia-se à trama e ,por continuidade, ao espetáculo. Uma dessas obras que Hollywood se orgulhava de ter feito. Era a fase crepuscular da Metro, ma,ainda assim, fazendo jus ao urro de seu leão (eu diria papão).
                Por que refilmar ? Pelo alcance do CGI, por custar menos e parecer mais ? Por demonstrar que a técnica auxilia o fausto do cenário ? Besteira. Cinema é muito mais que pirotécnica. E quem viu “Ben Hur”em 1959 dificilmente vai aplaudir este de 2016. Por sinal que hoje não existe o garbo de Hollywood. A Metro é parte de outros estúdios. Os tycoons acabaram. Vivem os computadores que muitas vezes se inspiram no passado porque não possuem suficiente imaginação para trabalhar além da tecnologia básica.

                Não sei se vou ver este novo filme. São mais de duas horas de replay . Sem Wyler, sem Heston, sem Boyd, sem uma turma que vendia cinema...

Tarde Demais

“Tarde Demais”(The Heiress/EUA,1948) veio de um livro de Henry James,(1843-1916)escritor americano que foi muito explorado pelo cinema. Pelo menos duas obras-primas eu vi com base em seus trabalhos: “Os Inocentes”(The Innocents/1961) baseado em “The Turn of the Screw”, e este que ora volta para a Sessão Cult do Cine Libero Luxardo.
O foco é sobe uma jovem considerada feia, tímida, filha de um medico rico (havia disso nos EUA do século dezenove) que é, num baile, assediada por um jovem desempregado mas de origem aristocrata. Ela que se julgava incapaz de manter um romance apaixona-se pelo rapaz. O pai logo percebe que se trata de um “caça dote”. E pressiona a filha, edificando um relacionamento ruim. O fim da historia não merece que se conte. Mesmo porque o filme, dirigido pelo mestre William Wyler de um roteiro de Ruth e Augustus Goetz (eles escreveram também “Perdição por Amor”(Carrie) que Wyler também dirigiu e foi outra obra-prima, encerra com uma sequencia antológica. Nos papeis principais Montgomery Clift e Olivia de Havilland mostram talentos que a gente conhece mas, ainda assim, se espanta com a criação de tipos que James aplaudiria. E ainda tem Sir Ralph Richardson como o pai da herdeira, um veterano muito respeitado do teatro inglês.
A exibição por aqui prende-se ao centenário de Olivia, hoje residente em Paris na casa de uma filha. É a sobrevivente de clássicos do cinema,incluindo “...E O Vento Levou”.

Programa que faz jus ao termo que justifica o nome da sessão: cult(cultuado).

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Milagre em Milão

                “Milagre em Milão”é uma fabula que Vittorio De Sica dirigiu como a dizer que o neorrealismo italiano não estava isento da fantasia, ou que os desafortunados por uma guerra ainda podiam viver num recanto onde a fachada de favela abrigaria os sonhos burgueses.
                A historia veio de Cezare Zavattini o autor de “Ladrões de Bicicleta” o primeiro êxito internacional do De Sica diretor. Totó, o principal personagem, nascia num repolho, era portanto “imaculado e cheio de graça” como um santo. A idosa Lollota(Emma Gramatica) o criava até que as forças pudessem. Morta, Totó passa para um orfanato. Sai de lá ainda puro, dando “bom dia’ a quem passa. E por ter seus objetos roubados acaba numa favela. Ali acende e esperança, e ensina a cantar um hino de louvor a isso.Quando o espirito da avó aparece, dando-lhe uma pombinha que realiza desejos, os favelados materializam seus sonhos e revelam orgulho(há uma favelada que pede à pombinha um candelabro e no seu barraco ele nem entra).
                A magica de Totó vai até que os pobres sejam presos e consigam fugir voando em vassouras para uma terra onde “bom dia quer mesmo dizer bom dia”.
                É irresistível frear a emoção no que De Sica chamou de “ingênua fantasia”.Francesco Golisano(Totó) e Brunella Bovo (Edvige, a amiguinha da favela) encabeçando um bloco que dança e canta “A nós basta uma cabana para viver e morrer...” Fazem parte de um poema que não se esquece com o passar dos anos.Digo por mim que nunca esqueci este filme. Gosto muito dele, tenho-o entre os meus preferidos, desses que vejo muitas vezes.
                Certo, o neorrealismo pariu um conto de fadas. Não há príncipe encantado nem beijo final de mocinho com mocinha. Curiosamente os protagonistas saem do planeta. Não em nave espacial mas no veiculo de Harry Potter.

                E lembro para terminar de uma sequencia em que um favelado não se deixa contaminar com a felicidade de Totó “il buono” e quer se jogar no trilho do trem. Totó o acode e pede que ele diga: “A vida é bela, tralalala”. Desajeitado ele repete.  Zavattini pinta a miséria da cor da esperança e o filme não precisa do technicolor para dizer isso. Obra prima.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Suicídio Cinematografico

“Esquadrão Suicida” abre com US$135 milhões nos EUA. Um recorde. Penso como o Marco Antonio Moreira: se alguém me flagrar entrando numa sala de cinema para ver uma coisa dessas ou estou com Alzheimer ou em crise masoquista.
Os super-heróis pularam dos quadrinhos para as telas grandes alimentados pelo CGI. Hoje a luta pela supremacia do mercado exibidor corre entre as editoras MARVEL (Grupo Disney)e DC COMICS(WB). Não satisfeitas com os seus astros agora manipula os vilões desses astros. Mas eu reparei que no grupo atual não está Luthor ou outro qualquer inimigo do Superman. Aliás eu quero ver como a DC, através da Warner, vai ressuscitar o Homem de Aço depois do horrível “Superman Vs Batman”. Sabe-se que nesse filme o herói morre e é sepultado. Deve ressurgir dos mortos como um deus. Tudo é possível. E os dólares alimentam o Homem Morcego que Bob Kane criou modestamente (achava os desenhos feios) e através de cineastas como Christopher Nolan (“Batman,  O Cavaleiro das Trevas/2008)virou “obra de arte”(houve quem votasse no filme entre os melhores de seu ano).

Gosto mesmo é de que as salas exibidoras repitam essas doses e me deixem ficar em casa. Hoje prefiro ver meus filmes na minha tela LED 3D através de dvv&bluray editados por empresas ou pinçados em download. Vejo à hora que quero e no conforto domestico. Nesse terreno os “suicidas” não entram.

sábado, 6 de agosto de 2016

Cabiria

Dirigido por Giovanni Pastrone em 1914 e escrito pelo poeta Gabriele d'Annunzio “Cabiria”é a primeira superprodução cinematográfica italiana. Feito em 1921 o filme chegou a inspirar David Griffith para realizar “Intolerância” clássico mairo do cinema.
            Remasterizado neste século através de material gravado com a graça de ter sobrevivido à guerra, o filme pode parecer confuso ao olhar de hoje, Mas a sua direção da arte impressiona sempre. Conta a historia de uma garota nobre que é sequestrada por piratas e fadada a ser sacrificada ao deus Molock. Mas é salva pelo romano Fluvio e seu criado Maciste(sim, o herói de filmes italianos dos anos 1970). `
`           Pensando que na época da chamada “cena muda” não havia recurso técnico como o CGI imagina-se o trabalho de Pastrone e sua equipe. Um monumento de mais de duas horas de projeção que se torna básico no aprendizado de historia da chamada Sétima Arte.

            “Cabiria”está no Olympia na Sessão com Musica do dia 9. No piano Paulo José Campos de Melo

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Janis Joplin

Janis Joplin é a cara feminina da Era do Rock ou o inicio da febre juvenil que o ritmo trouxe a partir de Elvis Presley. Mesmo assim, a moça, quando estudante, ganhou de seus colegas o titulo de “o homem mais feio da escola”. Querendo a independência de gênero numa época em que ainda não havia medrado da geração Woodstock ela sofreu o diabo desde que morava com os pais. Muitos relacionamentos fortuitos, um deles tendendo a dar certo e descoberto como um parceiro volúvel, Janis se drogou cedo. E a droga a levou aos 27 anos. Sua historia é a meta do filme de Amy Berg que só chega aqui pelo esforço da programação do Cine Estação, devendo ficar em cartaz até o final dom mês.
                “Janis, The Little Girl Blue” é um documentário feito de recortes de entrevistas, de fotos &pequenos filmes, enfim de recortes da vida da cantora, procurando sempre uma cronologia mas inteligentemente avesso ao relato acadêmico que poderia transformar a artista em mais uma biografada made in Hollywood.
                Eu passei um pouco distante do rock ( e mesmo do blue) nos meus verdes anos. Mas não era alienado a ponto de desconhecer algumas estrelas do ritmo. Janis, por exemplo, chegou a viajar para o Brasil em curta temporada. De sua musica eu pouco ouvi. Mas o filme não se detém na parte musical. É biográfico na linha anárquica que traduz o biografado embora esse recurso não seja novo (eu já vi filmes parecidos).

                Vale como uma homenagem à cantora que uma geração aplaudiu e a um tipo de cinema que varre a realidade perseguindo detalhes dessa realidade. Um programa diferente que o publico deve prestigiar. 

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Amigo Gigante

Roald Dahl (1916-1990) foi piloto da RAF durante a 2ª,Guerra e escreveu historias envolvendo crianças embora de conteúdo bastante adulto. Um exemplo que fez sucesso no cinema foi “A Fantástica Fabrica de Chocolates’ ganhadora de duas versões. Dele é este “The BFG”(O Bom Gigante Amigo) que a Disney produziu em conjunto com a Amblim, empresa de Steven Spielberg(e este dirigiu).
O filme fracassou em critica e bilheteria nos EUA. Mas exibe efeitos especiais estonteantes assim como apresenta um desempenho notável do ator Mark Rylance ganhador do Oscar de coadjuvante por “A Ponte dos Espiões” também de Spielberg. Ele faz o gigante idoso e camarada que leva a pequena Sophie (Ruby Barnhill) de um orfanato à Terra dos Gigantes onde mora escondido de colegas em estatura mas de comportamento feroz.
Os autor da historia é inglês assim como os dois principais interpretes. E o filme tem a mascara de ufanismo britânico, adentrando pelo Palácio de Buckingham e colocando a rainha (que num quadro visto antes lembra Vitoria mas acaba parecendo com a atual Elizabeth II )como hostess do gigante e até mandataria de uma esquadrilha de helicópteros para banir os grandes malvados das vizinhanças do amiguinho de Sophie(que no acordar de um sonho aparece num luxuoso quarto do palácio real).
O roteiro, e eu não sei até que ponto obedece o livro original, pareceu-me um pouco confuso na idéia poética de um mundo onde os sonhos são produzidos numa garrafa e soprados literalmente para as pessoas que dormem. Não se evidencia a contento como se firmou na amizade da garotinha órfã com o velho gigante que lhe rouba de um espaço odiado por ela. Nem se vai muito longe no trabalho do gigante que ajuda na idéia de um sonho maior da menina (e afinal despertada dentro desse sonho).Mas apesar de uma narrativa cheia de lombadas o visual é muito interessante e os atores capricham para deixar a emoção pedida.
O filme é mais Disney de hoje e muito menos do Spielberg do tempo de “ET”. O cineasta foi mais feliz no seu Tintim (2011) vindo do belga Hergé (1907-1983). Ali a narrativa se fez no processo “motion capture animation” ou desenho por sobre imagens reais. Mesmo assim “BFG” não é ruim. Há momentos marcantes como close final de Rylance quando Sophie tenta se comunicar com ele à distancia. Por sinal que o melhor do filme é a mascara do ator. Um velhinho simpático que faz jus ao tamanho que os efeitos especiais lhe deram.

Ah sim: tive a sorte de ver uma copia no som original com legendas. Como é importante a fala de  BFG, embaralhando silabas, penso no absurdo que foi dublada. Infelizmente a maioria das copias exibidas em Belém é com falas em português. 

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Mais Bourne

Jason Bourne encabeça a bilheteria nos EUA. O filme é uma metralhadora de planos. Tematicamente é uma piada pois fica entre a cruz e a caldeirinha na trama em que a CIA é a vilã. Se o heroi vai voltar à agencia de espionagem norte-americana isto fica para um proximo capitulo. No fim deste ele diz apenas que "vai pensar". Dolares estimulam.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Jason Burne

                Paul Greengrass, cineasta que eu lembro bem de “Capitão Phillips” e “Vôo United 93” volta a Jason Burne personagem criada por Robert Ludlum que ele abordou pela primeira vez em 2004 e voltou a ele em 2007. Matt Demon é  a chave dessa associação. E o tipo hoje ganha a popularidade de James Bond no inicio de carreira. Burne é uma franquia não só rentável como interessante do ponto de vista temático, com o vilão alocado na CIA(Central Inteligence Service),lomge do chavão atual que é terrorismo. Agora, depois da historia das escutas telefônicas ao redor do mundo (fato que chegou a ser reclamado pela presidente Dilma do Brasil na ONU) , o tipo dos filmes é uma espécie de Quixote contra a gradativa extinção da privacidade, levando a espionagem norte-americana a uma espécie do Grande Irmão do “1984”de George Orwell.
                O novo filme tem a missão de ser sempre interessante. Como a trama é corriqueira, sempre o mocinho solitário contra o super-vilão, Greengrass reforça a narrativa com o que se chama “machine gun cut”(corte metralhadora), um desvario de montagem que chega a ponto de não se delinear quem está lutando contra quem.
                Prodígio de CGI, com carros destroçados a todo instante, o filme inteiro é a corrida para achar Burne que se esconde na tentativa de descobrir a causa da morte de seu pai (a explosão de um fusca). Sabe que o homem esteve ligado ao serviço de espionagem, mas não tem provas de que a coisa partiu da CIA. Até há uma figura ligada às redes sociais com a cara de árabe (e logo se pergunta se não é um terrorista), passa na avalanche de planos em que muitos perseguem, a mando do chefão da agencia americana(Tommy Lee Jones), caça Burne, em especial um carrasco chamado Asset(Vincent Cassel). No meio da intriga está Heather Lee(Alicia Vikander), quem no fim das contas acredita em Burne como uma pessoa justa e quer que ele volte a ser agente federal.
                Curioso como o roteiro omite um romance de Burne com Heather, mas o filme não quer sair de um trilho em que a dinâmica é a formula “gato atrás do rato”. Na caçada surgem imagens de diversos países e soube que a equipe de filmagem andou por eles, sem duvida o custo maior da produção.
                Claro que é uma diversão bem administrada. Há um momento em que o herói leva um tiro no ombro mas isso não o impede de brigar com o pistoleiro de Cassel  na base do tapa. Lembrei daqueles seriados antigos em que a garotada exigia a “porrada” dos antagonistas com a curiosa licença dos chapéus não caírem em meio aos socos.
                Ressalto, reafirmo, a edição. Planos manuais surgem rápido com as cores tendendo ao vermelho. Felizmente a produção não entrou nessa de 3D. Os efeitos seriam demais.

                Lançamento mundial com algumas copias legendadas por aqui (Cinepolis Boulevard). 

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Pickpocket

“O Batedor de Carteira”(Pickpocket/1959) foi feito depois de “Um Condenado a Morte Escapou”(Un Condamné à Mort S’Echappé/1958). Marca a mudança de estilo de Robert Bresson(1901-1999) cineasta que encantou o pessoal da Nouvelle Vague a ponto de Godard chama-lo de “o cinema francês” como Dostoiewski seria “a literatura russa’.
Mesmo antes de títulos como “Mouchette” o diretor exibia uma forma lenta e “per cause” detalhada de seu trabalho. Em “Pickpocket”teve até um técnico em bater carteiras como auxiliar. São muitos os planos de mãos adentrando bolsas e bolsos no roteiro de Marcel(Martin LaSalle), um homem triste, sem horizonte(emprego), distante do amor de Jeanne(Marika Green) e mesmo da mãe moribunda(Dolly Scal). O ato de roubar faz parte de um quadro psicológico, o único modo de buscar a felicidade(roubando-a).
                O filme só me pareceu vulnerável no acompanhamento da narrativa em primeira pessoa. Quando Marcel diz que a sua mão tremia lendo um jornal num transporte coletivo na verdade não se vê isso. E por aí chegam descrições de atos que a imagem tem a obrigação de traduzir. Também o figurino se exaure no paletó escuro do personagem que jamais é mudado.Será que Bresson quis dizer que Marcel é imutável como aliás é a sua expressão de sofrido ?
                O final pode parecer abrupto, mas enxuga um terreno propicio ao melodrama. O espectador sai do cinema pensando em como ficará a vida do batedor de carteiras depois de uma temporada na prisão e sabendo que a sua amada é agora mãe. Como em “Um Condenado...” não importa saber detalhes de um destino. Basta dizer que o do primeiro filme “escapou”.

                Rever Bresson é sempre salutar. Aliás, muitos jovens espectadores locais desconhecem a obra do artista. E a ele se deve o espirito da “nouvelle...”, sem jamais aderir ao malabarismo formal ou ao afastamento das emoções na plateia.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Meus filmes

No dia 9 de Agosto de 1951 ganhei de presente de aniversário uma filmadora 16mm para 50 pés de marca Bell Howell. Era um “brinquedinho” tal o tamanho e o modo como se encaixava o filme, um magazine da exígua dimensão. Quando meu pai foi comprar a câmera o dono da loja de fotografia achou que ele devia comprar também um fotômetro. O problema é que não sabia manejar fotômetro. Minhas fotografias fixas com uma Rolleiflex de meu irmão eram moldadas na luz do sol. Eu sabia que o diafragma em f-16 ou f-11 dava foco na luz natural e ainda fazia profundidade de campo. O que eu passei a filmar foi por intuição e mais tarde por ensinamentos de Fernando Melo, mais tarde câmera dos filmes de Libero Luxardo, então dono de uma oficina que revelava filmes e consertava projetores(as minhas maquinas pregueiras era freguesas). Nunca aprendei cinema (técnica) em livros. Fiz tudo na marra, perseguindo a luz que hoje me lembro em tom de poesia.
                Fiz filmes com a Bell Howell depois com uma câmera maior (para 300 pés) que meu irmão tinha embora não fosse fã de cinema (era, sim, curioso de tudo). E  pouco usei tripé. O normal era câmera na mão, com travelling que ficava entre meus passos e no meu carro, eu dirigindo com uma das mãos e segurando a filmadora com a outra mão.

                Chamava minha “produtora” de Eldorado. E ainda é assim, com o vídeo. Conto detalhes no livro “O Medico Direito e o Monstro Cinematográfico” que minha família produziu e deve ser lançado neste agosto que está chegando. O Direito era como me chamavam quando exercendo a medicina, lembrando Direito Alvares, o mano doutor. O Monstro é aquele que usa o cinema como hobby. Ou paixão.

O Deus de Ouro

                Remexendo minhas velharias encontrei dois rolos de filme 16mm de minha autoria que em principio não posso afirmar o que seja. Como na borda de um carretel está escrito”O Deus de Ouro” penso que se trata do filmado em 1953 que fez grande sucesso na estreia, no meu Cine Bandeirante, um arremedo daquelas sessões de gala hollywoodianas. Explico: boa parte da vizinhança serviu de atores. E gerou um fato muito curioso. O primeiro rolo, de 50 pés, foi de um filme positivo já vencido. Não tinha dinheiro para comprar um novo. Rodei assim mesmo e na revelação surgiram manchas claras sobre as imagens. Na projeção elogiaram os “trovões” que surgiam quando um safari improvisado cortava mata à beira de um igarapé. Fiz um efeito especial involuntário. Também usei de um artificio ensinado pelo amigo Edimburgo Vasques, o Bubú, que pedia que se colocasse uma flecha entre o braço de um “ator” e se filmasse de outro lado. A impressão era de que o personagem havia sido flechado pelos “índios” da historia.
                Uma estatua marajoara que no filme alemão “ Mundo Estranho”(Die Gottin vom Rio Beni/ 1951) de Franz Eichorn era usada como um ídolo sagrado de tribo indígena locada no interior do Amazonas, serviu de base ao enredo. O objeto pertencia ao pai do colega Mario Antonio Martins e as filmagens foram feitas em Ananindeua num sitio de um medico amigo. Gastei 300 pés e houve muita coisa curiosa em meio ás filmagens. Uma delas foi a falta de um figurante, o Agostinho Barros. Para não atrasar o projeto “matou-se” a personagem. Tem um plano dos expedicionários adiante de uma cruz com a identificação do colega.
                “O Deus de Ouro” eu pensei perdido. Se é mesmo uma copia (vou ver), sinto alegria de estar diante de uma brincadeira de cinema que feita em tempo de carnaval levava todos os participantes num carro, muitos na mala, fantasiados de índios, todos cantando alegremente.
                Do elenco já se foram o citado Bubú, Acleu Braga, Raimundo e Julia Souza Cruz. Se o filme ainda existe é uma homenagem a esses amigos.
                Ah sim: eu fazia tudo: argumento (não tinha roteiro), fotografia e edição  (quase sempre na hora da filmagem, ou seja, plano-sequencia). Isso no tempo em que vídeo-tape era ficção cientifica.





sexta-feira, 22 de julho de 2016

Invasão a Londres

Não havia visto no cinema comercial por serem exibidas apenas copias dubladas deixando para ver agora em dvd este  “Invasão a Londres”(London Has Fallen), filme dirigido pelo iraniano Babak (poderia ser babaca )Najafi , veiculo que o promoveu a funcionário de grande estúdio de Hollywood, orientando um glossário de CGI que se não desse para rir seria de chorar.
                Na verdade o roteiro usa a capital inglesa como estopim de uma explosão que envolve especialmente o Presidente dos EUA, convidado para o funeral do Primeiro Ministro britânico num comitê que envolve mandatários de diversos países. Não interessa no que foi escrito por  Creighton Rothenberger e mais 7 autores como ficam os colegas do norte-americano, na verdade o alvo maior dos terroristas que virtualmente explodem Londres na hora em que o funeral chega à abadia de Westminster. Mais de 40% da ação (e é muita ação) se prende à fuga do politico ianque ao lado de um agente de sua terra que não sei se nasceu em Krypton ou se mora na Batcaverna, papel que Gerard Butter cumpre com a cara de mau que hoje se pede aos heróis como forma de livrá-los do clichê de bom moço.    
                Esta semana vi dois filme do tempo da 2ª.Guerra, “Diabos do Céu” e “Horizontes em Chamas”, que seguiram a linha propagandista dos EUA usada para alimentar a torcida popular pelo êxito dos Aliados na campanha contra Japão e Alemanha. Agora a formula só muda de mocinhos. Prossegue a xenofobia e trocam-se os inimigos declarados em conflitos “oficializados” pelos terroristas islâmicos. É enorme a produção de cinema do gênero e os super-heróis de HQ estão lutando contra terroristas na folga dos extraterrestres.
                O que salva a sessão é a hilaridade do argumento centrada no tipo vivido por Butter. Ele pega de uma metralhadora e mata um exercito inimigo. Não ganha um só arranhão e ainda ensina o seu presidente a atirar do mesmo modo. No papel de vice-presidente, Morgan Freeman faz um espectador da aventura vendo tudo numa tv americana. A cara dele é de quem está para espocar de rir.Não fosse assim e este carnaval bélico que nem se sabe se é visto pela Rainha Elizabeth II, seria intolerável mesmo na telinha.
                Diz-se que cinema comercial é aquele que procura o que o publico gosta. Mas as bilheterias deste “Invasão a Londres” foi de US$62.000.000 para um orçamento de US$60.000.000. Nada estimulante. O que se gastou foi nos efeitos digitais. Mas o Godzilla faz os mesmos desastres...

                                

sábado, 16 de julho de 2016

Truman

                Cachorro foi muito usado pelo cinema como espoleta de arma sentimental. Há casos como o de Hachi que Hollywood refilmou de um bom trabalho japonês com Richard Gere adotando um cão que morre na espera por ele quando não volta para casa por conta de uma tragédia(“Sempre ao Seu Lado”/Hachi, a Dog Tale/2009). Em “Truman(Argentina/Espanha, 2015) o animal é o “coluna do meio”entre dois amigos que não se viam há muito tempo: Julian (Ricardo Darin) e Tomás(Javier Câmara). O primeiro está com um câncer no pulmão e recusa quimioterapia pois resolve passar sem dores seus últimos dias de sua vida. A direção é do catalão Cesc Gay, tambem autor do roteiro ao lado de Tomás Aragay, e a trama é justamente o encontro dos velhos colegas e a certeza de ser o ultimo. Base sentimental que poderia gerar um desses saca-lagrimas como “Como Eu Era Antes de Você”. Mas da mesma forma que o melodrama inglês ora em cartaz mundial é segurado pelos atores. Darin é um expoente do cinema portenho e Javier é lembrado como o enfermeiro que engravida uma paciente em coma no trabalho de Almodóvar “Fale com Ela”. Papéis que servem como luvas a artistas talentosos. E  o Truman do titulo, que não precisa ser um astro canino como o irmão e raça visto em “O Artista’, apoia o dueto.

                O filme ganhou exibição aqui no Cine Libero Luxardo. Ainda bem pois é dos mencionáveis entre os melhores deste ano. Um exemplo de como se deve filmar um tema perigoso, pois fica margeando a pieguice, sem abdicar de um enfoque introspectivo.