quarta-feira, 7 de agosto de 2013
Paciência Equina
Agnés Hranitzky e Béla Tarr são diretores húngaros. O ultimo, de 58 anos,é conhecido por suas sequencias de uma só tomada, extremamente lentas,fato que chegou a influenciar cineastas de outras plagas como Gus Van Sant. Esse tipo de linguagem o cineasta e companheiro usam em “O Cavalo de Turim”(A Torinói Ló/2011). Mais: as tomadas são geralmente fixas, com a câmera no tripé (ou grua). Lembrei ao ver o filme “Sacrifício”(Offret) de Andrei Tarkovsky onde uma tomada ficava na tela e só mudava depois da gente ir atender telefonema ou comer qualquer coisa.
Não tenho afinidade com essa forma de “cinema d’art” como dizem os franceses. Para mim cinema é mesmo cinemática, é movimento. Outro dia revi em bluray “Janela Indiscreta”(Rear Window) de Hitchcock. Podia passar sem falas (embora elas deixem o tom sarcástico que pinta os tipos). A gente entende o que as imagens apresentam. Puro cinema.
Em “Cavalo de Turim” mais de duas horas e meia são gastas na edição final para mostrar pai e filha numa cabana no meio do nada com muito vento e frio por fora e até um poço sem água. Pouco falam, pouco se define quem são. Num prólogo cita-se Nietzsche quando de uma feita o filosofo apartou um homem que maltratava seu cavalo e por isso sofreu, ao que se supõe, uma isquemia que o deixou doente até morrer. Béla Tarr é tido como filosofo, pelo menos pretendia isso até se tornar cineasta (o que não quer dizer que tenha abandonado a tendência quando se meteu em outra forma artística). Mas se o filme do cavalo é uma situação bem demonstrada, afinal a solidão dos personagens passa na lentidão narrativa, isso é o equivalente de se tratar uma caminhada de alguns quilômetros sem cortar planos, seguindo o corredor com a câmera posicionada em ângulo estratégico (como do alto de um edifício).
Não se fala dos atores, todos expressivos como figuras de uma situação. Mas sempre se pergunta pelo motivo de estarem morando num casebre perdido numa área indefinida, algumas vezes tentando sair mas sem conseguir fazê-lo. Lembrei “Vidas Secas” que Nelson P. dos Santos fez do livro de Graciliano Ramos. O enfoque é semelhante, mas as vidas molhadas do filme de Tarr não estão ali para mostrar o cenário de seu drama. E os personagens de “Vidas Secas” não precisam ficar parados assim como a objetiva define bem onde vivem sem precisar dormir num enfoque. Basta a luminosidade natural da fotografia de LC Barreto para definir a “secura” fotogênica. E mais: o filme brasileiro gasta na tela pouco mais de 100 minutos. E diz de quem e do que se trata. “O Cavalo de Turim” no máximo diz do quadro feito. Parece que o que fica é a ira de Nietzsche, e felizmente o espectador não fica doente como ele ficou.
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