Em minha
casa, eu lembro, havia bibelôs de Carlitos e Gordo e Magro. Minhas idas ao
cinema privilegiavam os últimos. Não era fã de Carlitos. E os mais velhos se
admiravam e queriam por força que eu risse das quedas do personagem nos filmes
mudos. A rigor só fui gostar do “vagabundo” quando vi “Luzes da Cidade”. Ainda
acho uma das mais cristalinas
obras-primas do cinema. A graça vinha das menores coisas e a ternura chegava ao
plano que rivaliza com a, Gioconda de Da Vinci: Carlitos rindo e chorando ao
mesmo tempo quando descoberto pela violeteira. Depois teve aquele extraordinário
“Tempos Modernos”onde o século do progresso ganhava a ironia de Noel Rosa (o
revolver teve ingresso pra acabar com a valentia”). Engraçado é que só depois
desses filmes que marcaram o fim do personagem de Chaplin é que ei revi “Em
Busca do Ouro”,para ele o seu melhor momento, “O Garoto”e “O Circo”.Todos esses
filmes engrandeceram o cinema. Carlitos fazendo a dança do pão na espera da
amada que não vem (“Em Busca...”) ou o apaixonado pela filha do dono do circo
que acaba sentado no que resta do picadeiro, tudo é para não deixar corações e
mentes. E Jackie Coogan, o garoto que o vagabundo adota e quebra vidraças para
que ele conserte ? Bem, parece que eu não gostava era dos curtas. Mas ainda não
tinha visto “Vida de Cachorro” nem “O Imigrante”.
Carlitos fez 100 anos.Sua imagem
ficou. E hoje é revista pelos velhos e novos espectadores, os primeiros
adoçando a memória os segundos descobrindo a pólvora.
Charles Spencer Chaplin era tão
poético que morreu num Natal. Eu estava na porta do Gremio Português, em sessão
do cineclube que dirigia, quando soube de sua partida.Uma semana depois estava
exibindo ali o documentário “O Genial Vagabundo”. No final a platéia se
levantou e,em lágrimas, apladiu. Foi o momento mais tocante de minha cinemania.
Hoje ajudo na reapresentação dos
filmes de Carlitos para marcar o centenário.Nada mais justo.
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