sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Everest


               Em 1950 o diretor Ted Tetzlaff ajudado por Edward Dmitryk  fez um filme chamado “Neve e Sangue”(The Whit Tower) sobre uma hipotética escalada no Monte Branco,nos Alpes Suíços. Gostei do que vi. Glenn Ford encabeçava o elenco. Na linha de filmes em ambientes gelados, mas não propriamente montanha, também gostei (e ainda hoje lembro) de “Epopéia Tragica”(Scott of the Antartic/1948) de Charles Frend, sobre a malograda missão do inglês Robert Falcon Scott ao Polo Sul. Caso verdadeiro, o filme detalhava a agonia a expedição de Scott, afinal em vão, pois logo um compatriota dele, Roald Amundsen, chegou ao limite do planeta.John Mills fazia o papel de Scott.

               Agora vejo o que o islandês Baltasar Kormákur fez de uma expedição mal sucedida ao Everest, o chamado “teto do mundo”, em 1996. O enfoque maior é sobre o líder do grupo interpretado por Josh Brolin. E me parece que esta primazia de foco, diminuindo os demais personagens, é um dos percalços do filme. Não se define bem quem é quem e por isso o espectador não se emociona quando um dos montanheses morre ou se deixa abater pela falta de oxigênio e excesso de frio.

               Mas “Everest” é um prodígio de efeitos especiais, de tomadas em plano conjunto e de profundidade de campo evidenciando o papel da 3D. Dá para se ter a ideia da dimensão do perigo dos que se metem a escalar a maior montanha do planeta. E se ter a expedição de 66 como irresponsável posto que comercial (os atuantes pagaram para escalar).

               Um espetáculo visual que eu imagino como foi em IMAX, técnica por onde andou para realçar ao máximo o cenário majestoso da montanha gelada.

               O filme abriu o Festival de Veneza com rugas da critica. Seria um espetáculo comercial numa promoção “artística”. Mais um gol do besteirol que separa arte de consumo – como se não se vendesse quadros e livros. Chegado aqui, “Everest” ganha a frequência de quem está fugindo dos cinemas comerciais voltados ao publico que adora a dublagem (o melhor modo de chamar esse publico de medíocre).

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Crer ou não crer...


               Dizia-se no tempo em que se amarrava cachorro com  linguiça, que “de boas intenções o inferno está cheio”. O caso deste filme “Você Acredita?”(Did you believe?). Feito por igrejas protestantes, focaliza 12 pessoas em diversos tipos de crise. O corifeu dessas historias é um pastor que tenta ajudar algumas. Há coincidências risíveis como o drama de uma mendiga parturiente que é protegida pela mãe de uma menina morta aos 5 anos e que a hora do parto é dentro de um carro acidentado, levando a mãe à morte e a filha nascida ao colo (e posto)da protetora.

               O roteiro chega a visualizar “milagre”. Um ex-presidiário benemérito, diagnosticado com leucemia, morre clinicamente e volta à vida depois de se despedir de uma protegida e pedir para ver a filha desta. O medico se impressiona, mas a enfermeira diz que foi um milagre e acabou-se.

               O titulo do filme pergunta se o espectador crê. Pelo modo como passa não afiança a crença. Crer é usar a inteligência como arma. E inteligência é o que não se usa num caleidoscópio de peças marcadas onde nada se explica, tudo se comporta(paráfrase da sentença clássica de Lavoisier).

               Claro que o filme ganhou salas nos cinemas locais.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O Legado de Carlos Manga

               Morreu Carlos Manga. Há pouco li o seu livro de memórias. Começou ao cinema dirigindo números musicais das chanchadas. Depois, ganhando a confiança do dono da Atlântida Cinematográfica, Luís Severiano Ribeiro Jr, chegou à direção. E fez muitos filmes da empresa, a começar com os carnavalescos que surgiam no inicio de cada ano apresentando o que se deveria cantar na festa de Momo, simultaneamente chegado em disco 78 rpm por cantores em moda.
               Manga deu um novo impulso ao artesanato da comédia. Conta que quando fez “O Homem do Sputnik”(1959) chegou a perder um curso nos EUA por conta da critica deixada no papel de Jo Soares (aquela sequencia em que o norte-americano sabendo da queda do satélite russo no Brasil explicava: “Brasil é o capital de Buenos Aires...”).
               É dele um punhado de clássicos que atraiam multidões como “Nem Sansão nem Dalila”, “De Vento em Popa”, “Guerra ao Samba” e “Garotas e Samba”. Dirigia o grande Oscarito, e foi marido de Inalda, a “miss Cinelandia” do tempo da revista que levava esse nome. Depois de fazer filmes fez televisão(novelas e programas cômicos). No seu livro conta o que deve interessar aos que acompanham o cinema no país (não só o cinema feito no Brasil mas o cinema que atraia o publico brasileiro).
               Eu lembro o tempo da chanchada com muito carinho. A estreia de uma delas, no Olímpia(da família Ribeiro) fazia fila na porta desde o meio-dia quando a primeira sessão era ás duas da tarde. Não esqueço quando em um desses programas o publico levantou o quadro que ficava acima da bilheteria e atirou sobre quem estava querendo furar a fila. E outra vez, no caso da estreia de “Guerra ao Samba”, zombava do boato de que a casa ia desabar pois a viga mestra do telhado estava corroída pelos cupins (um jornal chegou a publicar uma foto disso). Eu fui, sentei na ponta de uma fila perto da entrada (e tela) e só vi e ouvi as piadas de Oscarito .
               Manga foi muito importante na historia do cinema brasileiro. É preciso que se escreva que isso não é só tratar dos intelectuais que esnobavam com filmes densos. Fazia divertir um publico quando a televisão engatinhava. E sentiu, quando esta passou a usar suas próprias pernas, que era hora de se deslocar de casa. Fez TV de 1995 a 2007.
               Provavelmente algum filme de Manga chegará agora ao Olympia(com o velho”y”) em sua homenagem. Ele tomou o fio deixado por Watson Macedo, o diretor de “Aviso aos Navegantes”(1951) e mais comédias com o carnaval fazendo a vez de sal no prato.
              

               

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Nocaute


               Do mundo dos esportes o boxe tem um bom currículo em cinema. Titulos como “Punhos de Campeão”, “O Touro Indomável” e “Marcado Pela Sarjeta” exemplificam.Dessa forma não é de espantar o mínimo de qualidade que banha “Nocaute”(Souhpax) ora em cartaz nas telas mais favorecidas do país.

               Jake Gyllenhaal deve estar no pareo dos Oscar em 2016. Aproveita a chance de um papel onde mostra o seu talento. Ele é o “boxeur” campeão de peso-pesado que perde a mulher numa briga fora do ringue e se deixa abater na paixão. A volta contra um muito mais novo e irado desafeto seria o modo de homenagear a esposa morta, a filha que ficou (e que ele tenta de todas as maneiras conquistar) e a si próprio, fazendo bem o que sabe fazer.

               O mal é um roteiro, previsível, o primeiro escrito para cinema por Kurt Sutter um ex-presidiário. Felizmente o  diretor Antoine Fuqua mostra o que de melhor andou fazendo em coisas como “Dia de Treinamento” e “ O Protetor”. A luta final, por exemplo, deixa margem à torcida do espectador embora ele saiba que cinema comercial americano dá sempre a mão ao mocinho.

               Em tempo : apesar de ser um tema que deu bons filmes, nada, a meu ver, bate “Punhos de Campeão”(The Set Up) que Bob Wise fez em 1949 quando saia da sala de edição da RKO onde montou “Cidadão Kane”. Por sinal um dos raros filmes em que a gente acerta o relógio assistindo: o tempo de ação é o tempo da projeção.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A Segunda Mãe


               Empregada domestica que dorme no emprego é hoje bicho raro. A maioria vai e volta.E muitas vezes os patrões não atinam para o fato de quanto é sacrificado essa viagem diária. No cinema, as domesticas já estiveram em filmes mais que interessantes como “O Romance da Empregada” e “Domésticas”. Agora surge este “Que Horas Ela Volta?” onde se exibe uma forma da luta de classes, a empregada que se aloja na casa da patroa, cuida do filho dela como se fosse seu, e se espanta quando a filha que mora longe chega para fazer vestibular. O cenário é o Murumbi(S.Paulo). A domestica mora num quartinho. Tem que alojar a filha ali, agradecendo o favor dos patrões (digo mais patroa porque o homem da casa é um idoso semiaposentado que não pesa na balança). O problema é que a jovem não se afina na vida que leva a mãe. E abre-se espaço para o drama da classe que se vê por baixa.

               A cineasta Anna Maylaert não faz demagogia, não solta foguetes à esquerda, não endeusa os ricos. Faz cinema. Usa sempre câmera fixa, dosa os enquadramentos para deixar num plano o que quer dizer, tira o melhor de seus atores. Regina Casé, por exemplo, nem deixa lembrança dos papéis de comediante “grossa” doutras vezes. Numa hora em que se mete na piscina vazia dos patrões, e vazia porque a filha ousou tomar banho antes nesse espaço, baila a liberdade, enaltece o ser humano que é. Beleza de sequencia e gol da atriz.

               O filme milagrosamente chegou à Belém. Mas como todo milagre numa estação pecaminosa por filmes ruins em série, dura pouco em cartaz e passa em sala pequena e com apenas dois horários por dia. De qualquer forma passa. Muita coisa que promete não nos chega.O novo Woody Allen , por exemplo(“O Homem Irracional”) restringe-se a cinemas do sudeste e mesmo do nordeste. Aqui é a horta de abacaxi. E o pior é que há quem coma, a começar pelos que desejam ver os filmes estrangeiros dublados.

               Eu pouco vou a cinema atualmente. Mato minha cinemania vendo dvd 3 x ao dia. Mas não deixo passar as exceções. “Que Horas ela Volta?” que nos EUA e Europa chama-se “Segunda Mãe”, é uma delas.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Volta para casa

               “Gui LaI”, ou no titulo vindo dos EUA “Going Home”(Indo para Casa) é de comover. Lembram de Gong Li ? O amigo Alexandrino Moreira dizia que era “a sua namorada”. Tudo por conta do papel da jovem atriz em “Lanternas Vermelhas”, do mesmo Zhang Ymou exibido no Cinema 1. Ela que hoje surge com este “Gui Li”. Com 49 anos, prestes a chegar (em dezembro) aos 50, a atriz chinesa não quer que se lembre da menina bonita de 31 . Mas que atriz, minha gente! Faz o papel da mulher de um perseguido pelo governo da “revolução cultural” maoísta. Enquanto o marido se esconde e foge ela é atacada pelos guardas e violentada. Não se sabe disso de imediato. Sabe-se do papel da filha dela que quer ser a principal interprete de um balé que exalta a revolução. Mas as coisas mudam. O marido, que fora preso, é absolvido quando cessa o movimento revolucionário. Volta para a casa. A filha não chegou a ser estrela por conta da fama do pai.E a mãe não reconhece o marido. Quando recebe uma velha carta em que ele marcava a volta à casa para o dia 5 (não diz o mês nem ano), ela passa a esperar a chegada de seu amado a cada desse dia. E ele, desconhecido como se apresenta agora diante da mente sofrida da mulher, vira seu amigo, leitor de cartas que havia escrito para ela e afinador do piano em que ele tocava.
Nada de final à americana. Triste e sempre bonito o filme é desses que a gente não esquece. Hoje eu vejo em vídeo cerca de 3 títulos por dia. Esqueço boa parte. Mas isso só enaltece os que eu não esqueço.

Claro que essa obra-prima não chegou aos cinepolis e moviecons da praça. Talvez um dia chegue aos programas extras. E às locadoras e lojas. Por ora só em download._