sábado, 10 de outubro de 2020

Cirio sem cirios

 

                Cirio sem a procissão das aguas imaginada por Carlos Roque, sem a trasladação que eu via do pátio de minha casa, na av S. Jeronimo, sem a grande romaria que ia assistir, levado por minha ama, Artemisia (chamada Cabocla) de uma casa na av Nazaré, sem os brinquedos do arraial que eu frequentava especialmente os “aviões” com nomes de times de futebol(o meu era o Paissandu),sem a procissão do ultimo domingo da festa que passava (como a trasladação) na minha rua.Sem nada disso vejo um ano cabalístico, o pior de meus 84 e um dos mais trágicos ´para a humanidade.

                Este ano um minúsculo intruso muda tudo. E mesmo assim pode gerar infecções por romeiros teimosos.

                O Cirio resistiu as pandemias passadas como a Gripe Espanhola  e Asiatica. Entra na historia do Coronavirus como uma intromissão maldita. E esta maldição atinge mais de 200 anos. Lembro de ter visto mais de 80 Cirios . Com dois anos cheguei a ir no Carro dos Anjos devidamente “fantasiado”. Senti a festa popular por excelência. Nenhum paraense era alheio ao que se fazia no segundo domingo de outubro. Este 2020 dá pena.

                Li numa revista nacional que 2020 não é o pior. Houve um dos anos 500. Citam fenômenos atmosféricos e isto não afetaria agora, numa época em que a ciência se desenvolveu e o mundo só teme uma guerra nuclear vendo nações exibindo armas destruidoras como símbolo de poder. Agora seria aventar um futuro próximo. E o vírus assassino de hoje parece blefar com isso dizendo que nem é preciso bombas nucleares para matar multidões.

                Um Cirio sem círios restou para a soma dos tempos.

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