Nos livros de história da cinematografia atribui-se a paternidade do cinema aos inventores do cinematographo, o aparelho que projeta imagens em movimento: Louis e Auguste Lumiére. Mas nos mesmos livros aprende-se que foi David Wark Griffith o primeiro a explorar os efeitos da linguagem cinematográfica, ou seja, quem valorizou cada plano e cada movimento de câmera. Fica a escolha do freguês: pai é quem concebeu ou pai é quem criou?
De Griffith em diante a narrativa por parte de um filme aninhou-se no inconsciente coletivo e não tardou a que se raciocinasse em termos de cinema. É mais ou menos assim: quando você está na sala escura à mercê das imagens projetadas começa a perceber a ação de forma que o objeto mais perto da tela seja o de maior interesse e o mais distante o contemplativo. Também percebe, sem chegar a ver que o mexer da objetiva joga a ação de um lado para outro, como a trama é conduzida, tudo porque se corta e se emenda as seqüências dentro de uma linha que conduza o que se vai contar (isto se chama montagem e é a alma do negócio).
Hoje interessa saber como o cinema em seus mais de cem anos, viu a figura paterna. Não os seus pais, mas o de outros em dramas e comédias.
Eu custei a chegar a um consenso e naturalmente tive de apelar para a memória. Foi melhor do que clicar o google para ler artigos de “n” pessoas sobre o assunto.
Em “O Garoto” Carlitos (Charles Chaplin) é o pai adotivo de Jackie Cooper. Dedica-se a ele inteiramente e chora ao reencontrá-lo depois de uma aventura que por pouco não os separava de vez. O público tende a chorar com ele.
Nas duas versões de “The Way of All Flesh” (a mais conhecida chamou-se no Brasil “Seu Único Pecado”), o pai faz-se de morto para não envergonhar a família e, mendigando, vai ver o filho (de longe) na noite de Natal.
O pai (Lamberto Maggiorani) persegue pelas ruas de Roma o ladrão de sua bicicleta, sempre acompanhado do filho(Enzo Staiola).(“Ladrões de Bicicletas” de Vittorio De Sica).
O velho pai (Victor Moore) é separado da mãe (Beullah Bondi) pelos filhos que dizem não poder abrigar o casal quando eles são despejados de sua casa (“A Cruz dos Anos” de Leo McCarey filmado depois pelo cinema brasileiro como “Em Família”, de Paulo Porto).
Clifton Webb é o pai rigoroso, mas adorado pelos filhos(“Nossa Vida com Papai”).
James Stewart é o pai de dois casais de crianças que rezam por seu destino numa noite de Natal (“A Felicidade Não Se Compra”, de Frank Capra).
Lionell Barrymore é o patriarca de uma família que faz o que quer em “Do Mundo Nada Se Leva”, também de Capra.
Em “A Sombra da Forca” de Joseph Losey o pai(Michael Redgrave) deixa se matar para livrar o filho de uma sentença de morte.
Para salvar o filho picado por um escorpião, Pedro Armendariz caminha desesperado com a esposa e o menino ferido atrás de socorro (“A Perola”)
A filha chora ao constatar de que o pai é um “vigarista” a ponto de chegar a falsificar remédio (“A Trapaça” de Fellini).
Dois pais sertanejos que migram com a familia: o de “Vidas Secas” que Nelson P dos Santos fez do livro de Graciliano Ramos e o de “O Caminho das Nuvens” de Vicente Amorim.
O pai nazista que sofre quando o filho vai para o campo de extermínio seguindo um amiguinho que conhece pensando que se trata de um garoto morador em uma fazenda (“O Menino do Pijama Listrado”)
E Gepetto, o pai de Pinocchio que chega a ser almoço de baleia? E o ogro Shrek que ensina os filhos a tomar banho de lama ? E o pai do príncipe que briga com o seu funcionário para que Cinderela atraia seu filho e seja boa mãe ?
Cada gênero cinematográfico apresenta em sua história um papel de pai. Certamente de mãe é maior, mas há muito pai projetado a cativar corações e mentes. A todos a homenagem pela data, reforçando a tese de que o pai muitas vezes é quem inicia o filho no fascínio que é ver cinema. (Pedro Veriano)
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