terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Deu Ela


            E deu “Ela” como o melhor filme do ano passado. Não daria até que o revi no Mosqueiro em bluray. Jonze,o autor, seguia de perto “Simone”(2002)de Andrew Niccol onde Al Pacino fazia uma boneca de estrela de cinema –e lembro de outro enredo em que uma figura digital ganhava corações e mentes. Mas no caso do filme do cineasta de “Quero ser John Malkovich’ não interessava muito a fêmea digital. O caso era o solitário que atendia ao programa dessa figura. Poucos filmes chegaram de forma tão feliz à solidão deixando de lado a estética de alongar as sequencias como se a chatice fosse a formula ideal para se dimensionar um cinema anímico(e Antonioni, por exemplo, filmava caminhadas imensas de Monica Vitti ou derramava closes de outros astros e estrelas na fossa como alimentos dessa fossa).

            “Ela”é um raro filme sobre sentimentos que não é chato. Hoje eu não mais aturo filme chato. Já se foi o tempo em que admirava os trabalhos que tentavam derrubar a cinestetica tradicional em favor de um retrato mais feliz dos infelizes. Cinema, a meu ver, é cinemática mesmo, é parte da mecânica que conta historias de movimentos (ou com movimento)ou procura sensibilizar a partir de estímulos à memória de quem o vê.  Daí muitos dizerem que os filmes de efeito mimético são os mais queridos por certo publico. Claro que não gosto apenas do que me toca como experiência vivida, mas aprecio quem tenta partir de ideias que tenho de como traduzir em imagem o que se pode pensar (e sentir).

            Num ano pobre de cinema Ela sobressaiu. E em termos de revisão também mudei diante de “Viver,Amar, Cantar” o derradeiro filme de Alain Resnais. Apesar de teatral, usou o teatro como elemento de cinema com uma propriedade muito inventiva, Tanto que não filma uma peça, mas o ensaio de uma peça. E é como se nisso estivesse a própria marcação do palco com a vantagem dos closes e do modo como desvia o olhar para detalhes com os movimentos de câmera. No teatro, obviamente, você só tem um plano e nenhum movimento intrínseco. O cineasta de “Hiroshima Mon Amour” mostrou a diferença. E se o herói da historia morria, ele próprio se foi meses depois das filmagens. Tinha mais de 90 e provou a inteligência que persiste no provável envelhecimento dos neurônios.

            Vi poucos filmes em cinema. Em casa vejo a media de 3 por dia. O conforto casa com a qualidade dos produtos .

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Melhores do Cinema em 2014

Os meus melhores:

Ela

O Passado

A Caça

A Batalha de Solferino

12 Anos de Solidão

Garota Exemplar

Philomena

Intetrestelar

Amar,Beber,Cantar

O Menino Contratado

 

Animação: FROZEN

Ator- Matthew McConaughei por “Clube de Compras Dallas”e “Kill Joe”

Atriz- Judi Dench por “Philomena”

Ator coadjuvante- Robert Duvall por “O Juiz”

Atriz coadjuvante-Quvenzhanê Wallis  por “12 Anos de Escravidão” e Anika Wedderkop por “ A Caça”.

Diretor-  Asghar Farhardi por “O Passado”

Revalação´ Justine Triet por “A Batalha de Solferino

Roteiro original; “Ela”(Spike Jonze)

Roteiro adaptado: Gillian Flynn (“Garota Exemplar”)

Fotografia:Guillaume Deffontaine (“Camile Claudel 1915”)

Edição:Barney Pilling (“Grande Hotel Budapeste           )

Efeitos visuais: Tim Angulo e equipe (“Interestear”)

Efeitos sonoros: equipe de “Interestelar”

Musica:Cole Porter(Magia ao Luar)

Filme nacional: “Amazônia” de Thierry Ragobert

Reprise:”Ciúme, o Inferno do Amor Possessivo”(Claude Chabrol)
Os melhores da ACCPA:
ACCPA - Melhores Filmes - 2014

1) “Ela” de Spike Jonze - 66 pontos

2) “Grande Hotel Budapeste” de Wes Anderson - 55 pontos

3) “Amar, Beber, Cantar” de Alain Resnais - 48 pontos

4) “Hannah Arendt” de Margueritta Von Trota - 44 pontos

5) “Camille Claudell 1915” de Bruno Dumont - 43 pontos

6) “O Passado” de Asghar Farhadi - 42 pontos

7) “Interestelar” de Christopher Nolan - 41 pontos

8) “A Caça” de Thomas Vinteberg - 32 pontos

9) “Garota Exemplar” de David Fincher - 31 pontos

10) “Magia ao Luar” de Woody Allen - 26 pontos

Outras Categorias :
Melhor diretor: Alain Resnais (Amar, Beber, Cantar)
Melhor Ator: Mathew McCounaughey (Clube de Compras Dallas)
Melhor Atriz: Barbara Sukowa (Hannah Arendt) e Charlote Gainsburg (Ninfomaníaca)
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto (Clube de Compras Dallas), Robert Duvall (O Juiz) e Jesuíta Barbosa (Praia do Futuro)
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong'o (12 anos de Escravidão) e Léa Sidoux (Azul é a Cor mais Quente)
Melhor Roteiro Original: “Ela”
Melhor Roteiro Adaptado: “Garota Exemplar”
Melhor Montagem: “Interestelar”
Melhor Fotografia: “Ela”
Melhor Cenografia: “Grande Hotel Budapeste”
Melhor Figurino: “Grande Hotel Budapeste”
Melhor Trilha Sonora: “Camille Claudel 1915”, “Interestelar” e “Magia ao Luar”
Melhor Canção: “Ela”
Melhor Efeitos Especiais : “Interestelar”
Melhor Animação: “A Criança que Buscava Vozes no Abismo Profundo” e “Frozen”
Prêmio ACCPA – Destaque Cinema Brasileiro : "Praia do Futuro"
Melhor Documentário: “O Mercado de Noticias” e “Amazônia”
Melhor Reprise: “Ciúme – O Inferno do Amor Possessivo”
Menção Especial ao cineasta Alain Resnais pelo conjunto da obra
Menção ao diretor paraense Eduardo Souza pelo filme “Olhos D´Agua”
 



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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Banalidades


            Ir a cinema ver um filme como “Caçada Mortal”é perder tempo (e grana de quem paga ingresso). Liam Neeson faz um detetive que procura os matadores da mulher de um traficante. No meio da investigação morre outra mulher. As coisas complicam como em toda historia do gênero. Eu nunca fui fã disso, mas gosto de filmes como “Relíquia Macabra”. O problema é que a confusão da trama é replay de outras em muitas épocas. Nada de novo no front. Exceto a evidencia maior do violento. Neeson começa matando dois bandidos. No correr do filme mata mais. Não contei se chega a matar sete (e ai daria samba).

            Em tempos idos eu via mais filme em cinema do que os dias do ano. Hoje a média é de 3 por mês. Não aturo as franquias e só estou acompanhando a de “Jogos Vorazes” que parte de uma instigante proposta política. Coisas como Hobbit  não me pegam. E na preguiça que me dá os lançamentos comerciais até gosto que passem muita porcaria para me deixar em casa sem remorsos.

            E os melhores do ano ? Qual o melhor? Até hoje, 9 de dezembro, não sei. Claro que vou votar nos meus preferidos. Já me vacinei de filmes de festival, vendo-os por suas qualidades que me toquem muitas vezes distantes do que lhes premiou.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Violencia


      Dois filmes que focalizam violência: “Criado para Servir”(ou Infancia Roubada) e “Miss Violence”. O primeiro, de origem suíça, trata com esmero artesanal a tortura que chega a um menor adotado por fazendeiros suíços e uma menina na mesma forma. Quem leva a pior é a garota, enfim estuprada pelo filho do dono da casa a ponto de engravidar, abortar e morrer. Com  direção capaz de condenar o que deve ser condenado sem abrir espaço para o melodrama vulgar o filme sensibiliza. Gostei muito. Anotem o diretor,Markus Imbodem e o titulo original, “Ver Dingbud”(dingbud é menor arrastado para o trabalho).

            “Miss Vilolence” é de origem grega e focaliza uma família de classe media que se apavora quando uma menina de 13 anos se atira do pátio de seu apartamento. Fiscais da Assistência Social querem saber da rotina dessa família. Mas só as câmeras mostram um avô pedófilo que comercia o sexo de outros com uma neta (e deve-se pensar que também com  a que se matou). Tratado em linguagem direta, sem condenar atitudes, acaba sendo uma coisa repugnante por mais que espelhe a situação econômica da Grecia atualmente.

            Não é filme chato e até por isso é desatável pois leva o espectador à uma tragédia imunda, sem parentesco com as dos velhos gregos.O diretor chama-se Alexandro Avanas.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Irmã Dulce


Fui ver “Irmã Dulce” por conta de Vicente Amorim, o diretor. Os filmes anteriores deste austro-brasileiro recomendavam. E não me arrependi. Consegui ficar comovido com toda a clicheria em torno do trabalho da bondosa freira que os baianos chamaram de “anjo bom”.

            O filme parece de encomenda para alguma entidade católica. Mas há uma direção de arte competente, refazendo épocas (e isso é difícil no cinema brasileiro, quase sempre pobre de recursos) e em especial bom trabalho da dupla que faz Dulce em dois tempos de sua vida: Bianca Comparato na fase de jovem e Regina Braga na de velha.

            O problema é o roteiro. E não se pede que entrasse fundo na psicologia da personagem, que dialogasse sobre a vocação da jovem que decidiu ser freia, na sua incursão no meio que se pode chamar de marginal em todos os sentidos. O objetivo não foi dissecar o ego da irmã. Foi fazer um apanhado “reader’s digest” de seu trabalho. Base na historia do galinheiro que virou hospital e, particularmente, no garoto mendigo que recebe proteção da religiosa mas, na idade adulta, envereda pelas drogas e consequentes crimes.

            É curioso como o cinema nacional tende, agora, às biografias. Só este mês tem “Tim Maia”, “Irmã Dulce” e “Trinta”. Melhor vasculhar a vida de gente famosa do que ficar nas palhaçadas nem sempre engraçadas e Leandro Hassum.

            E por sinal que “Trinta”, sobre Joãozinho o carnavalesco, não estreou aqui. Nem se pode dizer que trocou com “Irmã Dulce”que pegou só norte e nordeste. O filme está em S.Luís. Misterios da exibição na era digital que se ampara no sucesso de filmes obrigados a não sair do cartaz(por isso). Apesar do preço do ingresso, cinema ainda paga as contas.

domingo, 16 de novembro de 2014

Iguais

            Duas vezes dois. É o que se tira dos filmes “Cidadão Klein” e “O Homem Copiado”. O primeiro tem Alain Delon descobrindo, na Paris dominada pelos alemães (2ª.Guerra),que há um judeu com seu nome e sobrenome. O segundo tem Jake Gyllenhaal achando num filme um coadjuvante com a sua cara (e ao falar com ele descobre que também possui a sua voz). No primeiro filme, dirigido por Joseph Losey, é mesmo um sósia do principal personagem e no fim é exterminado e ele tambem acaba indo para o campo de extermínio.  No segundo filme fica a noção de um caso de dupla personalidade. Em “Mr.Klein”(1976) uma narrativa direta por um artista talentoso como Joseph Losey cativa qualquer plateia. Já “O Homem Copiado”(Enemy) requer paciência do espectador. O diretor canadense Denis Villenueve vasculha uma personalidade atacada pela mesmice de uma rotina que segue uma cidade sufocante. O roteiro se inspirou num texto de José Saramago. Qualquer raio de luz passa longe. Mas ainda assim encontra-se cinema. Do grande.

domingo, 9 de novembro de 2014

Interestelar

            Meu amigo Helio Titã, que se dizia cosmologo e cedo foi ver as estrelas de perto, falava muito dos buracos de minhoca. São caminhos entre buracos negros. Para quem não sabe, buracos negros são uma espécie de “ralo”do universo. Por eles passam diversas formas de matéria inclusive a própria luz(daí serem negros). Stephen Hawkins e outros cientistas vêem essa matéria sugada caminhar para uma saída além do espaço-tempo. Seria como um deposito que na verdade é outra face do universo, com estrelas e planetas desconhecidos de nossos parcos telescópios e o mais que detecte mundos em galáxias percebíveis.
            No universo além do nosso, podem existir mundos parecidos com a Terra. Aliás não é preciso ir tão longe. Hoje se sabe que muitas estrelas possuem em suas orbitas planetas com água e o mais que possibilitem a vida humana que se acha no nosso canto. O problema é sempre a distancia. Um mundo que orbite Alfa Centauro, por exemplo, dista mais de 4 anos-luz. Ora, se uma nave conseguisse voar na velocidade da luz levaria esse tempo para chegar lá. Mas se alguém voasse nessa velocidade, segundo Einstein, viraria energia. A matéria não suporta tanta rapidez.
            O filme de Christopher Nolan, “Interestelar”, roteirizado pelo irmão dele Jonathan e inspirado no cientista Kip Thorne, conta uma pesquisa depois de uma viagem por um buraco de minhoca, com o objetivo de achar um planeta plenamente habitável pelos seres da Terra que, na época da trama, sofrem os últimos desgastes da poluição ambiente.  Para não ficar um projeto inviável comercialmente, eles botaram uma historia suportando a viagem espacial, centrada num fazendeiro que vê suas terras sofrendo desgaste e sabe que não há um meio de recuperar o solo para o plantio. O homem é viúvo recente, tem um casal de filhos, mora com o velho sogro, e a filha que chama de Murph por causa da Lei de Murphy (“o que pode acontecer acontece), não o deixa. Para viajar ao espaço ele precisa prometer á ela que vai voltar. Mas sabe que isto é impossível. Antes, a menina diz que há fantasmas na sala, próxima de uma estante. Nessa estante há um livro de Conan Doyle, reforçando a tese de “alma do outro mundo”. Bem, o rapaz acha uma espécie de filial clandestina da NASA (e deve ser pois a entidade teve suas verbas cortadas pelas novas administrações) e como tem experiência de piloto, mostrada na primeira sequencia do filme, é logo contratado pelo chefe da estação(Michael Caine).
            Não é bom contar toda a historia pois quem vai ver o filme tem direito às surpresas melodramáticas. Vale apenas dizer que o piloto chamado Cooper(Matthew McConaughey)tem como companhia uma doutora (Anne Hathaway). Fica uma pergunta: quem vaificar fisicamente num outro mundo se a liberação do tempo e espaço faz fantasmas de carne e osso ?
            Sempre curioso embora cientificamente tão sério quanto o mágico de Oz, o filme seduz. O Titã gostaria de ver. Meus colegas e amigos de uma sociedade de astronomia que existiu em Belém nos anos 1950, também gostariam. São raras, é verdade, as sci-fi com base teórica sustentável. Um “Planeta dos Macacos”(o primeiro filme), é raro. Hoje o gênero está poluído pelas fantasias exuberantes da MARVEL. Por isso vale a pena embarcar na espaçonave fantasiosa dos Nolan. E passar quase 3 horas navegando por um misto onde conotações familiares dão o gosto de terra onde buracos de minhoca só os que abrigam iscas de pescadores.

            

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Tim Maia


Pouco guardei na memória musicas de Tim Maia. Por isso não acompanhei com tanto interesse o lançamento do filme que biografa o cantor-compositor. Mas fui ver e dar crédito ao talento dos atores,em especial de Badu Santana que faz o Maia adulto e do diretor e co-roterista Mauro Lima.

O filme está entre as boas cinebiografias feitas no Brasil. É longo, talvez em excesso(há coisas que poderiam ser sintetizadas) mas vale a ida ao cinema (e por aqui ao polo norte de sala excessivamente fria).

O Maia velho surge bem na aparência do ator. Falta semelhança em Roberto Carlos. Nada a ver com o chamado “rei”. Mas há esforço de produção capaz de vislumbrar um pouco do Rio em diversas épocas e de uma Nova York moldada aqui mesmo.

As cinebiografias chegam aos montes. Seguirão “Trinta”(sobre Joãozinho Trinta, o carnavalesco) e “Irmã Dulce”. Melhor do que procurar novas piadas para Hassum, comediante que se desgasta em neochanchadas sem imaginação.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Revivendo


            Este ano o cineasta Pietro Germi (“Divorcio à Italiana”,“Seduzida e Abandonada”,”O Ferroviário”)faria 100 anos. Ele morreu aos 60. Tambem fazia a vez de ator. E está nas duas funções em “Aquele Caso Maldito”(Um Maladetto Imbroglio) ora editado por aqui em DVD.

            Ver o filme de 1959 é matar saudades do neorealismo italiano. Mesmo numa trama policial e quando a escola de Visconti(La Terra Tremma) e De Sica(Ladri di Biciclette) já saía das telas.

            Germi investiga um crime e quem alcovita o criminoso é Claudia Cardinale esbanjando a beleza juvenil de tantos bons momentos da cinematografia romana. No filme está,inclusive, o Franco Fabrizzi com a cara do bezerrão(Vitelloni) de “Os Boas Vidas” felliniano.

            Ainda bem que as distribuidoras de DVD estão lançando no Brasil os filmes italianos  dos meados do século passado aqui chegados pela Art Filmes do conde Sarantino. Eu persigo “Até à Vista PaPAI”(Arivedercci Papa/1948) com Gino Becchi eleito o pai de garotos que para bascer procuram a mãe Mariella Lotti. Uma fantasia de Camilo Mastrocinque que os americanos clonaram mal com Clifton Webb em “Apuros de um Anjo”(For Heaven’s Skate/1950) de George Seaton.  Mas não é só este filme que eu persigo nos sites da vida. Há coisas que me pareciam mais fáceis como “Ainda Há Sol em Minha Vida”(The Blue Veil/1951)de Curtis Bernhardt e Busby Berkeley(que não assina). Um desses desejos parece que o Horacio Huguchi já pescou: “A Ultima Felicidade”(Hon Dansade em Sommar/1953) de Arne Mattson. E há mais para um cinéfilo que via de tudo , mais filmes que os dias do ano. Enfim, rever essas coisas em casa é mesmo aliviar saudade.        

 

 

 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

O Novo Dracula


Drácula de Tod Brownin com Bela Lugosi foi um dos filmes que deu dinheiro â Universal no tempo em que comandava o estúdio o filho do dono da empresa, Carl, Leammle Jr. Este dono de estúdio (mesmo temporário, ganhando o posto como presente de aniversário do pai) caçou os monstros da literatura indo da Criatura De Frankenstein de Mary Shelley ao Dracula de Bram Stoker (passando pelas lendas de Lobisomem e do Homem Invisivel alertada por H;G. Wells).

Dos anos 1930 para cá Drácula vestiu as caras de muita gente. A melhor. A meu ver, foi a de Christopher Lee na série da Hammer Films (Inglaterra). Agora, na onda revisionista tão de agrado à juventude que detesta figurinos antigos, chega um Dracula que se diz na origem, ou o Principe Vlad da Transilvânia que na luta contra os turcos vende a alma ao diabo. No caso, o poder do cão leva-o não só a trocar vinho por sangue como a dominar morcegos a ponto de destruir exércitos inimigos.

Vlad existiu mesmo e se notabilizou por empalar os derrotados em suas  guerras. Metia uma vara no rabo do inimigo que saía pela boca. E fazia um jardim de corpos nas suas terras. Se passou a beber sangue é por conta da lenda. No filme atual, dirigido por Gary Shore, ele só acaba vampiro por não resistir na bebida de sangue e chegar a ponto de sugar a jugular da amada. É um mocinho da trama, simpático até por ser um bom exemplo de pai de família.Mas o roteirista não deixa um final dramático com Vlad Dracula morrendo à luz do sol. Dá uma sequencia em que se vê o distinto no mundo moderno assediando a reencarnação de sua mulher. Será a deixa para uma continuação ? Ou um modo de eclipsar um final pouco popular ?

            “Dracula,A Historia que não foi Contada”” é o tipo do filme comercial de hoje. E sai da mesma Universal que trouxe Lugosi às telas. Na verdade puro oportunismo. E a gente se mete em fila de cinema para ver. Melhor, muito melhor, caçar esse tipo de filme na internet. Dãoloude nele!

           

domingo, 19 de outubro de 2014

Boyhood


      Uma tarefa maluca: filmar por 12 anos uma criança (e seus parentes próximos) sem dublês, sem artifícios que usem o tempo com arranjos técnicos. “Boyhood” é isso, um show de paciência do cineasta Richard Linklater, adentrando sobre a vida que passa e pessoas da classe média americana que estão no foco dessas vidas – ou desse tempo.

            Nada de extraordinário acontece em 160 minutos de projeção. Mas o que se vê, uma amostragem de rotina de um tipo de gente, ganha o interesse de um espetáculo cinematográfico. A ação é moldada no próprio avanço dos anos, ajudada no que se observa com o cabelo do jovem Mason (Ellar Coltrane),quando criança “a la Harry Potter”, quando adolescente podado a partir de uma ação despótica de um padrasto. Seguindo isso se observa a obesidade gradativa da mãe do personagem(Patricia Arquette),duas vezes casada e duas vezes separada, lutando sempre para formar o casal de filhos. Quem parece não envelhecer é o pai de Mason(Ethan Hawk,ator da trilogia “Antes do Por do Sol”do mesmo diretor). Por coincidência ou não os filmes da trilogia se equiparam, a este “Bouhood” na informalidade,como se fossem feitos de improviso, sem roteiro.

            Uma curiosidade: Lorelei Linklater que faz o papel da irmã de Mason, chamada Samantha, é filha de Richard,o diretor do filme.

            Não sei se os cinemas locais vão exibir esta obra rara. Se acontecer será um milagre a festejar e  um forte candidato a melhor do ano. Ensina muito da tolerância que se deve ter para com fatos & tipos que enfim fazem o cenário de muitos “alguéns”.

            Não sou de gostra muito de filmes longos mas este valeu. Dá para consumi-lo de um fôlego.

sábado, 18 de outubro de 2014


      Bob Downey Jr dá folga ao Homem de Ferro e aparece como um advogado de paletó e gravata em “O Juiz”. Bem humorado, surge mijando num colega enquanto espera um veredito difícil. Mas se é profissional de sucesso amarga o fato de defender o velho pai, depois da morte da mãe, acusado de atropelar sem socorrer um homem. Pior:o homem é um mau caráter que ele livrou da cadeia como juiz (de uma cidade dom interior) e detesta o salvador. Seria um atropelamento proposital .

            O filme poderia ser mais um “de tribunal” mas abre espaço (e tem muito em 141 minutos de projeção)para subtramas como os romances do advogado (está se divorciando e pode ser o pai de uma garota filha de uma garçonete de sua terra).

            Tudo é muito superficial para chegar ao grande publico. Mesmo assim a estreia no mercado norte-americano deixou o filme em quarto lugar do box-office. O melhor para Downey que é produtor junto com sua mulher, pode ser candidatura ao Oscar. Se der Robert Duvall,o velho pai atropelador, muito bem. Voto nele. Mas outra nomeação é bem do conchavo acadmêmico que premiou Gwynett Paltrow no lugar da nossa Fernanda Montenegro.

            Elogiar o filme é dizer que o assisti no ambiente polar de uma sala do complexo Cinepolis sem ter vontade de sair. O diretor David Dobkin tem esse trunfo na sua linguagem de cinema rotina. Qualquer outra pretensão é ver demais.

Trash


            Deixa ver se eu entendi: um financiador de campanha política de candidato ficha suja é perseguido pela policia e joga no lixo uma pasta com a lista de doadores da tal campanha. Três garotos acham a pasta no lixão. E apesar de protegidos por um padre norte-americano e uma professora de inglês são perseguidos pelos policiais. Não se diz como os tiras souberam do achado nem como foram atrás dos meninos que não são traficantes. Chefiando os policiais está um delegado mau que não hesita em ferver criança. Quando um dos meninos aceita mostrar ao tal delegado onde está o dinheiro das doações mencionadas na pasta (e também não se sabe como o tira conhece o teor da tal pasta) há uma reviravolta na historia, o menino ataca o mocinho/vilão e sai com a grana que está numa catacumba. Ele e os colegas jogam as notas de cem reais no lixo. Há uma chuva de dinheiro. Mesmo assim a molecada sai para uma praia deixando um pouco da grana com o padre.
            É isso ? “Trash” a meu ver é trash mesmo. E o diretor Stephen Dalry, de currículo apreciado (“Bill Elliot”,”As Horas”, “O Leitor”) embarcou nessa canoa. Viu os protestos de rua no Brasil de junho de 2013 e acrescentou a facada política na historia de colegas que podia se passar em qualquer país do mundo.
            Os ícones nacionais Wagner Moura e Selton Mello estão na festa.O primeiro é o corrupto que joga fora a mola da trama. O segundo é o malvado. Certamente pensaram no currículo que acrescenta trabalharem com um cineasta inglês de renome e ao lado de Martin Sheen(o padre) e Rooney Mara(a professora).
            Piada é os moleques falando inglês. Haja saco.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O Candidato Honesto


            Satirizar a politica brasileira não é novidade. “Simão o Caolho’ de Cavalcanti(1953) deu conta disso com o personagem de Mesquitinha chegando à presidência com um currículo cômico . E as chanchadas mostraram Oscarito imitando Getulio Vargas (“Nem Sansão nem Dalila”) e Violeta Ferraz assumindo um ministério onde as mulheres não tinham apenas voz: davam berros (a Madame Pau Pereira moldada no baião de Luís Gonzaga “Paraíba” no lamentável "É Fogo na Roupa!").

            “O Candidato Honesto” podia ir mais fundo no assunto com o tipo de Leandro Hassum. Mas nem  o diretor Roberto Santucci e muito menos o roteiro original fizeram empenho. Preferiram colar o filme “O Mentiroso”(Liar,Liar) com Jim Carrey. Dizer apenas a verdade caía mal num advogado e cai ainda pior num político. Mas se isso dava chance a se mostrar uma face real da nossa democracia surge como uma piada contada por quem não sabe contar e ainda por cima remenda com medo de ofender alguém.

            O filme não chega a ser honesto na sua denuncia de políticos corruptos. Quer fazer graça e chamar publico. O mesmo publico que a mídia de hoje orienta a seu beneficio.

           

domingo, 5 de outubro de 2014

Hugo Carvana


      Quando o Cinema 1 de Belém anunciou a comédia “Se Segura Malandro” acrescentou que o diretor & ator Hugo Carvana estaria presente na primeira sessão da noite. Nesse dia, Manoel Teodoro, gerente da casa, mandou fazer uma faixa anunciando a estreia com a presença do artista. Mas de tarde, eu estava no escritório de Alexandrino Moreira no Banco Sul Brasileiro e chegou a chamada do próprio Carvana, que estava em Salvador, afirmando (eu falei com ele) que não poderia vir a Belém pois tinha parente enfermo no Rio.Corri para avisar o Manoel. Ele tirou a faixa mas já era tarde para dizer que Hugo não estaria presente.

            Nesse período perambulava pela cidade o cineasta pernambucano Clinton Villela. Eu mesmo havia começado um filme com ele, rodando cenas no Ver o Peso (numa sequencia, a barraqueira que vendia “erva de chamar dinheiro” explicava que o efeito era nos fregueses. Respondendo à minha pergunta afirmou que em si não pegava). Pois o Clinton, que vivia consumindo biritas na Lanchonete Um,resolveu desculpar a plateia da falta de Carvana. Subiu ao palco,e, quase caindo de tão porre, só sabia dizer: “-É. O Hugo Carvana não veio”. Era uma repetição incomodativa e em dado momento um espectador gritou:”-Tira esse bêbado daí”

            Manoel puxou Clinton que felizmente se equilibrou na queda. E o filme, muito engraçado, alicerçou a piada ao vivo. Nunca me esqueci disso e hoje lembro com saudade, pois o Hugo Carvana morreu. Nunca veio à capital paraense. Só as imagens de seus filmes, especialmente de 3 que dirigiu: “Vai Trabalhar Vagabundo”, “Se Segura Malandro” e “Bar Esperança”.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Lunch Box


      Troca de endereço pode gerar, em roteiro para cinema, romance, drama ou comédia. Imagine mandar um rolo de papel higiênico para um amigo e a encomenda ser desviada para um político. Dá comédia. Mas um canivete para um depressivo é como um convite à morte. No filme “Lunch Box” do indiano Ritesh Batra, é uma marmita (ou merendeira, ou sem sair do inglês, “lunch box”). Quem ganha a encomenda trocada saboreia pratos jamais provados na rotina. E se apaixona pela cozinheira. Só que ela é uma garota e ele tem idade de ser seu pai.É um escriturário viúvo que atura um substituto no emprego nada experiente e extremamente chato.

            O filme é bem narrado mas diz tanto sobre coisa nenhuma. Seria um modo de ver a vida dos indianos de alguma província, não diz bem o lugar, onde a paisagem não muda muito da que vemos por aqui.

            Não há densidade ou substancia além de um aceno próprio do velho neorealismo. Mas é tão bem contado que diverte. Há quem diga que o roteiro é muito norte-americano, que não diz muito bem como são as coisas na Índia. Não sei. Hoje o mundo é uma ilha. O que se observa é que as paixões independem de etnia, cidadania, até mesmo idade. E se o filme não tem o vinco da Bollywood, ou seja a Hollywood indiana(uma industria muito fértil) também não sei dizer. Ultimamente só vi da Bolly a comédia “Seu Crime, seu Sofrimento”(Makkhi), uma pitada surrealista interessante onde um homem morre, encarna numa mosca e vai atentar que o matou (e ficou com sua garota). Mas isso não é coisa de figurino. A merendeira até que sacia a fome de cinema.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

O Protetor


      Em uma das muitas semanas santas que passei no Mosqueiro quando era criança fui ao cinema que existia na vila (o Guajarino) ver “A Vida de Cristo”, filme de Ferdinand Zecca feito em 1902 e sempre apresentado nos cinemas de bairro brasileiros posto que os exibidores tinham cópias. À saída, vi um grupo de garotos comentando. Um deles foi enfático: “-Não gosto de filme em que o artista morre”. De fato, na época, acostumados com os faroestes, os meninos faziam questão da formula “artista versus bandido e o primeiro ganhando a luta”. Lembrei desse passado distante vendo agora “O  Protetor”(The Equalizer).

            Denzel Washington é McCall, ex-oficial da policia (pouco se fala disso) que está para se aposentar de serviço quase braçal numa fabrica. Afeiçoado de uma prostituta (Teri/Chloe Grace Moretz) fica puto quando sabe que a garota levou muita porrada de mafiosos russos e está em uma UTI. Resolve ir à forra. E não importa se a quadrilha é enorme, com ramificações em Moscou (aliás, a sede). Vai até lá matar o chefão. E se ganha alguns arranhões estes sanam com um pouco de mel  e esparadrapo (nova forma de band-aid).

            O filme dirigido por Antoine Foqua, cineasta negro que dirigiu Washington no filme que deu o Oscar a este,”Dia de Treinamento”(Training Day/2001), não se amofina com a inverossimilhança. O artista é o dono da bola e não pode perder um chute. Nada a ver com a ideia de que o norte-americano ganha do russo em toda linha. A Luzia pensou que ia aparecer um bandeira americana na rua, nos últimos planos do filme. Não aparece. E nem precisa. O heroi fala inglês até em Moscou e é entendido.

            Impressionante é como a forma de um filme o transmite. Ninguém deixa a sessão no meio.Uma senhora que estava na minha frente ensaiou sair. Mas era, penso eu, para urinar. O frio da sala convidava. Voltou. E quando voltou a sequencia era a mesma, McCall escondido dos mafiosos e eliminando um por um.

            OK cinema, já dizia o velho exibidor Severiano Ribeiro Junior, é “a maior diversão”. Quem ficou no meu espaço no jornal católico “A Voz de Nazaré”(onde eu estava atendo a um pedido de um jornalista amigo há alguns anos) botou o nome da coluna “Entretenimento”. All right this is entertainment”. Eu não vejo cinema assim, teimo querer mais. Mas não sou um critico chato que só gosta de filme cerebral. Gosto do que me faz gostar. Claro que não achei “O Protetor”um bom filme. Mas aguentei o frio da sala até os créditos finais. Afinal, o artista não morre...

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Filmes em DVD


            Muitas vezes, vendo os filmes de Lars Von Trier, penso como Shakespeare: “há algo de podre no reino da Dinamarca”. Felizmente vi em DVD “Departamento-Guardiões de Causas Perdidas”(The Keeper of Lost Causes na versão de exportação). Quem dirige chama-se é Mikkel Norgaard. Um “noir” de roupa antiga, a lembrar o que John Huston fazia. Um policial em fim de carreira é guinado a um departamento de processos em aberto, com a obrigação de selecionar 3 por dia para arquiva-los de vez. É aí que acha o caso de uma jovem desaparecida e se mete a investigar abrindo espaço para outros crimes que nem haviam sido catalogados.

            O filme tem narrativa direta, sem a frescura que Trier usou no que chamou de Dogma. Nada de cerebralismo, usando-se prudentemente câmera, iluminação e corte. O tipo do filme que a gente vê sempre com atenção. Mesmo porque nada apresenta de gratuito. Cada plano tem razão de ser. Isso é cinema.

            Também aplaudi em DVD “Em Busca de um Lar”(Gimme Shelter) de Ronald Krauss. E aplaudi por conta de Vanessa Hudgens. A atriz que na época da realização tinha 24 anos, faz a sofrida Apple, garota de orfanato embora com mãe viva, rebelde com causa e que procura o pai rico (Brendan Fraser) mas não se acostuma na casa dele. Grávida, acha por bem ter o filho(no caso uma filha) contra a vontade da madrasta(que mal conhece).

            Nada de melodrama. Joga uma fachada realista na cara de Vanessa, com  tatuagem no pescoço(é de verdade),piercing, fala repleta de gíria & palavrão, postura irrequieta e procurando esconder uma gravidez sem pai definido. A jovem atriz é realmente uma revelação, e curioso  que tenha vindo da musica (High School Musical), onde atua com frequência.

            Não conhecia nem Vanessa nem Krauss. Bendito DVD que traz cinema a quem mendiga cinema (nas salas de tela grande isso é exceção).

            E para terminar a festa revi “Coração Prisioneiro”(Caught) um Max Ophus(que assina Opus)americano com James Mason estreando em Hollywood e Barbara Bel Geddes como a mocinha pobre que caça um marido rico em Robert Ryan mas se dá mal._

            Este não tem ambição de sair do melo. Mas Opuls dá um show nos enquadramentos, com a profundidade de campo mostrando o que é importante na síntese por fotograma, como o enfoque do milionário ao longe, numa sala, deixando que se veja a decoração, e a garota num espaço pobre também definido pela amplidão da imagem com ela num pequeno espaço. Isto, volto a dizer, é cinema. O filme é de 1948. Vence o tempo tranquilo.

           

domingo, 21 de setembro de 2014

Um Milhão de Maneiras de Pegar Uma Pistola


      As crianças do século passado, criadas lendo gibi e vendo faroeste B, brincavam de cowboy com o indicador fazendo a vez de pistola. Era engraçado o moleque gritar “camone boi”. Hoje o gênero western saiu das telonas e pouco alcança a telinha. Depois da morte de John Wayne parece que enterraram as ossadas de tanta gente que brigava sem deixar cair o chapéu e não matava bandido(um soco era o bastante para derrubar essa turma).

            “Um Milhão de Maneiras de Pegar uma Pistola” quer ser uma parodia dos mitos do passado. Pega o bonde de um Mel Brooks e até do nosso Carlos Manga (“Matar ou Correr”). Mas se o Manga tinha Oscarito e Brooks tinha Gene Wilder, o diretor de “Ted”, aquele ursinho sacana,só tem ele mesmo, Seth MacFarlane. E quando o mocinho é mal pintado os bandidos, que possam ser, ficam a sós adiante das câmeras (o caso, aqui, de Liam Neeson).

            Seria até um embalo nostálgico ver os heróis e vilões do oeste que extrapolavam a geografia norte-americana,vestidos de palhaços. Mas o filme de hoje é mais uma homenagem do que uma gozação. E como homenagem é tímido, é a cara do tipo vivido pelo diretor.

            Não achei que o filme mereça ir ao cinema. Se fosse para ver em casa, confortavelmente, até que daria para os gastos. Ri bastante de “Ted” mas a irreverência do brinquedo falante de poucos anos atrás não foi para o Monumental Valley onde se fimou “...Pistolas”. Uma pena.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Maze Runner


O sucesso comercial de “Harry Potter”, de “Senhor dos Anéis”, de “Crepúsculo”e agora de “Jogos Vorazes” e “Divergente”levou Hollywood a explorar “ad nauseam” os filmes futuristas encenados e dedicados aos jovens. Isto veio casar com a sanha de fim de mundo advinda desde o tempo do cinema mudo. Se em “Jogos Vorazes” o resquício da civilização emprega uma caçada humana vendida pela TV e se em “Divergente’ a sociedade é dividida em grupos fechados onde cada grupo vive uma especialidade que afinal é uma fonte de trabalho, o recente “Doador de Memórias” fecha a raia dizendo que o melhor é esquecer tudo o que se fez e montar um modo de vida planejado a partir do esquecimento do passado e dos instintos. Agora chega “Maze Runner” onde um apocalipse mal delineado deixa a juventude numa clareira cercada por um labirinto onde a moçada deve se aclimatar até que se venha a saber o que se quer que se faça com ela.

Começa com um furo: o herói da historia, Thomas(Dylan O’Brien) chega na clareira usando um elevador. Ninguém mostra onde se encontra este elevador nem quando/como ele sobe. Sabe-se que sobe, pois acontece a chegada posterior de uma garota (Patricia Clarkson). Nem se vê qualquer demonstração de curiosidade do bando de moços que habitam o espaço sobre este modo de chegar ou sair do lugar (só se acha saída atravessando o labirinto e este é povoado por uma espécie de aranha gigante).

No fim da historia, que na verdade é apenas de um capitulo do livro de James Dashner,a informação é de um modo de preservar a humanidade depois do sol ter virado uma supernova e queimado a terra. Cientistas sobreviventes falam do assunto, e muitos são vistos mortos, ficando uma conselheira que aparece em projeção tridimensional.

Desta vez não se culpa o fim da civilização humana por guerras nucleares. Os enredos de coisas como “Os Ultimos Cinco”, “A Ultima Esperança da Terra” e semelhantes, vão para escanteio. Fica um fim de mundo na esteira astronômica e avançado no tempo (e surge outro furo: a previsão do sol queimar o nosso planeta, certamente quando virar uma supernova, é de milhões de ano no futuro. Quem dirá que a evolução da espécie parou nas caras atuais? Ou se ainda haverá gente no planeta?).

Mal desenvolvido, com desempenhos sofríveis e direção de arte pobre, o filme é muito fraco. E pior;promete uma continuação. Eu não irei ver. Aliás, ver cinema numa sala gelada é dose para esquimó. Prefiro atualmente, ver em casa na minha TV. Que se exiba mais merda como em trailers que passam. E muita coisa dublada, esquecendo a lei que protege os surdos e a integridade de uma obra de autor.

             

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Doador de Memorias


            A moda atual da indústria cinematográfica norte-americana é adaptar livros dedicados aos jovens e que fizeram boa carreira nas livrarias. Depois de “Jogos Vorazes” e “Divergente” chegou “O Doador de Memórias”(The Giver),este mais pretensioso na abordagem filosófica, arranhando um possível engano.

            Tudo bem que eu achei o filme bem realizado Não à toa que Meryl Streep aceitou fazer uma ponta e Jeff Bridges ter brigado para sair um projeto que estava na mira de seu pai, Llloyd, e a Warner protelou. Mas a ideia de uma sociedade pacifica embora extremamente controlada passa como uma trágica opção para os males do mundo. Reparem: no sistema político & social do filme as pessoas tomam todos os dias uma injeção para não ter memória. Daí se parte para a ausência de mentiras, a consequente inveja atiçando o ódio,a ausência de partidos, e processos bizarros como a hegemonia física a partir do nascimento, com as crianças concebidas em laboratório(ah sim, não há sexo) selecionadas por técnicos que observam do peso ao comportamento(muito choro por exemplo), e a deportação dos idosos para uma estação que ninguém explica como é que é (certamente uma sala de espera da morte).

            O doador de memórias é uma autoridade que passa por um treinamento. O treinador é um velho que consegue lembrar o passado ou o tempo antes de estabelecida a sociedade hegemônica. Ele mostra ao jovem doador como se comportava o homem com o chamado “livre arbítrio”. A morte de um elefante é dramática. Mas o pior são as guerras, os massacres de mulheres e crianças, enfim o lugar comum de um mundo que não se emenda.

            Apesar de se ver que antes era pior, o filme acaba dizendo que a atualidade é ainda mais abominável. Não passa alternativa: ou o homem aprende a viver junto com outro deixando que se molde suas ideias ou prossegue na crueldade.

            Sei lá, mas os nazistas pensavam assim. Hitler propunha um milênio de prosperidade a partir de uma Alemanha que saía das cinzas de uma guerra, atacando os “vilões” que começariam com os judeus donos das grandes industrias e bancos. Por outro lado, Stalin tentou o comunismo utópico onde se fazia um crivo social deportando ou matando os indesejáveis. No filme de agora há um plano do menino chinês defronte de um tanque, celebre momento de protesto ao governo fechado de Mao Tse Tung. Em suma: a utópica cidade & estado de “O Doador de Memórias” seria o superlativo dessas ditaduras com um resultado mais evidente posto que acobertado pela ciência (esquecer, por exemplo, é uma forma de manter a paz entre heterogêneos).

            Claro que o roteiro ou o livro original prega que o heroi da historia termina saindo deste glorioso inferno e respirando aliviado numa cabana depois de andar quilômetros no gelo(tudo metafórico). Ele carrega um bebê desprezado que simboliza o protesto ao estado de onde veio. E aí ? A namorada que fica (e escapa de ser eliminada por desobediência) pode escapar dos ditadores pois, uma vez ultrapassado um limite do mundo sem memória, tudo volta ao que era antes e as pessoas passam a lembrar de suas situações (ou aberrações).

            A ideia não tem respaldo critico e por isso é tão virulenta quanto a caçada humana de “Jogos Mortais”(uma terrível amostragem do jogo de empurra entre a caça e o caçador) e ainda os que não devem ou não podem ser diferentes em “Divergente”.

            Não é de agora que o futuro do mundo é visto na forma de pesadelo. George Orwell mostrou em “1984” a sociedade dependente de um “grande irmão” que de posse da tecnologia penetrava nos lares e punia quem desobedecesse as normas estabelecidas. No cinema houve “É Proibido Procriar”(Z.P.G./1972)onde o escritor Frank De Felitta(de “As 2 Vidas de Audrey Rose”)tratava de um tempo&espaço onde o casal estava proibido de ter filhos até que se nivelasse a população . Resumindo eu acho que poucos livros e filmes olharam o futuro como um tempo bom. A ideia é de que o homem não tem capacidade para manter um relacionamento estável com o semelhante. No fundo está o que o filme “Lucy”evocou: a capacidade dos neurônios não chega à metade do que estas células cerebrais podem produzir. Seria aquela historia de que a evolução preconizada por Darwin ainda está longe de parar. Daí os profetas do caos. Em termos de cinema é aquilo que encerra o “2001” de Kubrick & Clarke: é preciso o ser humano involuir até se transformar num feto e assim voltar à Terra devidamente produzido para ser o super-homem (não de Shuster & Siegel mas o de Nietzsche).

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Magia ao Luar


       Quando ainda está nos creditos “Magia ao Luar” denuncia que é um filme de Woody Allen. A musica, no caso “You do something to me”(de Cole Porter) diz bem da presença por trás das câmeras do fã de jazz que não despreza o seu clarinete. Depois é a ideia do agnóstico que brinca com a historia das “mesas volantes” bem faladas nos anos 1920 quando Houdini andou desmascarando os falsos médiuns.

            A trama do filme cobre um mágico que vai de Berlim a Cote D’Azur, seguindo o convite de um colega, desmascarar uma garota que se diz paranormal, comunicando-se com espíritos e falando de passado e futuro de pessoas próximas.

            WA usa Stanley, o personagem de Colin Firth, como seu alter-ego. Há um momento em que a descrença vacila. Mas é a ideia de que o amor implica em mudanças drásticas de conceitos. O que o filme não convence é como, em poucos planos, o mágico vai gamar pela mocinha (Sophie/Emma Stone). A gente fica pensando no que atraiu o incrédulo. Sophie não exibe atrativos ou é mesmo o feitiço cantado por Porter(“v, fez alguma coisa para mim”). De qualquer forma, o romance ao luar usa uma lua magra(crescente ou minguante).Isto se vê numa cena que sintetiza o tema e registra o titulo do filme.

            WA disse que ao ter uma ideia escreve essa ideia num pedaço de papel e coloca numa gaveta. Ainda não teve uma para o Brasil, mas atualmente pensa muito na Europa. Está desencantado com a America do Norte, especialmente com o cinema de Hollywood que ele, como eu, está desprezando por tantas besteira moldada em computador. A ideia de voltar à França e no tempo, cutucando o amor à primeira vista com liames sobrenaturais, deu longa-metragem. Não sei se com os atores certos. Colin é muito inglês e Emma não sabe se expressar quando farsante ou verdadeira. Apesar disso, a narrativa apressada segue a musica. Cortam-se os clichês do melodrama, sintetizam-se operações como a de Houdini, toca-se na concorrência que fantasia amizades(o caso do colega do mágico) e acaba deixando a gente sair do cinema querendo ver de novo. A primeira impressão seria de uma elaboração insuficiente de um tema sempre interessante. Mas acima disso está o estilo Allen. É o tipo de cinema que não se vê comumente.

domingo, 31 de agosto de 2014

Lucy


      A teoria da Darwin, ou a Evolução das Espécies, já esteve muitas vezes no cinema. Mas foi em “2001, Uma Odisseia no Espaço” que Stanley Kubrick, ampliando o texto de Arthur Clarke, vislumbrou o macaco adquirindo inteligência resumindo o salto de muitos anos no toque a um monólito extraterreno que em seguida se corporifica no corte de imagem que vai de uma clava atirada ao ar para uma astronave em caminho da lua.

            “Luycy”,o filme de Luc Besson, vai beber na fonte de Kubrick&Clarke. Só que troca a intervenção extraterrena por uma síntese hormonal que propicia a dinamização celular, atiçando os neurônios de forma a se obter  máximo das funções cerebrais (e sabe-se que o homem só aproveita de 10% a 15% disso).

            A “cobaia” do experimento é uma jovem que um traficante encarrega de entregar uma maleta a um chefão coreano. Ela é detida pela gangue que trabalha com toda sorte de droga e recebe implante de bolsa com o hormônio em seu estomago. Só que a sua sem sensualidade leva-a a um assédio de seu guarda no cárcere onde a colocam e uma reação resulta em pancadas na região operada e a liberação dos elementos contidos na bolsa plástica que  os envolve. Resultado: Lucy, o nome da moça, vai ficando cada vez mais inteligente. E acaba por se transformar numa versão feminina do Superman, destruindo seus predadores.

            Interessante as ideias de Luc Beesson. A demonstração do tempo com um carro correndo de forma que não se o observe é uma das inteligentes amostragens visuais de teorias. O carro existe no tempo mas não se vê nas outras dimensões . Dessa forma, a inteligência usa da física , adentrando pela filosofia, e segue a ideia de que a evolução das espécies não terminou com o homo sapiens. No “2001 será um feto geneticamente elaborado quem vai aparecer na Terram a advogar a teoria (de Nietsche) do super-homem .

            Lucy pode virar energia e no caso seguir outra linha da sci-fi.O filme arranha muitas teorias e espasmos imaginosos. Podia ser um episódio de “Além da Imaginação”, mas deixa claro a influencia da odisseia espacial kubiqueana em uma sequencia de imagens não definidas.

            Besson fez o melhor em sua carreira. Também fez o seu melhor momento  atriz Scarlett Johanson. Ora graças que vi um filme bom nos cinemas comerciais de Belém. Epa, vi dois! O outro é “Magia do Luar”, coisa de Woody Allen .

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Filmes Chatos


      Um casal inicia uma viagem pelas montanhas do Cáucaso. No inicio demonstram afeto. Gradativamente vai mudando. O roteiro de Tom Bisseli com base em um seu conto, quer mostrar como o amor se dilui num determinado cenário. Antonioni fez isto. A diretora e coautora do tal roteiro,Julia Loktev, quer que as imagens contem tudo. E a formula seria esticar a amostragem da jornada do casal, com a aridez do cenário servindo de símbolo ao resfriamento do amor. Mesmo assim, mesmo comendo 90 minutos, não convence como Nica(Hani Furstenberg)vai se enjoando de Alex(Gael Garcia Bernal).

            “Planeta Solitário”(The Loneliest Planet) é um dos filmes mais chatos que eu vi até hoje. Confesso que pulei alguns capítulos vendo em DVD.Um espectador escreveu que chegou a “cobrar”o tempo de vida que gastou no cinema. Se fosse num cinema eu teria deixado a sala congeladas dos cinepolis da vida em meio ao afastamento das personagens.  

            Chatice é também “Blue”(1993), o testamento do diretor Derek Jarman(ele morreu em consequência da AIDS um ano depois). Nada mais do que a tela tomada de azul, sem imagens, e as falas dissertando sobre doença e divagações pretensamente filosóficas.

            Não tenho mais paciência para ver certos filmes. Quase deixo no meio “Sex Tape”, piada de quintal do filho do diretor Lawrence Kasan, o Jake. Como dizia o Lord Cigano,tipo que José Wilker encarnou em “Bye Bye Brasil”, “sacanagem tem que ser bem administrada”. O filme não é. Conta como um casal se esforça para resgatar as imagens de uma turnê sexual que gravou e se esquecer de apagar no computador. Antes seguem pretensas cenas de sexo na linha selfcore. Mesmo assim dá para ver a bunda da atriz Cameron Diaz. Mas ela não vira o corpo. E na cama com Jason Segel faz de conta que alcança orgasmo. Faz de conta.

            O cinema comercial varia da pornochanchada aos gibis modernosos com o gancho para CGI. Nada que faça pensar. Pensar em cinema é crime industrial. O problema é a sentença alcançar o DVD & Bluray. Resta achar download do que possa alimentar nosso amor pela chamada “arte das imagens em movimento”.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Richard Attenborough


Prestes a fazer 91 anos, Richard Attenborough morreu no dia 24/8. Diretor de “Gandhi”,um exemplo de cine-espetaculo onde se unia grandiosidade de produção e seriedade para com a Historia, o ator-diretor que eu vi em um de meus filmes prediletos, “Neste Mundo e no Outro”(A Matter of Life and Death/1947), havia escapado da morte em 2008 quando permaneceu em coma por algum tempo. Andava em cadeira de rodas e ostentava o recorde de 69 anos de casado com Sheila Sim. Perdeu uma filha, uma neta e sogra dela no tsunami de 2004 no Oriente. Tem dois filhos fazendo cinema. Bem, eu admirava o artista, desde o século passado agraciado com o titulo de lorde pela rainha Elizabeth II. Apesar de renitente contra a violência fez uma excelente interpretação em “O Estrangulador de Rillington Place”(10 Rllington Place/1971) de Richard Fleischer. Foi combatente na 2ª Guerra e talvez por isso tenha feito muitos filmes sobre o conflito. Atuando e dirigindo. Ao todo dirigiu 12 titulos e atuou em 78(o ultimo em 2004).

Depois de Robin Williams e Lauren Bacall Agosto levou mais uma estrela para o seu arquivo cinematográfico.

domingo, 17 de agosto de 2014

Terror em DVD


Saiu em DVD uma coleção de filmes de terror. Não sei quem selecionou os títulos mas se alguns não se enquadram entre os melhores do gênero há coisas extremamente validas como “A Aldeia dos Amaldiçoados”, “Tumulo Vazio”, “A Noite do Demônio”, “Orgia da Morte” e “No Silencio da Noite”.

            “Aldeia...”é ficção-cientifica. Mulheres em fase de procriar ficam gestantes em um dia e uma hora numa pequena cidade inglesa. Há problemas pois algumas amargam viagem do marido e uma delas já havia atingido a menopausa. As crianças nascem no mesmo dia e demonstram um desenvolvimento fora do comum. Em miúdos:são ETs. E pretendem dominar o planeta. Nesse caso lembram os que passaram a substituir os executivos terrestres em “Eles Vivem” de John Carpenter (não está na coleção mas podia entrar). Um professor(George Saders), marido da senhora infértil que tem um dos meninos, resolve acabar com a raça mesmo sacrificando sua vida. A sequencia é muito bem construída. O diretor Wolf Riller não fez coisas mais expressivas limitando-se a continuar seu filme mais festejado.

            “Tumulo Vazio”é de Val Lewton & Bob Wise. O primeiro um produtor corajoso de ótimos filmes B. O segundo, vindo da sala de edição (editou “Cidadão Kane”) seria um dos mais prestigiados cineastas de Hollywood(basta citar “A Noviça Rebelde”). O filme ora em DVD trata dos primórdios da medicina quando os anatomistas precisavam de cadáveres para estudo e por isso pagavam coveiros para arranjar a “mercadoria”. Boris Karloff encabeça o elenco. A cena da estrada, quando numa carroça os condutores veem um corpo cair sobre eles com o sacolejar do carro, impressiona.

            Cavalcanti, o brasileiro que impulsionou a Vera Cruz de S.Paulo, é um dos diretores de “Na Solidão da Noite” uma espécie de “10 Indiozinhos”(Ten Little Indians) de Agatha Christie no patamar do medo.

            “Orgia da Morte” é da série Corman & Poe, com o diretor Roger Corman mostrando como se faz filmes B com jeito de A e usando a beleza plástica a serviço do medo.

            E ainda tem o ultimo Jacques Tourneur , “A Noite do Demônio”, mais uma homenagem ao cineasta de tantos bons fllmes de e fora do gênero do que um de sés melhores titulos.

            O pacote vale. Mais um gol  da Versátil distribuidora de DVD que vem editando esse tipo de coleção.