Yes, já não se faz Robin Hood como antigamente. No meu tempo de garoto, vi na matinal domingueira do Olímpia aquele Robin Flynn, ou melhor Robin Errol Flynn, vestindo calça colante verde, blusa de carnavalesco, chapeuzinho de vinco dianteiro com uma pena do lado direito, atirando um animal de caça na mesa do rei João. Nessa mesma fita (e muita gente chamava filme de fita), o Frei Tucker dava barrigadas nos soldados inimigos (ou seja,gente do rei), e a mocinha Merian estava guardada, sacrossantamente, numa torre do castelo, esperando o amado como uma Branca de Neve sem espelho mágico, maçã envenenada ou sete anões fazendo a corte. Aliás, maçã era o que mordia o arqueiro verde (uai, não é o mesmo nome do herói dos gibis?) como um bom filho de Adão. Mais tarde no tempo, e eu já adulto, via Robin Hood velho, num Sean Connery maquilado para não lembrar James Bond, atirando um flechar para marcar a sua sepultura e deixando-se cair nos braços da querida Merian, agora Audrey Hepburn (antes era Olívia de Havilland), já distante da “bonequinha de luxo”.
Hoje Russel Crowe é um herói de porrada. Propaga a pinta do brutamontes. E não é só João o rei malvado. O próprio Ricardo, o Coração de Leão que Robin cultuava, dizia ser um monstrengo que mandou matar civis muçulmanos durante uma Cruzada (e isso nas barbas do amigo Robin). Quer dizer, o reino encantado de Sherwood virou zona. Todo mundo mata e esfola, e até o romance do herói é um beijinho e tchau tchau.
Com produção além dos 100 milhões de dólares, Ridley Scott conta a seu jeito, ou melhor, do jeito de seu “Gladiador” (até nas locações), a lenda inglesa que as crianças de longe aprenderam seja pelos papos com os mais velhos, seja pelos livros bem ilustrados, ou pelos filmes bem produzidos.
Um cenário realista numa mentira que servia os espectadores como um presente de fada, é de dar saudades do Pinóquio. Nada a ver com Collodi, mas com o sabor da inverdade. As lendas jamais deviam ser maculadas com uma pretensão realista. Contar lenda não é fincar o pé no chão até enterrá-lo. É voar além do insensato mundo como um bruxo pré Herry Potter.
“Robin Hood 2010” não me balançou.Na verdade, me encheu.
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