segunda-feira, 27 de abril de 2015

O Planeta Proibido


               Revi graças ao pacote de DVDs da Versatil Home Video dedicado a sci-fi “O Planeta Proibido”(Forbidden Planet/1956) de Fred Wilcox . Meu contato com este filme, no velho cinema Moderno, foi muito bom. Afinal surgia uma produção do gênero fora da linha B da Universal e United Artists. A Metro, na época estúdio major, gastou o que nenhuma obra do gênero havia gasto antes. E o roteiro de Cyril Hume e Irving Block, baseado na historia desse ultimo, era instigador. Walter Pidgeon fazia um cientista abandonado num mundo distante com sua filha adolescente (a iniciante e bonita Anne Francis). Quando uma astronave pousava lá, os tripulantes queriam saber da historia do planeta e do solitário homem da Terra. São informados de que ali viveu uma civilização prodigiosa e mais tarde sabem de um monstro invisível que no fim das contas é criado pela mente do cientista abandonado. A ideia de um “Monstro do ID” passa por cima de “A Tempestade” de Shakespeare,base do texto de Block. Leslie Nielsen, antes de ser palhaço de séries como “Corra que a Policia vem aí”, era o astronauta galã.

Se um desses cineastas-cabeça fosse fazer o filme gastaria quilômetros de celuloide na concepção de uma aberração cerebral. E matutaria na tese de que todos tem um tigre adormecido, base por sinal de um filme de Joseph Losey. Como Wilcox não era disso saiu um espetáculo bem narrado, extremamente simples, e muito simpático.

Hoje a sci-fi mudou para aventuras de quadrinhos da Marvel e articulações de contos de fadas. Exceções felizmente existem. E se gasta milhões nelas. Mas a verdade é que até o multimilionário “Interestelar” rendeu homenagem ao “2001”de Kubrick, feito antes da Apollo 11 e ainda o melhor exemplo de cinema de antecipação. Apesar de falhar como profecia(a Pan-Am acabou, 2001 estava longe de uma viagem espacial por seres humano além da lua) ficou o casamento com Nitszche &Strauss (“Assim Falou Zaratustra”) e um solo musical para o espaço (a velha valsa “Danúbio Azul”).

Apesar de existir “2001” no caminho, “O Planeta Proibido” ainda é muito bom,

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Melodramas


Melodrama (drama meloso) é o que a musica popular cantou como “filme triste”. Minha mãe não gostava, e eu imagino como ela se sentiria ao ver “Estamos Todos Bem” de Giuseppe Tornatore ora relançado em DVD. Ela que ia pelo nome da “fita”, sairia do cinema em lagrimas ao ver o que acontece com o velho Matteo(Marcelo Mastroianni) que busca os filhos por diversos cantos da Itália e se pensa o tempo todo que a mulher dele ficou em casa(quando, no fecho, vê-se que está numa sepultura). Sim, os “meninos” estão mal, sendo que um deles se matou(atirou-se no oceano e jamais foi encontrado).

Tornatore gostava de filme “saca lagrima”. Que diga o celebre “Cinema Paradiso”, sucesso internacional menos em Belém. Ali a vitima era uma sala de exibições e seu projecionista, Alfredo (Philippe Noiret). O final mostrava imagens cortadas nos filmes que se exibiam nesse espaço e foram cortadas por um padre do lugar.

É uma tradição latina o melodrama. Mas o anglo-saxão também o aborda. Os filmes do diretor Douglas Sirk servem de exemplo. “Sublime Obsessão”, “Tudo o que o céu permite”, são exemplos de choramingas. Rock Hudson era o galã da empresa e sempre estava nos títulos que em alguns casos eram refilmagens. O gênero era tão popular que o alemão Rainer Werner Fassbinder, membro do fechadíssimo grupo de novos cineastas germânicos, abordava-o. Exemplo é “Lili Marlene” reexibido agora em Belém.

Eu dizia que tem filmes em que o espectador precisaria de toalha para enxugar as lagrimas. Lenço não dava. A critica de antes metia o pau. Mas hoje pensa que se a coisa emociona é porque tem valor. Não se atiça emoções em mais nem menos. Essas bobagens da Marvel, improprias para maiores de 10 anos, podem fazer chorar: mas de raiva.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Alcoolismo


Pedem-me que mencione filmes sobre alcoolismo. Bené Brabo Pantoja cita “Despedida de Las Vegas”, “O Vôo”, “Coração Louco, “Barflay”, “Quando um Homem ama uma  Mulher”, “O Valor de uma Vida” e o brasileiro “O Ébrio”. Vi todos mas lembro o que me parece clássico do gênero: “Farrapo Humano”(The Lost Weekend)de Billy Wilder. Nunca se esquece de Ray Milland escondendo uma garrafa da mulher, Jane Wyman. Ganhou merecido Oscar. Também é emblemático  “Vicio Maldito”(Days of Wine and Roses)de Blake Edwards com Jack Lemmon apostando com Lee Remick quem bebe mais(ela para, ele continua).

O alcoolismo ganhou cinema antes de outras drogas entrarem em cena. E eu sempre achei curioso o fato do álcool ser liberado para consumo e a maconha, por exemplo, não. Aliás o fumo é outra droga. Tudo vicia e encurta a vida.

Eu não escrevo mais em jornal católico porque ele não aceitou mais meus textos independentes. Uso meu blog e por enquanto só. Até a revista da Fox Vídeo parou. Sou um jornalista do passado, mas a informática não deixa que eu suma no tempo. E em se tratando de vícios, especialmente o alcoolismo aponto como uma praga que enfeitiça desde a juventude. Hoje ela esta perdendo para o que pode ser ainda pior: o crack, por exemplo. Jovens que se drogam para esquecer responsabilidades pensam erradamente que fogem de problemas quando, na verdade, fogem da vida.

Interessante o Bené citar Vicente Celestino em “O Ébrio “. Não só vi o filme varias vezes(até em Abaetetuba, no Cine Imperador) como a peça encenada pelo próprio Vicente no antigo cinema Moderno (onde hoje fica o parque de diversões de Nazaré).Vicente não era alcoólatra. Amigo de Waldemar Henrique deixava força na sua voz de tenor. E compunha melodramas musicais. No caso de “O Ébrio” viu uma das causas, no entender dele, dos bêbados inveterados. Seria o amor perdido,ocasionado pela injustiça, pela inveja e a decepção com os parentes. A canção & peça não dizia, mas o recurso do álcool seria uma prova de fraqueza.

Certo: devem-se exibir os filmes sobre o tema com debates. Passei a ideia ao Marco Antonio que programa os espaços da ACCPA.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Chappie


Carlo Collodi escreveu a historia do boneco que virava “menino de verdade “por graça de uma fada. Pinocchio foi imortalizado na animação de Walt Disney . Hoje quando surge Chappie, o robô que pensa e age, muitos esquecem que já teve irmãos além do títere de Collodi. Vem logo a mente Robocop. Mas ainda soma-se AI, que Kubrick escreveu e Spielberg dirigiu, e o próprio HAL também de Kubrick que pensou demais em “2001 Uma Odisseia no Espaço”.

O robô pensante de agora, criado pelo cineasta sul-africano  Neil Blomkamp, não só pensa e fala como chega a transformar uma garota cadáver, a quem ele prezava(ou amava)em robô como ele. A ideia, por não ser nova, pediria do cinema uma substancia que fugiria do figurino de Hollywood. Blomkamp que não faturou bem com “Elysium”, seu filme anterior,achando que deveria botar o seu robô-gente em luta contra bandidos que também usam, ou são, robôs. “Ficou um filme “robotizado”“, ou seja, sem consistência intelectual. Seria até poético se a lata falante demonstrasse amor e como um Orfeu cibernético tirasse a sua Eurídice do limbo. Mas a coisa é tão mecânica, tão cheia de CGI a deixar ver batalhas como qualquer blockbuster da Marvel, que escapa de uma apreciação humana. É, portanto, um filme robô, como se no tempo da película se projetasse a lata ao invés do celuloide.

Ver “Chappie”no cinema,com todo o desconforto de pegar fila para um ingresso em sala nem sempre disponível, é perda de tempo. Eu vi em casa, em vídeo. E custei a aturar sem mexer no botão que acelera os capítulos...

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Olimpia 103


Eu sou olímpico desde  os 7 anos, isto sem competir em qualquer modalidade esportiva. Digo assim pois nessa idade fui pela primeira vez ao cinema Olímpia. Creio que o primeiro filme que eu vi por lá foi “O Magico de Oz”. Vagamente lembro de Judy Garland andando pela estrada de pedras amarelas cantando “I want to see the wizard...”

Morava perto da Praça da Republica. Ainda se chamava Largo da Pólvora. Em principio era levado por minha madrinha Odete. Íamos especialmente às matinais domingueiras. Depois, já adolescente, botava moedas no bolso e rumava também nas tardes para ver qualquer coisa que me chamasse a atenção e me permitisse olhar (havia os filmes “impróprios” e era difícil aparentar maior idade). Ficou na memória uma sessão em dia e tempestade quando as portas laterais se abriram e foi difícil voltar para casa. A rua estava cheia de pedaços de mangueira.

Mas há muito na cachola sobre minhas idas ao Olímpia. Meu primeiro encontro de namorado foi lá, num domingo de tarde.Por sinal que eu não era frequentador das sessões nesse horário e dia. A exceção valeu, mas a lotação me empurrou, a mim e a namorada, para um banco da praça defronte. Tudo bem até porque já havia visto o filme noutra sala (“Sinfonia Carioca”).

Minha mãe achava o Olímpia cinema de elite e o evitava. Achava chato se embelezar para ir a cinema. Culpa da tradição(ela nasceu no dia em que o cinema foi inaugurado). Na fase da “fita silenciosa”quem ia ver as estrelas por aquelas bandas eram os grã-finos, homens de casaca, mulheres de vestido longo e chapelão. Tempo de Valentino. de Theda Bara, de Tom Mix, de Harold Lloyd mas, também, de Chaplin e Buster Keaton.

Vi o Olímpia fazer 100 anos. Ajudei na luta por isso. Podia ter morrido antes. Felizmente existe e ajudo na programação. Nunca pensei que fizesse uma coisa dessas embora adolescente já conseguisse entrada grátis(escrevia em jornal desde cedo).

Hoje se comemora o aniversario com comédias que atraíram publico. Detesto as dos 3 Patetas, mas tinha tinha quem gostasse deles.

Um dia talvez conte minhas lembranças olímpicas. São muitas.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Nas telas

"Elles" mostra uma hibrida de jornalista e dona de casa que ao entrevistar duas garotas de programa, dublê de estudantes, transparece no fundo uma inveja da liberdade dessas jovens.Na rotina caseira, marido sempre ausente, filho descobrindo a rebeldia da idade e outro filho, este criança, a pedir mimos. deixa de saldo um passo para a depressão.
Juliette Binoche dá o tom certo ao tipo, mas a realização abusa de sequencias de sexo para garantir a bilheteria. A mim não pareceu outra coisa. Outros cineastas abordaram o tema ficando na sugestão e economia de planos ("Ellas" podia ser bem mais curto).
"Ida", o Oscar de filme estrangeiro, arrasta-se para dimensionar a predileção de uma garota criada em orfanato que quer ser freira. Noviça prestes a assumir o habito, é levada ao encontro de uma tia que pesquisa onde e como seus pais morreram durante a 2aGuerra. Nesse encontro ela sabe que é judia e acaba, ao descobrir o lugar do assassinato de pai e mãe, a atração do sexo. Mas isso não impede que volte ao convento.
O diretor usa o preto e branco,o enquadramento antigo, e quase não move a câmera. Essa preguiça proposital talvez queira dimensionar a opção da garota. Mas não cola. O filme é sobretudo chato.E não me parece interessante mostrar que a noviça comportada seja fã de chatice.
É isso: os cartazes não atraem. Exceto as reapresentações das sessões extras. E alguns dos documentários de Silvio Tendler especialmente "Barbárie e Utopia". Desse cineasta e muito bom documentarista, só põe nota destoante na retrospectiva uma biografia de Castro Alves a perder léguas para aquele filme português que retratou o poeta baiano através do ator Paulo Mauricio("Vendaval Maravilhoso"/1949,de Leitão de Barros).

domingo, 12 de abril de 2015

Salve a Preguiça

               Mês passado os exibidores afirmaram que seguiriam uma proposta estatal de que um filme do grupo blockbuster não ganharia mais de duas casas em um de seus circuitos. Hoje eu conto 3 salas para a 3ª, semana de “Velozes e Furiosos 7”, 3 para a 5ª semana de “Cinderela”, duas para a 4ª semana de “Divergentes:Insurgentes”, duas para a estreia da animação “Cada Um na Sua Casa”.Isto num só circuito de shopping. Quer dizer: em 7 salas não há um único filme de exibição exclusiva. Quem já viu o que está em cartaz que fique em casa. É bom para quem sabe baixar da internet (download) ou quem vai às poucas locadoras ainda existentes (o processo de copiar filme na fonte e a velha pirataria que baixa ou copia da sala de exibição no celular, está matando as casas especializadas em locações de filmes).
               Nos meus tantos anos de vida e cinemania nunca fui tão pouco a cinema. Vejo na minha sala, na minha TV acoplada a meus gravadores & reprodutores a média de 2 filmes por dia. Conforto, segurança e patrocínio de preguiça. Mas é a única forma de continuar vendo cinema. O que passa nas salas especiais ou eu já vi ou vejo gravado em DVD&Bluray.

               Tempos modernos escapam do que Chaplin mostrou, George Orwell profetizou e nos roteiros de filmes o que escreveu Richard Matheson. 

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Manoel de Oliveira


               Eu admirava a longevidade do cineasta Manoel de Oliveira. Com mais de 100 anos fazia filmes seguidamente. Mas o seu modo de dirigir era simples: longos planos médios deixava os atores “representarem” como no teatro. Pouco mexia a câmera. Seu filme mais interessante, a meu ver, chamou-se “Um Filme Falado” e mostrava pessoas em um navio, incluindo uma professora que desejava mostrar à uma criança as relíquias históricas europeias, toda essa gente, de idiomas diferente, conseguindo se comunicar. Daí o titulo.Na maioria dos casos, Oliveira delirava com a sua linguagem fechada, mais para Godard do que para um diretor de cinema tradicional. Isso era considerado autoria pela critica francesa que passou a amar o cineasta.

               Quando Oliveira fez “Palavra e Utopia” sobre o Pe. Antonio Vieira, com o brasileiro Lima Duarte, eu estive no consulado português alicerçando a idéia de trazê-lo à Belem onde, afinal, Vieira esteve e discursou. De uma feita argumentei á diplomata lusa sobre o problema da idade do diretor. Ela foi clara: “-Ele é durinho”. E de fato eu assim o vi num especial de TV.

               Hoje a morte alcançou o homem. Lamenta-se. E eu que não engolia os filmes dele sigo lamentando. Respeito quem faz cinema de ideias, cinema intimo. Vendo no imdb os mais velhos dessa arte só achei atores e atrizes. Mais atrizes. Diretor nenhum. No outro mundo o veterano Manoel deve ter sido recepcionado pelos colegas ilustres que de alguma forma marcaram a arte-industria. Que esteja feliz com isso.