terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Nova caça em cinema

                Os industriais e pseudo-criticos de cinema norte-americano atacam Woody Allen pelo simples fato dele ser um gênio. E gênio esse terreno não cultua desde Orson Welles e Stanley Kubrick, personalidades que também sofreram bullyng dos poderosos do meio. Hoje leio que estão atacando atores que trabalharam com Allen na nova forma de “caça às bruxas’ que se pode ver com “bruxas à caça”, repetindo o “macarthismo” na relação de atores que assediaram sexualmente colegas de trabalho. Allen, que foi absolvido de um julgamento da ex-mulher, Mia Farrow, é um dos indiciados nessa gana que confunde as coisas e aproveita para usar de um adjetivo para atacar talento criador. Tal como aconteceu nos anos 60/70 com gente como Dalton Trumbo, Joseph Losey e tantos outros banidos como “comunistas”, agora qualquer delação gratuita ganha o titulo de “assedista” ou tarado.O que procede se anula no exagero que sublinha a inveja de quem tem talento e sabe se expressar. 

Sempre aos Domingos

                O filme “Les Dimanches de Ville D’Avray” ganhou no Brasil o titulo de “Sempre aos Domingos”e muitos pensaram que tinha a ver com “Nunca aos Domingos” de Jules Dassin. Nada disso e o nome têm base. Hardy Kruger faz um piloto obcecado com a morte de um a menina em um acidente profissional e encontra um pai desesperado deixando a filha em um orfanato religioso com a promessa de vê-la só aos domingos. Mas ele sabe que o homem está fugindo de qualquer obrigação e a menina jamais o verá . Lembrando sempre o seu drama, afeiçoa-se da garota e passa a busca-la no rigoroso colégio nos dias previstos e com ela manter um relacionamento paterno. Isto até que uma tragédia se aproxime.
                A menina se chama Cybelle mas as freiras acham o nome feio e mudam para Françoise. Numa das saídas domingueiras ela conta ao piloto como realmente se chama. Ele acha o nome muito bonito e ela explica a origem mitológica.
                O filme é um dos poucos do diretor Serge Bourgninon. Emociona sempre. A garota, Patricia Gozzi nasceu em Paris, em 1950 e fez 7 filmes até 1973. O diretor também deixou o cinema em 1992 depois de 12 trabalhos inclusive para a TV. Este que ora se reprisa por aqui é o mais aplaudido. Ganhou o Oscar de filme estrangeiro em 1964. Passou em Belém nessa época e chamou a atenção da critica, em especial de Maiolino Miranda, medico psiquiatra e fundador de um cineclube (“Os Neófitos”) . Maiolino gostou tanto que deu à sua filha o nome Cybelle. Hoje que ele não mais está entre nos a exibição ganha um tom ainda mais importante. Trata-se de um raro filme em que a linha melodramática é diluída em excelentes interpretações, ambientação e cinegrafia corretas, traduzindo com presteza uma historia em que se poderia perder espaço e tempo numa busca pela psicologia de personagens ou estudo mais acurado do drama básico que cerca as atitudes do piloto vivido pelo até então pouco aplaudido Kruger(de “Entrevista com a Morte”, “Ingênua até Certo Ponto” e uma pequena participação no “Barry Lyndon” de Stanley Kubrick).
                Gozzi, no filme exalando simpatia em seus 12 anos, marcou um tempo. E ainda tem no elenco Nicole Courcel a única do grupo que já deixou este mundo(morreu aos 84 anos em 2016 depois de fazer 70 filmes , entre eles “O Testamento de Orfeu”de Jean Cocteau e “ Noite dos Generais” de Anatole Litvak).

                Uma revisão oportuna não só pela qualidade do filme, mas por lembrar o nosso Maiolino, um cinéfilo autentico.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

The Post,- A Guerra Secreta

                “The Post”(Guerra Secreta), novo filme de Steven Spielberg, segue a linha de “Todos os Homens do Presidente”(All the President’s Men), de Robert Mulligan, retratando um episodio da historia politico-jornalística dos EUA, ali reportando o Caso Watergate ou a invasão do espaço do Partido Democrata pelos republicanos do então presidente Nixon (fato que levou a abdicação deste).Aqui é a Guerra do Vietnam. Alimentada pelos governos desde Eisenhower, seguindo até mesmo o democrata John Kennedy, a luta nas matas asiáticas servia à imposição governamental estadunidense contra o comunismo e paralelamente a interferência no governo do Vietnam do Sul, capitaneando a propaganda da força americana na área e com isso a ideia de que o mundo dependia dos EUA. Não importa se para a propaganda se usasse vidas humanas (soldados que morriam em série) e uma improvável vitória. Valia apenas a imagem de um governo capitalista forte.
                O filme atual soma-se a tantos que criticaram especialmente o governo Nixon. Retrata a disputa dos jornais Washington Post e New York Times pelos documentos do Pentágono que diziam do oportunismo que cercava a campanha bélica no Vietnam. O roteiro de Liz Hannahh e John Singer começa com uma sequencia da guerra onde muitos soldados americanos morrem na mata alvejados pelos chamados vietcongs. O homem que escapa segue para Washington e é quem vai contar os fatos, embora contestado desde a viagem pela autoridade governamental. Este documento é que chega primeiro ao “...Times”, em seguida censurado e proibido de continuar publicando-o, e acaba nas mãos do “...Post” que é quem se focaliza com mais detalhes, seguindo a dona do jornal, Kay Grahan (Meryl Streep excelente) que frequentava a alta roda da sociedade americana da época ( e sentia não ter sido convidada para o casamento da filha do presidente), herdeira do jornal com a morte do pai, ela que acaba deixando que os fatos sejam publicados arriscando-se não só à censura estatal como a do concorrente por assumir matéria que era dele.
                Tom Hanks , ator dos preferidos do diretor, também se apresenta brilhante como o jornalista do “...Post” que ousa a publicação proibida.
                Uma produção cara, com recriação da época até numa sequencia de tribunal, o filme não deve ser popular em países fora dos EUA ou quem desconheça o dado histórico. Mas é muito bem realizado e advoga a liberdade de imprensa na oportunidade que se oferece agora no governo Trump onde os jornais são alvos da “zanga” do republicano milionário (e intelectualmente criticado ao extremo).

                Candidato aos Oscar de filme e atriz fa merecedor. Não se sabe é por que Spielberg ficou de fora. Não é a primeira vez que se faz isso com ele. E o cineasta é um dos que mais vende cinema.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Candidatos a Oscar

                Dois filmes estrangeiros candidatos a Oscar ganham pelo que eu vi, dimensões esquecidas dos que pretendem a categoria majoritária da premiação. O húngaro “Corpo e Alma”(Testrol el lélekröl) de Ildikó Enyed , vê o romance entre um dos donos de um açougue e uma inspetora da carne que ele exporta, a partir de dois ângulos: ele um homem tímido por ter um defeito no braço(sem se saber o que causou) e ela uma jovem em estado pré-depressivo, e como outro ângulo, em contraponto, um casal de servos e uma paisagem nevada, de inicio vistos de longe, depois mais de perto, chegando a detalhes de seus corpos(closes). Tudo com razão de ser. Os tipos se aproximam com suas peculiaridades e no fim chegam a fazer sexo sem que as ultimas imagens indiquem um”happy end”tradicional (ela chegou a tentar o suicídio e depois de aceitar um romance pode amar a vida, sem que se veja expansividade – como os animais focalizados nos entre planos assumam uma reunião mais expansivas).
                O filme tem uma narrativa lenta, usa de todos os recursos de imagem pontuando a luminosidade e cores, a jamais se rende aos recursos tradicionais de “filmes de amor”.
                O outro titulo a competir na categoria de Oscar é “Desamor”(Loveless/Nelyubov) da Rússia dirigido por Andrey Zviagintsev. Aqui é um casal se dissolvendo, focalizando-se uma séria briga de marido e mulher depois da sequencia em que ela mostra a pretendentes a casa onde mora que é posta em aluguel. Todo o drama familiar é ouvido pelo filho menor, que se revolta e foge. O desaparecimento do menino não é logo focalizado. Veem-se os “ex” em outros encontros afetivos, aparentemente mais felizes com isso. Mas o sumiço do garoto os reúne junto à policia na busca por muitos espaços.
                O interessante é que não cabe ao roteiro ficar na intriga policial. Interessa os comportamentos dos pais do desaparecido. E obviamente o mundo em volta. Tanto que a primeira sequencia mostra o garoto andando pelo cenário nevado onde se vê galhos secos de arvores altas.Um brinquedo dele chega ficar num desses galhos. A imagem disso voltará no final mas não é para dizer por onde o menino andou ou está. O mundo dele é outro e não dos pais beligerantes. Isto é muito claro numa linguagem aparentemente linear, com ótimos desempenhos dos atores. Um filme bem feito, com imagens definindo os espaços dramáticos, e de fácil acesso a todos os públicos embora na superfície.

                Boas escolhas para a festa de fevereiro.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Animações

Duas animações saltam aos olhos : “Com Amor, Van Gogh” e “A Moça sem Mãos”. A primeira usa da técnica stop-motion colocando os desenhos acima das imagens de atores. Trata de uma intriga ficcional passada depois da morte do pintor  Vincent Van Gogh chegando à conclusão de que o óbito foi ocasionado pelo agravamento de um disparo de sua arma ignorado para tratamento por seu médico, um pintor fracassado. A segunda é uma exposição livre de um conto dos irmãos Grimm seguindo uma jovem que perdera as mãos tiradas por seu próprio pai em um pacto com o diabo. Conhecendo um príncipe de quem terá um filho não só ganha novas mãos como a posse de um castelo que ela acaba rejeitando quando o príncipe volta de uma guerra e é alvo de uma intriga que moldaram uma carta assinada por ele rejeitando a mulher. Os dois filmes de alguma forma inovam no gênero que a Disney domina nos EUA e a PIXAR , que acabou sendo parte da Disney, aprimora na imaginação de seus roteiros.
                “...Van Gogh” é um grande esforço estético com mais de 100 artistas pintando as personagens e “décor” com as cores dos quadros do mestre da pintura. Apesar de se apegar a um enredo típico de filme dramático com atores –e por aí exibe seus percalços, inclusive de ritmo- o filme maravilha pela evocação de uma arte nobre, sendo como se Van Gogh levasse à animação seus belos quadros.
                “A Moça sem Mãos”(La Jeune Fille Sans Mains) é cinema experimental em estado de graça. Traços esboçados jogam a trama em sequencia sem uma ordenação acadêmica. É cinema criativo, sem preocupação com a estética dramática tradicional. Quem já conhece o conto de onde veio o enredo não terá dificuldade em acompanhar a odisseia da camponesa sem mãos. Mas quem não sabe da historia talvez se atrapalhe se buscar uma trama bem urdida. Não é este o objetivo dos autores que pensam apenas em criar imagens novas, rascunhos que se juntam em fotogramas coloridos e descoloridos. A direção é de Sébastien Laudenbach
E ainda tem “Garoto Fantasma”(Phantom Boy) dos franceses que lançaram “Um Gato em Paris”:Jean Loup Felicioli e Alain Gasgnol. Aqui é a tradição do desenho animado em uma trama cativante de um menino hospitalizado que percebe poder voar e segue com um colega de enfermaria, ele voando e o outro andando, atrás dos bandidos que  ameaçam a cidade (norte-americana).
Formalmente nada de novo, mas uma animação que se vê com agrado. E de certa forma imaginosa.
Os filmes surgem no período em que “Coco”(Viva, a Vida é uma Festa") da PIXAR ganha prêmios. E com razão. Mas é bom saber que um gênero especifico ganha campo saindo da brincadeira infantil para agradar a todas as idades.



“Van Gigh” é dos  diretores Dorota Kobiela e Hugh Welchman chefiando mais de uma centena de pintores nos estúdios poloneses. O projeto levou seis anos de trabalho da equipe. 

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Atomica

            “Atomica”(Atomic Blonde) passou nos cinemas locais e eu não fui ver, preferindo me resguardar do gênero(ação), hoje mola mestra do cinema industrial, crente de que é  o que os jovens gostam e pagam ingresso. Vi agora em casa (dvd) e me surpreendi com alguns achados.
O roteiro é adaptação dos quadrinhos, “The Coldest City“, escritos por Antony Johnston e Sam Hart. Não o conheço. Mas pelo filme percebe-se que é da faixa de privilegia a mulher, tirando-a da praxe de “ajudante do mocinho”. Aqui a heroína é uma espiã ligada a CIA que vai agir na Berlim do final do muro que separava a cidade, é sobretudo boa de briga. O objetivo é conseguir uma lista de nomes ligados aos soviéticos que não desejavam o fim da autoridade do setor oriental , alimentando a guerra fria com os EUA chefiando. O contato não é fácil e a heroína vê-se alvo de assassinos profissionais. É muita pancadaria e desta vez as mulheres batem como os marmanjos e saltam como atletas olímpicos.
            O final deixa brecha para uma série; Charlize Theron dá margem a isso. Sua Lorraine é mais ativa do que a Mulher Maravilha de outros gibis. Claro que a trama é fantasia a molho pardo e nada de mal acontece à espiã. Cabe até a paráfrase ao texto de John LeCarré, “O Espião que Veio do Frio” ,  e que deu um filme de Martin Ritt em 1955. Mas o que preside este “Atômica” é a ação pela ação. E isto a direção de David Letche consegue. E Charlize assume. Valem os dois pela hora e cinquenta que se passa assistindo a proeza.

            Não sei se suportaria a coisa na sala gelada de um shopping. Em casa é melhor do que um episodio de TV . Pelo menos não dá sono.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

O Destino de uma Nação

Winston Churchill entrou para a Historia, não só do Reino Unido mas do mundo todo, como o ministro inglês que desafiou a prepotência nazista, no caso às vizinhanças da Inglaterra depois de tomar países europeus - chegando perto da França(que acabou tomando).No momento crucial em que soldados ingleses viviam o drama da retirada em Dunquerque, tentando escapar dos tanques alemães acolhidos por barcos particulares que atendiam aos apelos do próprio Churchill, ele, o Primeiro Ministro, recusava-se a assinar tratados de paz com Hitler(através de Mussolini, o chefe fascista italiano) pedindo aos conterrâneos que “lutem nas praias” mas não se entreguem ao ditador germânico.
                A odisseia de Churchill ganha o roteiro (assinado por Anthony McCarten)do filme ‘O Destino de uma Nação”(The Darkest Hour) de Joe Wright (diretor do ótimo “Orgulho e Preconceito”). Um roteiro objetivo, fato que alguns críticos não quiseram ver pedindo detalhes biográficos do principal personagem(que é delineado sem necessidade de maiores traços). E a direção conseguiu unir todos os elementos cinestéticos num trabalho que se pode chamar de histórico, recriando a Londres de 1940 até na feição do metrô da época, quando pessoas do povo se manifestam ao ministro seu desejo de continuar lutando pelo país ao invés de render-se à sanha nazista.

                Mas apesar de tudo funcionar a contento na realização, salta aos olhos o esforço do ator Gary Oldman, ganhando a feição do biografado não só na mascara, mas até no andar, suportando intensa maquilagem a cargo de 17 técnicos. Oldman ganhou o Globo de Ouro e deve ganhar  o Oscar deste ano (o concorrente é James Franco em “O Diretor do Desastre”).  Seu Churchill aumenta a credibilidade do filme, um excelente trabalho dos ingleses que conseguem desviar a atenção do elo patriótico e dar imagens de um tempo dramático que importou no mundo em que hoje se vive.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Lady Bird

Consta que a diretora Greta Gerwig fez uma autobiografia em “Lady Bird, A Hora de Voar”(Lady Bird). A personagem que seria seu alter-ego é Christine McPherson (Saoirse Ronan), garota da classe média americana que se defronta com as dificuldades financeiras da família (o pai, idoso, desempregado, a mãe lutando em um emprego difícil)e que deseja emancipação desde a busca por um diploma universitário passando pela experiência sexual.
O filme que já tem 2 Globos de Ouro e certamente vai ao Oscar apresenta uma bela interpretação das atrizes principais, Saorise e Laurie Metcalf (que faz sua mãe, Marion). Afora isso uma boa montagem da rotina de vida de figuras de uma classe social e adentrando pela mudança de cenário quando Christine, que se dizia Lady Bird, está em uma metrópole (ela vivia no interior) e o ambiente pede não só que use seu nome de batismo como telefone para os pais que havia deixado, conversando especialmente com a mãe de quem tinha sérios atritos (um deles, logo no inicio do filme, faz ela pular do carro em movimento e com isso quebrar o braço).
Uma narrativa que inspira sinceridade e com isso desculpa certas nuanças como na unidade de tempo (há mudanças bruscas no temperamento de tipos). Mas nada prejudica o que quer a cineasta e a sua atriz, já premiada, realmente está muito boa, conseguindo verossimilhança na garota rebelde com causa.
Um bom filme que possivelmente vai ser exibidos numa das salas de cinema locais. Claro que deve ser visto com o som original. Penso na aberração que será dublado.




Pretensão Afogada

“A Forma da Água” (The Shap of Water ) está sendo endeusado pela critica americana e o diretor Guillermo del Toro já coleciona prêmios. Vi o filme e fiquei tentando achar essas palmas. Lembro de que em “A Bela e a Fera”, certamente inspiração do diretor-roteirista , a Fera é o “príncipe encantado” e no fim do conto volta a ser o galã de sua Bela. Aqui, no filme de Toro, é o contrario, Bela vai a encontro de sua Fera no limite entre a vida e a morte. Os dois são focalizados no fundo do mar, habitat da Fera, e isto quer ser um helo poético como a dizer que a agua, fonte da vida, é o cenário paradisíaco que o ser humano abandonou e se visto em  terra firme, com o físico de peixe, ganha a qualidade de relíquia cientifica, vivendo em qualquer tipo de aquário. Enquanto isso a sua Bela é uma faxineira do laboratório onde ele está, ela chamada Elisa(Sally Hawkins), muda e carente de afeto, confiando na colega Zelda (Octavia Spencer) e dependendo de cientistas disponíveis como Richard (Michael Shannon), no caso o vilão das historia que paradoxalmente atira no seu precioso troféu e na apaixonada por este(pergunta-se que diabos ele destrói o que glorifica seu trabalho e afinal o mantém vivo).
                A trama chega a ser ridícula e a condução linear lembra as B-pictures do tempo da Monogram ou Republic, sem se apossar disso como gloria (a produção é cara a julgar pelos elementos cenográficos).
                Nada no filme faz o espectador refletir sobre “a beleza do feio” como escreveu Mme Leprince de Beaumont  e Jean Cocteau tão bem abordou no cinema com  Jean Marais. Até a estrutura do homem-peixe é coisa de carnaval.
                Não sei sinceramente o que os senhores críticos da terra do filme aplaudiram tanto. O trash serviu ao filme de James Franco “O Artista do Desastre”(também ovacionado agora). É o caso de lembrar Ed Wood e ajustar as coisas dizendo que o ruim é que é o bom. Será mesmo ? Em “A Forma da Agua “não há nem o ritmo de diversão que se via num “Monstro da Lagoa Negra”(Creature of Black Lagoon). Por sinal que o espécime editado por Del Toro lembra o tipo do filme de Jack Arnold (que eu achava merda mas que agora me parece muito bom depois de ver esta ‘...Água”).

                Podem apostar que vai chegar aos nossos cinemas de shopping.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Luzes da Cidade

“Luzes da Cidade”(Citylights) era o filme de Chaplin preferido por Oona, sua esposa nos últimos anos. Já existia o cinema sonoro mas ele quis fazer mais um filme mudo. Usou musica de sua autoria e a folclórica “La Violetera”(que anos depois daria o filme com Sarita Montiel). Demorou muito a fazer, com sequencias muitas vezes repetidas como a da florista cega que ouvia bater a porta de um carro e pensava que o vagabundo seu amigo era um milionário.
                O filme é extremamente bem realizado e traz o mais belo final que eu conheço: Carlitos ri e chora quando a sempre querida florista (Virginia Cherryl) descobre, já com a visão recuperada, quem é seu protetor.
                O cinema de Chaplin é revisto por varias gerações com o mesmo entusiasmo que cercou quem os viu na estréia. Por isso é que se diz que o criador de Carlitos é o símbolo do cinema. “Luzes da Cidade” é de 1932 e soma com “Em Busca do Ouro” e “Tempos Modernos”o tesouro artístico desse gênio da comédia.

                A reapresentação esta semana se faz no dia do aniversário da cidade  Justa homenagem a Belém e cartaz do cinema onde estreou em 1933, o sempre Olympia.

O Touro Ferdinando

“O Touro Ferdinando”(Ferdinand) tem a direção do carioca Carlos Saldanha(das “A Era do Gelo”) e lembra o que Dalton Trumbo escreveu para “Arenas Sangrentas”(The Brave One)de Irving Rapper(1956) filme ganhador do Oscar de roteiro (que usava pseudônimo pois o escritor estava banido pelo macarthismo). Ali como aqui o touro é o herói na arena (o vilão, obviamente, é o toureiro). Mas o personagem apaixonado por flores eu conhecia de uma historia que li em criança, não sei se da fauna Disney.  A garotada da época chamava o touro de “bicha”, e o animal simpático vencia diversos obstáculos para ficar com seu dono. Aqui, no roteiro da animação de Saldanha, com mais de 5 autores, é uma menina que gosta do animal desde criança(ele cresce e ela permanece pequenina). Tudo muito simpático e o filme numa linguagem dinâmica evidencia os bons propósitos que partem da amizade humana até a de animal para animal com o touro ajudando colegas nem sempre simpáticos.
                O filme só não cativa a plateia com unanimidade porque perde muito tempo em “papo furado”do touro com coleguinhas nos bastidores da arena. Também apresenta figuras que não cativam os espectadores. Com uma abertura excelente cai no segundo ato e só se recupera no final quando o embate com um “toreador” extremamente feio e desajeitado exibe momentos de ótima comicidade como o pano vermelho preso no chifre do Ferdinando e ensejando um verdadeiro balé cômico.
                Saldanha ganhou o trono da Blu Sky, empresa de desenhos animados ligada a 20th Century Fox. Seu novo filme faturou bem no mercado de origem e chegou a concorrer ao Globo de Ouro. Interessante notar que tanto ele como “Coco”(“Viva, a Vida é uma Festa”) exploraram folclore hispano (um no México outro em Madri). Feliz coincidência. Por sinal que Saldanha já mostrou o Brasil em “Rio” onde uma arara fazia a festa.

                Bom programa mesmo sem o som original.

sábado, 6 de janeiro de 2018

A Vida é uma Festa

Os tradutores brasileiros não quiseram manter o original Coco para o titulo do novo filme da PIXAR(“Viva, a Vida é uma Festa”), empresa de animação hoje ligada a Disney e detentora dos prêmios e elogios merecidos em títulos como “Divertidamente”, Up”, “Ratatouille” ou “Wall E”. Não importa. Coco (com ou sem circunflexo)não é fezes nem fruto, é a velhinha bisavó de Miguel, o principal personagem de uma historia tragicômica que leva o menino apaixonado por musica, impedido de tocar violão pela mãe que diz ter o marido dela fugido de casa por ser musico. Acompanhado de um cachorro de rua o menino entra no reino dos mortos durante a grande festa de Finados (2 de novembro)que se realiza no México (terra dele). E é ali que vai encontrar quem é quem, seja o responsável pela atitude materna, seja o ídolo do publico em época passada, um “mariachi” que na verdade usava composições alheias e era até um assassino.
                O filme mantem a aura dos melhores do estúdio, além da parte técnica, com uma narrativa ágil e recurso de animação de primeiríssima qualidade,  chegando a emocionar quando trata da morte, da mesma forma que trata da família e da amizade. Bons exemplos que se veem sem gancho melodramático, usando até de brincadeira para chegar a um final poético onde a bivó , depois de reconhecer em lagrimas o que lhe diz o bisneto, está no(ano seguinte) além com seu amado e amigos participando ao lado dos vivos da alegria que rege as tradicionais comemorações mexicanas do dia dos mortos.
                Vi o filme dublado, pois não chegou por aqui copia com o som original. Mesmo assim acompanhei com entusiasmo as imagens da dupla de diretores  Lee Unkrich e Adrian Molina (este um estreante na direção, vindo de edições em filmes do estúdio como “Toy Story 3”).
                Chega a ser instrutivo dar à criança-espectador a imagem menos funesta do fim da vida. Nada de fantasmas. É uma festa de esqueletos a acompanhar o ritmo das canções. Pena é que delas se ouça pouco (e não sei se vão para o Oscar).

                Reclamo só o fato de faltar  o curta metragem que sempre acompanha os longas da PIXAR. E eles, via de regra. foram obras-primas.