terça-feira, 13 de maio de 2014

Carlitos


Em minha casa, eu lembro, havia bibelôs de Carlitos e Gordo e Magro. Minhas idas ao cinema privilegiavam os últimos. Não era fã de Carlitos. E os mais velhos se admiravam e queriam por força que eu risse das quedas do personagem nos filmes mudos. A rigor só fui gostar do “vagabundo” quando vi “Luzes da Cidade”. Ainda acho uma das  mais cristalinas obras-primas do cinema. A graça vinha das menores coisas e a ternura chegava ao plano que rivaliza com a, Gioconda de Da Vinci: Carlitos rindo e chorando ao mesmo tempo quando descoberto pela violeteira. Depois teve aquele extraordinário “Tempos Modernos”onde o século do progresso ganhava a ironia de Noel Rosa (o revolver teve ingresso pra acabar com a valentia”). Engraçado é que só depois desses filmes que marcaram o fim do personagem de Chaplin é que ei revi “Em Busca do Ouro”,para ele o seu melhor momento, “O Garoto”e “O Circo”.Todos esses filmes engrandeceram o cinema. Carlitos fazendo a dança do pão na espera da amada que não vem (“Em Busca...”) ou o apaixonado pela filha do dono do circo que acaba sentado no que resta do picadeiro, tudo é para não deixar corações e mentes. E Jackie Coogan, o garoto que o vagabundo adota e quebra vidraças para que ele conserte ? Bem, parece que eu não gostava era dos curtas. Mas ainda não tinha visto “Vida de Cachorro” nem “O Imigrante”.

            Carlitos fez 100 anos.Sua imagem ficou. E hoje é revista pelos velhos e novos espectadores, os primeiros adoçando a memória os segundos descobrindo a pólvora.

            Charles Spencer Chaplin era tão poético que morreu num Natal. Eu estava na porta do Gremio Português, em sessão do cineclube que dirigia, quando soube de sua partida.Uma semana depois estava exibindo ali o documentário “O Genial Vagabundo”. No final a platéia se levantou e,em lágrimas, apladiu. Foi o momento mais tocante de minha cinemania.

            Hoje ajudo na reapresentação dos filmes de Carlitos para marcar o centenário.Nada mais justo.

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